Pecados - Interativa escrita por vivian darkbloom


Capítulo 4
Capítulo III - Promessas.


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, tudo bem? Eu demorei um pouco, era para ter postado esse capítulo quinta-feira, porém eu fiquei com fortes enxaquecas alguns dias e também tive compromissos que atrasaram... enfim, de qualquer forma, desculpa.

Nesse tempo, eu estava conversando com uma das leitoras sobre algo que eu vi ser muito comum no wattpad e gostaria de saber a opinião de vocês - seria criar um grupo no whats para poder avisar vocês de atrasos, tirar dúvidas, mostrar materiais extras... enfim, uma forma da gente se comunicar melhor (tanto sobre Pecados, quanto sobre Hopeless, porque sei que tem leitores de ambas aqui, inclusive vou atualizar lá essa semana). O que acham? Participariam?
Se vocês toparem, eu deixo o link no tumblr e no próximo capítulo, ai é só clicar para entrar!

Anyway, vamos ao capítulo, boa leitura!



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Betelgeuse Weasley.

1 de setembro de 1969.

           O dia 1 de setembro era sempre notável para todos os bruxos e bruxas de toda comunidade. Embora as férias fossem gratificantes e relaxantes para a maioria, era em Hogwarts onde tinham seus lares, uma nova família e se podiam ser donos de suas próprias ações.

Para alguns, aquilo era a mais pura liberdade. Na mente de Betelgeuse, ela estava voltando para sua verdadeira casa, onde não precisa fingir ser uma pessoa que, em hipótese alguma, era. Além disso, somente na escola conseguia fugir, mesmo que um pouco, do modo excêntrico de Arthur, seu irmão, que conseguia sempre lhe fazer passar alguma vergonha.

Assim, havia sido de maneira rápida que ela se afastou dele no expresso, procurando uma cabine em que pudesse ficar sozinha até seus amigos chegarem. De forma ansiosa, balançava os pés, enquanto um grande livro de feitiços repousava em seu colo.

Suspirando, notou que dificilmente poderia se concentrar na leitura. Estava nervosa. Era seu quinto ano em Hogwarts, porém todos sabiam ser o mais decisivo, não só para si, como também para todos ao seu redor. E ela mal podia esperar para finalmente conseguir provar que era tão diferente de sua família quanto era possível.

Com satisfação, ela notou que aos poucos os jovens deixavam seus pais para trás e se reuniam em bandos, conversando de forma alta e animada. Não demorou muito para o volume considerável de alunos passar para o lado de dentro e muitas vozes serem ouvidas por todos os corredores do trem. Odiava essa bagunça, porém significava que logo seus amigos iriam aparecer.

Ouviu alguns risos do lado de fora, assim como uma voz conhecida e um tanto autoritária pedindo licença. Não demorou até a porta de seu compartimento ser aberta de maneira rápida, fazendo-a fechar o livro.

—Finalmente te achei — comentou Rosamée Greengrass, colocando a cabeça para dentro e sorrindo. Junto dela, estava Alexandra Rosier, segurando a mão de uma criança de não mais que onze anos.

Betel sabia que Alex possuía três irmãos. Os mais velhos, Pierre e Mary já haviam concluído os estudos, sendo eles tão diferentes quanto fogo e gelo, o que gerou um ódio mútuo, alimentado pelo apoio incondicional que a jovem oferecia a Mary.

Já a garotinha ao seu lado era Lorrane Rosier, sua adorável irmã mais nova, de aparência muito similar à sua. Ambas eram morenas, embora a mais jovem tivesse fios mais compridos e cacheados, com olhos azuis marcantes da família, assim como as salientes maçãs do rosto, que possuíam traços delicados.

Uma vez, quando sua mãe as viu acompanhadas de Pierre e Cora Rosier, os pais da garota, disse que ter filhas tão belas era uma doce benção, ao mesmo tempo que uma maldição. Betel não entendeu na época, mas após se aproximar de Alexandra descobriu como moças tão adoráveis poderiam ser... devastadoras

Entanto, mesmo com diversas semelhanças, a mais velha se destacava, não só pela idade e curvas mais aparentes, mas também pelos tons escuros em sua roupa, onde a irmã preferia os claros. Eram, sem dúvidas, em suas diferenças uma adorável visão.

Visão essa que se tornava mais bela pela companhia de Rosamée ao lado delas, destacada pelos cabelos ruivos e uma beleza que era invejada por muitas meninas de Hogwarts.

