Probabilidade do Amor Perfeito escrita por Cecília Bento


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Oi, Balinhas de Hortelã?

Olha eu aqui - destoando totalmente do meu foco - estou tão feliz e realizada com essa história que chega a doer terminá-la. Foram sete dias com esses personagens magníficos. Uma semana cheia de conversas, emoções e muitas lágrimas entre nós três. Eu espero que vocês possam sentir tudo o que eu senti ao escrever essa história.

Adrien é meu primeiro docinho de homem, e apaixonar-me por ele foi tão fácil e rápido que não pude deixar de sonhar e sonhar com ele todos os dias. Não foi nada fácil dizer adeus tão rápido pela primeira vez.

Eu desejo as boas vindas a todas vocês que estão chegando a mim pela primeira vez por essa fanfic!

Como falei antes, essa história é um conto e tem todo um desfecho que deixa uma vontade de quero mais... Ela pode ou não ter mais capítulos como uma série de contos da mesma história em tempos diferentes.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/751799/chapter/1

Adrien passava o dedo lentamente pela tela de seu celular - que era a única fonte de luz em seu quarto - fitando pela milionésima vez o sorriso contente e os olhos apaixonados de sua antiga namorada.

Rolou na cama, socando os travesseiros com força. Eles não conversavam mais. Isso o estava matando aos poucos.

Afundou o rosto no travesseiro querendo sufocar os xingamentos que saiam sem permissão de sua boca, ele queria mesmo era chorar até dormir e talvez, assim conseguir acabar com aquele aperto em seu peito de uma única vez.

Não tinha lágrimas para derramar. Era a primeira vez na vida que Adrien Agreste não conseguia chorar ou expressar os sentimentos conturbados e tortuosos que reuniam-se dentro dele.

Os dias sem Marinette se arrastavam apáticos e sem vida - constantemente perguntava-se não fora zumbi ficado - onde mesmo cercado por todos os lados, sentia-se solitário.

O celular emitiu um assovio baixinho, indicando que uma mensagem havia acabado de chegar. Adrien passou as mãos pelos fios loiros tentado a não olhar mais para o celular mesmo que fosse impossível - não passava uma noite sem dormir olhando para o rosto dela - ele sabia que Nino tentaria lhe convencer a sair de casa.

Sair a noite para curtir em algum lugar badalado de Paris era a maneira perfeita para se sentir ainda mais infeliz e anormal.

Fez questão de enfiar a cabeça embaixo de um travesseiro - apertando-o com as mãos - ignorando as mensagens que foram chegando uma atrás da outra.

Não conseguiu controlar a sua curiosidade. Rolou na cama com o celular em mãos, pronto para saber o que queriam de tão importante. Desejou que fosse mensagens de Marinette dando um simples "Boa noite" que ela ainda mantinha - mesmo que não viesse mais cheio de calor e amor.

Eles eram amigos antes de assumirem namoro. Agora pareciam estranhos com amigos em comum.

"Olha quem está na pista!"

Adrien arregalou as orbes verdes para o visor iluminado. Abriu a imagem que Nino mandou e sentiu seu coração falhar, apertando-se contra o peito.

Marinette dançava com Nathaniel. E ela parecia feliz.

Adrien fechou os olhos com força, desejando desesperadamente conseguir chorar. O aperto em seu peito a cada dia mais sufocante fazia sua respiração sair entrecortada pelos lábios entreabertos.

Esperou o pranto por vários minutos, porém, nada veio.

Piscou os olhos diversas vezes antes de voltar a olhar para a foto com mais atenção. Tinha alguns dias que não encontrava com ela pessoalmente.

Os cabelos escuros estavam um pouco maiores do que ele lembrava - reluzia com um brilho azulado que parecia as penas de um corvo sobre a luz do sol. Os olhos estavam fechados e ela dançava, enquanto o ruivo mantinha uma mão firme em sua cintura.

Aquilo não devia incomodar daquele jeito. Eles não tinham mais nada um com o outro.

"Ela parece ter superado bem, não acha?"

Leu com os olhos apertados. Nino estava certo.

Marinette parecia ter superado o relacionamento deles bem melhor que Adrien. Isso o deixava tão irritado quanto a mão de Nathaniel em sua cintura.

Não era segredo para Adrien que o ruivo era apaixonado pela sua morena, ele sempre estava por ali a margem do namoro deles, apenas esperando uma oportunidade para tomar o lugar de Adrien na vida dela e quem sabe em seu coração.

"Sempre soube que o Nathan queria o que era meu."

Digitou com o sabor amargo da derrota na boca. Olhou por alguns instantes para a mensagem - o dedo pairando sobre a tecla de enviar - então, desistiu e apagou tudo.

Não tinha direito de sentir ciumes. Não depois de terem jogado tantas ofensas na cara um do outro.

"Você tinha que tá aqui, cara!"

"Precisa sair dessa fossa antes que perca sua garota!"

Nino continuou vendo que não ia ser respondido, ele entrava em um monologo onde a única certeza de ter alguém do outro lado era as setinhas que mudavam de cor, indicando quando a mensagem era visualizada.

Uma guerra mental começou a acontecer dentro de Adrien, onde o seu alter ego brigava e rosnava como uma pantera negra para que ele tivesse um pouco de amor próprio. Havia sido chutado e devia aceitar isso como um homem, não rastejar aos pés dela. Geralmente esse alter ego vencia aquelas batalhas diárias, porém, aquela noite estava sendo excepcionalmente difícil. 

O loiro levantou-se da cama rapidamente, jogando o celular de lado. Vestiu a primeira camiseta que achou jogada na poltrona do quarto, estava calçando os sapatos quando percebeu o que estava prestes a fazer.

Apoiou os cotovelos nos joelhos, afundando o rosto nas palmas das mãos. Os fios loiros e lisos estavam mais compridos que o habitual, caíram como um pequeno véu envolta de suas mãos.

Queria a sua morena de volta. Sentia muita falta de ter a desajeitada e animada Marinette em seus dias, sempre vendo o lado positivo de todas as coisas - até quando esse lado não existia.

O que havia acontecido mesmo para eles brigarem? Porque ele não conseguia lembrar o motivo da confusão que os afastou?

As únicas coisas que Adrien conseguia lembrar agora eram os momentos bons que haviam passado juntos, as risadas e os toques calorosos. O quanto tudo era perfeito e certo quando eles dois estavam juntos, e como eles pareciam ser feitos um para o outro.

Ele tinha que decidir de uma vez. Se ia ou não sucumbir a Marinette.

Levantou-a cabeça apoiando a bochecha na palma da mão esquerda, piscando os olhos para sua parede coberta de posteres de filmes que ele havia assistido com ela, sua parceira em todas as estreias e eventos de cultura Geek.

Virou o rosto - para evitar todas as lembranças e perguntas sem resposta que aquelas imagens pudessem trazer a tona - seu olhar caiu sobre a mala aberta em cima da cadeira que usava para estudar em sua escrivaninha.

Ainda não tinha arrumado suas coisas para viajar, no dia seguinte. Agora que sua carreira como modelo estava finalmente decolando teria que procurar apartamentos para alugar em Los Angeles.

Iria passar todo o fim de semana fora, aproveitando uma sessão de fotos agendada no sábado de tarde ele passaria o domingo olhando algumas das opções pré-selecionadas por ele e Marinette.

Por isso, não sentia a minima disposição de olhar nenhum daqueles lugares. Sabia que ia lembrar dele em cada instante daquela viagem, não só porque era no dia de seu aniversário, mas, também porque ela estava muito animada com a mudança e o fato de finalmente morarem juntos em um lugar só deles, e finalmente terem a sua vida de adultos.

Levantou outra vez, decidido.

Iria atrás dela. Não ia passar mais nenhum momento remoendo as possíveis probabilidades de um futuro sem a sua morena, sem suas maratonas de séries embaixo das cobertas ou sem suas madrugadas assistindo animes legendado.

Pegou as chaves do carro, a carteira e o celular. Desceu as escadas correndo, passando pela porta do escritório de seu pai - que retirou o olhar do computador por breves instantes - avisou que estava saindo e voltava logo.

Dirigiu pelas ruas iluminadas apenas pelas luzes amareladas dos postes públicos, saindo da área residencial onde morava com seu pai, em direção ao centro da cidade onde ficavam as casas noturnas e clubes badalados da cidade. O som dos limpadores de para-brisas era o único barulho audível dentro do veiculo escuro, estava caindo uma leve garoa aquela altura e ele se perguntou se daquele lado da cidade poderia estar chovendo.

