Instinto & Coragem - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 1
1 - Rochedo Casterly


Notas iniciais do capítulo

O começo é sempre empolgante!
Boa leitura a todos.



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1

ROCHEDO CASTERLY

 

A manhã chegara como em todos os verões que Anne já havia presenciado. As folhas voltaram a crescer nas copas das árvores, a relva estava tão viçosa quanto antes, o vento morno soprava na direção da praia, alcançando o rochedo ainda antes do Sol nascer. O vento, raramente forte, agitava as cortinas douradas de seu quarto, parecia dançar. Isso sempre a despertava mais cedo que o comum e a obrigava a passar horas sozinha, olhando o nascer do dia ou os pássaros saindo de seus ninhos. Hoje era uma das muitas manhãs de verão nas quais já estava acordada quando os primeiros homens saíram no pátio para cuidar dos animais, a jovem princesa estava debruçada sobre sua janela, envolta nas cortinas douradas, quando avistou o senhor seu pai, ir junto de um grupo de caçadores e seus dois filhos mais velhos até os estábulos, onde cavalos estavam sendo selados há cinco minutos atrás.

O que poderia ser tão urgente para requerer a atenção do Rei e de seus dois filhos? Anne pensou em uma caçada, mas seria improvável, já que as caçadas sempre eram programas com antecedência e levavam mais que uma dúzia de caçadores. E sem as mochilas de suprimentos, arcos e flechas. Seria algo em Lannisporto? Algo relacionado aos Lannister? A curiosidade de Anne se agitou dentro do peito e ela mordeu os lábios para não sair correndo até os estábulos. Talvez o pai a deixasse ir junto, se estivesse de bom humor ou se fosse apenas uma tarefa diplomática.

Ela arranhou as unhas no parapeito da janela, mas não se moveu. O grupo montou e saiu pelo Único Portão assim que foi aberto. Os guardas pareciam tão confusos quanto ela e observaram das muralhas a partida de seu rei e dos príncipes. Anne realmente queria saber para onde estavam indo, mas não seria apropriado espionar os assuntos do rei, certo? Ela deixou a janela e então abriu o baú de seus vestidos de verão. Qual iria usar? Adorava a vinda do verão, as cores que podia usar eram muito mais variadas que durante o inverno, sem contar que os vestidos se tornavam mais flexíveis até mesmo para andar. Ela não esperou pela criada, vestiu-se com cuidado para não rasgar os bordados e usou toda a sua habilidade e um espelho para amarrar o corpete e as mangas.

Afinal, ela devia merecer o seu título de “Princesa de Ferro”, certo?

Abriu o estojo de sua harpa de colo, adorava o instrumento e principalmente usá-lo para acordar sua mãe. A rainha tinha terríveis pesadelos desde a última vez que os homens de ferro invadiram Rochedo Casterly e a fizeram refém antes que o rei retornasse de uma expedição para deter as invasões de Dorne. Sua mãe gostava do som calmo da harpa e da voz doce de sua filha, a garotinha que sempre quisera ter. Anne entrou nos aposentos da rainha e sentou-se aos pés da cama, dedilhando o instrumento com precisão.

Princesa Anne fazia todas as coisas com muito empenho, se a tarefa era atirar com o arco ou decorar um poema, isso não importava, ela aprendera com seus pais que, qualquer que fosse o seu papel no mundo, deveria ser a melhor a fazê-lo, pois somente assim seria justa com os deuses que lhe deram a vida. Conforme a melodia ia crescendo, os olhos da rainha se moveram e ela os abriu em direção a sua filha. Nunca a interrompia até que tivesse terminado a música e Anne era grata por isso, pois assim podia sentir que havia terminado bem um trabalho. A satisfação própria era o pagamento pelo esforço de uma princesa, se não sentisse prazer em ser o que era, ninguém no reino podia se orgulhar do seu ofício.

Ela era um rosto de inspiração para as donzelas da corte e da cidade, para todas as damas bem nascidas até os confins da Terra do Rochedo e para mais quem quisesse admirá-la. Príncipes nasciam para ser reis, mas princesas nasciam para ser o sentido da vida de muitas pessoas, para dizer-lhes que deveria ser bons e gentis com todos, fazê-los se sentirem queridos e felizes mesmo após uma guerra. Ao menos era isso que tentava ser. Mais do que uma princesa para ser casada com algum nobre do reino.