— Olá para vocês — cumprimentou, observando as Rosier sentarem no banco a sua frente, enquanto Rosa se aproximava de si. A mais jovem parecia extremamente ansiosa. — Animada para entrar em Hogwarts, Lorrane?

— Nervosa, eu diria. — Ela sorriu timidamente, suas mãos não paravam quietas em seu colo. Alexandra jogou o braço ao redor dos seus ombros, tentando acalma-la.

— Você é uma Rosier, o que significa que vai ser ótima, não tenho dúvidas. — Disse, acariciando seus cabelos delicadamente. — Agora se acalme.

A garota concordou com a cabeça, ainda que suas mãos não parassem de se mover, porém logo sua curiosidade foi atraída pelas paisagens belas que passavam pela janela do trem.

— Por que você está com essa cara de irritação? — Rosamée perguntou, finalmente notando o vinco na testa da amiga, atraindo também o olhar de Betel. Ambas sabiam que era uma mania dela sempre que algo lhe atormentava.

— Nada — desconversou, dando de ombros, porém as duas notaram que sua testa apenas franziu ainda mais.

— Você é tão boa em disfarçar quanto um trasgo — implicou, fazendo-a semicerrar os olhos em sua direção.

— Você não vai querer saber — rebateu, se distraindo em fazer uma trança no cabelo de Lorrane. Rosa se dividia entre olhar para ambas, segurando uma risada. A implicância na amizade delas jamais iria acabar, para seu divertimento.

— Prefiro conhecimento à ignorância — insistiu, ainda mais pelo fato de agora saber que, o que quer que fosse, incluía seu desgosto. E se tinha algo que odiava, era ser mantida nas sombras de uma situação.

— Está bem — se deu por vencida, soltando um suspiro enquanto terminava de prender o cabelo da irmã. —  Acredita que minha mãe me fez ir conversar com a família Sancoeur? Lucius estava comigo e quase gargalhou da minha cara de desgosto.

Betel quase riu pela sua demora a dizer isso. Não era segredo para ninguém que Louis e Richard, pai de Demetrius, andavam tendo diversas conversas acerca do futuro dos filhos. Assim como, Alexandra bem sabia, a jovem Weasley era mais intima de seu provável futuro noivo do que uma simples amiga deveria ser.

Era quase um acordo silêncio entre elas jamais deixar tais confusões atrapalharem a amizade. E, até o momento, seguiam bem, visto o desprezo da Rosier para o garoto.

— É uma pena que eu tenha perdido essa cena — riu Rosamée, puxando um pacote de doces de sua bolsa. Sempre carregava um pouco consigo em viagens, pois odiava ter que sair procurar a moça do carrinho. — Já conseguiu conquistar sua sogra?

Naquele instante, Betel não conseguiu controlar a risada. Elara Sancoeur tinha a fama de ser uma mulher bem... difícil de se lidar.

— Para de ser imbecil, Rosie! — Exclamou, visivelmente irritada. Lorrane a encarou, surpresa pelo linguajar que a irmã raramente usava em casa. — Desculpa, Lo.

Ambas notaram que Rosamée tentou não se sentir nostálgica pelo uso de seu tão conhecido e antigo apelido, dado por seu primo Sirius, em uma época maravilhosa onde eles sabiam tudo sobre o outro. Agora, ele costumava ser apenas alguém que ela achava conhecer, mas já não tinha tanta certeza disso.

E era óbvio para qualquer um a falta que a mesma sentia dele. Principalmente após os acontecimentos do último ano.

— E só para registro, eu realmente acho que Elara não gosta muito de mim. Eu posso usar isso ao meu favor, sabe? Ninguém quer o filho casando com uma jovem detestável. — Alexandra sorriu de forma maliciosa, lembrando vagamente sua prima Bellatrix.

— Não terá de se esforçar muito, então... — brincou, fazendo-a mesma abrir a boca, fingindo de maneira teatral estar chocada.

— Não sei o que quer dizer com isso, porém tenho certeza que em pouco tempo ela irá me odiar ainda mais.

 — Teimosa — sussurrou a Greengrass, revirando os olhos e jogando um chocolate na direção da outra garota e oferecendo alguns para Lorrane. — Você é uma criatura chata e teimosa. Pobre Sancoeur.

— É por isso que ele pode ficar com Betel, não comigo — respondeu, fazendo a garota revirar os olhos. Os dois jamais dariam certo, isso era algo que ambos tinham concordado no último ano.