Marinette nunca andava preparada para essas situações, era cômico se não fosse tão preocupante, o quanto a garota era distraída. Sempre esquecendo de andar com um casaco ou até mesmo um guarda-chuvas.

Tamborilou os dedos no volante quando teve que parar em um sinal vermelho, não sabia para onde estava indo e acabara de se dar conta disso. Retirou o celular do bolso colocando-o em um suporte em formato de gato que a morena havia lhe dado de presente no natal passado. Apertando a discagem rápida voltou a atenção para a rua enquanto a imagem de Nino e Alya aparecia no visor com a palavra discando embaixo.

— E aí cara? - A voz de Nino o saudou pelas caixas de som do carro que ele havia conectado via USB. - Pensei que não tava afim de papo comigo hoje...

Adrien passou uma das mãos pelos fios, colocando-os atrás da orelha.

— Onde cê tá Nino? - Perguntou colocando o carro em movimento quando o sinal abriu, seguindo em direção ao centro.

— Nós estamos naquele clube novo que te falei. - Nino gritou, o áudio da ligação estava péssimo devido ao barulho das batidas eletrônicas do outro lado da linha. - Aquele com karaokê, tá ligado?

— Tô. Me manda a localização que...

— Como assim cara? - Nino gritou com a voz abafada. - Geral só fala nesse clube a dias e você não sabe como chegar? - Ele parou um pouco brigando com alguém do outro lado da linha. - A Alya tá mandando um oi.

— Aposto que sim. - Resmungou com ironia.

Sabia bem que Alya não lhe mandaria nenhum "oi" se tivesse chance, ela era melhor amiga de Marinette antes de ser a namorada do seu melhor amigo. Os lados já estavam escolhidos desde o início do namoro dos dois, não ia mudar só porque não tinha sido culpa dele.

— Você vai vir atrás dela não é?

Adrien suspirou. Era tão óbvio.

— Me manda a localização Nino. Agora.

— Adrien espera... - Nino tentou falar, mas, a ligação já estava sendo encerrada.

[...]

Nino olhava para o celular com uma careta estranha no rosto. Ainda não havia conseguido se acostumar com aquele novo Adrien que surgia pós Marinette, ele estava acostumado ao Adrien que existia antes da namorada e mais do que adaptado ao amigo com ela, os dois eram o complemento perfeito um do outro.

Mas, esse novo Adrien desinteressado com os amigos e baixo astral era um verdadeiro pé no saco.

Ultimamente eles não faziam muitas coisas juntos, pior do que isso, só passavam algum tempo juntos ou trocavam mensagens por que o próprio Nino insistia em tentar manter algum dialogo presente entre eles. Por Andrein, eles nem se falariam mais.

As tardes que passavam jogando Counter Striker no computador haviam simplesmente parado de existir, o loiro alegava falta de tempo, mas, Nino sabia muito bem que jogar era uma coisa que ele havia começado a tomar gosto de verdade com Marinette - que arrasava em quase todos os jogos em console ou não - e ele andava evitando ao máximo fazer coisas que o lembrassem dela.

Ainda existia o problema Alya para completar a situação.

Nino não queria desagradar a namorada de maneira alguma, a morena era fogo e estava decididamente puta da vida com o melhor amigo dele. Mesmo que eles dois tivessem entrando em um acordo mutuo - onde não tomariam as brigas dos amigos para si - sempre acabavam discutindo sobre o ex-casal.

— Adrien está vindo para cá. - Falou ele, enviando a localização da boate. - Ele tá vindo atrás da Mari.

Alya defendia a amiga com unhas e dentes, mesmo que ela tivesse errada. Tinha um código de melhores amigas e não ia deixar que nenhum namorado ou amigo machucasse ou ofendesse a sua amada e protegida amiga - só ela poderia fazer isso - nunca deixaria ninguém falar nada de Marinette em sua frente e se calaria.

— Então... - Alya perguntou batendo o solado da bota depressa no chão. - Ele tá vindo atrás dela agora? - Jogou os cabelos com pontas tingidas para trás. - Justo quando a minha amiga tá conseguindo seguir em frente?

Queria mesmo era comer o coração de Adrien com os dentes igual a Daenerys comeu o daquele cavalo em Game of Thornes. E se Nino se metesse entre os dois ela comeria o dele também.

— Alya... - Nino repreendeu-a em tom suave. - A gente já conversou sobre isso, não foi?

Ela cruzou os braços abaixo do busto, fazendo mesmo que não intencionalmente os seios ficarem ainda maiores.

— Eu não vou deixar que aquele projeto de gente estrague a noite da minha amiga, okay? - Defendeu-se emburrada. - Ele que não venha querer bancar o macho alfa mijando para marcar o território. Eu não vou permitir isso, ela não merece sofrer mais do que já sofreu!

— Cherry... - Nino soprou o apelido carinhoso no ouvido dela, abraçando-a por trás. Alya não esquivou-se do toque quente dele. - Vamos deixar que eles se entendam, hãn? Que me diz?

— Eu vou deixar que eles conversem, nunca disse que não ia ou que eles não precisavam conversar de verdade, mas... - Ela virou-se nos braços do namorado, olhando-o nos olhos. - Se ele não chegar aqui com a intenção de se desculpar. - Disse colocando um dedo no queixo de Nino. - Vou arrancar as bolas dele pela garganta. Eu juro.

— Você é muito violenta mulher. - Nino brincou, tentando distrair a morena de pensamentos tão homicidas que a deixavam com um brilho maniaco nos olhos.

— E você adora! - Alya acusou, dando um leve tapa na bochecha dele e beijando-o voluptuosamente nos lábios em seguida.

— Porque vocês não procuram um quarto? - Marinette falou ao aproximar-se do casal. - Trouxemos bebidas! - Exclamou erguendo as duas garrafas de vodka saborizada que tinha em mãos quando os amigos a olharam com raiva. - Nathan e eu estamos cansados de dançar sozinhos e decidimos procurar um lugar para sentar e bater um bom papo. - Falou entregando uma de suas garrafas para Alya, enquanto Nino pegava uma cerveja da mão de Nathanael. - Topam?

A morena estava suada e elétrica aquela noite, parecia feliz diferente dos últimos dias e disposta a passar algum tempo de qualidade com os amigos.

— Claro! - Alya concordou com um sorriso.

Não estava em condições de negar nenhum pedido de Marinette, não quando ela estava se esforçando tanto para voltar a ser ela mesma.

Ultimamente a amiga só conseguia sair de casa para tirar fotos em paisagens abertas, e negava qualquer trabalho que fosse com casais, mesmo que esses fossem a maior parte do seu lucro como fotografa na romântica Paris.

Alya não havia conseguido retirar de Marinette o motivo de sua briga com Adrien - motivo de andar tão estressada - e isso a fazia questionar o seu dom para jornalismo. Que tipo de profissional ela seria se não conseguia descobrir qual havia sido a grande razão para o seu casal preferido se separar? Uma péssima jornalista investigativa, isso ela tinha certeza.

Por outro lado, não queria pressionar além do limite fragilmente imposto por Marinette sobre aquele assunto. A morena mal conseguia disfarçar as lágrimas que se acumulavam nos olhos sempre que ouvia o nome dele.

Foram dias terríveis para todos que estavam no meio daquela tensão. O rompimento do casal numero um do colegial havia sido um grande divisor de águas no meio do grande grupo de amigos.

E ninguém sabia o motivo.

O que tornava tudo pior.

Apenas decidiam que lado seguir e bandeavam-se para ele. Adrien parecia acabado, e muitas pessoas conhecendo o seu lado meigo e amoroso ficaram com ele nessa história. Marinette estava mais disposta a fingir sorrisos que apenas Alya conseguia identificar como falsos, e várias pessoas bandeavam-se para o lado dela perguntando-se oque Adrien poderia ter feito de tão ruim para que a menina nem sentisse sua falta.

— Então... - Nathaniel começou a falar quando todos estavam confortavelmente sentados em uma das únicas mesas vazias no lugar. - O que você vai fazer no seu aniversário Marinette?

Alya arregalou os olhos, chutando a primeira perna que pensou não ser a de Marinette. E Nino que estava sentado a sua frente soltou um pulinho junto de um resmungo descontente.

— Porque você me chutou? - Perguntou lançando um olhar indignado para Alya.

— Minha perna escorregou. - Respondeu inocente, mexendo os ombros.

