Riho, Shido, Guni e Yayoi havia terminado outro caso na cidade – um breed que estava incentivando pessoas a cometerem suicídio pelas ruas. Estavam voltando cansados para o escritório, quando, ao passarem de carro perto da antiga escola de Riho, ela pediu que estacionassem.

— Riho-chan? – Yayoi não viu nada que pudesse ter chamado a atenção dela para que saísse correndo daquela forma.

— Riho, espere! – Shido foi imediatamente atrás dela – Onde você vai? – ele via sua escola, porem nada que pudesse ter chamado sua atenção.

Os três a perseguiram até o portão, sendo obrigados a pular para dentro do local para continuar seguindo-a. Finalmente, em uma pequena sala, de onde podiam ver o local onde o carro foi estacionado, viram que ela admirava uma faixa colorida e vários outros enfeites bonitos nas mesas e caixas pelo chão.

— Já se passou tanto tempo assim? – foi tudo que a ouviram dizer, enquanto estática a suas frentes.

— Riho, mas o que você está pensando correndo desse jeito? – Guni veio autoritária e incomodada para seu lado, até se distrair com o que estava escrito na faixa colorida – “Festa de formatura do colegial”? – ela estava em dúvida.

— Eu vou depois para o escritório. – ela foi rápida no que disse e correu porta a fora, desaparecendo nas sombras da rua.

— Riho, espere! – Shido tentou detê-la novamente, sem sucesso.

— É melhor deixa-la sozinha, Shido. – Yayoi suspirava com os braços cruzados – Pela idade dela e o ano estudantil em que estava quando você a transformou, ela deveria estar se formando no colegial com a turma dela esse ano! – ela esclareceu o parceiro – Riho-chan pode não se arrepender de andar ao seu lado na noite, mas ela ainda sente falta de certas coisas.

— Você tem razão. – ele refletia sobre a frase que atraiu os olhos de Riho, sem ter como mudar o destino que trouxe para ela.

— Vamos voltar para o escritório. – Yayoi tinha que tirar Shido de seu ciclo vicioso de culpa por transformar Riho em um vampiro – Se ela demorar demais para voltar, aí você sai para encontrá-la. Garotas na idade atual da Riho-chan são muito sensíveis. – ela foi séria, dando uma piscadinha para Shido e o convencendo no final.

Yayoi deixou ele e Guni no escritório e se foi, pensativa sobre como Riho deveria se sentir sobre aquela situação. Na noite, Shido ficou à espera de Riho, tentando manter-se firme em sua presença, nem mesmo que por um mero instante, pois sua preocupação por ela não estava passando.

Riho voltou para o escritório quase na hora do almoço, no dia seguinte. Ela precisava beber um pouco de sangue naquela semana ainda e lá era o único lugar onde podia fazer isso. Shido não sabia muito bem o que dizer a ela, por mais que já estivessem juntos por bons anos já, acabando por questionar a maior de suas perturbações novamente.

— Você se arrepende, Riho? – ele olhava seus movimentos distraídos na cozinha.

— Eu admito que ainda penso nas coisas que deixei para trás e não posso mais fazer. – ela vinha da cozinha com duas taças de sangue, ao invés de café desta vez, sentando-se ao lado dele no sofá – Mas agora eu posso passar a vida ao seu lado, Shido-san. Eu não poderia pedir por mais! – ela se aconchegava ao lado dele, estendendo sua taça de sangue.

— Entendo. – ele sorriu para ela, reparando o como evitara de entrar em detalhes sobre a formatura da escola, tocando sua taça com a dela, para que bebessem e pudessem seguir seus dias.

Os últimos meses do ano passavam e chegavam ao fim, enquanto Shido, Riho, Yayoi e Guni eliminavam breeds e resolviam incidentes nas sombras, para que as pessoas pudessem seguir suas vidas bem. Naquela noite em particular, Yayoi não voltou para casa imediatamente após deixá-los no escritório.

— Você a ajuda, Yayoi? – Shido questionou, deixando Riho em dúvida.

— Pode deixar comigo. – ela deu uma piscadinha, fazendo um sinal de positivo e arrastando Riho para dentro do quarto deles.

— Hã!? Espera, Yayoi-san. – mesmo protestando, Yayoi ignorou-a.

— Ela vai ser devorada! – Guni ria descontrolada.

— Guni! – Shido chamava sua atenção.

— Shido, o que você está fazendo? – ela via que ele tirava sua gravata e camisa – Você pretende fazer o que com a Riho hoje? – ela o encarava duvidosa.

— Eu tenho que me trocar! – seu olhar fechado e sombrio deixava claro que entendeu ao que ela se referia e não gostou – Não vou usar as roupas de mais um dia de trabalho, é claro. – ela via que ele tirava um diferente conjunto de trajes formais e elegantes do armário da sala.