Fosse pelas divergências de ideias e comportamentos ou pela proibição dos pais, era óbvio que o pequeno caso que possuíam estava fadado a dar errado. E assim foi.

E então, de forma abruta, a conversa entre elas foi interrompida pela porta do vagão sendo aberta com certa violência por uma Bellatrix, seguida, também, da irmã caçula.

— Achei que você estava sozinha, Alex — comentou a Black, olhando para a Rosamée e Betelgeuse com profundo desdém. As jovens sustentaram o olhar da mais velha, pensando o quão lindo seria sua cabeça fora de seu corpo.

O pequeno sonho dela era realizar esse feito, desde que a garota havia entregado a família Sancoeur o relacionamento dela e de Demetrius. Criatura infeliz, pensou, vendo-a desviar o olhar delas para focar em Alexandra.

— Oi, garotas — Narcissa cumprimentou animada, passando pela irmã e já se sentando. Um distintivo de monitora brilhava em seu peito, sendo utilizado com orgulho pela jovem. No último ano havia se matado para ser a melhor aluna não só da sua casa, mas da escola inteira, em busca daquela singela peça.

— Olá! — as irmãs Rosier cumprimentaram, juntas.

— Oi, Cissa — Rosamée ignorou a presença de Bellatrix, para poder sorrir para a garota. — Parabéns pelo crachá de monitora, acho que Sonserina vai se dar bem esse ano, além disso Aurora vai gostar de sua companhia nas rondas.

— Nós sempre somos exemplares — interrompeu a Black mais velha, olhando com desdém para o uniforme que a prima já vestida, todo em tons azuis da Corvinal. — Não que você saiba o que isso significa.

— Bella, você precisava falar comigo? — Alexandra se colocou entre as duas, tentando evitar um possível confronto, que dependendo das proporções, se tornaria perigoso.

A morena suspirou, agora olhando para a Rosier.

— Sim, Alex, eu preciso — Ela pareceu hesitar por um segundo, avaliando o que deveria ser dito na frente de outras pessoas. — É importante.

— Tudo bem, vamos procurar um vagão vazio — Alexandra juntou sua bolsa e seu inseparável livro de feitiços. — Cissa, cuida de Lorrane para mim?

— Claro, vou contar tudo sobre Hogwarts a ela. — A loira disse, animada. Não havia nada melhor que uma árdua conquista para Black ficar com o humor nas alturas.

— Te encontro quando o trem chegar na estação de Hogwarts. — Disse Alexandra, beijando o topo da cabeça da irmã.

— Fique calma, Lo. Nós vamos te aguardar na Sonserina. E lá, você não vai se sentir sozinha — Bellatrix disse, se despedindo, enquanto Alexandra já a acompanhava para fora do vagão.

— Eu sinto muito por Bella. — Disse Narcissa, um pouco corada, quando a porta se fechou. — Ela não anda tendo noites fáceis, por isso está um pouco... estressada.

— E quando é que Bellatrix é calma? — questionou Rosa, erguendo uma sobrancelha. — De qualquer forma, isso não importa. Eu estou realmente feliz por você esse ano, Cissa. Já sabe quem é que vai te acompanhar nas rondas?

— Não, ainda não sei. Aliás, professor Slughorn, ele é o diretor da Sonserina, Lo, vai fazer uma pequena festa nos primeiros dias de aula, com alguns convidados de fora da escola. Acho que vai ser incrível! — nada a deixaria mais feliz do que uma comemoração onde todos poderiam admirar e suspirar por sua beleza invejável.

— Espero que convidem alguém interessante — comentou, pensando em uma pessoa bem especifica.

Não sabia o nome dele, tampouco a aparência, mas por tudo que seus amigos sonserinos diziam, ele era alguém que reconheceriam assim que o vissem. Um político importante e uma pessoa exemplar era alguma das coisas que o definiam, fazendo com que a jovem mal pudesse conter seu desejo de aproximação.

— Possivelmente sim, mas acredito que só serão convidados pessoas do clubinho dele — Rosa disse, pensativa. Não era segredo para ninguém que o professor somente se cercava de pessoas influentes e com futuros promissores.

— Nenhum problema para nós, então — respondeu, sorrindo convencida. Se orgulha muito da posição que ocupava dentro da escola.

A porta do vagão, então, se abriu mais uma vez, agora de uma forma mais calma, mostrando Lucius Malfoy do lado de fora. Ele entrou um pouco, olhando diretamente para Narcissa, que piscou, confusa.  

— Podemos ajudar? — Rosamée perguntou, erguendo a sobrancelha para o amigo.  