— Bom dia, meu doce - a rainha sentou-se contra os travesseiros e sorriu para a sua princesa, novamente agradecendo aos deuses por terem dado-a como filha.

— Bom dia - Anne engatinhou até os braços da mãe e lhe deu um beijo na testa. Afastar seus pesadelos era um serviço que adorava fazer, especialmente.

Rainha Jeana, - esposa de Rei Corlos VIII, mãe dos príncipes e da princesa -, uma mulher que, durante a última gravidez, havia vestido uma cota de malha e convocado o pequeno exército que protegia Rochedo Casterly para conter a invasão dos homens de ferro no porto de Lannisporto. Todos a veneravam por sua força e coragem, contavam as histórias que lhe davam pesadelos de noite, o modo como perdeu seu bebê ainda dentro da barriga e conseguiu manter o Rochedo intacto. Na Corte, todos a amavam pois era bela, gentil e muito inteligente. A primeira Rainha na história a ser permitida a participação na Mesa do Conselho, ensinou seus três filhos a atirarem com o arco e flecha antes que soubessem cavalgar com o pai, também era famosa por comparecer a todos os festivais de verão tocando a famosa flauta de sopro leve.

— Ajude-me, querida - a rainha se curvou para frente.

Anne não apenas acordava sua mãe, mas também a ajudava a sair da cama e a se vestir. Uma batalha, mesmo quando lutada por homens, causa consequências irreversíveis, e com a adorada Rainha Jeana não fora diferente. Ela quase morreu na queda de cavalo pelas escadas do Septo de Francesco II, a mesma queda que lhe tirou o filho no ventre e o movimento controlado nas pernas. Embora conseguisse sentir os apertões que lhe davam nas canelas ou a dor dos ferimentos dos joelhos, a rainha nunca mais conseguiu dar um passo que não fosse seguido de diversos tremores e espasmos, comprometendo a sua liberdade.

Isso nunca pareceu-lhe uma maldição. Jeana adorava ser mimada por suas crias.

— Mamãe, hoje vi o papai  saindo para caçar - Anne ajudou a mãe a sentar-se em uma cadeira projetada para ter uma roda em cada pé, era o instrumento utilizado pela Rainha para ir aos conselhos, reuniões e passear no pátio.

— Ele saiu?

— Acho que sim, parecia muito urgente. - a garota abriu o baú de sua mãe para procurar um bom vestido.

A Rainha empurrou sua cadeira com rodas até a latrina, puxando-se pelas paredes. Anne não gostava quando a mãe ia à latrina ou se banhava sozinha, mas ser auxiliada naquelas tarefas era muito vergonhoso para a rainha. Quando retornou, Anne ajudou-a a vestir-se apropriadamente e juntas elas desceram até o Salão das Lareiras para o desjejum. Como as escadas se tornaram um empecilho para Jeana, seu esposo, o Rei, mandou construir uma rampa nas passagens dos criados, por dentro das paredes. Agora, a rainha desfilava em sua cadeira, com a princesa empurrando-a atrás, enquanto dava bom dia a todos os servos do castelo. Isso nunca incomodou as duas nobres e deixava o dia de todos os plebeus mais felizes.

— Hoje sua amiga chegará no Rochedo, certifique-se de que ela se sinta em casa. - orientou a Rainha enquanto elas partiam o pão dormido e bebiam leite com melado. - E cumprimente oficialmente o senhor seu pai se os rapazes não voltarem a tempo.

Os “rapazes” de que a rainha falava eram seu esposo e dois filhos mais velhos, para ela, apenas rapazes.

— Myrcella sempre se sente em casa - Anne gostava de falar de sua amiga, ambas tinham um entendimento muito simples e natural, como se tivessem nascido para serem amigas. A Rainha Jeana, que fora grande rival da mãe de Myrcella quando o rei era solteiro, sentia-se feliz e ao mesmo tempo melancólica quando a garota Reyne vinha ao Rochedo.