— É domingo não é? - Nathaniel continuou, sem perceber o clima constrangedor que estava começando a aparecer em volta da mesa. - Digo, o seu aniversário.

Marinette abaixou a cabeça e fitou a garrafa pela metade que apertava entre as mãos. Durante quatro anos consecutivos ela passara seu aniversário acampando com Adrien e agora, não tinha noção do que devia fazer. Por isso, preferia fingir que tinha esquecido que a data se aproximava e todos respeitaram isso, até agora.

A música bate-estaca tocava ao fundo fazendo eco ao coração da morena, ela mordiscou o canto do lábio inferior girando a garrafa algumas vezes entre as mãos antes de responder.

— Eu não pensei muito sobre isso nos últimos dias. - Então levantou os olhos úmidos e sorriu de modo pouco convincente. - Acho que vou passar com os meus pais na padaria.

Uma mentira deslavada.

Seus pais ainda não sabiam sobre o fim de seu relacionamento e sendo assim, não tinham planejado nada para o dia do aniversário da filha. Por mais estranho que parecesse, os pais de Marinette sempre comemoravam o aniversário da filha com um belo café da manhã em família.

A menina odiava festas, sentia-se constrangida e estabanada, desde o seu aniversário de nove anos onde sua mãe lhe preparara uma festinha e ninguém além de Alya havia aparecido, e em um surto de raiva Marinette jogara todos os doces e lanchinhos no chão. Tornou-se um costume entre eles que os dias de aniversário fossem o dia sagrado para cada membro fazer o que quisesse, desde passar o dia deitado até mesmo sair por ai em uma aventura com a mochila nas costas.

Eram as vinte quatro horas de folga, sem obrigações ou horários para se cumprir. E o dia do ano favorito de Marinette desde que começara a namorar com Andrei. Eles também comemorariam cinco anos desde que haviam tido a sua primeira vez, em uma barraca de camping no meio de uma campina repleta de vaga-lumes.

— Ah! - Nathaniel murmurou corando. - Eu pensei em chamar você para a minha exposição...

— Sinto muito Nathan, mas, eu acho que no domingo não vou poder. - Marinette começou a arrumar uma desculpa para não sair com o amigo - Sabe eu combinei com a Alya uma noite só de garotas como antigamente.

— Isso mesmo! Só falaremos de pontas duplas e cutículas! - Alya apressou-se em dizer, encobrindo outra mentira. - Vai ser maravilhoso! - Completou esticando a mão para bater na de Marinette em um toque de amigas.

— Vocês assistiram a nova temporada de Sense8? - Nino perguntou, mudando completamente o rumo da conversa e retirando parte daquele peso que haviam caído sobre eles.

Nathaniel aceitou a oportunidade com prazer, estava envergonhado por causa da audácia que teve em convidar Marinette para sair com ele, ainda mais tão próximo assim do fim de seu relacionamento com o loiro. Ele gostava da menina, mas, nunca forçaria uma situação que pudesse magoa-la ou pressiona-la.

Apenas queria vê-la bem.

Os três envolveram-se na conversa rapidamente, Marinette pediu licença avisando que ia ao banheiro e negou veemente quando Alya fez questão de ir com ela, saiu rapidamente ouvindo os resmungos de sua amiga que falava sobre a grande violação do código das garotas que ela estava cometendo.

Seguiu abrindo caminho entre os corpos suados que mexiam-se instintivamente ao ritmo hipnotizante da música, esperou alguns minutos na fila que se formava próxima ao banheiro. Encostando as costas na parede, retirou o celular do bolso da calça jeans que usava.

Deslizou o dedo pela tela desbloqueando o aparelho. Perguntou-se se uma hora da manhã era um bom horário para dizer que estava cansada e enfim poder ir para casa, sem causar grandes comoções nas demais pessoas que importavam-se com ela.

Passou a mão pela testa, afastando os fios negros que grudavam ali. Ainda faltava duas pessoas para a sua vez e o tempo ocioso levou os seus pensamentos para a figura loira de Adrien. Logo estava desbloqueando a pasta de imagens dos dois - havia colocado uma senha para que ninguém pudesse ter acesso - e observando o rosto bonito dele sorrindo ou fazendo caretas para a câmera.

Cada uma daquelas imagens trazia uma lembrança cheia de alegria a si, porém, também parecia uma faca cortando-lhe o coração. Deveria ter apagado todas as fotos antes mesmo de terminar com Adrien para não correr o risco de fazer exatamente o que estava fazendo agora, abrindo os pontos recém feitos em seu coração.

Ela era meio masoquista, disso tinha plena certeza, não conseguira apagar nenhuma daquelas imagens. A coragem lhe faltava até para fazer aquilo.

Covarde!

Essa era a palavra que rodopiava em sua mente todos os segundos do dia. Terminara com o seu namorado por medo e por possíveis probabilidades de que algo desse errado em sua vida.

Agora sofria, e merecia sofrer.

Melhor que fosse logo enquanto ainda estavam seguros no ninho - próximo dos amigos e parentes - onde poderiam se enroscar em suas camas e chorar no travesseiro até a dor acabar. Pior seria depois, sozinhos em um apartamento vazio onde as frustrações de um, seriam as desgraças do outro.

Não podia arrastar Adrien para a sua bagunça pessoal e emocional, onde chegar atrasada para os compromissos era seu estilo de vida e vestir roupas que já haviam sido usadas mais de três vezes eram o seu ritual sagrado.

Quais eram as probabilidades que eles tinham de dar certo?

Elas eram nulas. Inexistentes ou pequenas demais para ter chance de dar certo.

Existe uma grande verdade por trás dessa história sobre namorar os amigos - quando você perde - perde os dois. Namorar o seu melhor amigo é igual a jogar em uma roleta de Vegas - quando a bolinha para - ou você ganha tudo, ou sai sem nada.

Marinette leva os dedos trêmulos aos olhos, retirando algumas lágrimas que acumulam-se ali. Sentindo-se o ser mais idiota do mundo por abrir mão do garoto que ama por um motivo tão bobo.

Ela tinha medo. Um medo devastador de coisas que não podia controlar, por esse motivo estaria ali para sempre paralisada em Paris, batendo fotos da felicidade de outras pessoas e não desenhando e fazendo os seus designers de moda.

A sua auto estima era muito baixa para tentar se arriscar.

Lavou-as mãos na pia do banheiro, molhando o rosto e o pescoço no processo para tentar diminuir o calor sufocante que vazia ali dentro. Fitou-se por alguns instantes no espelho que cobria toda a parede oposta aos três box de portas vermelhas, estava pálida e enjoada, talvez estivesse finalmente pegando o resfriado que estava assolando a todos nesse inverno.

Bebeu grandes goles de água da torneira para aplacar um pouco a vontade de vomitar, não adiantou muito. A ânsia subiu de uma vez pela sua garganta e ela correu para o box livre, despejando toda a bebida ingerida aquela noite.

Xingou-se mentalmente por não ter se obrigado a comer nada antes de sair. Havia dias que não alimentava-se direito. Não sentia fome, seu estômago estava sempre pesado demais para comer qualquer sólido.

— Mari... - A voz de Alya se fez audível entre as batidas frenéticas que retumbavam no local. - Amiga? - O som de fora foi abafado, indicando que ela fechara a porta. - Você tá bem?

Marinette tentou levantar-se rapidamente, mas, o mundo pareceu girar e suas pernas falharam trazendo uma nova onda de vômito.

— Marinette. - Alya exclamou com preocupação, abaixando-se ao lado dela e segurando seus cabelos para o alto com as mãos. - O quê tá acontecendo com você amiga?

— Eu não sei. - Respondeu com um gemido antes de voltar a vomitar.

Alya ficou do lado dela, passando a mão pelas suas costas e murmurando palavras de conforto. Pela primeira vez elas estavam vivendo uma cena totalmente contraditória - era Alya quem vomitava abraçada nos vasos sanitários da vida - porém, Alya sentiu-se feliz de poder retribuir aquele favor para a amiga, mesmo que não desejasse vê-la naquela situação.

Com o sabor amargo do ácido estomacal em sua boca Marinette desabou no chão frio do banheiro, sem pensar nas possíveis bactérias que existiam ali, desatou a chorar. Um pranto alto e cheio de soluços, fungadas e palavras desconexas.

