We'll be the stars escrita por Kira Stark


Capítulo 1
I'll miss you, like the stars miss the sun...


Notas iniciais do capítulo

Olá! Voltei! Bom, essa é uma deathfic, e eu espero que todos vocês gostem, demorei muito tempo pra escrever essa fic e mais tempo ainda pra me convencer a compartilha-la com vocês, mas agora não tem mais volta! hehe
Se tiver algum errinho ai no meio vocês podem me avisar tá?! Eu revisei, mas as vezes passa alguma coisa né?! Dentro dessa fic tem alguns gifs que eu preparei pra vocês, eles mostram algumas das cenas que eu descrevo. É só vocês clicarem nos hiperlinks.
Leiam com carinho, paciência e... Eu realmente, espero que vocês gostem dessa fic, e por favor... Não chorem muito haha...
Vejo vocês lá embaixo!



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Viver com Allison Argent não havia sido uma coisa fácil. Ela sempre foi a melhor em tudo. A melhor filha, a melhor arqueira, a melhor caçadora, a melhor amiga.

A mais bonita.

E eu sempre fui a que não se encaixava no modo de viver da família, a nerdzinha que preferia ler um livro ao invés de aprender a atirar. Na verdade, eu nunca me importei realmente com “os negócios” da família sabe? Eu sempre preferi meus livros e meus jogos, mas acho que ninguém nunca se importou com isso também. Eu sempre fui esquecida por assim dizer, as pessoas estavam admiradas demais com a Allison para prestar atenção em mim lógico que eu nunca culparia a Allison por isso, bem... não na maioria das vezes.

Não me entendam mal. Eu a amo, ela é minha irmã mais velha e na maior parte da minha vida foi ela quem cuidou de mim e me ajudou, mas mesmo assim, às vezes, nem isso me impedia de pensar que a culpa das coisas que eu estava vivendo era dela.

Allison sempre foi tratada diferente, talvez por ter sido a primeira, talvez por eles amarem ela demais, talvez por terem visto um potencial maior nela do que em mim. Não sei. A única coisa que sei é que ela sempre foi criada para ser a melhor, a mais durona, a mais forte. E eu? Bem, eu fui criada a sua sombra. Eu fui criada vendo todos se importarem com ela, todos a amarem, todos brigarem por ela.

Às vezes certas coisas ficam gravadas bem dentro da gente e por mais que nós façamos por onde, nós nunca conseguimos esquecer ou seguir em frente.

Bem, eu nunca consegui.

Desde pequena ninguém nunca se importou comigo. Então eu aprendi a me virar sozinha, sempre que eu queria alguma coisa, eu me lembrava que eu só tinha a mim mesma e só eu podia me ajudar.

Pode parecer que eu esteja reclamando da minha vida e sendo uma completa ingrata falando mal da família que cuidou de mim por tantos anos, mas é que na maior parte do tempo, o meu relacionamento com a família Argent era... suportável, por falta de palavras melhores.

Eu e Victoria Argent éramos diferentes em tudo, a gente sempre discutia por motivos bestas e nossas opiniões nunca foram iguais ou remotamente parecidas. No começo eu achava que ela não gostava muito de mim pelo simples fato de que a Allison passava tempo demais comigo e sempre se esquecia de treinar. Mas depois eu descobri que não era bem assim, ela gostava de mim sim. Do jeito dela, esquisito e sem noção, mas gostava. O problema era que ela achava que a Allison precisava mais dela do que eu. Ela achava que era obrigação da Allison aprender a se defender pra poder me defender também, porque na cabeça dela, eu era muito indefesa e precisava de alguém que me defendesse. E esse alguém tinha que ser a Allison, porque ela era minha irmã mais velha e tinha que cuidar de mim. Minha mãe achava que eu era a responsabilidade da Allison, então ela gastava todo o seu tempo tentando ensinar a Allison a se defender, para que assim ela pudesse me defender ou me ensinar alguma coisa. Eu passei boa parte da minha vida achando que o problema era comigo. No final eu descobri que o problema não era eu, o que foi bom, pois assim eu pude finalmente perceber que eu não fazia mal as pessoas a minha volta.

Kate Argent não gostava de mim, ela dizia que eu era apenas um peso morto na família. Que além de não ajudar, eu simplesmente era esquisita e não me parecia com nenhum Argent. Ela adorava me colocar pra baixo – ou tentar pelo menos – e fazia questão de fazer isso sempre que possível. Talvez ela me odiasse cada vez mais por eu ter aprendido a não me importar com o que ela pensava ou deixava de pensar de mim.

Gerard Argent era talvez, o pior de todos, segundo ele, eu não merecia carregar o sobrenome Argent. Ele dizia que eu deveria me espelhar na Allison, tentar ser igual a ela, tentar ter pelo menos um por cento do talento que ela tinha. Gerard achava que eu era imprestável e inútil.

Eu devo admitir, às vezes ser chamada de imprestável e inútil era bem ruim, mas eu sempre fiz disso a minha “força”, cada vez que eles falavam que eu não conseguia que eu não podia, eu me forçava a fazer, a tentar mesmo se eu falhasse. Não para mostrar a eles, mas sim pra mostrar a mim mesma. Pra que eu pudesse saber que sim, eu poderia fazer se eu quisesse que eu era boa e que eu merecia sim ser reconhecida e ter o nome que eu tinha. Que eu era forte e prestava sim para alguma coisa. Então na maior parte do tempo, eu sempre evitava aparecer quando eles estavam em casa, mas era por mim mesma, não por eles. Pra ser sincera, eu adorava provocar a Kate. Havia certo prazer em vê-la tentar me atingir de todas as maneiras possíveis.

As duas únicas pessoas que se importavam comigo eram meu pai e a Allison, mas mesmo assim, eles não podiam ficar tanto tempo comigo. Papai tinha muito o que fazer, ele trabalhava de dia e sempre caçava a noite, e a Allison tinha que treinar e estudar.

E foi assim que eu cresci.

Sozinha.

Foi isso que me tornou... Eu.

Quando eu era mais nova, eles até tentaram me ensinar algumas coisas, mas eu era muito nova e com o meu dda, tudo ficava mais difícil. Eu não prestava atenção e não conseguia ficar quieta por muito tempo, então eles desistiram de tentar me transformar em uma boa caçadora.

