Utopia escrita por Aislyn


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Tema(s) usado(s): O que vê fora da janela / Tudo que alguém queria ter dito e não disse.

Era pra ter postado entre sexta e domingo, mas acabei enrolando com algo que agora não lembro o que é... vida corrida...
Boa leitura! ^^



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O trânsito estava parado no mesmo lugar há pelo menos meia hora. Sair da casa de Mikaru para pegar o ônibus no horário de pique não foi a melhor das ideias, mas por outro lado, aquele tempo sozinho seria bom pra pensar.

 

Katsuya sabia que não devia ter saído da casa do namorado daquela forma. Devia ter ficado para conversar melhor, entender o que toda aquela situação significava, mas imaginar que ele estava esperando a visita de outra pessoa… uma pessoa que ele já amou…

 

O que mais o magoava era não ter certeza do que Mikaru sentia. Quando começaram a namorar, o empresário havia deixado claro que Takeo era seu ex-namorado e que ainda sentia alguma coisa por ele, talvez pelo modo abrupto que foram obrigados a terminar. Se a situação fosse diferente no passado, era bem possível que ainda estivessem juntos, ou talvez já tivessem superado aquela relação, caso ela chegasse ao fim. Contudo, a perspectiva do que poderia ter sido parecia assombrar Mikaru de tempos em tempos. Vez ou outra Katsuya se pegava imaginando como ele e o namorado estariam se a relação anterior do outro tivesse dado certo. Eles não estariam juntos, isso era certeza, e Mikaru também não seria tão travado, tão arisco, não teria tanto medo de aproximações. E ele? Como estaria? Com outra pessoa? Apenas trabalhando e estudando? Não conseguia imaginar como estaria ocupando o tempo que atualmente passava com o namorado ou pensando e planejando coisas pra fazer com ele.

 

Suspirou pesado, olhando a imagem através da janela do ônibus. Era possível ver alguns casais juntos pela calçada ou dentro dos carros, sorrindo, de mãos dadas, conversando tão próximos que quase se beijavam. Não conseguia se imaginar naquele tipo de situação também. Era quase um tabu tocar em Mikaru sem um aviso prévio. Abraçá-lo de surpresa? Ele travava na hora. Roubar um beijo? No máximo um selinho, porque Mikaru se afastaria no segundo seguinte.

 

Não foi apenas um ou duas vezes que se repreendeu por desejar um namoro normal, como via a relação dos amigos. Eles saíam em grupos, brincavam e conversavam, participavam de encontros só de casais, mas também saíam apenas como amigos. Costumava frequentar as festinhas com os amigos, mas encontro de casal? Era outra coisa que não se imaginava fazendo: apresentar Mikaru para seus amigos.

 

Por sorte tinha Izumi e o namorado dele, que preenchiam esse espaço em sua vida, caso contrário, nunca saberia como é um encontro de casais. E mesmo assim, se Mikaru e Izumi não se alfinetassem, o passeio não estaria completo.

 

Sacou o celular do bolso, conferindo as horas e depois olhando mais uma vez pela janela, conferindo se ficaria ali por muito tempo. Se descesse no próximo ponto e fosse para a rua lateral, poderia pegar outro ônibus, que levava até perto do apartamento de Izumi… será que ele estaria ocupado para um conselho matinal? Remexeu-se incomodado, lembrando que teria que contar suas suspeitas sobre o seu namorado e o dele, porque Izumi era assim, gostava de saber alguns detalhes, era curioso. E não podia omitir aquele tipo de informação. Se Mikaru estava se encontrando com Takeo, o namorado dele precisava saber!

 

Acionou o pedido de parada, decidido a arriscar uma visita. Não gostava de ficar se corroendo com o que poderia ou não acontecer. Queria agir! Discou para Hayato enquanto saía do veículo e caminhava até o próximo ponto, que por sorte tinha bem menos trânsito a vista.