Ficaram ali sentadas durante tanto tempo que nem podiam contar, as moças entravam e saiam do banheiro com olhares rápidos e penosos em direção a elas, recebendo olhares furiosos de Alya e algumas vezes até ofensas. Quando finalmente as lágrimas secaram, elas ficaram ali sentadas lado a lado no piso imundo do banheiro, esperando o momento certo para começarem a falar.

— Aqui. - Alya falou, quando viu que a amiga não seria a primeira. Entregando um chumaço de papel higiênico, completou: - Toma.

— Obrigada, Alya. - Marinette disse com a voz fanha, assoando o nariz. - Por tudo.

A morena de cabelos tingidos mexeu as mãos, sorrindo.

— Ah! O que seria de você sem mim?

Marinette deu um meio sorrisinho. Mas, já era um começo.

— Agora... - Alya passou as mãos nas bochechas da amiga, retirando os rastros de lágrimas que estavam ali. - Me conta o que tá acontecendo.

— Eu não sei por onde começar.

— Pelo começo oras! - Alya exclamou, levantando-se do chão e ajudando Marinette a se erguer, continuou: - Você está estranha desde que brigou com o "Teen Model" - Ela fez aspas com os dedos no ar, usando seu tom mais irônico possível para falar sobre o ex de sua melhor amiga. - Oque é completamente aceitável e normal, digo, ficar meio pra baixo ou um pouco deprê, mas... - Parou por uns segundos olhando nos olhos azuis de Marinette. - Você está instável, mal humorada e arrogante. Não anda se alimentando direito que eu sei, até que você ficou bem com uns dois quilos a menos, mas, agora já está passando dos limites. - Reclamou em tom de preocupação. - E o que você fez com o Nathan hoje? Aquilo foi o pior de tudo!

Marinette espreitou os olhos um pouco ofendida.

— Eu não fiz nada com o Nathaniel.

Alya olhou o seu reflexo no espelho, ligando uma das torneiras e lavando as mãos. Ela não esperava ter aquela conversa com Marinette em um banheiro sujo - de um clube qualquer - depois que a amiga tivesse vomitado e chorado horrores.

Contudo, a vida não era feita de cenas perfeitas e as chances que tinham de ter essa conversa em um balanço de madeira na varanda de uma casinha branca, no alto de uma linda colina, era mínima. Os acontecimentos recentes pediam por aquela conversa, não importava as circunstâncias que se encontravam.

Respirando fundo, Alya desligou a torneira e virou-se para encarar as orbes azuis.

— Claro que fez. Você sabe que o Nathaniel é louco por você e passou a noite inteira dando mole para o pobre garoto, quando está bem óbvio que não pretende ter nada com ele. Ainda mais, mentiu para recusar o convite dele. - Ela passou as mãos pelas mechas compridas, colocando-as atrás das orelhas e tomou as mãos da outra que estavam trêmulas e suadas entre as suas. - Eu conheço você, sei que nunca faria algo para magoar alguém, mas, essa pessoa que está tomando o seu lugar nas últimas semanas... Não é a minha amiga.

Marinette apertou os olhos, cheios de novas lágrimas. Os lábios tremendo um pouco e as bochechas coradas, indicavam o seu esforço para não voltar a chorar outra vez. Alya não recuou por causa disso, ela precisava desenterrar aquela história do começo ao fim.

— Você é a pessoa mais amável que eu conheço, a verdadeira princesa de contos de fada. É gentil e corajosa, doce e altruísta. Eu quero que saiba que sempre vou te apoiar e defender em todas as situações, como sempre estive fazendo desde que nos conhecemos. E não é só porque você era o meu alíbe para escapadas noturnas, ou a minha heroína em noites de bebedeira, mas, porque você é a minha irmãzinha querida. Aquela que eu escolhi para ser a minha parceira para o resto da vida e a única portadora de todos os meus segredos.

Suspirou outra vez soltando um som anasalado, apertando ainda mais forte as mãos da amiga entre as suas, segurava-se para não desabar. Ela precisava ser a forte e sensata dessa vez, por Marinette.

— Você sempre vai poder contar comigo, em todas as situações. - Alya parou por alguns segundos - que pareceram minutos - mordendo os lábios com força, algumas lágrimas já corriam pelo seu rosto. - Lembra quando assistimos Greys Anatomy e a aquela asiática disse que a mocinha era a sua pessoa? - Marinette concordou balançando a cabeça, seu corpo já tremia outra vez e em poucos segundos ela estaria no chão em posição fetal chorando como um bebê. - Você disse uma vez que eu era a sua pessoa também, e que me chamaria para arrastar o corpo quando cometesse um assassinato. Eu te respondi naquele dia que não arrastaria corpo nenhum... - Alya soluçou, mordeu os lábios e respirou fundo. - Eu não arrastaria o corpo com você, Mari. Eu mataria por você.

O corpo de Marinette chocou-se contra o de Alya com força e elas se abraçaram desengonçadamente. A visão turva pelas lágrimas e o choro audível delas se misturava com os pedidos de desculpas e as declarações de amor eterno. Eram mais do simples amigas, eram irmãs e a pessoa uma da outra. 

[...]

Adrian estava inquieto em sua cadeira, a música eletrônica só servia para aumentar ainda mais as batidas - já aceleradas - de seu coração. Nino estava sentando ao seu lado e tentava distrai-lo de seu nervosismo com assuntos paralelos, porém, não obtinha sucesso. Ele queria encontrar a sua morena logo, conversar com ela e retirar um motivo coerente para aquela loucura sem sentido.

Olhava de cinco em cinco minutos para o aparelho de celular, apertado entre a mão. O tempo parecia não passar do modo convencional, ele estava acreditando seriamente que o relógio zombava de sua cara. Porque diabos elas estavam demorando tanto?

— Calma, cara. Elas devem estar conversando. Só isso.

O moreno repetia para o amigo, a cada olhar que o loiro dava varrendo o salão.

— Já faz meia hora que estou aqui Nino. - Resmungou, procurando a sua amada com os olhos. - Aconteceu alguma coisa. Eu sinto isso.

— Você tem que relaxar Adrien. Parece que vai ter um ataque a qualquer momento.

— Isso é porque eu vou ter um ataque, poxa! - rosnou o loiro, apertando ainda mais o celular entre os dedos. Seus olhos estavam tão dilatados pela iluminação que podia se ver somente uma fina linha verde viva envolta da pupila negra. - Nino elas tão demorando demais.

— Mulheres são assim. - Nino respondeu mexendo os ombros. - Até parece que não sabe que elas passam anos no banheiro. Vai ver tão conversando ou refazendo a maquiagem, sei lá oque diabos elas fazem em grupo lá dentro.

— Eu tenho uma teoria interessante sobre isso...

Nathaniel começou a comentar, recebendo um olhar irritado de Adrien.

— Pouco me importa as suas teorias. - Sibilou com os olhos em chamas, Nathan deu um sorrisinho de canto. - A proposito, o que você ainda tá fazendo aqui?

— Esperando as garotas. - O ruivo sorriu calmo, não havia som de provocação em sua voz. - Vou levar Mari até em casa. Prometi a carona e não costumo quebrar as minhas promessas.

— Calma aí, cara. - Nino falou agarrando Adrian pela camisa e empurrando-o na cadeira. - Você também não zoa Nathan. - Repreendeu com um olhar feio para o ruivo. - Não tá vendo que ele tá pilhado?

— Relaxa, Nino! Aparentemente nós não somos mais tão amigos assim, não é Adrien? - Nathaniel levantou abrindo-a carteira e retirando algumas notas, depositou as na cestinha vazia, onde antes haviam anéis de cebola. - Sei bem quando estou sobrando em algum lugar e não quero ser a desculpa do nosso amigão aqui, quando ele estiver afim de levar uma surra. - Girou as chaves do carro no dedo indicador de sua mão direita, confiante. - Eu não sou uma ameaça para você, Adrien.

Os olhos de Adrien arregalaram-se por alguns milésimos de segundo para depois se encolherem em fendas apertadas.

— Porque está dizendo isso? - Murmurou, desconfiado.

— Só achei que precisava saber. - O ruivo falou pegando a jaqueta jeans. - Avisa para a Mari que eu lembrei que tinha umas coisas pra fazer amanhã cedo? - Perguntou a Nino que acenou em resposta.

E com um último olhar em direção a Adrien, saiu dali.

Quais as probabilidades que ele tinha de sofrer por algo que nunca foi seu?

"Muitas."

A palavra soava na cabeça de Nathaniel enquanto ele levava o seu coração pesado para longe dali. Só queria não criar expectativas tão facilmente assim, sempre era doloroso decepcionar a si mesmo. 

