Escravo Seu. escrita por Thaiane Menezes


Capítulo 1
Para minha Paz, Sally.


Notas iniciais do capítulo

Espero que consigam visualizar o que eu visualizei.



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O relógio no canto da tela marcavam 18:30 de uma quase noite de quinta-feira, Guilhermo Emanuel Fonte Nueva estava  debruçado sobre os cotovelos, os olhos por trás dos óculos não viam a imagem refletida em suas lentes grossas de 3 graus de astigmatismo, respirando lentamente ele estava em meio a um devaneio gostoso de libertação pessoal secreta,  abrindo espaço para uma breve visita ao seu paraíso particular secreto. Grama fresca, brisa leve e vestes claras, quase virginais dançavam pela folhagem baixa de um campo de lavanda recém crescida, o sol no horizonte acentuava seus sorrisos e olhares em meio a uma corrida animada sem nenhum destino ou propósito, ela sabia o que fazer para o encantar e o fazia por puro prazer. Longos cabelos prateados e pele pálida polida com o mais puro sentimento de pureza e liberdade. Seus risos harmoniosos ecoavam pela consciência de Guilhermo o resgatando daquele mar sufocante da rotina diária.
—Hora de ir pra casa, Nerd. – O inimigo da baia ao lado o despertou do transe. Voltando a realidade iminente. – Ah não, esquece. Hoje é o dia do seu plantão não é? – ele riu se divertindo com o desconforto nítido de Guilhermo. – Sabe, eu desejo do fundo de minha alma que aconteça hoje o maior ataque hacker da história da empresa e que você se ferre sozinho aqui a noite toda. – Ele sorriu. – Tenha uma boa noite.
 Guilhermo o acompanhou sair com os olhos baixos e camuflados pelos óculos espelhados  pela claridade da tela. Ele sabia de onde vinha a raiz de toda aquela raiva e com o tempo aprendeu a não questiona-la, era mais fácil assim.
 Faziam exatamente 8 meses, 2 semanas e 3 dias que o servidor da empresa havia sofrido um dano de extrema periculosidade, centralizado no centro da rede de TI do subsolo do prédio da sede da Bayer’s Corp, uma potencia em pleno desenvolvimento na área de recreação social via internet ou outra rede social de merda como o Guilhermo costumava chamar em seus pensamentos. Ele nunca entendeu muito bem essa temática social da necessidade de interagir um com outro com tanto fervor pela rede e pessoalmente não usar nem 30% daquilo. Mas de forma alguma ele planejaria uma ataque de proporções tão grandes como o ocorrido naquele fatídico dia. A culpa real tinha sido dela, a musa da vida de Guilhermo, a única coisa que o fazia olhar pela janela e ter força de vontade para sair de casa mais um dia pra trabalhar e ter dinheiro suficiente para nova expansão de “Wonder Universe” , uma franquia de jogos quase falida que ele e mais uma pequena parcela de pessoas no mundo ainda insistiam em jogar. Acontece que Guilhermo conheceu “WU” – com ele aprendeu a abreviar com o tempoHá muitos anos atrás, quando ainda era uma criança asmática que não podia sair pra correr de bicicleta com as crianças do bairro. Ele logou pela primeira vez na cidade principal e logo no primeiro dia se apaixonou perdidamente por Sally, a filha mais nova de Sadimenez, a deusa de WU que rodeava as quests primarias de cada nova cidade daquele mundo. Guilhermo conhecia Sally como sua única amiga de verdade, e mesmo sabendo que no fundo aquilo poderia ser meio patético ele se sentia reconfortado quando ela o dava o sorriso de que precisava e o  acompanhava nas suas missões. Ele ficava impaciente ao ter que fazer as missões de outros níveis com suas outras duas irmãs, Lokaira e Nubiana e passava-as quase que instantaneamente só pra poder rever Sally de novo. Ele era apaixonado, amava completamente cada momento que passava com ela, principalmente nos finais de missões em que ela dizia “_Muito bem, Jovem mestre! Me sinto segura ao seu lado”, era um prazer particular do pequeno Guilhermo que sempre estava sentado em frente a um computador, em todos os momentos importante, feriados, comemorações, ou dias normais, até mesmo no dia da morte de sua mãe, quando tudo pareceu sem sentido ou rumo foi em Sally que ele encontrou conforto e acalento. Com o passar dos anos ele aprendeu a programar como consequência de sua paixão, porque nem sempre se tinha dinheiro para técnicos olharem as avarias da maquina, e também era necessário saber mais sobre códigos e sistemas de mecânica digital para mudar as sprites das irmãs e trocar definitivamente todas as acompanhantes pela única que ele sempre quis a seu lado. A amável Sally. O seu motivo de distração daquela noite horripilante.   
