Clipe musical: "Tudo Tudo" por Sandy, Janete e Eleanora.

***

Téo foi ao bebedouro tomar água e, quando terminou, viu Eleanora sentada no banco, parecendo tristinha.

— Oi, Eleanora — ele disse, aproximando-se dela.

— Oi! — Ela respondeu, animada (ou fingindo estar animada).

— Tá tudo bem com você? — Téo sentou-se ao lado dela.

— Uhn-hum. Quer um? — Eleanora ofereceu-lhe um de seus mini cupcakes. Téo não recusava comida, então aceitou na hora.

— Hmmmm é muito bom! — Disse, após experimentar.

— Obrigada! Fui eu que fiz.

— Sério? Espera... — o menino abriu sua lancheira e tirou um pedaço de bolo de dentro de um potinho, então ofereceu a Eleanora. — Pra você, é bolo de limão.

— Eu adoro bolo de limão! — Ele experimentou e também gostou muito do bolo.

— Que bom! Fui eu que fiz.

— Que legal, você também cozinha!

— Eu tô aprendendo, na verdade... Ei, cadê as suas irmãs?

— Elas tão me esperando lá na sala, mas eu não quero ver elas agora...

— Por que não? Vocês brigaram? É por isso que você tá triste?

— Não, a gente não brigou. E eu não tô triste, Téo.

— Tem certeza?

Eleanora não estava muito a fim de dizer o que a incomodava, mas Téo era tão bonzinho e estava tão clara a vontade dele de ajudar, que a menina acabou falando:

— É que eu não posso entrar no time de futsal da escola...

— Por quê?

— Porque eu sou menina.

— Mas o que isso tem a ver?

— Eu também não sei. Mas o seu irmão disse que eu não podia... E, como você sabe, ele é o capitão.

— Por que será que ele disse isso? Eu acho que ele inventou...

— Será?

— Pode ser. Sabe, ele me engana o tempo todo...

— Bom, ele falou que o professor de educação física disse que meninas não podiam entrar no time.

— Hmm... Por que você não fala com o professor?

— Hoje não dá, ele não tá aqui na escola.

— Ah, é verdade... Mas não se preocupa, eu vou falar com o Joaquim e tentar fazer ele mudar de ideia.

— Sério?

— É. E se mesmo assim não der certo, a gente procura o professor amanhã e fala com ele.

— Muito obrigada, Téo! Você é um fofo!

Eleanora abraçou ele, que ficou todo vermelho. O sinal tocou e os dois voltaram para a sala. As Chiquititas viram que Eleanora estava feliz e perguntaram se era por causa dos jogos, mas ela disse que explicaria melhor em casa. Téo, por sua vez, já ia falar com Joaquim sobre a situação da amiga, mas Samuca pediu para ele fazer silêncio, já que a professora já havia entrado na sala e ele queria prestar atenção na aula.

***

— Então, como foi a inscrição pros jogos? — Janete perguntou depois que acabaram de lavar os pratos do almoço.

— Não foi.

— Como assim "não foi"? — Perguntou Sandy, já começando a ficar com raiva.

— Acontece que o Joaquim é um chato.

— Ah, agora que você veio perceber?

— Sandy, eu achei que vocês tavam em trégua... — disse Janete.

— E estamos. Mas isso não me impede de continuar achando ele chato...

— Tá, mas por que é que você acha isso agora, Eleanora?

— Simplesmente porque ele disse que eu não podia me inscrever porque eu sou menina.

— Ai que idiota! Vai defender ele agora, Jante?

— Eu não! Dessa vez ele foi longe demais...

— Sabe, Eleanora, você devia me ouvir quando eu digo que não era pra você fazer esses esportes idiotas que meninos gostam...

— O quê? Agora até você tá dizendo que eu não posso fazer o que eu quero porque eu sou menina? De que lado você tá, Sandy?

— Calma, deixa eu explicar. O problema de você fazer esses esportes não é você ser menina, o problema é que, como os meninos gostam, você vai ter que lidar com eles e, sinceramente, não dá! Os meninos são muito idiotas... Por isso aconteceu esse negócio aí com o Joaquim...

— Ah, acho que entendi o que você quis dizer... Bom, mas eu não vou deixar de gostar desses esportes só por causa dos meninos...

— Se tivesse um jeito deles serem menos babacas...

— Eu não acho que todos os meninos sejam babacas... — opinou Janete.