 

Alô? — a voz não lhe soou diferente, então supôs que não o havia acordado.

 

— Oi, Izumi-san… está ocupado agora? Estou precisando de um daqueles conselhos…

 

Conselho pra preparar algo diferente pro Mikaru ou porque brigaram?

 

— Ah… briga. Ou o começo de uma. E acho que envolve você. – agora não tinha como voltar atrás. Ele precisaria contar toda a história, ou o que sabia dela – Se importa se eu passar por aí?

 

Claro que não! Venha tomar café comigo!— Hayato não se importava de receber a visita de amigos, até gostava de tê-los por perto, mas o que não aceitava era ter a curiosidade atiçada daquela forma.

 

— Ok, obrigado. Chego daqui a pouco, já estou entrando no ônibus. – e encerrou a ligação.

 

* * *

 

Ficou parado na porta alguns minutos antes de ter coragem de tocar a campainha, pensando se ainda tinha tempo de voltar atrás, mas imaginava que se negasse a ajuda de Izumi agora, ele quem poderia negar no futuro. Foi recebido com um sorriso gentil, como sempre acontecia, mas Hayato não deixou de notar as duas mochilas que carregava.

 

— Estava indo pra casa dele agora? – Hayato tentou iniciar a conversa com um tema mais leve, para não mostrar o quanto havia ficado intrigado com a informação dada por telefone.

 

— Não, na verdade, fui pra lá ontem a noite e ele me chutou hoje de manhã. Cheguei sem avisar e parece que ele não gostou muito.

 

— Vocês brigaram por isso? – o vocalista ficou incrédulo, encaminhando o rapaz para a cozinha, onde lhe serviu café e bolo.

 

— Não exatamente… ele disse que estava esperando outra pessoa. Deu a entender que eu estava atrapalhando. Que ele não me queria por lá…

 

— Mas que tipo de visita poderia ser tão importante a ponto dele te dispensar?

 

— Ah… não tenho certeza… – Katsuya murmurou com receio, mas conseguia pensar em vários tipos de pessoas importantes para visitar o namorado, principalmente se dissesse respeito a trabalho. Contudo, nesse caso em particular, ele sabia quem era a pessoa, já que Mikaru havia contado – Takeo já foi trabalhar?

 

Katsuya fingiu uma mudança de assunto, olhando ao redor pela cozinha e em direção à porta, como se o guitarrista fosse entrar por ela a qualquer instante. Não queria ter suas suspeitas comprovadas tão cedo. Tinha medo disso. Muito medo.

 

— Ah, não. Ele saiu pra dar uma volta. Já deve estar voltando. Quer falar com ele?

 

— Não, não! Só perguntei por perguntar. Eu sei que ele não gosta muito de me ter por aqui.

 

— Isso não é verdade. Takeo pode ter implicado antes, mas agora confia em você e sabe que gosta e cuida bem do Mikaru. E já que estamos falando desse loiro aguado, você disse que a briga tinha alguma coisa a ver comigo. O que era?

 

Como que esperando aquele momento para aparecer, Takeo entrou silenciosamente pela cozinha, sobressaltando os presentes.

 

— B-bom dia, Takeo-san. – Katsuya acenou com a cabeça, pensando o quanto aquele cara tinha um timing perfeito. Não podia esperar mais uns minutinhos pra chegar? Precisava tirar a dúvida com Izumi primeiro, para só então abordá-lo.

 

— Bom dia. Não sabia que teríamos companhia pro café. – Takeo pegou uma garrafa de água na geladeira, dando a volta na mesa e sentando ao lado do namorado – Qual o motivo da visita?

 

— Koi, não seja assim. Ele só veio conversar e trocar umas ideias.

 

— Mikaru de novo? – e não foi surpresa ver Katsuya desviando o olhar, se entregando – Vocês precisam aprender a resolver as coisas sozinhos.