Perdera anos demais se preocupando com a chance de perder Corlos para outra jovem nobre e esquecera-se de gostar de Myrce antes que os deuses a levassem da terra dos homens.

Quando elas terminaram a refeição, Anne levou sua mãe até a sala de música e lá ficaram treinando flauta juntas. Ter aulas com a melhor flautista do reino que também era sua mãe trazia mais malefícios que benefícios. Rainha Jeana era rigorosa e exigia que sua filha fosse ainda melhor que si mesma, ou seja, praticamente perfeita. As aulas eram realizadas duas vezes na semana, no Dia da Mãe e no Dia da Donzela, um período mais fértil para tarefas femininas. O treino de dança viria em sequência. Em uma idade tão avançada, a princesa não precisava aprender praticamente nada, apenas aprimorar as suas habilidades, que superam a de todas as princesas passadas, curiosamente.

— Você está distraída, Anne - sua mãe arrumou os dedos sobre os espaços da flauta. A mente de Anne vagava entre a saída de seu pai e os possíveis perigos que isso podia significar. Em geral, tentava ser otimista, mas após vivenciar tantas guerras com todos os reinos ao redor do Rochedo, ela aprendera que as jazidas de ouro eram cobiçadas demais para serem deixadas em paz por qualquer um.

— Estou pensando em Myrcella. Mal vejo a hora de vê-la. - ela mentiu, mas sempre fora uma péssima mentirosa.

— Sei - a rainha sorriu - Vocês devem se gostar muito, não? A última vez que se encontraram foi há… dois dias, se não me engano. Tanto tempo…

— Mãe - Anne revirou os olhos e suspirou. Às vezes não gostava de ter uma mãe como melhor amiga, mas depois percebia o quão sortuda realmente era e apenas sorria. - Você é tão irritante!

— A Rainha pode ser irritante com quem ela desejar. Está no meu contrato de casamento. - ela apontou a aliança em seu dedo fino e então ambas riram, esquecendo-se da prática de flauta e do assunto principal. - Em quem você

está pensando?

— Mãe!

— Ah, Anne, você pode dividir as suas paixõezinhas de princesa comigo, eu já tive a sua idade e, na minha época, não faltou escudeiros para me enamorar. - a rainha falava com simplicidade, mas as bochechas de sua filha tornavam-se cada vez mais rubras. Aquele assunto era evitado por Anne de todas as formas possíveis, mesmo quando Myrcella comentava algum cavaleiro especialmente agradável em torneios. Anne Casterly detestava assuntos sobre amor e essas coisas pois preferia sonhar os próprios romantismos da vida sozinha em sua cama, ao invés de compartilhar com os outros. Iriam rir dela se realmente soubessem que já tinha um nome para murmurar toda a vez que imaginava um belo cavaleiro beijando-lhe após vencer um torneio por sua mão.

— Para com isso. - Anne se remexeu na cadeira, a sua flauta já estava dentro do estojo e nada indicava que o treino continuaria.

— Por quê? Myrcella é a sua única amiga no mundo? Isso me magoa - a rainha fingiu estar com lágrimas nos olhos - Principalmente quando todos na Corte sabem do seu amor por Ronnel Reyne, curiosamente irmão de Myrcella e escudeiro juramentado ao

irmão mais velho, o Príncipe Warren.

As bochechas de Anne já estavam da cor de vinho e a menina se levantou com os punhos fechados, seus olhos estavam fortemente fechados, mas nada impedia a rainha de rir. Quando a princesa venceu a própria vergonha, ela notou que realmente era engraçado e acabou sorrindo de leve, ainda escondida pela vermelhidão em todo o rosto branco, desde a ponta do nariz até a ponta das orelhas.

— Você é terrível, Rainha Jeana, a Cruel.

— Já me chamaram de “Terror do Rochedo”, mas “Cruel” é a primeira vez - Jeana franziu as sobrancelhas. - Isso me magoou ainda mais. Você não tem escrúpulos nem mesmo para ferir a sua própria mãe, Anne, a Garota Tímida Que Gosta de Sor Ronnel.

