Venha, Homem da Terra, Venha escrita por victor hugo


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem :3



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Venha. Venha. Venha. Por favor, meus lábios te imploram. E eu sei que você não pode resistir a eles. Tampouco a mim. Eu sei que você me quer, Homem da Terra, do primeiro fio de cabelo até a última escama.

E eu te quero também. Você, com esse cheiro forte de areia e de fumaça e de aço e de tantas outras coisas que eu jamais toquei, que, exceto por uma ou outra fotografia embaçada, eu jamais vi. É algo que não posso controlar e eu sei que é você está passando por isso também. Eu sou aquela que você nunca pode ter. Você é aquilo que eu nunca pude ter. E é o que eu mais quero. Eu não consigo resistir. Eu estou faminta.

E eu sei que você está também. Não apenas por causa do olhar enfeitiçado e dos passos desconcentrados que avançam com dificuldade pela margem, mas porque eu te conheço. Já conheci homens demais como você. Que ouviram histórias demais quando eram crianças, que se recusaram a parar de acreditar, que se lançaram ao mar armados com sorrisos, redes e tridentes, que estavam determinados a encontrar uma de nós mesmo que, para isso, precisassem percorrer centenas de quilômetros. Na verdade, é engraçado como, pensando agora, mesmo sendo tão diferente de você, Homem da Terra, eu ainda sou tão... Igual.

Ah, sim! Eles contam sobre suas façanhas aqui embaixo também. Contam como nós ensinamos vocês a driblas as ondas revoltas e a se permitir algumas horas de diversão. Como ajudamos a encontrar terra firme e a promessa de uma vida melhor. Como o ensinamos a pescar e vocês, escancaradamente, se voltaram contra suas professoras e passaram a roubar nossa comida.

Mas vocês sempre foram assim. Animais em busca de mais e mais e mais e mais. Não sei se nós somos assim, nós, que sempre nos confinamos no mar, mas imagino que jamais chegaríamos ao ponto de brigar com outras de nós por coisas tão triviais quanto ouro ou terra. Aqui embaixo, há o suficiente para todas nós... Ou melhor, costumava ter. Até vocês nos transformarem em lendas inofensivas e se meterem no que é nosso.

Admito que eu esperava mais de você. Quer dizer, você não é grande, não é forte, não tem dentes afiados nem garras. Você, Homem da Terra, é apenas um menininho franzino. Um menino franzino e bonito, admito. E há algo de atraente nisso, mesmo que eu não saiba o quê. A única coisa que eu sei é que, nesse momento, eu sinto que preciso de você.

Não suportaria não ter você perto de mim. Próximo o suficiente para te tocar. Tocar cada centímetro de seu corpo. Sempre tive certa curiosidade acerca das pernas, sabe? Nunca entendi muito bem como elas funcionam. São como braços que vocês usam apenas para se apoiar, e nada mais? Isso não faz sentido para mim. Talvez não deva mesmo fazer.

Talvez eu nem devesse me preocupar com isso. Devia me entreter com outra coisa, quem sabe? Mas eu não consigo. Já tentei pensar em outra coisa – em qualquer outra coisa! –, mas vocês sempre me chamaram atenção. Minhas irmãs chamam de fetiche e dizem que eu gosto apenas de coisas impossíveis, mas eu juro que não consigo pensar em outra coisa.

Então venha até mim. Venha. Por favor. Eu preciso disso.

Você continua andando. A água já bate em sua clavícula, mas você não parece se importar nem um pouco. Também não se importa quando ela atinge a altura do seu queixo. E ela continua subindo e subindo e subindo.

Sabe, eu nunca entendi isso de respirar na superfície. Conseguir filtrar o ar, mas precisar prender a respiração dentro da água. Isso me parece estranho e esquisito e errado. Não consigo me imaginar assim. Não consigo me imaginar fazendo nenhuma dessas coisas que vocês fazem, na verdade. Mesmo quando vocês estão apenas deitados sobre a areia e sob o Sol, sinto que isso é diferente demais.

É estranho, não é? Que eu estranhe tudo o que os humanos fazem, mas não consiga resistir a eles. É, não é? Não sei se a resposta me alivia ou me apavora. Prefiro acreditar na primeira opção.

Você está começando a hesitar agora. A água já ultrapassou a altura dos seus lábios. Sei que você não quer, mas é isso que seu corpo precisa. Ele sente falta desse ar tão precioso pra vocês e seu instinto é voltar para trás mesmo que tudo que seu coração queira seja a mim. Esse momento sempre me agoniza, mas não deixo de clamar por você. Venha, venha, venha.

E você continua vindo.

E, por um momento, até me permito imaginar que você é diferente dos outros. Talvez nós possamos mesmo passar um tempo juntos aqui. Quem sabe até viver uma espécie de conto de fadas onde você abdica de tudo por mim. Eu quero isso, eu desejo isso. Estou errada por me permitir sentir isso?

Eu não quero me sentir errada.

Eu quero você.

E você quer a mim.

Então não hesite.

Apenas venha, Homem da Terra.

Venha, venha, venha.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?



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