Eu me lembro de várias coisas que me transformaram no que eu sou hoje, mas o que foi mais marcante para mim e me fez tomar uma atitude quase que imediata, foi quando a Allison tentou me ensinar a usar o arco e flecha. Minha mãe quis me mandar para um colégio interno porque segundo ela, eu só estava distraindo a Allison (o que se você for parar para pensar, é extremamente esquisito, pois ela sempre quis que eu aprendesse a me defender, mas enfim...), papai ficou muito bravo naquele dia, e eles brigaram feio, de um jeito que eu nunca havia visto antes.

Foi nessa época que eu parei de pedir ajuda para tudo.

Eu tinha apenas 5 anos. Como uma criança de cinco anos tem culpa por querer brincar com a irmã ao invés de treinar ou aprender algo violento?

Lembro bem que foi nessa época que eu resolvi aprender a me virar sozinha. Eu comecei a ficar com vergonha de pedir ajuda, mesmo que fosse para uma coisinha besta, como lição de casa ou para pegar uma bolacha no pote.

Eu comecei a me isolar mais, a ficar mais tempo no meu quarto, a ler mais.

Eu aprendi a ser invisível.

Naquela época eu me sentia sozinha, então eu fiz o que qualquer criança normal faria:

Eu roubei algumas armas do meu pai para treinar.

Eu sempre tive essa habilidade de conseguir andar sem ser vista ou ouvida, então eu entrava e saia de casa e ninguém se dava conta disso. E também, ninguém se interessava de saber por onde eu andava, então ficava bem mais fácil fazer as coisas escondidas sem precisar dar satisfação pra ninguém.

Eu não entendia porque nós tínhamos que aprender a nos defender, porque nós precisávamos tanto saber atirar em alguma coisa, saber atirar no alvo certo. Eu não entendia a necessidade disso. Mas mesmo assim eu queria aprender, eu queria mostrar que eu era boa também, que eu merecia ser reconhecida. Eu achava que se aprendesse a manusear todas as armas que meu pai tinha, eles iriam sentir orgulho de mim, que eles iriam começar a gostar de mim do jeito que eles gostavam da Allison.

E foi por isso que eu roubei as armas do meu pai para aprender a usa-las.

Foi bem difícil pra mim aprender a manusear aquelas armas, meus braços e dedos eram pequenos demais e eu não tinha habilidade alguma pra segura-las, mas eu lembro de treinar por horas e horas até conseguir pegar o jeito de cada uma delas.

Eu treinava tanto, tão forte e por tantas horas, que minhas mãos sempre viviam machucadas. As vezes elas até sangravam.

Eu me lembro de roubar também um dos arcos e flechas da Allison, e por incrível que pareça, pra mim foi mais fácil aprender a manuseá-lo do que qualquer outra arma que eu havia “roubado”. Talvez tenha sido o fato de que o arco era feito especialmente para mãos pequenas.

Não vou dizer que foi rápido, claro que não. Eu tinha entre cinco ou seis anos quando tomei essa iniciativa, eu treinei pesado durante anos, sempre sozinha. Mas fui compensada com tudo o que sei hoje. Eu aprendi a usar todas as armas possíveis, como facas, punhais, arco e flecha, espadas, bestas, bastões e armas de fogo.

Quando eu completei 10 anos, eu já era uma das alunas de artes marciais mais promissoras da escola. Claro que ninguém fazia ideia do que eu fazia, todos estavam ocupados demais com suas próprias vidas para prestar atenção na filha mais nova.

Eu demorei algum tempo para descobrir o que a minha família fazia, e apesar de sempre ter sido julgada como burra e patética, eu descobri o que eles faziam bem antes deles resolverem nos contar.

Eu sempre achei estranho essa necessidade que eles tinham de ensinar a Allison a usar um arco e flecha com maestria. Eles diziam que era pra ela ser a melhor na escola, mas eu nunca comprei essa ideia. E sempre tinha as conversas estranhas ao telefone, ou as saídas esquisitas no meio da noite com meu pai chegando machucado, então um dia eu resolvi segui-lo e descobrir o que ele fazia.

Vocês devem imaginar o choque né? Você ter dez anos e descobrir que todos os seus maiores pesadelos, na verdade, existem na vida real?

Bem, eu me lembro de ter tido pesadelos por pelo menos, dois meses seguidos.

Enfim, depois disso eu comecei a treinar mais e até a me arriscar a treinar a noite, na floresta que tinha perto de casa.

Até o dia em que eu quase fui morta por um lobisomem.

Foi há uns três anos atrás, eu estava treinando na floresta, eram umas 20hrs30, e eu havia escapado do meu quarto pela janela logo depois do jantar. Isso já havia virado rotina. Eu jantava, ia para o meu quarto, me trocava, pulava a janela e só voltava uma ou duas horas depois, quando achava que já tinha treinado o suficiente. Ninguém nunca se dava ao trabalho de checar o que eu estava fazendo, então era fácil sair e voltar sem ser vista.

Bom, a história foi a seguinte, naquela noite meu pai resolveu ir no meu quarto me desejar uma boa noite, mas quando ele chegou lá, ele não me encontrou. Então foi ai que o mundo desabou.

Ele me procurou no escritório dele, no quarto da Allison, até mesmo no quintal de casa, mas não me encontrou, então ele resolveu ir ao único lugar que ele sabia que poderia me encontrar. Minha biblioteca, ou como vocês podem preferir: meu closet.

Diferente do que vocês possam estar pensando, o meu closet – e isso era em todas as casas em que nós vivemos, tanto é que meu pai sempre me colocava no quarto mais afastado e que tinha o closet maior – tinha roupas sim, mas ele tinha mais livros e armas. Porque como eu já devo ter dito em algum momento, eu sempre fui adepta a leitura. Sempre gostei mais de ficar em casa lendo do que participar de qualquer tipo de ação, até porque minhas crises de ansiedade nunca ajudavam muito.

Meu closet era bem grande, uma coisa que no começo, eu achava muito exagerado. Pra que eu precisava de um lugar tão grande assim só pra guardar roupas? E eu nem tinha tantas roupas assim! Então eu resolvi transformar o meu closet em uma biblioteca/cantinho de treino/lugar de pesquisa.

Como o closet era bem grande, eu separei ele por partes. Mais especificamente três partes: onde eu guardava minhas roupas, onde tinha os meus livros e uma sala onde eu podia treinar, guardar as minhas armas ou jogar vídeo game/assistir televisão quando não tinha mais nada pra fazer ou estava com insônia.