— Pare! - Anne saltou sobre a cadeira da rainha, mas a mulher ergueu os braços e segurou os punhos da filha, impedindo-a de lhe dar o merecido ataque de cócegas com o qual Anne subjugava todos que a irritavam. - Pare, vossa crueldade!

A Rainha e sua filha brincaram por mais alguns minutos antes que uma criada as interrompesse com o professor de dança. A criada levou Jeana para sua sala de costura e Anne ficou para treinar novamente os passos de baile que nunca saíam de um-dois-três, um-dois-três, um-dois-três…

Parado na porta da sala de aula da princesa, Ronnel Reyne, escudeiro do Príncipe Warren, batia os pés com a música em seu um-dois-três infinito. Ele também era treinado nas artes dos bailes, porém tinha maior domínio e dedicação com a espada que empunhava há cinco anos já, sempre a serviço de Warren e da Casa Casterly. Havia conseguido se tornar escudeiro de uma grande Casa apenas pelos contatos que seu pai tinha e pela amizade que ele e Warren nutriam desde que ambos eram bebês. Ronnel nunca fora um espadachim acima da média, ele vencia o mesmo número de duelos que perdia e era relativamente habilidoso com o arco e a lança. Rony guardava a porta da sala como guarda real, já que cinco membros estavam com o rei e os outros cinco vigiavam a sala das donzelas, o pátio e dois recebiam o carregamento de suprimentos que vinham de Lannisporto. O último guarda era primo da Rainha Jeyna e sempre se encarregava de vigiar a porta da sala em que a rainha estivesse pois se culpava pelo ataque que tirara da Westerling o poder de andar normalmente.

Ronnel não se sentia sobrecarregado por fazer aquele tipo de trabalho mesmo quando seu Sor estava longe. Cuidar da princesa era uma grande honra e um grande prazer para todos os senhores que tinham uma espada (no sentido em que você desejar entender). Princesa Anne era, além de uma moça bela, gentil e engraçada, extremamente talentosa. Certas vezes, Rony ouvia os treinos de flauta com sua mãe ou as aulas de harpa. Também ajudava nos treinos de dança quando o professor se cansava de ser o par da princesa e era ótimo ser derrotado na arquearia quando iam ao pátio.

Em geral, ser o guarda-costas de Anne era mais entretenimento que trabalho.

A não ser que alguém o atacasse pelo flanco, em um ponto cego voltado para o corredor de onde ninguém vinha. Ronnel Reyne teve sua visão obscurecida por dedos que quase entravam nas órbitas de seus olhos e o invasor o puxou para trás, quase derrubando-o de costas no chão. Se não fosse o tamanho dos dedos e a risada fina, ele teria desembainhado totalmente a espada.

— Boo! - gritou sua irmã já atrasada.

— Solte-me, Myrcella - livrou-se das mãos da menina e olhou-a rabugento. Irmãos mais velhos precisam parecer sempre carrancudos para manter os mais novos na linha. Ao menos era isso que ele queria acreditar.

— Ah, você é tão quadrado, sério, o que a Ann vê em você?

— O quê?

— Ah, esqueça, deve ser a sua lerdice que é fofa - Myrcella agitou a mão e o empurrou de frente da porta. - Onde ela está?

— Você sabe onde a princesa Anne está.

— Eu sei - Myrcella revirou os olhos e deu de ombros simultaneamente. Coisa que era a única capaz de fazer. - É só um jeito educado de dizer: eu vou entrar.

— Não no meio da aula de dança - ele se colocou novamente na frente da porta, como um irmão carrancudo deveria fazer. - Ela terá tempo para você depois.

— Ah - Myrcella se ajoelhou e observou pelas frestas da porta. - Aquilo parece doentio, precisamos tirar a pobre Anne dali agora.

— Interromper as tarefas da princesa é um ato de…

— Traição? - a irmã ergueu seu nariz arrebitado - Eu estarei salvando a princesa de morrer de tédio naquele um-dois-três, um-dois-três que a gente aprende desde os primeiros passos.

Ronnel também se abaixou para observar a aula. Anne andava em círculos com o professor, eles seguiam os passos automaticamente, embora o homem insistisse em dizer um-dois-três durante toda a música. Talvez Myrcella tivesse razão. Mas também era divertido vê-la se empenhando tanto em fluir graciosamente pela sala. Anne era assim, graciosa em tudo o que fazia, mesmo que fosse atirar flechas em uma maçã sobre a cabeça de Warren.

