Átila odeia o que está fazendo.

Odeia ainda mais ficar comparando.

Mas ele o faz de qualquer maneira.

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Ele ama Filipa com uma leveza, um carinho, reservado para melhores amigos. Seu amor por ela é morno e faz com que sua alma inteira vibre e fique exatamente onde deve estar.

Ele ama Maria Isabel como um náufrago. Entre a vontade de continuar lutando contra a maré e a vontade de simplesmente se entregar e ser tragado pelas ondas.

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Ele e Filipa são iguais de várias maneiras. Eles têm suas brigas, com mais frequência do que ele gostaria, mas elas nunca são cansativas e normalmente terminam com os dois na cama; felizes e satisfeitos e entendendo um ao outro melhor.

Suas brigas com Maria Isabel começam assim que um dos dois põe um pé para fora da cama. Cada conversa que ele tem com ela é emocionalmente exaustiva.

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Filipa ama poesia e livros polêmicos e revolução. Ela ama ainda mais as coisas de que os dois gostam, apesar de que ela nunca deixa de gostar ou fazer algo apenas porque ele não gosta.

Maria Isabel gosta de música. Ela também gosta de livros, mas nunca os que ele gosta. Ela sente um prazer macabro, que ainda o assusta, em enganar os outros. Ela ama Jasmim. Ela tenta fingir que não se importa, como se não fosse grande coisa o fato de que ela é mãe. Mas é e ele consegue distinguir a afeição mal contida em seus olhos toda vez que ela vê a filha deles.

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A primeira vez que sua esposa e sua filha se encontram, Filipa ainda está se recuperando de um tiro. Ela sorri o máximo que pode, mas não consegue levantar. Jasmim sorri de volta, aperta a mão dele e não faz mais nada.

Filipa faz elogios e a conta sobre como ele a procurou e como ela estava ansiosa para conhece-la. Sobre como agora seriam uma família. Jasmim aproxima-se mais de Átila e só se afasta dele quando Filipa pergunta:

— Posso te dar um abraço?

Jasmim dá, pelo pouco que a conhece, Átila sabe que sua menina é carinhosa e não nega um abraço, um afago, a ninguém.

A primeira vez que sua filha e a mãe dela se encontram, existe tensão entre as duas. Maria Isabel ainda está se recuperando das queimaduras e parece ligeiramente envergonhada. Ela olha para Jasmim e Átila não consegue descrever o que ela está sentindo. Ela apenas olha para menina, um pequeno sorriso nos lábios, nunca tirando os olhos dela, durante todo o tempo em que passaram lá.

Jasmim olha para a mãe não com raiva ou medo, como havia dito que sentia assim que ele a havia encontrado, mas com repreensão. Ela se afasta de Átila assim que entram no quarto, indo em direção a Maria Isabel, e ele tem que lembrar que elas já se conheciam, haviam passado um bom tempo juntas, mesmo sem saberem que eram mãe e filha.

Jasmim para ao lado de Maria Isabel, avaliando suas queimaduras.

— Eu disse que nada de bom iria acontecer se você continuasse querendo fazer mal a todo mundo.

Maria Isabel levanta uma sobrancelha.

— É. – Ela responde.

Não há abraços.

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Jasmim e Filipa não criam um laço tão rápido quanto ele gostaria. Átila acha que em parte é porque Filipa tenta demais. Acha que talvez sua esposa seja mais afetiva do que sua filha se sente confortável, vindo de uma estranha. Mas Filipa acaba conquistando Jasmim de qualquer maneira e logo a menina está rindo de suas piadas e buscando seus abraços e pedindo sua opinião em certo vestido. Um dia, Átila a pega olhando para Filipa enquanto sua madrasta a ensina a tocar piano e é como se Jasmim estivesse olhando para um anjo.

Maria Isabel e Jasmim evoluem lentamente de tensas para ligeiramente desconfortáveis, tudo envolta por uma áurea de familiaridade desconcertante, como dois grandes amigos que se encontram pela primeira vez após uma briga feia. As duas não convivem muito e Maria Isabel está sempre indo e voltando da corte, mas, devagar, elas vão construindo uma relação que se encaixa à elas. Jasmim sempre gosta dos presentes que Maria Isabel lhe envia e ri das novidades da corte que a mãe lhe escreve. E quando elas estão juntas, e é com certa apreensão que Átila percebe, Jasmim simplesmente adora as respostas atravessadas que Maria Isabel dá para todo mundo menos ela.

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Filipa levanta a cabeça e olha para ele com olhos cheios de amor. Ela descansa uma mão sobre seu peito, bem acima do seu coração, e uma sensação quente se espalha por todo o seu corpo. Ele a acaricia, desenhando círculos em sua pele macia, e a beija devagar, sem querer nunca sair de seu lado.

Maria Isabel coloca sua mão na barriga dele, perto o suficiente do coração para esmaga-lo, perto o suficiente de seu membro para que ele queira estar dentro dela de novo. Suas mãos viajam pelo corpo dela, traçando linhas e apertando, sentindo a pele rugosa onde o fogo a tocou. Ele olha em seus olhos escuros e sente amor e ódio em medidas iguais. Há um brilho de brincadeira nos olhos dela, misturados com afeição. E, por baixo de tudo, há loucura.