Eu quase nunca saia desse quarto, passava metade do meu tempo lá, quando eu não estava na escola, estava lá dentro lendo ou jogando vídeo game. Era uma rotina.

Naquele dia eu estava treinando, e como eu sempre faço, eu estava escutando música, então eu nem percebi que tinha alguma coisa errada. Meu celular como sempre, ficou no chão, encostado em uma arvore junto com a minha blusa de frio. Então eu realmente não escutei meu pai me ligando, e foi assim que eu quase fui morta por um lobisomem.

Eu estava treinando na floresta, e naquele dia eu havia escolhido treinar com armas pequenas, naquela época, eu havia adquirido um amor especial pelas ring daggers chinesas, aqueles punhais pequenos, que vem com um buraco na ponta pra que a gente possa colocar o dedo e ter um melhor apoio. E como eu não sabia muito como usa-las, eu resolvi que treinar na floresta, a noite e sozinha, era uma coisa fácil e sem perigo nenhum. Eu sei. Mega inteligente. Se eu pudesse voltar atrás e me estapear, juro pra vocês que teria feito isso.

Enfim, quando meu pai chegou nessa parte do meu closet, ele disse que ficou espantado com o tanto de coisa que viu. Como eu já devo ter dito algumas vezes, era uma coisa bem rara meu pai, ou qualquer outra pessoa, entrar no meu quarto, seja para o que fosse. Entrar no meu closet então, piorou. Meu pai disse que ficou impressionado com o que eu havia feito lá dentro, com o tanto que eu havia mudado aquele lugar. Ele disse que não ficou impressionado, porque sabia que eu era o cérebro da família, que ele sempre soube que eu era inteligente e criativa demais, mas que ele ficou mais impressionado ainda quando andou até uma parede e viu várias e várias armas de tamanhos e formas diferentes, todas penduradas em um quadro na parede. Meu pai disse que saiu andando pelo closet, observando cada uma das armas que eu tinha e que quando ele chegou a uma outra parede, onde havia imagens de monstros como lobisomens, kanimas, berserkers, banshees e tudo o mais, ele teve certeza de que eu sabia sobre tudo o que eles faziam.

E foi ai que ele percebeu que tinha alguma coisa errada. Eu não estava em lugar nenhum, e ele não fazia ideia de onde eu poderia estar.

Bom, eu sei que ele ficou louco atrás de mim, enquanto eu estava no meio da floresta treinando.

Suspiro e inconscientemente passo a mão em cima da minha cicatriz.

No final de tudo, eu acabei ganhando um braço quebrado, um corte na testa, uma costela fratura e três meses de castigo. Sem contar no sermão, meu pai falou por horas a fio na minha orelha. A única coisa boa de tudo isso, foi que eu consegui mostrar pra todos que eu conseguia me virar sozinha. O que já era um avanço, passar de garota invisível à filha “normal” era uma coisa muito boa.

Depois de tudo isso, meu pai achou que seria bom se nós nos mudássemos de cidade, no começo eu achei que fosse por minha culpa, por eu ter me metido em várias encrencas nos meses que se seguiram ao “incidente da lobisomem louca”, como eu gosto de chamar, mas logo depois eu descobri que não havia sido por minha causa.

Eles decidiram que nós nos mudaríamos para uma cidadezinha da Califórnia, da qual eu nunca havia ouvido falar. Beacon Hills. Nós nos mudamos para essa cidade, e foi lá que a minha vida mudou de vez.

Eu lembro de ter ficado revoltada. Como assim eles iriam me tirar de Nova York, de perto dos únicos amigos verdadeiros que eu tinha, pra um lugarzinho minúsculo, que não tinha nada de interessante? Eu realmente tive vontade de matar alguém.

Foi quando eu me fechei mais ainda, se isso fosse possível.

Para Allison, a mudança foi uma coisa boa – como todas as outras coisas que aconteceram na sua vida –, ela encontrou um namorado e amigos, descobriu o segredo da família e virou uma caçadora, assim como eu e o papai. De todas as pessoas, Allison talvez seja a que mais sofreu, porém foi também a que mais foi feliz. E a pior parte de tudo isso não era ser de uma família de caçadores, ou ser irmã da Allison, ou ela ser absolutamente linda e eu não, ou por ela ser extremamente adorável, carismática e amada por todos.

Não.

A pior parte era que eu não conseguia odiá-la. Eu queria, mas isso estava além das minhas habilidades. Era difícil porque eu tinha que estar ao lado dela todos os dias, assistindo Isaac Lahey lentamente se apaixonar por ela, e assistir ela lentamente se apaixonar por ele também, ao mesmo tempo em que eu permanecia quieta, apenas observando enquanto o amor da minha vida virava o amor da vida de outra pessoa.

Se isso não fosse ruim o suficiente, eu não sei o que seria.

Eu não poderia contar para ela que eu amava o Isaac, não sabendo que ela iria se afastar dele, sentindo-se culpada. Então eu guardei isso pra mim mesma enquanto aproveitava cada momento precioso que eu passava com ele.

Apesar de Allison e eu sermos muito parecidas – mudando apenas que eu era um ano mais nova que ela e tinha os olhos azuis, iguais aos do meu pai –, as pessoas pareciam achar que ela era mais interessante que eu. O que eu não posso negar, Allison era mesmo mais interessante.

Allison sempre foi diferente, ela sempre foi amiga de todo mundo. Sempre foi difícil encontrar alguém que não gostasse dela, mas também, quem a odiaria? Allison sempre foi aquele tipo de garota que você podia contar pra tudo, ela sempre foi especial, e isso fazia com que todos gostassem dela.

Eu sempre fui mais tímida, nunca tive tantos amigos, mas isso não é uma coisa que eu reclamaria. Allison nunca me deixou sozinha, ela sempre fazia questão de me envolver nos grupos de amigos dela e apesar de sempre me sentir mal por achar que eu a atrapalhava, ela nunca reclamou ou se quer me mandou embora. E foi por isso que eu nunca contei para ela que eu amava o Isaac. Allison sempre fez tudo por mim, por isso eu quis fazer algo por ela também. Ser a irmã que ela merecia, pelo menos uma vez na vida.

Eu sempre quis ser como a Allison. Linda, simpática, forte e destemida. A filha perfeita. Sim, eu sempre tive inveja da minha irmã. Quem não teria? Allison tinha tudo o que eu sempre quis ter, e o mais importante, todos gostavam dela. Mas eu não poderia ser como ela, eu era diferente, sempre fui, e com o passar do tempo, aprendi a me amar e a não me comparar com ninguém, nem mesmo com a Allison.