 Guilhermo cuidava da defesa da rede principal, onde eram guardados os logaritmos de calculo do sistema de organização dos cadastros do site, coisa que ele fazia com maestria quando não estava preocupado secretamente com alguma missão de Wonder Universe. Naquele dia ele havia deixado Sally em pose de um troglodita que a sequestrou para forçar um pacto entre reinos e era dever dele defende-la e resgata-la, porém como se fazer isso em apenas uma noite? Ele precisava de mais tempo e tempo era algo que ele não tinha naquela semana. A menos... A menos que ele trouxesse o jogo com ele e jogasse entre os intervalos de verificação do status do sistema principal. E assim o fez, porem a batalha final foi mais difícil do que o esperado e prendeu totalmente a atenção de Guilhermo que por conta disso deixou o caminho totalmente livre para os hackers da empresa adversária invadirem o sistema de derrubarem o servidor, e conseguirem roubar os dados. Guilhermo só não perdeu o emprego porque o chefe sabia que precisava de seus serviços e teve compaixão pelo luto recente do rapaz pela perda de seu pai. Agora ele tentava manter o foco no trabalho, buscando que aquilo fosse algo a ser importante em sua vida como era na vida das outras pessoas. Mas não, não era assim tão fácil ser mortal, ser humano como os outros, le doía os ouvidos as risadas altas e os olhos com tanto brilho e led espalhados em vitrines, carros e fachadas, ele estava cansado e só conseguia paz quando via os fios de cabelo prateado dançando pelo ar com a brisa leve. Ele apertou os olhos procurou voltar ao trabalho, se perguntando por quê?
 Depois das três e meia da manhã, e de reiniciar pela segunda vez o sistema secundário de segurança ele decidiu ir ai banheiro, lavou o rosto e se olhando no espelho se viu buscando traços do seu char online que lhe era mais familiar do que tudo na terra. Seus dedos corriam pelas suas bochechas e ele pensava no porque ainda estava ali procurando algo familiar nele se na verdade o seu “algo familiar” não estava ali, naquele mundo, naquele plano. Se lembrou de uma uma frase de um famoso livro que seu pai lida em voz alta pela casa quando estava feliz, "Mostre-me um homem que não seja escravo das suas paixões." Se olhou de novo e repetiu olhando para o espelho. “escravo de suas paixões”  - ele sentou-se no vaso sanitário e murmurou Sally. Seu olhar perdido fixo no nada, revelou em uma prateleira um frasco de remédios, seu cérebro pensou em pegado e seu corpo agiu sem defesa. Abriu o frasco sem nem ao menos olhar o rotulo e murmurou novamente em transe profundo. “Sally” – Ele tinha a realidade a espreita lhe dizendo que aquilo não era correto, que era loucura e que não havia nenhum tipo de garantia de que se feito, ele a encontraria do outro lado. Porém, o que é a certeza se não a irmã inocente da duvida? Ele não fez sentido, só fez o necessário para cessar sua alma de um fardo que ele chamava de corpo, tomou as seis pílulas que caíram em sua mão de uma vez e com uma segunda mão de água as fez descer, realidade era aquela que ele estava pronto a ver e viver do outro lado. Talvez loucura e prisão aqui, ele se jogou sem medo ao desconhecido se deixou ser eternamente escravo do seu amor. Seu estomago rangeu em dor e seu corpo começou a tremer e tentar em vão rejeitar a agonia do medicamento tomado com a intenção de morte. Respirou fundo pela ultima vez até que sua narinas fecharam e ele em agonia começou a se debater no chão ao lado vaso sanitário, como um menino se debatia para sair de uma roupa muito apertado, apertando a garganta com as mãos ele tentava gritar palavras sem sentido das mil que vinham a sua cabeça mas uma única estava lá, maior que todas as outras. “Sally, Sally, Sally... Sally”. A agonia cessou, o corpo anestesiado não sentia mais, não pertencia mais. O barulho passou e nada além do silêncio ele ouvia, ele sentia a consciência mas não sentia matéria física, somente um vazio pelo qual ele pairava, pensou em dedos, pensou no seu indicador e tentou fixar sua força nele para que se existente desse algum sinal de vida. Sem resposta. Era como estar em uma grande piscina, afundando constantemente sem noção de fundo ao superfície, ele se sentiu um tolo e parou de tentar achar sentido naquilo tudo, decidiu passar por aqui e aceitar as consequências da sua escolha. Sally, sua consciência em vão chamou mais uma vez, depois de um longo silêncio ele pode ouvir ao longe uma sibilar de risadas baixas e embaraçadas por sua percepção, chamou mais uma vez. Sally. E ouviu, ouviu mais vivida e real que jamais havida ouvido antes. Abriu os olhos que não sabia que tinha e pode ver um lindo céu azul com nuvens leves e espaçadas, viu a camada recém cortada de lavanda e pode ver o tecido claro e virginal voando junto com os cabelos prateados que dessa vez estavam parados a metros de distância dele, ela estendeu os braços e com os olhos marejados disse :_Você veio pra mim, Jovem Herói.


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Notas finais do capítulo

... E no fim eu curti escreve-la. Me conte o que sentiu. Criticas construtivas serão sempre bem vindas.



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