— Shido, você... – Guni sabia que ele ainda não tinha assumido plenamente o fato de que Riho amava ele profundamente, mas não como um companheiro vampiro normal e sim como seu grande amor – Ah! Essa ideia foi sua, então faça como achar que deve. – ela suspirou, indo para cozinha preparar sangue para os dois.

Shido estava finalmente pronto, de cabelo muito bem penteado e arrumado preso em suas costas, com seu terno lilás de golas pretas, camisa branca, gravata borboleta e luvas brancas, aguardando apenas Yayoi terminar de preparar Riho – o que estava demorando bastante em sua opinião.

— Shido, você está pronto? – ele viu Yayoi meio abrir a porta do quarto, parando para admira-lo. Ele estava lindo e Yayoi teve certeza de que seu rosto ficou vermelho um pouco ao vê-lo.

— Estou. – ele sorria para ela – E a Riho? – com o sorriso de resposta de Yayoi, ele sentiu um pulsar nervoso em seu peito que a muito não dava sinal.

— Está aqui. – Yayoi abriu um pouco mais a porta, revelando uma bela e fofa cena para Shido.

Riho estava com um vestido azul escuro longo, dotado de um laço nas costas da cintura e um toque azul claro e belo para os ombros, finalizado com um broche de pedra nos mesmos tons na altura do busto. As luvas no mesmo azul iam até os punhos e seus cabelos estavam presos altos em um rabo de cavalo, com um enfeite no mesmo azul e finalizado com duas flores brancas.

Ela estava tímida e encolhida com as mãos baixas na frente do vestido, saindo lentamente do quarto. Quando viu Shido a admirando, ficou ainda mais vermelha, desviando seu olhar o máximo que pode.

— Vamos, Riho-chan, não tenha vergonha. – Yayoi a incentivava – O Shido teve bastante trabalho para preparar esta noite para vocês.

— E como! – Guni apareceu na cabeça de Yayoi – Ele até escolheu o vestido. – ela estava admirada como Riho ficou bonita nele.

— Hã? – ela não esperava por aquilo, perdendo-se surpresa no que elas disseram, encarando, finalmente, o vampiro mais velho no final.

— Bem... – ele se sentiu embaraçado pela situação – Hoje você deveria atender sua festa de formatura e eu pensei que podia fazer algo para te animar e mudar nossa rotina noturna. – ele confessou, reparando que ela estava sem reação alguma.

— Riho?

— Riho-chan?

Ela havia prestado atenção em cada palavra que ele dissera, mas não era nisso que sua mente estava fixada agora. A luz da lua entrava pela janela e iluminava perfeitamente seu amado, em uma magnifica postura, trajado como um cavalheiro clássico e belo.

Era possível que um homem tão lindo, dono de seu coração, pudesse parecer ainda mais bonito e cativante? Sim, era! Pois aquela visão de Shido jamais sairia da cabeça de Riho, sem dúvida alguma.

— Bem, Guni e eu já vamos. – as duas se olharam, reparando claramente o que acontecia naquela situação – Tenham uma boa celebração. – elas saíram do escritório, já tendo combinado que Guni passaria a noite com Yayoi para deixá-los sozinhos.

Shido estava admirado pela beleza de Riho ainda e ela pela sua; mas podia ver claramente que a surpresa dela por sua iniciativa era muito maior do que o resto.

— Você gostaria de dançar, Riho? – ele foi para o canto da sala, iniciou uma música suave no rádio antigo e a convidou com o mais gracioso gesto que ela jamais viu. As velas acesas dando um toque suave ao ambiente, a luz da lua dando brilho a seu amado e ele inclinado levemente para frente, sorrindo e lhe oferecendo uma de suas mãos em um convite para dançar.

— Claro. – ela se recompôs e estendeu sua mão até a dele para que começassem.

Riho não sabia dançar, mas movia-se com o ritmo de Shido. Lentamente ambos se aproximavam e deslizavam pelo espaço aberto no centro da sala do escritório. Ela podia sentir cada movimento dele, a suavidade de seus cabelos e sua respiração tão próxima a seu rosto. Ele podia sentir toda delicadeza do corpo dela, a mudança dos traços jovens depois dos anos e o bater acelerado de seu coração ao se aproximarem.

Ambos seguiram sorrindo juntos, até o final da música, quando Shido trouxe o corpo de Riho ainda mais para perto do seu e inclinou-se sobre ela, fazendo com que se inclinasse para trás acompanhando seu movimento. Estavam mais próximos do que nunca, dividindo o calor do momento e de seus corpos, sorrindo satisfeitos e sinceros e sendo banhados pelo luar, enquanto abraçados em suas cinturas e pescoços.