[...]

Marinette e Alya estavam sentadas nas baquetas próximas ao balcão de bebidas, muitas pessoas apinhavam-se do lado onde o barman fazia suas elaboradas bebidas coloridas, jogando coisas para o ar e dançando ao ritmo da música. As meninas estavam quase escondidas ao lado de uma coluna onde ficava a máquina de gelo seco, jogando constantemente baforadas de uma fumaça com cheiro adocicado na pista de dança que parecia ainda mais lotada.

— Desculpa por não confiar em você.

Sussurrou para Alya, enquanto abria sua garrafa de água mineral. Mesmo depois de ter lavado a boca diversas vezes ainda sentia o gosto ruim em sua língua. Alya olhou para ela de soslaio, apertando a garrafa de plástico entre as mãos enquanto ouvia - uma versão bem resumida - da briga com Adrien.

— Eu já disse que tá tudo bem, não disse? - Falou, impaciente com as desculpas que a outra pedia de dez em dez minutos.

— Disse, mas, não posso deixar de me sentir culpada.

Alya abanou uma mão na direção dela.

— Tá certo, tá certo.

— Acha que devo pedir desculpas ao Nathan? - Perguntou envergonhada.

— E falar o quê? Desculpa Nathaniel, mas, eu te usei para tentar esquecer o Adrien, só que no meio disso percebi que ele é insubstituível? - Alya uniu as mãos - como se rezasse - próximo ao rosto, piscando os olhos frenética. - Nada disso. Você não vai dizer nada. - Falou abrindo a sua garrafa, bebericando alguns goles. - Ele já sabe que não é o Adrien, e também sabe que você terminou recentemente.

— Mas...

— Mas, nada. - Interrompeu a amiga. Que tratou de fechar a boca, olhando para aqueles olhos castanhos e cheios de sabedoria. - Agora, deixa eu vê se entendi... - Alya falou colocando um dedo no queixo pensativa. - Você terminou com o seu grande amor por medo das possíveis chances de não dar certo? 

Marinette apertou as mãos, nervosa. Balançou a cabeça em afirmação mordiscando a parte interna de sua bochecha.

— Você só pode ter merda nessa cabeça... - Alya suspirou pesadamente, passou um mãos pelo rosto, organizando os pensamentos. - Tudo bem, tô calma. - Falou para si mesma. - Amiga do quê você tá com medo?

— Eu não sei. Só não quero mais, não dá. Eu... e-eu...

— Você quer abrir mão de tudo agora? Sem nem ter um motivo concreto?

Alya tentava entender a situação de sua amiga, antes ela queria matar Adrien da maneira mais lenta e dolorosa, com todos os requintes de crueldade, porém, agora sabendo que Marinette era a única culpada pelo próprio sofrimento - e o de Adrien também - não conseguia sentir mais nenhuma raiva do garoto.

Ela até queria sacudir a pequena pelos ombros até que todos os parafusos soltos voltassem para os seus devidos lugares.

— Eu não quero deixar mamãe e papai...

— Me poupe dessas desculpas Marinette! - Alya exclamou. - Você estava super animada para ver os apartamentos, eu mesma vi isso!

— Alya... Não sei o que aconteceu tá legal? - Marinette resmungou com os olhos tristes. - Em um momento eu estava feliz olhando os arredores dos prédios para morar. Identificando os principais pontos que íamos precisar pelo Google Maps e, em outro momento totalmente diferente eu só conseguia pensar em tudo que ia dar errado...

— O quê pode dar de tão errado? Vocês são perfeitos juntos. Não existe um casal que seja mais compatível que vocês dois.

Marinette encolheu em seu lugar.

— Esse é o problema! - Respondeu arrasada. Alya lhe lançou um olhar louco. - Nada pode ser tão perfeito desse jeito. Uma hora vai acontecer alguma coisa horrível, eu sinto isso!

— Quem é você e o que fez com a Marinette? - Acusou em tom sério. - A Marinette que eu conheço sempre consegue ver o lado bom de tudo, e ela nunca faria o Adrien sofrer por um medo tão bobo.

— Sou eu, Alya. Sou eu com tanto medo que não tenho espaço para otimismo algum. Sou eu tão dolorida por dentro que não consigo pensar em ninguém além de mim mesma.

— Olha, eu não vou dizer que entendo... Porque eu realmente não estou entendendo todo esse seu medo, mas, vou te apoiar em qualquer coisa que decidir e sempre, sempre vou estar aqui para o que precisar.

— Desculpa por não ter dito nada antes. - Marinette pediu outra vez fazendo Alya revirar os olhos. - Algum conselho?

— Converse com ele. Dê uma chance para que ele possa se defender, vocês sempre foram amigos e tenho certeza que podem resolver isso como pessoas maduras.

— Ele não vai querer me ver nem pintada de vermelho com bolinhas pretas. - Resmungou abaixando o olhar, fitando as mãos sobre a bancada. - Eu falei coisas horríveis para ele, algumas eram mentiras e...

— Ele quer te ver. - Alya falou apoiando uma mão no ombro dela. - Só converse com ele.

Marinette olhou-a com os olhos esperançosos.

— Você acha mesmo?

— Eu tenho certeza. Sabe porque? - Perguntou e Marinette balançou a cabeça em negação. - Porque ele está aqui, esperando por você.

"Eu acho."

Alya completou em pensamento, jurando que mataria o loiro se ele não estivesse ali como ela prometera. 

Com cautela Marinette pegou a mão que Alya lhe oferecia, a sua mão estava quente e suada, mas, Alya pareceu nem importava-se com isso. Elas seguiram a passos largos entre a multidão de dançava - sendo empurradas para todos os lados - até a mesa onde estavam sentadas com os rapazes.

Marinette sentia seu coração diminuir - ansioso e descompassado - conforme aproximava-se da figura loira que estava de costas para a direção que ela vinha. Era como se tivessem uma mão de gelo dentro de seu peito, apertando o seu coração, tentando impedi-lo de bater normalmente.

Doía. Muito.

Engoliu em seco quando Nino levantou a cabeça e fixou os olhos nelas, chamando assim a atenção do loiro para olhar para trás. Seus olhos percorreram o corpo dela, olhando cada cantinho com atenção - comparando as lembranças que tinha com a realidade - estalando a língua em desaprovação, ela estava muito magra.

Marinette encolheu-se sobre o olhar atento dele, seu coração parecia bater lentamente, porém, forte. Pulsando por todo o seu corpo, ressoando alto em seus ouvidos, latejando nas palmas de suas mãos e pés.

Quando finalmente os azuis encontraram os verdes vivos. Eles ofegaram juntos.

O mundo parecia desintegrar em volta deles, nada existia além daquela aurora boreal que seus olhos formavam nas luzes coloridas que piscavam constantemente. Adrien sentiu a saudade bater com força em seu estômago deixando-o tonto e sem ar. As mãos formigando em vontade de tocá-la e assim ter certeza de que aquela visão era mesmo real.

Adrien levantou-se da cadeira, parando a poucos passos de sua morena. Ele podia ver o quanto aquela separação estava fazendo mal para ela, como ele Marinette parecia sem o seu brilho natural. Aquele brilho que iluminava até os dias mais sombrios de uma pessoa triste, que aquecia até os corações mais frios, e também era o motivo de inveja por muitos.

— Princesa...

Aquela palavra dita pelos lábios de Adrien tinham um efeito efervescente no organismo de Marinette, e ela sentia seus nervos se desfazerem em pequenas bolinhas de gás. Podia ser loucura da cabeça dela, mas, aquela palavra dita com aquele tom dolorido e cheio de saudade, apertara ainda mais um nó invisível dentro de seu peito.

Sentiu uma mão invisível apertar sua garganta. E ofegou outra vez. Os olhos levemente arregalados, fecharam-se saboreando aquela palavra mesmo que ela lhe causasse ainda mais dor.

Sentiu o seu corpo estremecer quando os braços quentes de Adrien lhe apertaram com força. Ele segurava-lhe com se ela fosse a única coisa que o segurasse a Terra, como se não existisse gravidade ao redor deles, impedindo que flutuassem até se perderem no universo.

Ele sentiu o seu sistema nervoso derreter como lavar fervente, assim que segurou Marinette em seus braços. O encaixe perfeito de sua pequena em seus braços foi automático - Marinette passara os braços em torno da cintura dele, instintivamente. Encostando a cabeça em seu peito. - fazendo assim, ele ter absoluta certeza que aquele era o seu lugar de origem. De onde ela nunca devia ter saído.