— Ah, isso é tão entediante - Myrcella bufou sem qualquer elegância.

— A aula?

— Você - Ronnel recebeu um cutucão nas costelas e voltou a encarar sua irmã. - Peça logo ela em casamento, vão viver felizes para sempre ou algo assim.

— Pare de graça - ele não pôde esconder a timidez, mas sua irmã era uma pessoa que não se impressionava muito por detalhes. - Eu sou o escudeiro do irmão dela.

— E o que isso implica?

— Existe um código de honra entre escudeiros e príncipes. - Rony sorriu de maneira brincalhona e Myrcella colocou as mãos na cintura, uma cena cômica para sua pouca altura. - Um escudeiro não corteja a irmã do seu senhor.

— Pensei que o código fosse “Não deflorar a irmã do seu amigo”. - a garota era afiada com sua língua, mesmo que parecesse tão angelical aos olhos alheios. Os criados que assistiam aquele diálogo de longe não podiam escutar o que os irmãos Reyne falavam, mas viam uma doce jovem loura graciosamente lançando olhares adoráveis ao seu irmão mais novo. - Mas claramente existe uma adaptação para escudeiros e príncipes.

— Claramente.

— Você vai me amolar mais ou eu posso entrar?

Ronnel foi salvo pela aparição de Rei Corlos, ele caminhava com as botas e o gibão sujos de relva e tinha algumas cartas abertas nas mãos. O rei cumprimentou-os amigavelmente.

— Lady Myrcella, poderia me dizer se o seu irmão veio junto da senhora? - o irmão a quem o rei se direcionava era Gaemon, o Lorde de Castamere. Gaemon, embora possuísse o título, nunca exercia a sua função e encarregava ao castelão e sua irmã de manterem Castamere no caminho certo. Como era de se esperar, Gaemon raramente comparecia às reuniões ou visitas que Myrcella realizava na fortaleza de Rochedo Casterly.

— Gaemon estava caçando no dia em que resolvi vir, majestade, ele não teve tempo de se preparar.

— Tudo bem - o rei assentiu e esticou o braço educadamente, convidando-a a caminhar ao seu lado. Ronnel sorriu vitorioso, porém Myrcella já havia se esquecido de interromper a aula da amiga. - Posso conversar com a senhora, então? É sobre as rotas de comércio…

Eles continuaram caminhando até a sala do rei. Rony observou e então voltou a sua posição inicial de guarda. Depois daquela intromissão barulhenta de Myrcella, sentiu-se um pouco solitário e até mesmo desejou que ela voltasse, só para incomodá-lo mais um pouco.

Na câmara do Rei, Myrcella sentou-se em uma das cadeiras a frente da grande mesa oval. A cadeira do rei era especialmente mais alta e com diversas pontas de flechas apontando para cima. A garota raramente vinha até ali quando visitava a fortaleza, esses assuntos diziam respeito ao Senhor de Castamere, mesmo que o senhor não estivesse tão interessado em cuidar do seu próprio castelo. Talvez Corlos estivesse cansado de esperar e simplesmente a tomou como melhor partido. Em sua humilde opinião, ele estava certo.

— Lady Myrcella, a senhora deve se perguntar porquê a chamei aqui, sendo que há tantas atividades mais interessantes para uma mulher.

— Pelo contrário, majestade, estou impacientemente feliz com o vosso convite. No entanto… realmente não tenho familiaridade com isso. Por que estou aqui?

O Rei se sentou em sua cadeira alta e pediu para um dos copeiros servir vinho a ambos. Myrcella nunca gostara muito da bebida, mas não a recusaria na frente de seu monarca. Enquanto o copeiro os servia, eles mantiveram um silêncio aguado, porém após o primeiro gole de vinho, o rei se aconchegou na cadeira e abriu um sorriso curto.

— Eu preciso conversar sobre as… intenções de Castamere em relação ao reino. É uma ótima fortaleza, rodeada de estradas comerciais seguras, minas de ouro e uma próspera cidade.