— Hm, sim — respondeu, ajeitando a gravata. — Black, precisam de você no vagão dos monitores.

— Ah, claro — ela se ergueu rapidamente, jogando os longos cabelos pelo ombro enquanto pegava sua bolsa. — Já volto, meninas.

Betel precisou morder o lábio inferior para não rir da cena seguinte – Narcissa, sempre orgulhosa e bela, passou por Lucius para sair do vagão, enquanto o mesmo, sem disfarçar muito, olhava diretamente para seu corpo, mas especificamente para sua bunda.

Inesperadamente, um pontapé atingiu sua perna, o fazendo pular para trás e Lorrane dar uma profunda gargalhada.

— Está maluca, Rosa?! — ele exclamou, enquanto se recuperava, xingando-a baixinho.  

— Não olhe para ela assim! — Rosamée implicou alto, mas para sorte do garoto a loira já estava fora de vista. — Idiota!

— Eu poderia descontar pontos da sua casa por isso, mas não vou porque estou me sentindo caridoso nessa tarde — respondeu, suspirando, enquanto a mesma o olhava ainda mais irritada. — Doida.

Antes que ela pudesse lhe acertar outro chute, ele fechou a porta, saindo para o corredor.

— Garoto abusado — resmungou, cruzando os braços.

— Até que eles formariam um casal legal — disse sorrindo, para a raiva da amiga. — Insuportáveis de metidos, mas até que legal.

Ganhou apenas um resmungo como resposta. Céus, aquele seria realmente um ano imperdível.

Andrômeda Black.

Expresso de Hogwarts.

Ela caminhou apressada pelos vagões, buscando alguém conhecido ou, no mínimo, algum lugar vazio. Havia ignorado os convites de Anthony para ficar em seu vagão, ainda mais ao notar que todas as amigas e amigos de Bellatrix estavam lá, exceto a própria.

Abriu algumas portas, se desculpando e vendo algumas cenas impróprias. O ano mal havia começado e, sendo próxima dos monitores, já havia conseguido fazer com que eles descontassem vários pontos. Queria que Narcissa estivesse ali, as duas estariam se divertindo ao fazer aquilo, porém havia deixado a irmã para trás e já começava a se arrepender disso.

Abriu mais uma porta, rezando para que qualquer um de seus amigos estivessem ali. Porém, aparentemente, ela apenas interrompeu a leitura de um aluno lufano.

— Me desculpe — sussurrou, já fechando a porta.

— Espere — ele chamou, a fazendo parar. Andrômeda conteve um revirar de olhos. Não estava com muita paciência naquele dia. — Você está sozinha?

— Não, não estou — resmungou, pronta para voltar todo seu caminho atrás de sua irmã.

— Não é o que parece — ele sorriu e ela não pode evitar reparar nas covinhas em seu rosto. Queria lembrar o nome dele, mas dificilmente conseguiria, visto que não possuía o longo conhecimento de todos os alunos de Hogwarts da forma que Narcissa tinha. — Pode ficar aqui, se quiser.

— Não precisa — por que as pessoas sempre insistiam em ser gentis? Normalmente ela admirava como todo mundo estava tentando lhe agradar, visto seu sobrenome. Mas naquele dia, em especial, tudo que queria era evitar esse tipo de pessoa.

— Vamos lá, não seja teimosa, Black. E eu não conto que você dividiu o vagão com um lufano abaixo de seu poderoso status de rainha, se você também não contar — ela podia notar a forte ironia contida em cada palavra e aquilo a irritava profundamente. — Sabe como é, também não pega bem para mim.

Andrômeda revirou os olhos diante de tamanha petulância.

— Eu jamais dividiria o vagão com qualquer pessoa abaixo de mim. Coloque-se no seu lugar. Agora, com licença — ela resmungou, virando-se irritada. Ninguém falava daquela forma com uma Black, muito pelo contrário. A sociedade devia-lhe respeito, principalmente aqueles inferiores.

Esperava que o comentário ácido o irritasse e ele se trancasse envergonhado no vagão até chegarem em Hogwarts. Para seu desgosto, o garoto apenas riu.

— Como quiser, m’ lady. Aliás, meu nome é Theodore Tonks! — foi preciso que ele gritasse o final da frase, pois Andrômeda já caminhava aborrecida pelo corredor.

— Tanto faz, imbecil! — ela gritou de volta, se controlando para não voltar lá e jogar uma azaração nele.