Marinette sentiu todos os seus medos fugirem para algum lugar distante, deixando apenas aqueles medos onde uma vida sem Adrien não fazia o menor sentido. As lembranças que eles dividiam juntos invadindo o seus pensamentos, fazendo-a ter a certeza que estava perdida e agora - no meio daquele aperto cheio de saudades - havia enfim encontrado-se.

Ambos suspiraram, puxando-o ar cheio daquele aroma inconfundível que um tinha do outro.

Suas essências misturando-se como de costume, formando um odor único que só eles dois juntos, conseguiam ter.

Afundando o nariz em meio aos fios negros, Adrien aspirou todo aquele perfume doce que era a sua única droga. Baunilha, jasmim, flor de maracujá e um toque amadeirado único que ele não podia identificar.

Era suave e marcante. E extremamente doce, como ela.

Adrien tinha muitas coisas para falar - havia ensaiado no carro o seu discurso - mas, não conseguia lembrar de nada agora. Não existiam palavras suficientes para descrever o sentimento que tinha por aquela mulher.

— Hum-hum... - Alya coçou a garganta.

Lentamente eles se separaram. Não muito. Só um pouco. O suficiente para olharem para a morena de mechas vermelhas com cara de "sou a dona da porra toda", contudo, mantiveram os braços segurando um ao outro. Quase como se dançassem uma música lenta.

— Oi, Alya.

— Oi, Adrien. - Diferente do quê ele esperava, não havia rancor e nem ironia na voz dela. - Acho que vocês precisam conversar... - Falou, explicando com calma cada palavra. - Em outro lugar. - Pontuou, sorrindo. - Mais privativo. - Esclareceu, com malicia. - E quem sabe resolver essa tensão sexual de uma vez?

Os dois coraram.

— Alya! - Marinette exclamou.

— Chérrie, tenha modos. - Nino disse, abraçando a namorada pela cintura. - Ela pede desculpas Adrien. - Falou olhando para o amigo e depois para Marinette. - Marinette...

— Eu não peço não. - Alya reclamou, a testa franzida em desaprovação. - Pare de colocar palavras na minha boca.

— Tudo bem, Nino. - Adrien respondeu antes que o amigo começasse outra discussão boba com a namorada. Eles amavam-se, mas, passavam a maior parte do tempo trocando farpas. - Ela está coberta de razão. - Alya abriu um sorriso cheio de dentes. - Precisamos conversar.

Marinette concordou.

— Vou só pegar a minha bolsa e... - Ela falava olhando para a mesa. - Cadê o Nathan?

O loiro apertou o maxilar, sem que ela visse. Não queria que uma crise de ciumes acabasse com sua primeira chance de ter uma conversa adequada com sua amada.

— Ele disse que precisava resolver umas coisas amanhã cedo e me pediu para levar você até em casa. - Nino explicou rapidamente, tentando omitir o fato de Adrien já estar ali quando o ruivo foi embora.

— Amanhã? - Alya riu. - Você quis dizer hoje. Já passam das duas.

— Mon chérrie, só é amanhã depois que eu durmo. - Nino falou apertando levemente o nariz de Alya, que afastou seus dedos com um pequeno tapa. - Quantas vezes vou ter que te falar isso?

— Hoje, amanhã. Isso pouco me importa. Eu só quero chegar em casa e ser tratada como a deusa que você sabe que eu sou... - Alya respondeu rapidamente, fazendo Marinette soltar uma risadinha.

O clima tenso e instável em volta dela parecia ter sido estabilizado em apenas um simples abraço. Alya não pode deixar de notar isso, e sorriu pensando em como a amiga estava sendo boba por ter medo.

Despediram-se com poucas palavras e toques de mãos únicos e diferentes, - Alya e Marinette tinham o seu, Nino e Adrien o deles - uma coisa infantil que levariam para sempre. Indicava o tempo que cada um se conhecia e não queriam abrir mão por motivos únicos, mas, com o mesmo significado. Por fim, Nino subiu em sua moto e esperou que a namorada desse um último abraço apertado na amiga, antes de colocar o capacete com a ajuda de Marinette - que fez questão de apertar bem o fecho embaixo do queixo da amiga- e subir no banco apertando-se a ele.

Deixando os dois sozinhos na calçada úmida.

[...]

Adrien dirigia pelas ruas sem destino. Marinette não perguntou para onde ele planejava leva-la, sabia que Adrien não conversava muito enquanto dirigia sendo sempre tão cuidadoso e politicamente correto - em quase tudo - que fazia. Ela havia acostumado-se com o silêncio dele, tomando-o como um modo estranho de proteção.

Ela estava aconchegadamente envolvida pelo casaco de moletom - com capuz removível - do Darth Vader de Adrien, o cheiro dele era de amaciante e Adrien. O carro estava escuro o suficiente para o nome Star Wars - estampado acima do coração - brilhar em verde neon. Marinette sentia-se tão confortável e quente que permitiu-se dormir, ressonando baixinho.

O loiro dirigia saindo da cidade, sem pensar muito no quê estava fazendo, ele seguia seu plano inicial. Aproveitava os sinais vermelhos para lançar olhares intensos para a garota que estava ao seu lado, encolhida de uma maneira tão habitual que ele até tinha esquecido-se das semanas sem ela. Parecia que ela nunca havia saído de dentro daquele casaco, e muito menos, de sua vida.

Adrien sentia a paz que parecia ter fugido dele durante dias. Estava em seu lugar. Ao lado dela.

E não estava disposto a sair dali, nunca mais.

Aproveitou para bater uma foto dela, quando parou no posto de gasolina para abastecer. Entrou na loja de conveniências admirando o seu trabalho, ele não estava acostumado a bater fotos dela. Marinette era a fotografa.

Porém, não estava disposto a perder momentos como aqueles. Tinha um medo sufocante de esquecer aquelas pequenas lembranças.

O rosto dela inclinado para o lado, sendo iluminado pela luz neon do casaco. A boca vermelha e pequena entreaberta, os cabelos negros e bagunçados espalhando-se em sua bochecha, como um véu sedoso. Pagou a conta, passando o seu cartão de debito na maquina, enquanto um rapaz com o rosto sonolento e os cabelos arrepiados lhe entregava duas sacolas.

Voltou para o carro - sem que Marinette tivesse mexido um músculo - colocando-o na estrada outra vez. Ela não iria fugir dele, não aonde estavam indo.

Um sorriso imenso abriu-se no rosto afilado de Adrien. Ele tinha certeza que nada poderia impedir que eles não fizessem as pazes naquele lugar.

O lugar deles.

Onde todos os seus segredos mais profundos estavam tão bem guardados.

[...]

O som da chuva batendo contra a lataria do carro foi oque acordou Marinette. Ela havia sonhado com Adrien, e um sorriso estampou-se em seu rosto antes mesmo que abrisse os olhos. O sonho fora tão real que ainda podia sentir o cheiro dele impregnado ao redor, alargou o sorriso enquanto recordava-se cada detalhe daquele sonho. Ia desenha-lo mais tarde.

Os cabelos loiros e grandes caindo sobre os olhos verdes, que pareciam ter todas as cores devido a iluminação ao redor, os olhos um pouco fundos e cansados, porém, felizes como os de uma criança na manhã de natal. Os ombros largos em sua camiseta preta de mangas enroladas até os cotovelos, com o caimento perfeito. Sua boca entreaberta como se algo lhe tirasse o folego de uma maneira completamente sensual.

Tec. Tec. Tec.

O barulho incomodo fez com que ela abrisse os olhos.

— Pensei que não ia acordar tão cedo, minha princesa.

O sorriso que Adrien lhe deu foi como uma tapa na cara. Como ela ousara deixar aquele homem? Só podia ser louca para terminar com ele. Era louca só por considerar essa ideia. Fechou os olhos outra vez, suspirando.

Não fora um sonho.

— O quê foi princesa? Estava tendo um sonho bom?

— Sim. - Ela respondeu abrindo os olhos. - Estava sonhando com você. 

Adrien abriu um sorriso de orelha a orelha, encostou a cabeça no banco, olhando fixadamente para a chuva que escorria pelo para-brisas do carro.

— N-nós precisamos... conversar. - Marinette falou confusa, deixando a última palavra suspensa no ar.