O Nogitsune havia levado a Lydia e todos estavam loucos por causa disso. Nós tínhamos que descobrir pra onde ele a havia levado e como traze-la de volta. Depois que cada pequeno detalhe foi arrumado, nós só tínhamos que esperar.

E essa era a parte mais difícil.

A espera.

Eu nunca fui boa em esperar, isso sempre me deixava mais nervosa que o normal. Lydia não era realmente minha amiga e por eu ser um ano mais nova, nós não tínhamos as mesmas aulas, mas eu sabia que ela era a melhor amiga da Allison. E para mim, isso já era motivo o suficiente para ficar e lutar.

Nesse momento eu estava no meu quarto, havia acabado de me arrumar e estava pegando minhas armas. Suspirei e sentei no chão.

“Você consegue fazer isso. Você consegue fazer isso.” Respirei fundo. Desde que eu havia acordado essa manhã, eu estava com um sentimento ruim, como se alguma coisa fosse acontecer, eu só não sabia o que era.

Fechei meus olhos, respirei fundo novamente e passei a mão no pescoço, parando no meu colar. O apertei forte e inspirei.

“Hey Abby.” Allison falou.

Sorri e abri meus olhos.

“Oi.”

“O que você está fazendo? Pensei que você estava se arrumando?!” ela me olhou sorrindo.

“Ahn... Eu já me arrumei, só estava pegando minhas armas.”

Allison entrou no meu quarto e veio até mim.

“Eu sei que você quer ajudar, e eu aprecio muito isso, mas eu acho que seria melhor se você ficasse em casa.”

Eu a olhei e franzi minha testa.

“Por que?”

“É muito perigoso Abby, e eu não quero que nada de ruim aconteça com você.”

“Eu sei me cuidar Allison.” Revirei meus olhos para ela.

Ela suspirou.

“Eu sei que você sabe se cuidar, mas mesmo assim eu me preocupo com você.” ela andou até mim e parou na minha frente, sorrindo, “Você é a minha irmãzinha e é minha responsabilidade manter você a salvo, mesmo você sendo uma caçadora habilidosa que já está nessa vida há muito tempo e sabe se cuidar sozinha. Você e o papai são a única família que eu tenho, eu não posso perde nenhum de vocês!”.

“E nem eu posso perder vocês! Eu sei que você está preocupada comigo Ally, mas eu sei me cuidar, e nada de ruim vai acontecer comigo, nem com você e nem com ninguém.”

“Você sabe que não precisa ir não é?!”

Eu sorri.

“Sim, eu sei. Mas você é minha irmã, e ela é sua melhor amiga. Isso significa que se você precisa de mim, eu vou fazer questão de te ajudar, e também, eu gosto da Lydia. Eu me preocupo com seus amigos, Allison. Eu sei o quanto eles são importantes pra você, e se eles são importantes pra você, eles são importantes para mim também.”

Allison sorriu, e me olhou com os olhos cheios de lágrimas.

“Eu tenho muito orgulho de você, sabia?” ela sorriu.

“Eu também tenho muito orgulho de você, Ally. Eu tenho muito orgulho de nós e do que nós nos tornamos.”

Ela me abraçou forte e suspirou.

“Eu amo você Abigail.”

Eu a abracei e sorri, sentindo seu familiar cheiro de morango. Cheiro de casa.

“Eu amo você Allison. To the moon and back.”

Ela sorriu, beijou minha cabeça e saiu do meu quarto.

Eu suspirei e andei até a mesa onde estavam minhas armas. Fechei meus olhos e suspirei mais uma vez.

“Que as estrelas sejam minha luz e que a lua seja meu guia.” Coloquei a mão no meu pingente e o apertei. Sorri.

Abri meus olhos e fui terminar de arrumar minhas armas.

Suspirei.

Peguei minhas armas e fui colocando-as em seus devidos lugares, quando estava terminando, escutei alguém batendo na porta. Olhei pra trás e sorri.

“Hey querida.”

“Oi papai.” Ele sorriu.

“Posso entrar?” Ele perguntou.

Eu sorri mais ainda.

“Sempre.”

Ele entrou no meu quarto e parou na minha frente, ele sorriu e passou a mão no meu rosto.

“Querida, se eu te pedir uma coisa você faz?”

“Depende.” Suspirei, “Papai, você não vai me pedir para ficar de fora hoje não é?!” Olhei-o nos olhos.

“Filha, eu sei o quanto você quer ajudar sua irmã e seus amigos, mas eu apreciaria muito se você não fosse.” Ele me olhava cheio de preocupação. Revirei meus olhos.

“Porque vocês não acreditam que eu consigo me cuidar sozinha?” Eu falei alto, “Eu não sou mais criança pai! Eu posso cuidar de mim mesma!” Eu falei mais alto ainda.

“Eu sei Abigail. Eu só estou querendo te proteger!” Ele falou alto.

“Mas que droga! É sempre assim, vocês sempre duvidam da minha capacidade! Sempre que eu quero ajudar vocês não deixam!” Ele me olhou, respirou fundo e disse.

“Não é assim filha.”

“É assim sim! Sempre foi assim! Eu sempre quis ajudar, mas vocês nunca deixaram! Eu faço isso desde que me entendo por gente pai! Eu matei um lobisomem sozinha aos 13 anos! Eu sei me cuidar, eu não sou um bebê!” Eu gritei com lagrimas nos olhos, “Eu odeio que vocês não consigam dar valor para mim. Eu sou boa também pai! Eu também mereço ser reconhecida! Nem que seja pelo menos um por cento!”

Ele me olhou e me abraçou apertado.

“Querida, eu sempre dei valor para você e eu sei, muito bem, a sua capacidade de lidar com lobisomens. Mas eu sou seu pai, eu posso e devo me preocupar com você. Você acha que se eu pudesse, não proibiria sua irmã também?” Ele suspirou e me apertou mais ao seu peito, “Vocês são tão parecidas que me assustam. Às vezes não sei se fico feliz ou triste por isso.”.

Eu o olhei e ele sorriu.

“Por que?”

“Porque a Allison colocaria a vida dela em risco para salvar seus amigos. E eu sei que você faria a mesma coisa. É só que...” Ele me olhou, “Eu não posso imaginar algo acontecendo com vocês. Você entende?”