Quem diabos aquele lufano pensava que era, para lhe tratar daquela forma e ainda rir debochadamente? Andrômeda não era extremista como suas irmãs, mas ela jurou a si mesma que o Tonks não teria tanta paz durante aquele ano.

Alexandra Rosier.

Cabine do Expresso.

— Eu não sei o que fazer. — Bella sussurrou, olhando nervosa ao redor, com medo que alguém pudesse ouvir aquela conversa, mesmo que ambas as garotas estivessem sozinhas. — Mamãe colocou os remédios na minha bolsa, me disse para tomar todos os dias, mas isso não faz parar.

Alexandra suspirou, segurando as mãos dela entre as suas, tentando passar algum conforto. Observou algumas marcas de arranhões no pescoço da prima. Erguendo a mão, ela passou as pontas de seus dedos de forma delicada sobre elas.

Queria poder apagar as feridas ou passa-las para si. Qualquer coisa para que a garota diante de si sofresse menos.

— Como você fez isso? — perguntou, preocupada. Bellatrix se limitou a balançar a cabeça, seus olhos começando a se enxerem de água.

— Eu.... Não sei. Apenas me sinto desesperada ás vezes, como se existisse algo dentro de mim, me implorando para sair, tentando me dilacerar para chegar até a superfície. E tem aquela voz, ela não para, nunca, ela simplesmente não para. — ela raramente via a prima tão assustada, como uma criança precisando desesperadamente de amparo. Sentiu-se, de certa forma, honrada por ter sido permitida ver essas nuances da jovem. Sua mão continuava repousando em seu pescoço.

A última vez que a tinha visto tão perturbada, havia sido nas férias passadas, quando a mesma voltou de uma clínica em que seus pais haviam lhe forçado a ir. Uma esperança vã de melhora. Uma ilusão.

E Alexandra lhe ajudou a se recuperar a cada dia, porém duvidava que, em algum futuro próxima, pudesse lhe oferecer a paz de uma mente sem turbulências.

— Eu estou aqui com você agora, e eu prometo que não vou descansar até te ajudar com isso. Nós podemos ir à biblioteca, ler os livros, até mesmo os da seção proibida e procurar por alguma solução. Você não está sozinha, Bella — disse, já listando mentalmente todo o material que precisaria ler sobre o assunto. — Eu não vou deixar nada te machucar, nem você mesma.

— E se você não puder evitar? — Bellatrix perguntou, se aproximando de Alexandra.

Podia sentir sua respiração movendo seus cílios de forma sutil, enquanto cada detalhe de seu rosto poderia ser facilmente observado e decorado, se Bella já não tivesse feito isso antes.

Não só o rosto, mas também todo o corpo da jovem era como um mapa em que sabia todos os caminhos em sua mente, de tanto que já os havia traçado. Era como uma proteção para si, um local em que conseguia se abrigar da tempestade.

— Eu posso — a Black admirava aquela convecção cega, a confiança inabalável e até arrogante que a jovem possuía. Aquilo era seu mais terno conforto. — Você vai ficar bem, Bellatrix.

— Tenho medo — confessou, em um sussurro, enquanto a prima subia a mão de seu pescoço para seu cabelo, tocando os cachos com delicadeza e ternura. — É horrível...

— Eu sei — sussurrou, tentando passar confiança em seu sorriso fraco. — Mas não há nada que me faça desistir de você. Nada.

E então, como que para selar uma promessa, os lábios das duas se tocaram delicadamente, em um beijo onde ambas já conheciam os ritmos, gostos e sabores, mas nunca se cansavam.

Alexandra deixou que as mãos dela fossem em direção a sua nuca, lhe puxando e, em seguida, agarrando seus cabelos dourados. Ela sempre se mantinha calma, onde Bellatrix era a mais pura intensidade. Assim, a língua da morena tocava a sua com ferocidade, com se ambas pudessem se fundir naquele beijo.

Bellatrix gostava de comandar, saber que possuía o controle em suas mãos e talvez por isso, segurasse os cabelos da garota com firmeza, garantindo que ela não sairia de perto. Se pudesse, a manteria para sempre ali.  

Já Alexandra se contentava em obedecer, soltando suspiros leves enquanto a jovem traçava uma trilha feroz pelo seu pescoço. Se a prima lhe ordenasse qualquer coisa, obedeceria sem hesitar ou questionar.

Havia algo na atração mútua que as mantinha unidas, que era impossível de desvendar. E juntas, elas poderiam alterar as estruturas do mundo, mesmo que fosse um mundo somente delas.  


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