 

— Izumi-san me contou que vocês já brigaram e precisaram de ajuda pra se acertar. – Katsuya rebateu, não sabendo de onde tirou coragem. Havia entrado em um campo minado e agora não tinha volta.

 

— Sim, mas isso foi no começo do nosso namoro. Hoje em dia nós conseguimos conversar e resolver sem precisar de ninguém interferir.

 

— Mas comparado com vocês dois, eu e Mikaru ainda estamos no começo. E ele não é fácil de lidar.

 

— Você sabia disso quando começaram a sair. – Takeo retrucou de volta, não aceitando ouvir calado – Tenho certeza que ele te contou.

 

— Contou. Assim como contou que ainda era apaixonado por você.

 

Hayato ofegou, intercalando olhares entre o namorado e o outro rapaz. Aquela conversa não estava tomando um rumo muito seguro.

 

— Katsu… isso foi antes… – Hayato tentou amenizar a situação, sorrindo sem graça – Mikaru disse que gostava do Takeo quando chegou aqui em Tóquio, mas foi há alguns anos e nós já estávamos juntos. Ele sabia que o Takeo não queria voltar. Tenho certeza que ele superou.

 

— Acredito que seria mais fácil superar se ninguém alimentasse as esperanças dele.

 

— O que eu ofereci pro Mikaru foi minha amizade. – Takeo apontou o dedo em sua direção, deixando todos alertas na mesa – Ele chegou aqui sem conhecer nada nem ninguém e eu não deixo um amigo na mão. Em momento algum disse a ele que terminaria com o Hayato.

 

— Ofereceu o cargo de amante? – Katsuya só viu o instante em que Takeo voaria por cima da mesa e o socaria com toda a força que tinha, mas um baque o tirou de seus pensamentos, quando Hayato espalmou as mãos na folha de madeira, encarando-o sério.

 

— Chega! Katsuya, eu gosto muito de você e não me importo de tentar ajudar, mas não aceito ofender o meu namorado! Takeo pode ter muitos defeitos, mas amante ele não tem! Eu já duvidei dele antes e isso quase acabou com a nossa relação e com a banda, mas eu não vou repetir esse erro de novo e nem permitir que falem assim dele!

 

Katsuya sentiu o rosto queimar de vergonha, conseguindo apenas olhar de relance para Takeo antes de abaixar o rosto, murmurando um pedido de desculpas. O modo como Takeo olhava para Hayato era… tinha um brilho de admiração ali. Ou algo mais forte e especial. Estava se sentindo um idiota.

 

— Eu vou pegar a mochila e podemos ir, Takeo. – Hayato saiu da cozinha, fazendo um cafuné nos cabelos do namorado, mas não dispensou um segundo olhar para Katsuya. Havia ficado realmente chateado com o que ele disse.

 

— Sinto muito… – assim que se viu sozinho com Takeo, Katsuya não pensou em outra saída a não ser se desculpar corretamente – Mikaru deu a entender que vocês andavam próximos, que você ia visitá-lo hoje e por isso me dispensou, eu pensei…

 

— Você vai perdê-lo.

 

— Como é?

 

— Acha mesmo que os conselhos do Hayato vão te ajudar? Logo ele, que não se entende com o Mikaru? Os dois não se conhecem bem o suficiente e pelo visto você também não o conhece. Continue pedindo conselhos pra pessoa errada e vai perdê-lo em pouco tempo.

 

— Mas o que eu faço?

 

— Tente conhecê-lo melhor! Eu não tenho porquê te ajudar, mas se quiser desistir, te garanto que a fila de espera pra se aproximar dele é enorme.

 

— E você está nessa fila? – mesmo depois do sermão de Izumi, Katsuya não conseguiu se conter. Alguma coisa ainda lhe dizia que Shiroyama estava envolvido. A risada seca e a resposta que recebeu de volta só aumentaram sua certeza.

 

— E se estiver?


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Notas finais do capítulo

Continua...



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