Suspirei.

“Deus. O que está acontecendo com vocês hoje? Não vai acontecer nada! A gente vai sair disso juntos. Como a gente sempre fez! E de quebra vamos ajudar a Lydia e o Stiles. Não é isso que a gente faz?” Eu sorri, “We protect those who cannot protect themselves.”

Ele sorriu e me abraçou novamente.

“Você sabe, você e sua irmã são meu maior orgulho. Eu tenho muito orgulho de ter vocês como filhas.” Ele beijou meu cabelo.

Eu sorri e o abracei mais forte, minha cabeça estava no seu pescoço, fechei meus olhos e sorri.

“Eu amo você papai.”

“Eu também amo você querida.” Ele me abraçou mais apertado, “Só me prometa uma coisa, sim?”

Levantei minha cabeça e o olhei.

“Sim?”

“Me prometa que você vai tomar cuidado. Eu sei que você sabe se cuidar sozinha, mas esses onis, eles não são como nada que nós já tivéssemos visto antes. Só... Tenha cuidado, está bem? No final disso tudo eu quero ter minhas duas filhas em casa, sãs e salvas.”

Eu sorri.

“Eu sempre tomo cuidado papai.” Eu mostrei a língua pra ele, “Eu te amo pai, obrigada por cuidar de mim por tanto tempo e nunca me abandonar.”

Ele sorriu e beijou minha cabeça.

“Eu também te amo querida.”

Ele me olhou mais uma vez, sorriu e saiu porta a fora.

Eu suspirei, peguei minha bota, sentei na minha cama e a coloquei, entrei no meu closet novamente, peguei o restante das minhas armas e desci para o escritório do meu pai. Chegando lá, eu entrei no escritório e sorri para a Allison.

“O que você está fazendo?” Eu perguntei e sentei em uma das cadeiras do escritório.

“Só arrumando meu arco, nada demais.” Ela sorriu.

“Essas são as suas primeiras flechas?” Eu a olhava, enquanto ela arrumava as flechas e limpava o arco.

“Sim. Papai disse que isso é como se fosse uma transição para os caçadores.” Ela me olhou, “Você fez isso também né?! De qual arma você fez?”

“Sim sim, eu fiz balas de prata, depois eu fui fazendo para as outras armas. Mas primeiramente foram as balas.”

“Deve ter sido ruim quando você descobriu.” Ela franziu as sobrancelhas e voltou sua atenção para o arco novamente.

“Foi bem ruim. Sim.” Eu suspirei e me levantei.

“O que você vai fazer?” Ela perguntou.

“Vim roubar algumas balas do papai.” Eu sorri.

E nós ficamos assim por uns bons vinte minutos. Ela arrumando seu arco e flecha, e eu arrumando minha arma.

Suspirei e levantei. Allison me olhou.

“Você parece que está indo para uma guerra, eu até entendo que toda ajuda possível é boa, mas quantas armas você tem ai?”

“Bom, eu tenho dois punhais em cada uma das minhas botas, uma .40 na minha cintura, duas ring daggers na minha coxa esquerda e uma .39 na coxa direita. Sem contar as munições. E essas duas belezinhas aqui.” Apontei para as duas Glock 9mm em cima da mesa.

“Realmente, você está quase indo para uma guerra mesmo, e eu aqui, só com o meu arco e flecha.” Ela riu.

“Você é melhor que eu nessa área.” Eu sorri, “Você é muito bo-“ Eu fui cortada pelo barulho da campainha, suspirei, deixei minhas armas em cima da mesa e fui em direção à porta.

Chegando lá dou de cara com o Isaac parado na porta.

Sorri.

“Hey Abigail.” Ele sorriu.

Suspirei e abri a porta.

“Hey. Allison?” Ele riu e andou até mim.

“Eu sou tão óbvio assim?”

Dei de ombros.

“Às vezes.” Dei um sorriso falso, “Ela está no escritório do papai. Vou te levar até lá e aproveito para pegar minhas armas.”

Ele sorriu, balançou a cabeça, concordando e me seguiu casa a dentro.

Allison ainda continuava a arrumar seu arco e flecha quando nós entramos no escritório.

“Quem era na po-“ Ela olhou pra cima e sorriu “Isaac!”.

“Hey baby.” Isaac falou e ela sorriu pra ele. Ele andou até ela e a beijou.

Eu olhei pra baixo e sai do escritório deixando-os sozinhos, meu coração se quebrando um pouco mais quando nenhum deles tentou me impedir.

Depois de quase uma hora dos dois sozinhos, Allison saiu de dentro do escritório.

“Onde você vai?” Eu perguntei, levantando meus olhos da minha arma e a olhando.

“Tem uma coisa que eu preciso muito fazer.” Ela falou já desaparecendo no corredor. Eu iria questiona-la aonde ela estava indo ou o que era tão importante assim pra ela ter saído correndo, mas só de pensar em ficar sozinha com o Isaac, nem que fosse por alguns instantes, fez meu coração escapar uma batida.

Eu ainda discuti comigo mesma por alguns segundos, se eu deveria ou não entrar lá dentro. Não que nada fosse acontecer, mas... Mas eu poderia pelo menos passar algum tempo sozinha com ele. Isso não iria fazer de mim uma péssima irmã, não é?

Não é como se eu estivesse tentando roubar o namorado dela.

“Quer saber? Que se foda.” murmurei baixinho.

Andei até a porta e a abri devagarinho, encontrando-o sentando em uma das cadeiras, com as roupas e o cabelo totalmente desgrenhado e usando um dos poucos cobertores que eu havia colocado ali para quando meu pai perdesse a noção do tempo e dormisse lá.

“Eu nem quero saber.” Eu falei, enquanto andava até uma cadeira e a puxava para o lado dele.

Ele riu e me olhou.

“Hey little one.” Ele falou sorrindo me fazendo derreter toda. Sentei do seu lado e suspirei.

“Eu admiro você.” Eu murmurei.

“Pelo meu cabelo? Um monte de gente me pergunta quais os produtos que eu us-“

“Pela sua força...” eu o corrigi, revirando os olhos e rindo. Ele abriu a mão que estava mais perto de mim e cobriu meu corpo com o cobertor também, me puxando para mais perto de si.

“Eu não sou forte Abbie, não na verdade. Eu acho que se o Scott não fosse o alpha, eu provavelmente seria um ômega.”