— Ah, nem vem, Janete! São todos iguais.

— Não sei não, Sandy — disse Eleanora. — Pra mim, o que o Joaquim tem de chato, o Téo tem de legal. Ele disse que vai me ajudar a entrar no time.

— Sério? Que legal! — Exclamou Janete.

— Então ele é uma raríssima excessão — às vezes, era bem difícil Sandy mudar de opinião.

***

Joaquim e Téo discutiam desde que esperavam Davi buscá-los na escola. Era um acontecimento bem peculiar, já que o normal era Joaquim e Samuca discutirem e Téo tentar apartá-los. Mas este havia ficado realmente indignado por Joaquim não ter deixado Eleanora se inscrever; todos os alunos da turma haviam ouvido claramente o professor de educação física dizer que qualquer aluno do sexto ou do sétimo ano poderia entrar no time, ele não especificou que eram só os meninos. Mas, assim como Sandy, às vezes era bem difícil Joaquim mudar de opinião.

Davi e Samuca não aguentavam mais. Os Cuecas mal tinham conseguido ensaiar hoje.

— É tudo porque o Joaquim inventou de aceitar esse cargo de capitão — Samuca disse a Davi. — Eu sabia que isso ia atrapalhar a gente.

— Até o Téo ele conseguiu tirar do sério, e é só o segundo dia... Joaquim!

— Que é, Davi?

— Se você continuar discutindo com o Téo desse jeito, vai ter que sair desse time de futsal.

— Mas eu sou o capitão!

— Esse é o principal motivo pra eu querer que você saia. Vocês não tão nem conseguindo ensaiar!

— Eu posso até parar de discutir, mas avisa isso pro Téo, foi ele que começou e é ele que continua falando...

— Eu só vou parar quando você disser que vai deixar a Eleanora se inscrever!

— Meninos — disse Davi —, vocês podem esquecer isso pelo menos enquanto a gente ensaia? Vocês que resolveram participar daquele show talentos, precisam se preparar!

Eles concordaram e ensaiaram. Téo percebeu que não valia a pena ficar brigando com Joaquim, então achou melhor não tocar mais no assunto e falar com o professor de educação física no dia seguinte. E foi isso que ele fez.

Enquanto Téo e Eleanora falavam com o professor (sem Joaquim saber, obviamente), Sandy resolveu tirar satisfações com ele (sem Eleanora saber, já que ela não ia gostar nem um pouco disso).

— QUEM VOCÊ PENSA QUE É?

Joaquim estava de costas para ela e estranhou ao ouvir uma voz muito conhecida, que o irritava até em sonhos uns dias atrás.

— Eu? — Foi o que ele disse quando virou-se para ela.

— É, você mesmo, seu idiota. Quem você pensa que é pra excluir a minha irmã do time?

— Primeiro, eu sou o capitão; segundo, a gente não tinha combinado de não se falar até o show de talentos? Quem você pensa que é pra tá falando comigo?

— Olha aqui, kirido, não adianta nada você pedir trégua e maltratar a minha irmã mais nova.  Isso é trapaça! E tem mais, não tem nada a ver você ser o capitão com ser machista.

Joaquim já ia retrucar, quando Eleanora e Téo a apareceram com o professor de educação física, que disse:

— Joaquim, precisamos conversar.

Ele saiu com Joaquim e Eleanora perguntou a Sandy por que ela estava falando com o menino.

— Ah eu só... tava dizendo umas verdades pra ele...

— Sandy, você não devia ter feito isso! Eu e o Téo já resolvemos tudo... Você sabe como fica estressada com o Joaquim...

— Então vocês brigaram de novo? — Perguntou Téo. — Ih isso não é bom! O Joaquim sempre fica muito estranho quando isso acontece...

Sandy não entendeu muito bem por que Téo parecia tão preocupado com o irmão chato, mas ignorou. Preferiu saber como eles haviam resolvido o problema de Eleanora.

Enquanto isso, o professor de educação física explicava a Joaquim que as meninas também podiam se inscrever nos jogos, mas que entendia por que isso não havia ficado muito claro, já que em todas as aulas apenas os meninos jogavam futsal. Finalmente, alguém conseguiu convencer Joaquim a deixar Eleanora se inscrever!

A aula de educação física daquela quarta-feira foi diferente: o professor colocou metade dos meninos no futsal e metade no vôlei e fez o mesmo com as meninas.