— Apenas um vilarejo, meu senhor. - Myrcella sentiu-se orgulhosa e de repente se esqueceu dos corretos tratos. - Digo, vossa majestade.

Rei Corlos vira aquela garotinha crescer e ela sempre o chamara de “senhor”, isso não o incomodava antes e também não incomodava agora. No entanto, permitiu que o correto trato fosse dado.

— A Casa Reyne, depois da Casa Tarbeck, é a maior aliada que nós temos no reino. São leais e contribuem conosco em diversas áreas. - o rei continuou - Porém, as pretensões que recebo sobre as rotas comerciais de Lannisporto estão rivalizando com as rotas do Reyne e suspeito que em algum momento, Lannisporto irá sufocar Castamere - ele explicava com movimentos de seus dedos, deixando Myrcella um pouco confusa - É como colocar duas gotas de mel no chão e esperar que as formigas caminhem até a gota maior. Castamere é a gota menor e será esquecida pelos comerciantes se Lannisporto crescer de maneira desenfreada. Nenhum de nós gostaria disso, milady.

— Acho que sim - Myrcella assentiu - Mas Lannisporto não é a cidade dos Lannister?

— Sim - o rei deu de ombros - Eles dirigem os seus negócios do jeito que querem e ignoram a coroa. Mas os Reyne são leais e por isso ofereço a minha proteção.

— Estamos gratos por isso, majestade.

Corlos assentiu e deslizou um pedaço de papel assinado com o seu selo real feito a mão.

— Esta é uma autorização real para abaixar os impostos das rotas de Castamere. A coroa também está enviando cem guardas para a monitoria da estrada e ordens para a construção de novas hospedarias na cidade de Castamere. - o rei bateu na mesa de leve - Isso deve convencer os comerciantes de que Castamere é a melhor rota para seguir depois de Tarbeck.

— Isso é mais do que merecemos, vossa alteza - a Reyne leu o decreto e surpreendeu-se por constatar todos os tópicos ditos pelo rei. - Mas Lannisporto não sofrerá grandes perdas com isso?

— Lannis é um porto - o rei novamente deu de ombros - De qualquer modo haverá comércio lá. Que farei eu com uma cidade enorme que não posso contar, quando posso ter duas cidades grandes e uma a meu favor? É um investimento, senhora Myrcella. Sei que és sábia para aceitar.

— É claro, meu rei - a garota se levantou e agradeceu ao rei com uma mesura.

— Não terminamos, milady. - ela voltou a se sentar. - Este assunto eu desejaria conversar com o seu irmão mais velho, mas como as circunstâncias são adversas, temo que terei de optar pelo caminho mais vergonhoso.

Myrcella temeu que o assunto fosse sobre as diversões impróprias de Gaemon e sua tendência a preferir homens em cotas de malha a donzelas em vestidos de seda. Ela apertou o vestido entre as mãos e mordeu os lábios. Porém o rei apenas mandou que o copeiro servisse mais vinho.

— É sobre vosso casamento.

Myrcella não segurou o suspiro de alívio e abriu um sorriso estonteantemente encorajado. Casamentos eram muito mais fáceis que leis religiosas, disso ela sabia. E quando um rei quer conversar sobre o seu casamento, tudo o que se deve fazer é dizer sim. Como única filha do finado Lorde Reyne, Myrcella carregava não apenas o nome de uma Casa antiga, mas também prestígio e a herança de Castamere caso algo acontecesse com seus irmãos. E as guerras que o Rochedo vinha enfrentando tomavam mais herdeiros do que se podia contar com as mãos nos últimos anos.

Não era a primeira proposta que ela receberia, mas era a primeira que vinha de um rei.

— Quero que saiba que há muitos anos eu e seu pai já conversamos sobre isso. - o rei explicou novamente usando suas mãos. Ele fazia isso com frequência, Myrcella notou e resolveu não olhar para baixo. - E ele aprovava a ideia.

— Sim, vossa majestade - ela queria ouvir logo aquelas palavras mágicas que sempre sonhara ouvir.