“Mas... Olha pra você Isaac. Todo calmo e concentrado, enquanto nós estamos a horas da nossa morte.” Eu falei e olhei para as minhas mãos. Eu quis dizer isso. Não vejo sentido algum em esconder o fato de que eu estou aterrorizada.

“A gente não vai morrer Abigail.” Ele falou, fazendo cafuné nos meus cabelos.

“Mas e se acontecer? E se o Nogitsune matar a Lydia e depois o resto de nós?” eu mordi meu lábio inferior, sentindo o medo se apossar cada vez mais de mim. Isaac percebeu isso e deixou sua cabeça encostar no meu ombro, enquanto ambos olhávamos para fora, pela janela do escritório.

“O que você acha que acontece quando... Você sabe... A gente morre.” Eu perguntei e ele sorriu, franzindo as sobrancelhas. Isso era o mais perto dele que eu já estive na vida, e eu tenho certeza que ele podia escutar meu coração batendo feito louco.

“Eu não sei. Eu meio que gosto da ideia do céu. Quer dizer, não pode só terminar, pode? Então pra mim, toda a ideia de céu é promissora... Como se fosse uma certeza de que a vida continua.” Ele falou, levantando a cabeça para olhar pra mim, “O que você acha?” ele me perguntou genuinamente curioso.

“Você vai rir.” Eu falei meio embaraçada.

“Eu prometo que não vou rir.” Ele assegurou e eu suspirei.

“Ugh... Tudo bem.” Eu falei, limpando minha garganta, “Eu nunca acreditei muito nessa coisa de ‘Deus’. Claro, eu acredito que haja alguém maior e tal, mas eu nunca rezei ou algo assim, especialmente depois que eu descobri sobre toda essa coisa sobrenatural. Mas quando minha mãe morreu... Bem... Eu...” eu pausei, tentando não soar muito triste. Isaac sorriu e deu dois tapinhas na minha coxa, me encorajando a continuar.

“Por alguma razão estranha, eu ia para o balcão, olhava para as estrelas e procurava a mais brilhante, e depois eu... Eu começava a conversar com ela, como se ela pudesse me ouvir. Como se ela fosse minha mãe.”

Eu terminei de falar e senti o corpo do Isaac vibrando, enquanto ele ria.

“Estrelas... Você acha que nós viramos estrela.”

“Você prometeu que não ia rir!!” Eu falei, batendo no seu braço, enquanto ele tentou controlar isso.

“Desculpa, desculpa.” Ele levantou as mãos. “Mas uhm... Você já escutou aquela história que, eu não sei todo mundo no planeta já ouviu que as estrelas são apenas corpos celestes que já estão mortos a milhares de anos luz?” ele perguntou sarcasticamente e eu dei um soquinho de mentira no ombro dele, rindo.

“Sim, mas eu gosto de pensar que quando nós morremos nossa energia, ou qualquer coisa que sobra da gente, se junta aos seus “corpos celestes”.” Eu respondi.

Suspirei e sorri.

“Enfim...” eu o olhei.

Ele sorriu e me abraçou.

“Nós vamos ficar bem. Ninguém vai virar estrela ou qualquer coisa do tipo.”

“Eu realmente espero que isso aconteça. Não sei se conseguiria aguentar perder mais alguém.”

“Hey. Você não vai perder ninguém. Todo mundo vai ficar bem e tudo vai voltar a ser como era antes de toda essa bagunça.”

Eu o olhei e desejei que eu pudesse ser a Allison. Eu desejei que ele me amasse, porque eu sei que eu poderia ama-lo de volta. Eu sei que eu o amaria do jeito que ele merecia. Eu sei que ele e a Allison tinham “alguma coisa”, mas eu também sei que a Allison nunca o amaria tanto quanto ela ama o Scott, e eu sei que eu nunca amarei ninguém como amo o Isaac. Eu tinha tanto para oferecer e eu certamente faria de tudo por ele. Eu daria tudo e qualquer coisa pra ele. Tudo o que ele tinha que fazer, era só pedir.

(...)

Nós tínhamos encontrado a localização do Nogitsune e agora estávamos lutando com os onis.

Isaac estava tentando machuca-los de todas as maneiras possíveis, mas eles permaneciam intactos, a única coisa que ele conseguia ao ataca-los era atingir fumaça negra. Eles sempre acabavam voltando para a forma antiga.

Eu continuava atirando contra eles, esperando que alguma hora isso fosse dar certo, mas nada adiantava.

Eu nunca havia visto criaturas tão fortes assim. Eles haviam conseguido acabar com as balas de três das minhas quatro armas, e haviam me feito perder dois punhais e uma short blade.

 “Se continuar assim, nós não vamos durar muito!” eu gritei, vendo o Isaac ser jogado ao chão.

As flechas da Allison iam e viam com tanta força e rapidez, que parecia que estava chovendo.

Olhei para o lado e vi um oni chegando cada vez mais perto de mim, enquanto eu atirava e atirava contra ele. Até que eu escutei um clique.

“Porra!” eu disse, percebendo que estava sem balas. Novamente. Joguei minha arma no chão e peguei a única coisa que havia sobrado: Minhas ring daggers chinesas.

“Merda.” Segurei minhas adagas com mais firmeza. O Oni continuou chegando mais perto, e a cada passo que eu dava para trás, mais perto de mim ele chegava.

“Uhm... Gente...” eu falei, segurando mais forte minhas adagas, dando mais passos para trás, tentando não cair.

Isaac estava cercado por dois deles e a Allison estava lutando com outros três.

“GENTE!” eu gritei. Agora o oni estava perto o suficiente para me matar, se ele quisesse seria fácil e rápido.

Suas mãos agarraram meu pescoço e ele me levantou com facilidade, eu comecei a me debater, tentando me soltar. Eu não conseguia respirar, a cada vez que eu me mexia, mais forte ele apertava meu pescoço, então foi nessa hora, no desespero que eu me lembrei das minhas adagas.

Levantei minhas mãos, mesmo sentindo todo meu corpo lutando por ar, e enfiei as adagas no peito do oni. Ele olhou para baixo e viu as duas adagas presas na roupa, levantou a cabeça novamente e a moveu para um lado, me olhando como se eu fosse burra.

Suas mãos apertaram meu pescoço mais forte e eu comecei a chuta-lo, tentando desesperadamente me soltar dele e voltar ao chão.

