— Por quê eu tenho que ser tão descuidada? - pensava comigo mesma, enquanto caminhava pelas longas ruas da cidade.
Estava frio e escuro, mas eu tinha que encontrar meu cachorro, era minha culpa dele ter fugido. Eu abri a porta dos fundos, hoje cedo, para levar o lixo e acabei por deixá-la aberta. Quando voltei, Frost já havia ido embora.
Andava pelo parque, chamando seu nome, de repente o meu celular começa a vibrar. Tiro-o do bolso da calça e verifico. Era uma mensagem da minha mãe dizendo que, se eu não achasse o Frost até meia-noite, teria que voltar para casa!
Já eram por volta das 11:30, ou seja, tinha exatas meia hora para achar ele e voltar para casa. Caminhei por mais alguns minutos ao redor do parque, até que senti minhas mãos e pernas ficarem dormentes, a lanterna em minha mão tremia tanto.
Ouvi e vi algo se mover entre os arbustos, tive uma centelha de esperança e criei coragem para dizer as palavras de que precisava no momento.
— Frost, é você? - gritei, sem obter uma resposta de seguida.
Aproximei-me do arbusto que estava agitado. Estendi a mão timidamente e levei um susto ao ser jogada no chão por causa de seu corpo que se arremessou sobre mim.
— Frost! - gritei tentando acalmá-lo ou chamá-lo sua atenção, pois este não parava de lamber minha cara. - não me assuste assim, garoto! Fiquei preocupada com você! - ele fez uma carinha tão fofinha de culpa.
Levantei, afastando toda a neve de minha roupa.
— Vamos para casa, garotão!
Começamos a andar para longe, mas alguma luz refletiu em meus olhos, me fazendo voltar a atenção para o arbusto que Frost havia saído agora há pouco. Frost, que até agora se permanecia quieto, começou a rosnar para o arbusto.
— O que foi?
Ele não se moveu, se manteve focado no arbusto. Ele rosnou e se abaixou. Agora eu já estava ficando com medo! O que será que havia lá?
— Olá? - arrisquei perguntar.
Frost começou a latir descontroladamente para algo que eu não conseguia ver, logo depois virou-se e fugiu. Avistei ele já longe, estava prestes a correr em sua direção, quando senti uma mão fria tapar minha boca, fazendo-me soltar um grito abafado.
Fiz o máximo de esforço para me soltar, até que consegui. Virei para ver quem havia me segurado e acabei ficando em choque ao ver o rosto de tal agressor.
Era um garoto, um pouco mais alto do que eu, cabelos compridos e negros que iam até seus ombros, a pele era tão branca quanto a neve ao nosso redor, olhos negros arregalados, apenas focados em mim, mas o pior de tudo... Seu sorriso!
Era enorme, como se tivesse o feito em si mesmo. Tomei um passo para trás e ele tirou uma faca do bolso do seu moletom. Conforme ele se aproximava, eu me afastava. Até o momento que minhas costas colidiram contra a parede e ele parou, apenas me encarando.
Estava realmente assustada com esse cara! Fechei os olhos temendo o pior. Soltei um suspiro alto, aceitando por fim meu destino. Abri os olhos e estranhei não ter acontecido nada comigo ainda. Ele não fez nada quanto a minha reação, apenas abaixou a faca, não disse nada, deu meia volta e foi embora.
Me deixando confusa, sozinha e com medo...