— É por isso que estamos aqui. - Ele disse, olhando para ela. - Para resolvermos todos os nossos problemas...

— A-Adrien, eu...

— Não! - Exclamou fechando a expressão. Bateu o punho fechado sobre o volante do carro fazendo com que Marinette desse um pequeno pulinho, surpresa. - Não comece com essa voz outra vez, Mari. - Pediu em um rosnado. Fechou os olhos com força para que ela não visse toda a dor que ameaçava transbordar deles. - Não essa voz cheia de piedade. Não comigo, por favor... - Resmungou, colocando a testa encostada no volante do automóvel, completou em um sussurro: - Eu não posso aguentar.

Marinette esticou a mão - parando a centímetros dos cabelos de Adrien - pensando se devia ou não tocar nele. Encontrava-se em uma disputa mental entre a razão e a emoção, sabia que se seguisse seu coração naquele momento seria como jogar sal em cima das feridas dos dois mais tarde. Uma reconciliação estava fora de cogitação para eles aquela altura do campeonato.

Começou a recolher o braço vagarosamente.

Ela que estava acostumada a doar-se por completo, descobrira nesses últimos dias - talvez tarde demais - que estar bem consigo mesma era o melhor para ficar bem. Estava cansada de guardar todas aquelas sensações ruins que sentia para não magoar os outros. Não machucar Adrien.

Mesmo no meio dessa guerra interna, ela sentia-se mais ela mesma. Uma garota que falava demais, machucava as pessoas a sua volta e não guardava mágoas.

Assustou-se - dando um gritinho - quando a mão esquerda de Adrien, segurou seu pulso. Ele olhava para ela - a cabeça deitada sobre a direção do carro - com uma intensidade tão grande que poderia perfura-lhe a alma.

Adrien não conseguia reconhecer aquela garota a sua frente. Ela era Marinette, sua morena, sua princesa, e mesmo assim, parecia ser uma pessoa completamente diferente da doce e meiga Marinette que ele amava desde o colegial. Era apenas um reflexo daquela menina ingênua que amava demais e entregava-se com tudo o que tinha sem medo de sair ferida.

Ele estava com medo por ela. O que tinha acontecido afinal?

— V-você precisa me... tem que me s-soltar... por favor? - Balbuciou, sem saber como agir perto dele.

Adrien apertou os dedos em volta do pulso dela, marcando-a mesmo que sem querer. Algo havia mudado dentro dela em pouco tempo, parecia arredia e arisca. Tinha um olhar quase selvagem que ele não conhecia ou fingia não conhecer.

— Eu não vou soltar você. Não até que me conte tudo.

A paciência dela esgotava-se aos poucos. Logo, explodiria. Não queria isso, não queria entrar em confronto com ele outra vez. Esse seu novo lado, movido pelo medo irracional a assustava, e ela tinha certeza que afastaria ainda mais Adrien.

Porque essas coisas estavam acontecendo? Porque ela não conseguia controlar suas emoções?

— Se não quiser falar... - Adrian murmurou, afrouxando o aperto. - Apenas me escute.

Ela fechou os olhos, escutando a voz de Alya mandando-a conversar com ele. Passou a língua pelos lábios ressecados, movimento que não passou despercebido por Adrien. Que soltou sua mão como se ela pegasse fogo. Não podia pensar em nada libidinoso naquele momento, ele precisava colocar todas as coisas em pratos limpos - como diria Nino - antes que perdesse a chance e a coragem.

— Tudo bem... - Suspirou abrindo os olhos. - Eu vou escutar tudo. Pode falar.

Adrien passou as mãos pelos cabelos, assanhando-os. Aquela seria uma longa conversa.

— Eu quero me desculpar por tudo que falei aquela... - Parou lembrando-se das coisas horríveis que gritaram um para o outro. - Noite. - Talvez, aquilo que ela tinha se tornado fosse culpa dele afinal. - Nunca quis falar aquelas coisas. Elas simplesmente s-sa...

— Saíram? - Marinette riu, desdenhando.

Adrien ficou surpreso. A boca aberta como se ela tivesse declarado que era uma super heroína que lutava contra os vilões mais bizarros possíveis para salvar Paris do mal. Marinette havia sido maldosa com pela primeira vez na sua frente. Não sem motivos, ela tinha todos. Adrien pegara realmente pesado com as palavras naquela noite, mas, ela também havia pesado nas palavras no meio de sua fúria sem sentido. Porém, ele nunca havia visto ou imaginado - nem em seus sonhos mais estranhos - que sua princesa pudesse desdenhar ou ser irônica com alguém.

— As palavras sempre saem da boca de bêbados e furiosos, mas, nem por isso elas são mentiras.

— Mari...nette.

— Tudo bem, Adrien. Pode falar, eu não vou interromper outra vez. É só dizer o que você planejou e eu vou escutar.

— Eu não planejei essa conversa. Você pode simplesmente me escutar sem julgar antes? - Adrien grunhiu, irritado. O sorriso da menina morreu um pouco. - Pode trazer a minha princesa de volta por alguns momentos? Por favor?

"Minha princesa"

Aquelas palavras como mágica fizeram os muros invisíveis de Marinette racharem, mesmo que um pouco. Ela concordou com a cabeça e encolheu-se dentro do casaco, pronta para ouvir-lo.

— Desculpe por perder o controle, antes e agora. - Ele suspirou sentando-se mais ereto que conseguia, a postura perfeita aos olhos de muitos, facilmente mantida pelo mestre do esgrima.

— Tá tudo bem. Eu peço desculpas por julga-lo... - Ela falou, calma. - Antecipadamente.

Onde aquele clima leve e descontraído que tiveram na boate fora parar? Adrien perguntava-se mentalmente.

— Eu não vou falar palavras bonitas, mesmo que você mereça todas as que eu possa encontrar, eu não vou dizê-las. - Ele falou rapidamente, Marinette olhou-o com mais atenção, esperando que ele continuasse. - Eu fui um idiota com você. Deus! - Exclamou em choque, como se tivesse caindo em si pela primeira vez. - Eu fui um idiota com você desde o começo! - Adrien passou as mãos pelo rosto, esfregando com força. - Eu só pude perceber isso agora, depois que perdi você. - Ele falou mais para si mesmo do que com ela, mas, Marinette pode escutá-lo mesmo com o barulho intenso da chuva no teto do carro. - Você sempre esteve comigo durante todos os momentos, me ajudando a levantar sempre que eu caía. Nunca me deixou mesmo quando eu fazia você sofrer, tratando-a como minha melhor amiga. E-eu... eu...

Adrien gaguejou, o rosto corando. A garganta tão apertada que qualquer palavra que tentava falar a partir daquele momento arranhava para sair, abafada e dolorida. Sentia o seu tão sonhado pranto aproximando-se como uma névoa fria, congelando suas entranhas, fazendo-o suar frio.

Logo agora que ele não queria chorar mais, as lágrimas se aproximavam.

Engoliu a saliva com dificuldade. Fazendo um barulho estranho.

— Eu fui tão tapado no inicio. - Murmurou olhando para frente. Não conseguia olha-la enquanto falava aquelas palavras. - Achava que não podia amar duas pessoas ao mesmo tempo. - Começou a tocar no assunto que lhe incomodava tanto. - Eu achei que amava a Chlóe. - Era a primeira vez que ele falava sobre aquela história tão antiga. - Tratei você como uma amiga muito especial, quase uma irmãzinha mais nova. Jogava todos os meus sentimentos por você nessa caixa intitulada amor de irmãos, e me convenci disso. Me convenci de quê era o melhor para nós dois. - Marinette viu os nós brancos aparecendo nas mãos dele, apertando com força o volante. - Eu descobri que estava errado. Não pude deixar de não amar você. E quando você declarou o seu amor por mim... - Adrien tinha um sorriso minimo nos lábios, os olhos brilhavam na escuridão, molhados pelas lágrimas que viriam a cair. - Eu fui aos céus, aquele dia. A gente nunca tocou nesse assunto, eu sei que você nunca fala nada sobre isso para não me magoar...

— Adrien...

Marinette tentou para-lo. Ela sabia que ele estava falando tudo aquilo por culpa sua. Adrien estava abrindo as cicatrizes que tinha em seu coração porque ela jogara em sua cara que ele e Chlóe se mereciam. Ela estava com tanto medo e raiva naquela noite. Tinha tentado machucá-lo de todas as maneiras, e falar de seu primeiro relacionamento foi a melhor forma que encontrou.