Eu não conseguia mais respirar, sentia que estava começando a ficar roxa por causa do seu aperto forte no meu pescoço. Eu abri minha boca, tentando a todo custo enviar ar para dentro dos meus pulmões enquanto minhas mãos estavam firmemente apertadas em volta das dele, tentando desesperadamente tira-lo de perto de mim.

“NÃO! ABBY!” eu escutei a Allison gritar, então de repente uma flecha foi plantada no peito dele, o fazendo me soltar no chão com um baque surdo.

Eu cai e coloquei minhas duas mãos nos chão, tossindo enquanto tentava recuperar meu fôlego. Eu olhei para cima e tudo aconteceu tão rapidamente. Parecia que alguém tinha transformado tudo em slow motion.

Eu vi o oni se transformando em uma fumaça negra, eu vi a Allison perto de mim, sorrindo pra mim, tentando me ajudar a levantar e eu vi um oni, com a sua espada erguida, vindo em direção da Allison, que continuava completamente alheia a existência desse último.

“ALLISOOOOON!” eu escutei o Isaac gritando através das suas presas de lobisomem. A preocupação em seus olhos. Tantas emoções sendo transmitidas em um grito desesperado.

Eu o olhei e vi o quanto ele a amava, o quanto ele prezava pela sua segurança. O quanto ele estava desesperado pra conseguir salva-la. Eu vi seu coração clamando por uma coisa.

Uma única coisa.

Allison.

Ele nunca me amaria assim. Ninguém nunca me amaria assim. Ninguém nunca se importaria comigo assim. Talvez... Só talvez, se a Allison não estivesse aqui. Talvez eles me amassem o tanto quanto a amavam. Talvez Isaac me desejasse tanto quanto ele a desejava. Talvez eu não me sentisse tanto um fardo assim. Talvez eu realmente conseguisse ser feliz. Eu só tinha que deixar o oni fazer seu trabalho. Eu só tinha que fechar meus olhos e deixar o oni a matá-la.

Então.

Eu fechei meus olhos.

De repente todo o cenário mudou. De repente, só tínhamos eu e Allison. Nós estávamos em um jardim coberto por neve. Nós tínhamos 4 e 5 anos, respectivamente.

“Vamos garotas, entrem dentro de casa. Está muito frio pra vocês ficarem ai fora!” meu pai gritou.

Eu e Allison estávamos brincando na neve, atacando uma a outra com bolas de neve.

“O que você acha que a gente vai ganhar de presente de natal?” Allison me perguntou.

“Não sei. O que você quer ganhar?” eu a olhei.

“Eu iria amar se a mamãe me desse um gato. Seria tão legal ter um gato.” Ela sorriu e bateu palmas.

“Eu prefiro cachorro.” Eu sentei e olhei para os meus minúsculos dedos.

“O que foi Abby?” ela sentou também e me olhou.

“Você acha que um dia alguém irá gostar de mim o tanto que eles gostam de você?” eu suspirei e mordi meu lábio inferior. Sentindo meus olhinhos se encherem de agua.

“Bi... Do que você está falando?” ela sentou na minha frente e pegou minhas duas mãos, “É claro que vão gostar de você. Todos gostam de você. O papai gosta de você. A mamãe gosta de você. Eu gosto de você.” Ela sorriu.

“Eu tenho medo de ficar sozinha Ally. De ninguém querer ser meu amigo. De todos me abandonarem.”

Ela suspirou, pegou suas mãozinhas minúsculas e gordinhas e colocou no meu rosto, me fazendo olha-la.

“Eu nunca vou te abandonar Abigail. Eu sempre vou estar aqui, até mesmo quando eu não estiver. Você é minha irmãzinha. Eu nunca, nunca vou deixar nada de ruim acontecer com você.” Ela sorriu e me abraçou. Allison se levantou e viu um gatinho pequeno. Ela deu um sorriso maior mostrando seus dentinhos pequenos e brancos.

“Shhh... Não faz barulho. Se não você vai assustar o gatinho.” Ela sussurrou, colocando o dedinho indicador na frente da boca. Me pedindo silencio.

“Cachorros são mais legais.” Eu pulei, assustando o gatinho e fazendo a Allison gritar. Eu ri e sai correndo, enquanto ela corria atrás de mim.

Depois o cenário mudou novamente. Era natal e eu estava descendo as escadas da nossa antiga casa vestida em um vestidinho branco, com um suéter vermelho por cima.

Eu me lembro desse natal.

Foi quando eu convenci o papai e a mamãe a me deixarem trazer um gatinho pra casa.

Um gatinho pequeno e branco que eu havia visto naquela manhã no pet shop quando sai com o meu pai para comprar o presente de natal perfeito para a Allison.

Allison segurava o gatinho no colo e ela estava tão feliz. Sorrindo tanto que chegava a formar covinhas profundas em sua bochecha.

Essa garotinha merecia tanto na vida. Ela merecia ter tudo. Ser feliz. Sorrir. Ela merecia sorrir daquele jeito todos os dias.

Então quando o cenário mudou novamente, eu já sabia o que deveria fazer.

Eu sabia que aquele olhar de preocupação no rosto do Isaac significava que aquela pequena garotinha com o gatinho na mão seria capaz de sorrir de novo daquele jeito. Que ela finalmente seria feliz como deveria.

Eu achei que não iria conseguir fazer isso a tempo, mas quando eu senti a espada entrando no meu corpo, enquanto eu puxava Allison e a tirava do caminho, eu sorri, me sentindo repentinamente feliz.

Eu havia conseguido.

Eu havia conseguido salvar minha irmã.

E foi ai que as coisas voltaram ao normal.

Como deveriam ser.

“ABIGAIL!!!!”  Allison gritou, enquanto todos os onis viraram fumaça preta. Meu corpo caiu no chão e Allison me pegou em seus braços, me segurando perto dela. Isaac correu pra perto de nós, assim como o Scott.

“Não. Não. Não não não. Abby. Por favor, não faz isso comigo.” Allison falou, “Fica comigo Abigail. Você não pode fazer isso comigo.” Ela falou respirando pesadamente, algumas lagrimas caindo de seus olhos.

Eu sempre tive ciúmes da Allison, eu sempre lutei pra ser igual ela, pra ser aceita pelas pessoas como ela era, mas quando eu vi o oni vindo para cima dela com a espada, alguma coisa me tirou do chão e me fez ficar entre ela e a espada. Alguma coisa me fez esquecer todos os momentos de ciúmes e todas as vezes que eu desejei que algo acontecesse.