— Mas não tivemos a chance de vermos isso acontecer, juntos. Infelizmente, imagino que a senhorita nunca nem mesmo ouviu sobre… - Corlos parecia mais desconfortável que ela, para falar a verdade. - Há muitos anos atrás, eu e Lorde Bron Reyne fizemos uma promessa de unirmos nossas Casas diante os deuses assim que nossos filhos completassem a maioridade. Bron teve apenas uma filha que, desafortunadamente, nasceu muito mais cedo que meu filho mais velho. Porém, espero que isso não seja um empecilho para milady.

— De forma alguma, meu rei. Eu seria uma filha muito feliz se honrasse  a promessa de meu pai. - Myrcella sorria ensolaradamente.

— Muito bom, então. - o rei sorriu enfim, demonstrando um pouco de emoção diante de tantos assuntos políticos para cuidar. - Quando Warren for ungido homem no Grande Septo, esperarei ver a senhora entre as damas da Corte.

Myrcella contou os dias e notou que o décimo quinto aniversário de Warren seria no mesmo dia do início do Festival de Verão em Castamere. Era tradição que a família Reyne sediasse o primeiro dia do festival junto do povo. E o festival recebia centenas de visitantes, comerciantes, menestreis, meistres… Ela não podia deixar o festival nas mãos de Gaemon.

— Lamento, vossa majestade, mas creio que estarei ocupada com o festival de Castamere nesse dia. Todos esperam que eu compareça para o início. É uma tradição para todos.

— Eu compreendo, minha esposa insiste que precisa tocar em todos os festivais, também - o rei deu de ombros - Venha no dia seguinte, então. Senão todos do reino pensarão que podem oferecer suas filhas ao príncipe solteiro. Sabe o quão difícil é recusar propostas de aliança, Lady Myrcella? Para um rei pode significar criar um novo inimigo.

Myrcella concordou.

— Agora, se me der licença, tenho assuntos um pouco menos agradáveis a resolver comigo mesmo - o rei sorriu complacente e Myrcella se levantou imediatamente.

Deixando a sala, a garota notou que seu irmão não estava mais de guarda em frente a sala de aula da princesa, provavelmente porque a aula já havia acabado. Anne então estaria ou com sua mãe na sala de costura ou no pátio, treinando arquearia e exibindo-se como a melhor arqueira da fortaleza.

Ela caminhou até a sala de costura da rainha, porém a sala estava vazia. Restava descer as escadas até o pátio e procurar por sua amiga.

Mas, antes de chegar até lá, encontrou Anne e Ronnel ao dobrar um dos corredores. Anne parecia rir de algo que seu irmão havia dito e por isso Myrcella se escondeu e espionou ambos. Eles formavam um belo casal, embora Rony não estivesse em uma boa posição para disputar a mão da princesa. Ele era o herdeiro de Castamere e, embora Gaemon não se interessasse por casamentos, um dia teria de consumar alguém e gerar outros herdeiros. Ronnel tinha um pouco de chance se isso nunca acontecesse, mas era difícil acreditar que um rei ou um grande lorde apostaria nele.

Rony, seu tímido e lerdo irmão, olhou para os lados e, com as bochechas muito vermelhas, curvou-se e beijou a mão da princesa de leve, só um instante minúsculo, e então voltou a se afastar. Anne soltou uma risada, agora mais alta. Myrcella teve de se segurar para não rir também, embora estivesse um pouco frustrada com aquilo entre eles.

Ora, apenas se casem logo!”.

 

Myrcella Reyne


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Notas finais do capítulo

O fim de um capítulo, agora vamos para a parte que vocês mais gostam:
FICHAS: https://goo.gl/forms/pS4lsElgOFOgYxGr2
TUMBLR: http://instintoecoragem.tumblr.com/
??”------------------------
Por favor, leiam o Tumblr, procurem tudo o que quiserem. Muitas áreas já foram completadas, esteja atento às informações da Casa que escolher. Tentem não criar casas novas, foi bem trabalhoso fazer um resumo sobre todas as casas vassalas aos Casterly, então eu ficaria feliz se isso fosse usado. :3
Haverá uma parte para seus personagens também, no momento temos apenas 3 confirmados.
Obrigada por dar uma chance à história e... Beijos da Mell!



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