Young, Dumb & Broke escrita por I like Chopin


Capítulo 1
O mundo dá voltas, minha querida


Notas iniciais do capítulo

Pra começo de conversa, vocês precisam saber que eu sou a rainha dos memes.
Para Fê, Ju, Rebs e Nicky, que falaram na minha ideia até pra eu escrever uma fanfic sobre a gente. Meus amores, vocês são a melhor inspiração que eu já tive na vida. ♥



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—Filha, nós já estamos chegando. - assim que ouvi o aviso da minha mãe, tirei os fones de ouvido e me pus em alerta.

Eu estava na reta final do melhor dorama da minha vida, mas isso podia esperar.

Aliás, qualquer coisa no mundo podia esperar.

Com dezesseis anos, o título de "melhor amiga" já tinha caído em desuso e eu aceitara que melhores amigos e amigos para sempre são conceitos que simplesmente não existem no mundo real.

Mas a Iris de oito anos de idade não sabia disso e costumava ser a melhor amiga de uma outra menininha chamada Taís.

O tempo passou, Taís mudou de cidade, depois foi para o sul do país, então para os Estados Unidos e de volta para a primeira cidade.

Nossa amizade, claramente, sofreu um baque que não pôde ser remediado numa época em que nenhuma de nós tinha Facebook ou WhatsApp e ligações interurbanas eram caríssimas.

Mas agora era eu quem estava prestes a pegar um avião em São Paulo, perto da casa dela, para estudar num colégio adventista nos Estados Unidos.

Soa loucura. Eu sei, eu demorei para me acostumar com a ideia também.

Depois de quinze anos morando numa cidadezinha pacata de Minas Gerais, minha maior aspiração era, talvez, fazer Psicologia na USP de Ribeirão Preto.

A reviravolta da minha vida começou, na verdade, no ano anterior quando meus pais foram visitar um internato adventista no interior de São Paulo.

Minha mãe voltou falando sobre como a biblioteca era enorme, as garotas no residencial eram legais e eles tinham uma Escola de Artes e uma Escola de Línguas. Além disso, o campus era gigante e cheio de árvores.

Senhoras e senhores, eu chorei. Porque realmente queria ir.

Os planos traçados a régua e compasso sobre eu e meu irmão mais novo, Ícaro, irmos morar em Ribeirão Preto para estudar no COC foram virados do avesso.

E eu chorei ainda um pouco mais. Porque estava com medo. Porque não queria mais ir. Porque já estava com saudades. Porque estava ansiosa.

E nós fomos.

De muitas formas, essa foi possivelmente a melhor decisão da minha vida. E também de onde eu tirei as histórias mais malucas.

As colegas de quarto que se tornaram irmãs, o garoto que era algo entre um ficante e um namorado (eu nunca serei capaz de entender essa história direito), os externos que também se tornaram amigos, o grupo de teatro, e, claro, todas as oportunidades que estudar lá me abriu.

Impossível também não pensar na viagem que eu e o Ícaro fizemos nas férias com adolescentes de todo o país para Orlando, na Flórida.

E, agora, depois de meses de espera e uma papelada indescritivelmente longa, eu estava indo estudar nos Estados Unidos.

By myself.

Era assustador. Mas, ao mesmo tempo, tão maravilhoso que era inacreditável.

Obviamente, eu tinha chorado. Mas muitas daquelas lágrimas eram de felicidade.

Onde isso tudo se amarra comigo e a Taís se reencontrando depois de tantos anos?

Quando a notícia saiu que eu tinha sido aceita para participar do programa de intercâmbio, a Taís ainda morava nos Estados Unidos. Surgiu a ideia de nos encontramos lá, o que acabou não dando certo porque ela voltou com a família para o Brasil antes do previsto. Mas se era assim, porque não encontrá-la no Brasil? Assim, ficou marcado que eu fosse vê-la antes de rumar para Guarulhos.

Honestamente, não sabia o que esperar. Durante muitos anos, nós tentamos manter contato; mas a distância foi tanta, e os problemas que tivemos maiores ainda. A separação foi amarga e aceitar que não havia futuro possível para nossa amizade nos marcou de uma maneira indescritível. Taís foi a primeira e maior amiga da minha vida, e eu me lembro de deitar na cama a noite e chorar por horas por causa da saudade que me dilacerava o peito.

Confesso que depois de algum tempo passei a me arrepender de sequer tê-la conhecido. Quer dizer, se era para tudo acabar assim, porque começou em primeiro lugar?

Mas lá no fundo, eu ainda tinha a esperança de que seríamos como Monica e Rachel em Friends. Amigas de infância que se reúnem depois de décadas separadas e a amizade é reconstruída e fortalecida pouco a pouco durante dez temporadas hilárias e emocionantes que se tornaram a minha série preferida.

Mas, voltando ao condomínio ensolarado em que minha amiga vivia, mandei uma mensagem avisando que havíamos chegado. Ela respondeu que iria esperar na porta.

Bem, pra começo de conversa minha amiguinha tinha se tornado um mulherão. Ela sempre havia sido mais alta que eu, e os anos a presentearam com um corpo simplesmente estonteante. Ela tinha o cabelo comprido, a pele bronzeada de sol e um sorriso que mal cabia no rosto. Este eu conhecia desde sempre.

Nosso abraço foi apertado e alegre. Aquilo era mesmo real?