Essa “alguma coisa” era aquela promessa que ela havia feito para mim há tantos anos atrás, aquela promessa de nunca me abandonar e de sempre cuidar de mim. Eu nunca fui uma boa irmã para Allison, eu sempre quis ser como ela e ter tudo o que ela tinha, mas quando eu me lembrei daquela garotinha, àquela garotinha de cabelos castanhos enroladinhos, covinhas profundas e um sorriso extremamente doce que havia me prometido que nunca me abandonaria, eu sabia que não poderia deixa-la morrer. Ela não merecia isso, ela merecia todas as coisas boas que o mundo tinha para oferece-la, então eu dei a minha vida para que ela fosse feliz. Finalmente ela seria feliz, e eu finalmente seria feliz também.

Eu sei que eu fiz o melhor para todos.

“Abby!” ela sacudiu meu ombro e eu tossi, sangue saiu do meu ferimento conforme eu tossia.

Eu sorri pra ela.

“Eu queria ser como você...” eu murmurei.

“O que? Abby. Não faz força. Eu vou te tirar daqui e você vai ficar bem.” Ela mordeu seu lábio para impedir os soluços de sairem.

“Eu queria... Eu queria ser bonita que nem você.” Eu murmurei mais uma vez.

“Abby. Do que você está falando? Hey... Olha pra mim... Você é! Você é bonita, você é a garota mais bonita que eu já vi na vida!” Allison começou a chorar enquanto me segurava.

It’s okay. Eu estou feliz.” Eu respirei fundo e sorri.

“Não. Não não não não. Abigail. Por que você fez isso? Porquê? Era pra ser eu! Eu que deveria estar no seu lugar!” ela soluçou mais forte.

“Ally. Está tudo bem. Não dói.” Eu sussurrei.

“Por favor Abby, você não vai...” ela soluçou, “Isso não é justo.” Ela soluçou de novo, “Não faz isso comigo. Você não pode me deixar. Não assim. Não agora.” Allison me segurou mais perto de si e me olhou, chorando.

“Eu sinto muito Allison...” ela começou a fazer carinho no meu rosto e me trouxe para mais perto de si, me segurando perto do seu peito.

“Não sinta. A mamãe sempre pensou que eu era a mais forte. Ela me dizia que eu tinha que te ensinar tudo, que eu tinha que aprender tudo o que podia pra poder cuidar de você depois, e eu não fui capaz de salvar você.” Ela chorou, “Eu não sou forte Abby. Eu não sou, não sem você! Você sempre foi a mais forte. Desde o começo. Tudo o que eu fiz, eu fiz por sua causa. E agora olha só pra você...” ela parou de falar porque não conseguia controlar a voz, devido aos soluços que a sacudiam.

“Minha pequena irmãzinha. Tão corajosa. Tão brava. Eu sinto muito... Eu sinto muito Abbie... Eu amo você Abigail.” Senti as suas lágrimas caindo no meu rosto e ela beijou minha testa. Eu sorri.

Isaac agora estava atrás da Allison, com a mão no ombro dela, sem saber direito o que fazer. Eu levantei um pouco a minha cabeça para olha-lo.

Ele notou que eu o estava olhando, ele sorriu. Seus olhos estavam cheios de agua.

“Hey... Little one...” ele sussurrou devagar e eu ri novamente, um pequeno barulhinho escapando dos meus lábios. Eu respirei fundo, sentindo um bolo na garganta e tentando impedir as lágrimas que queriam cair. Quando eu o olhei nos olhos, não consegui conter as lagrimas.

“Tome conta dela pra mim, okay?” eu falei e ele balançou a cabeça afirmativamente.

“Ame ela do jeito que eu amei você.” Eu finalmente confessei, mas a única pessoa surpresa era a Allison. Isaac sabia. Ele sempre soube. Ele era um lobisomem apesar de tudo. Ele não precisava das minhas palavras para confirmar meus sentimentos. Ele sentou na minha frente, pegando minhas mãos nas dele.

“Se te dizendo que eu te amo fosse curar suas feridas, eu faria Abbie. Eu realmente faria.” Ele falou. Seus lábios estavam projetados para frente e seu nariz estava vermelho por causa das lágrimas.

“Isaac Lahey. Meu Isaac... Eu acho que... Acho que... Que eu teria gostado do... Do som disso.” Eu sorri, sentindo Allison sussurrando “não” contra a minha pele.

Senti meus pulmões falharem e comecei a tossir. Conforme eu tossi, um pouco de sangue escorreu pela minha boca.

“UGH!!” eu senti falta de ar e meu corpo lentamente desistindo de mim.

“Allison...” eu tentei respirar fundo, sentindo um bolo na garganta. “Você precisa... Você precisa falar... Falar para o papai que eu amo ele... Eu...” eu tossi, sentindo um pouco de sangue sair da minha boca novamente, “Eu amo todos vocês, eu só... Eu só queria ter tido tempo de... De ter conseguido mostrar o quanto. Eu não fui... Exatamente... A filha e a irmã... Do ano.” Eu murmurei, sorrindo.

“Não. Abigail... Por favor... Não me abandona.” Allison falou, chorando cada vez mais.

“Eu... Eu nunca... vou te abandonar Allison. Eu sempre vou estar aqui, até mesmo quando eu não estiver.” Eu sussurrei fechando meus os olhos e deixando a escuridão tomar conta de mim.

E a última coisa que eu ouvi antes da escuridão me levar foram os gritos da Lydia e o choro incessante de Allison.


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Notas finais do capítulo

Bom, vocês gostaram? Essa fic é um dos meus xodós e eu tive a inspiração pra escreve-la após ler um imagine que tinha como ideia central, tudo isso. Eu amo a Abby de um jeito, e eu chorei tanto escrevendo essa fic gente. Vocês não fazem ideia!
Eu tenho mais três partes dessa fic, caso vocês queiram, eu posso postar.
A primeira é o que aconteceu logo após o fim. É bem triste!
A segunda é após alguns meses, com o Isaac.
E a última é o flashback em que ela matou sua primeira lobisomem pela primeira vez.
Se vocês quiserem ler essas três partes, me digam e eu posto!
Me digam se gostaram, qual sua parte favorita e qual parte vocês mais choraram, e se choraram aqui nos comentários!
Obrigada por terem lido pessoal! Até a próxima!



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