Riho não perdeu sua chance, roubando um leve beijo de Shido. Foi bem rápido e ela o abraçou em seguida, escondendo seu rosto envergonhado em suas costas. Ele teve certeza do que aquele rápido momento havia sido e novamente pode sentir o nervoso pulsar de seu coração.

Ele ergue-se de sua postura atual, carregando Riho até o sofá – ela surpreendeu-se com o gesto, acabando por revelar sua feição fofa de surpresa e embaraço novamente para ele. Sentando-se no sofá com ela em seu colo, ele acabou rindo a admirando.

— Shido-san! – ele ficava mais vermelha, escondendo seu rosto dos olhos dele.

— Não faça isso, Riho. – ele pegou suas mãos, descobrindo seu rosto – Você ficou muito linda com sua maquiagem e continua linda com essa expressão fofa e tímida que tem feito. – ele foi sincero, vendo-a se surpreender e ficando surpreso por suas palavras igualmente.

— Shido-san, qual a nossa relação? – ela novamente questionava esse importante detalhe.

— É uma boa pergunta, Riho. – ela o viu dar um meio sorriso – Não tenho mais uma certa resposta para te dar. Ainda somos companheiros e sempre seremos, mas não acho que seja mais tão simples assim. – o sorriso leve, unido a seus olhos profundos com claros sentimentos tentando se afirmarem, foram bem diretos para ela.

Riho tinha consciência que coisas do passado de Cain e Shido ainda o atormentavam e, depois de conversar uma vez com Yayoi, sabia perfeitamente que ele ficava preso em um ciclo vicioso de culpa por transforma-la em várias ocasiões. Ela sabia que era parcialmente culpada por este ultimo detalhe, pois ainda se pegava desejando poder fazer algumas coisas que antes de ser transformada poderia.

— Desculpe. – ela entristeceu, deixando Shido sem entender o motivo – Você fez tanto por mim e ainda me permitiu estar eternamente ao seu lado, mas eu continuo demorando para me acostumar e perguntando essas coisas. – ela fechou os olhos, deixando claro para ele que uma lágrima se formava.

— Não chore, Riho. – ela sentiu o toque de seus dedos, descobertos pela luva, em seu rosto – Vai borrar sua maquiagem. – ela via seu sorriso suave e feliz – Você não precisa se desculpar e deve seguir nesta eterna noite em seu próprio ritmo. Eu vagamente me recordo de como foi meu começo como um vampiro, mas tenho certeza de ter demorado a me ajustar. – ele tocava seu rosto levemente, fazendo-a se aconchegar em sua mão – Você vai conseguir seu equilíbrio.

— Shido-san, eu realmente gosto muito de você e estou feliz de poder seguir ao seu lado! – ela tocou seu rosto de volta – Esta noite que montou para mim, é um lindo presente que jamais esquecerei.

Ambos se aproximaram novamente e um beijo longo, carinhoso e quente teve sequência. Ao pararem, ela o escutou sussurrar em seu ouvido, tendo certeza de que ele sorrira ao fazê-lo, enquanto ela sentia seu rosto esquentar como nunca e seu coração acelerar descompassado.

— Eu também te amo, Riho.

Ela tinha certeza do que ouviu e ele certeza do que disse a ela. Ele confirmava em seu coração seus sentimentos e ela se apaixonava novamente por ele. Felizes e com a eternidade a suas frentes, Shido ergueu Riho para o lugar ao lado no sofá e se levantou, estendendo á Riho o mais belo e memorável convite.

— Nesta noite eterna, dance comigo. – o brilho de seus olhos dizia para ela o quão profundamente feliz ele estava e sinceras eram suas palavras.

— Sim. – ela pegou sua mão e seguiu dançando com ele.

Não havia música de fundo, mas os dois não pararam. Ele ensinava alguns movimentos de par e solos a Riho; erguia-a acima de sua cabeça em giros suaves; se afastavam de mãos dadas para depois se aproximarem com intensidade; e sentiam seus passos unidos em sincronia perfeita.

Foram até muito tarde naquela festa, apenas parando ao decidirem outra coisa para fazer com aquela noite.

Prepararam-se para dormir no caixão de seu quarto, porem ao mesmo tempo e no mesmo cômodo desta vez! Ela podia ver claramente todos os detalhes do corpo de Shido e ele os dela! Entraram abraçados no caixão e dormiram próximos daquela mesma forma, adormecendo ambos como mais do que apenas parceiros, que andariam juntos pela noite eterna.

Ou melhor, dançariam juntos pela noite eterna. Pois Shido passou a ensinar vários movimentos de dança a Riho e, sempre que possível, ambos tiravam tempo de suas noites para dançarem, sempre repetindo o mesmo convite um para o outro: “Nesta eterna noite, dance comigo”.