Theo, o irmão mais novo dela estava ao seu lado. Theo, na verdade, tinha a minha idade e era um garoto atentado e simplesmente insuportável na infância. Agora estava também maior que eu, e me abraçou como se eu fosse uma irmã que ele não visse a muitos anos. Na verdade eu era, não é mesmo?

Sentados na sala, começamos a falar sobre os momentos mais relevantes dos últimos anos. Como ia a escola? E o Kumon? E os namoradinhos?

Aquela era a casa do pai dela, mas ele estava no trabalho. Pouco depois de termos chegado, entratanto, a mãe deles chegou acompanhada do padrasto. Tia Alice continuava basicamente a mesma, expansiva, alegre e extremamente amorosa.

Enquanto conversavam com meus pais, eles contaram sobre a nossa preocupação sobre eu pegando um avião sozinha para outro país e ainda tendo que fazer escala em Bogotá. Minha mãe jamais teve dúvidas da providência de Deus, e com certeza ela veio quando os pais da Taís disseram que era só pedir um acompanhante para a companhia aérea com a qual fosse viajar. Basicamente, eu seria tratada como uma mercadoria muito importante que ninguém deixaria que se perdesse ou se quebrasse no meio do caminho.

Com esse problema resolvido, acho que todos podíamos respirar um pouco mais aliviados. Eu não estava propriamente surtando sobre ter que pegar o avião sozinha, mas saber que teria alguém comigo o tempo todo me deixava mais em paz. Pelo menos eu não seria sequestrada, não é mesma? Eis um fato que vocês precisam saber sobre mim: sou extremamente fatalista.

Eu e a Taís escapamos para o andar de baixo, onde nos sentamos na grama que ficava em volta da piscina. Preparada para o frio do aeroporto, eu usava jeans e um par de botas de cano alto, o que não era de grande ajuda com o sol enorme que brilhava lá fora. 

Taís falou que pensava em prestar medicina, mas que de verdade não tinha ideia nenhuma do que realemente queria fazer. E que nem sabia se ia conseguir passar no bendito vestibular.

—Eu também não tenho a mínima idea do que vou fazer. – ri um pouco e acrescentei – É por isso que vou pro intercâmbio, pra ganhar tempo para pensar.

—Não acredito! – seus olhos grandes estavam arregalados de verdade enquanto ela falava com aquele sotaque gaúcho que simplesmente não sumia – Minha mãe vive me dizendo ‘‘Ah, porque a Iris já deve ter certeza da faculdade que ela vai fazer!’’

Rimos dos nossos problemas enquanto eu lembrava de um meme do Facebook: o Benjamin Button da responsabilidade, que consiste de uma criança muito madura e promissora e que hoje em dia está cada dia mais louca.

E quando Taís sentiu que podia confiar em mim como na infância, passamos a falar de homens, sexo e masturbação. Não que eu fosse uma grande especialista em sexo, basicamente tudo o que eu sabia tinha vindo de fanfics para maiores de dezoito. E eu costumava ler muitas desse tipo.

Taís também me contou coisas fundamentais sobre os Estados Unidos, como era o colégio católico em que ela estudava no estado de Kentucky e todas as diferenças culturais que teve que enfrentar. Como minha amiga tinha passado por tudo que eu estava prestes a passar, essas coisas repentinamente começaram a soar mais normais para mim.

A tarde acabou com todos nós tomando café numa padaria na avenida, muitas fotos e muitos desejos de boa sorte.

Minha mãe se sentou comigo no banco de trás do carro e assim que me viu pegando o celular para abrir o dorama, exclamou:

—Ah, não! Agora eu quero passar tempo com o bebê.

Pra ser honesta? Nem ligo que minha mãe me chame de bebê. Eu gosto, na verdade. Minha mãe vive me chamando por apelidinhos, e aliás, é assim que eu sei que ela está de bom humor.

—Mãe, tá acabando!

Minha mãe aceitou que eu terminasse o finalzinho do último episódio mas continuou abraçada comigo o tempo todo. O final foi aberto e meu cérebro começou a fervilhar com ideias para fanfics no mesmo segundo. Não deixarei spoilers aqui, porque se alguém quiser assistir, eu recomendo. Procurem 14 Days: God’s Gift. Até agora, o melhor dorama da minha vida.

No hotel, enquanto esperávamos transporte para ir ao aeroporto, tomei banho e fiquei deitada na cama com meu pai enquanto ele fazia piada de alguma novela da Record que estava no ar naquele momento.

Meu pai é o tipo piadista e nossos gostos costumam bater: nós dois gostamos de quadrinhos, filmes de super-herói, ficção científica, livros de suspense.

Logo estávamos no micro-ônibus, só nós três. As aulas do Ícaro já haviam começado e nós tínhamos deixado meu irmão no internato na semana anterior, por isso já havia me despedido dele.

No aeroporto, tudo deu certo para que eu viajasse acompanhada. Esperei que me chamassem para embarcar numa sala da companhia aérea, abraçada aos meus pais.

Um moço super simpático veio me chamar. Abracei meu pai e minha mãe, e o segui enquanto ele me levava pela segurança que todo mundo tem que passar quando viaja para fora do país.

Eu olhei para trás para dar tchau para os meus pais, mas meu coração estava leve. Tudo o que eu conseguia sentir era animação.

Era uma nova aventura na minha vida, a maior até agora, e não via a hora dela começar.


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Notas finais do capítulo

AAAAAA, ESPERO QUE TENHAM GOSTADO, COMENTEM!!!!



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