— Não. Tudo bem. Eu quero falar. - Cortou-a.

Não era segredo o tanto que havia sofrido com Chlóe. Um relacionamento manipulado e abusivo onde Adrien sempre cego, saia machucado e perdedor. Quando ele finalmente conseguira livrar-se daquilo, começara um relacionamento tão saudável com Marinette que ele simplesmente não tocava nunca no assunto.

Até aquele momento...

— Eu preciso falar sobre isso com você, para que não tenha duvidas de que eu nunca amei a Chlóe de verdade. - Os olhos de Adrien prenderam os de Marinette na penumbra. - Nem poderia. Eu não sabia o que era amor naquela época... - Ele sugou o lábio inferior para dentro da boca, segurando-o com os dentes. Pensou por alguns segundos em tudo o que queria falar, mas, decidiu que resumir em poucas frases seria o melhor. - Eu só conheci o amor quando deixei você entrar. Eu amo você, Marinette. - Suspirou, falando pela primeira vez aquelas palavras. - Eu amo você de uma maneira tão verdadeira e única que...

— A-Adrien... - Ela sussurrou em estado de choque. Os olhos arregalados e novamente cheios de lágrimas.

— Que estou disposto a deixá-la livre, se essa for a sua vontade.

Aquelas palavras fizeram com que os medos de Marinette paralisassem. Adrien estava deixando-a livre para fazer o que quisesse, para ficar - caso fosse a sua vontade - com ele e para partir para outra história.

Como ela ia conseguir encher-se de convicções sobre o quão errado eles podiam ser juntos agora?

A rachadura em seus muros invisíveis, aumentou drasticamente. Começando a ruir aos poucos, desmoronando, deixando-a desprotegida.

— Eu vou te esperar. - Adrien falou com a voz rouca, derrubando as primeiras lágrimas. - Não importa se você nunca mais quiser me ver. - Mais lágrimas corriam pelo rosto bronzeado dele. - Eu sempre vou amar você. - Ele soluçou, fazendo com que Marinette derrubasse suas próprias lágrimas. - Ver você feliz vai ser o suficiente para...

Então, foi o limite. Adrien conseguiu o pranto que tanto pedira.

Ele cobriu o rosto com as mãos, chorando ruidosamente sem vergonha alguma. Parecia ter um sorriso tenso nos lábios - como um louco - enquanto as lágrimas salgadas escorriam livres pelo queixo, perdendo-se na gola da camisa.

Marinette sorriu em meio as lágrimas, e aos poucos seu sorriso começou a virar uma risada histérica. A risada dela ecoava em conjunto com os soluços de Adrien, que ainda chorava. Eles não conseguiam controlar suas emoções.

Aliviavam-se das cargas que estavam a muito tempo carregando. Soltando os sentimentos que arrastavam como fantasmas arrastavam suas correntes.

O sol já nascia quando eles finalmente começaram a se recompor. Adrien com os olhos inchados e vermelhos, ainda fungava limpando o nariz na manga da blusa. Marinette com os olhos fundos e igualmente vermelhos, ainda ria fraco de vez em quando.

A chuva caindo fraca em volta deles.

— O que é tão engraçado afinal? - Ele perguntou, curioso.

— Eu me lembrei... - Ela estava rouca de tanto rir. - O motivo de tudo isso.

— E? - Ele assou o nariz na camisa.

— Estava com medo... - Marinette falou tentando ficar séria. - De todas as chances que temos de dar errado.

— Estava? Não está mais?

Marinette pensou, olhando para fora, vendo pela primeira vez aonde estavam. Na área de camping Indigo Paris Bois de Boulogne onde haviam passado todos os aniversários dela, desde os dezesseis anos. Com suas casinhas com varanda - toda de madeira que parecia saída diretamente de um conto da Disney - disponíveis para aluguel. Pequenas ruas asfaltadas para andar de bicicleta e espaços para crianças, restaurante, mercadinho e café com internet. Apesar de eles sempre ficarem acampados em uma barraca próximos ao rio.

Os olhos encheram-se de ternura.

— Eu sabia que tinha que te trazer aqui. - Adrien explicou. - Mesmo que nunca seja por uma última vez. - Ele virou-se pegando uma sacola de papel pardo no banco traseiro do carro, Marinette não havia notado ela até aquele momento. - Alias, feliz aniversário!

— Tecnicamente meu aniversário é só amanhã... - Ela resmungou pegando a sacola das mãos dele.

— Não importa mais tanto assim. - Adrien falou enquanto ela abria a sacola olhando para seu conteúdo. - Eu estou andando com isso no meu carro há uns do is meses...

Marinette assentiu em concordância. Retirando com cuidado o quê parecia um confortável agasalho de moletom cinza, revirou-o nas mãos olhando com atenção. Era um moletom simples, cinza claro de tecido grosso e maleável, tão macio quanto um agasalho de boa qualidade podia ser. A única diferença era o bordado personalizado na parte de trás.

— O rei? - Perguntou com dúvida, passando o dedo pelo bordado em linha preta que dizia "The King".

— Opa! - Adrien exclamou, puxando o agasalho das mãos dela. - Sacola errada. - Entregou outra sacola idêntica a primeira. - Essa é a sua.

O agasalho era igual ao anterior, cinza e macio, porém, a inscrição bordada atrás era a única diferença. Na dela havia "His Queen" que significava "Sua rainha". Ficou admirando o significado daquele presente por alguns segundos em silêncio.

— Vou entender se não quiser usar.

Ela sentiu o desapontamento na voz dele. Algo que afetou-a diretamente no peito.

— Eu vou usar. - Respondeu, dobrando a peça com cuidado. - É lindo. Não poderia ser melhor.

Ambos suspiraram, encostando a cabeça no encosto do carro. Olharam a chuva diminuir até parar por completo, a névoa úmida do amanhecer cinzento cerca-los e os pássaros começarem a cantar em meio aos galhos altos, adorando mais um dia em sua desordem melodiosa.

— Do quê você tinha tanto medo, princesa?

Adrien quebrou o silêncio.

— Da perfeição.

Virou-se no banco, ficando de lado para olhar melhor o rosto dela. Marinette virou-se também, retirando as sapatilhas e encolhendo os pés em cima do assento. Um dos braços dobrado atrás da cabeça e o outro abraçando os joelhos.

— Como assim?

Ela fechou os olhos respirando com a boca entreaberta. Adrien sentiu vontade de tomar seus lábios para si. Perguntando-se mentalmente se ela ainda tinha aquele sabor doce que ele lembrava, ou se era apenas sua imaginação enfeitando as lembranças.

— Tudo em você é perfeito demais, Adrien. Toda a sua vida é perfeita, a sua rotina, o seu modo de agir, até as suas roupas são perfeitas. Eu não sou nada disso. Não sou nenhuma Chlóe. Não tenho dinheiro, nem sei falar mais de duas línguas... - Marinette zombou de si mesma. - O meu inglês é o do colégio. Eu nunca viajei de avião. Vivo atrasada e principalmente sou desajeitada. Não sei ser sexy e muito menos seduzir alguém.

Ela falava tão rapidamente que Adrien apenas deixou que falasse tudo, tentando segurar-se para não calar a boca dela com a sua.

— Eu sou completamente o oposto de tudo oque você precisa. E-eu... sempre estou me metendo em pequenos acidentes e ganho mais manchas roxas do que posso me lembrar como elas surgiram. - Adrien sorriu largamente. - Nós nunca vamos dar certo. Eu sempre vou ser isso... Sua namorada desajeitada do colegial. Nunca serei a mulher de um modelo famoso. Eu nunca serei extremamente sexy como aquelas garotas da Califórnia.

— Eu não acredito que você está me dizendo isso. - Adrien falou colocando um dedo sobre os lábios dela. Marinette olhou para o dedo dele, ficando levemente vesga. - Você estava com medo de não ser uma mulher perfeita? - Ele perguntou divertido. - Para mim?

— Eu sei que é... - Murmurou contra o dedo dele.

— Shiiiu! - Adrien a silenciou. - Você não tem que mudar em nada para me agradar, não precisa ser alguém que não é para agradar a ninguém. Eu nunca me envergonharia de você. Jamais olharia para outra mulher que não fosse você, e não é porque as outras não são sexys ou extremamente sensuais. É porque elas não são você.

Marinette esperou qualquer coisa dele, menos o quê realmente aconteceu.

— Nenhuma outra garota vai saber as minhas manias como você. Nem preparar o meu chá do jeito que você faz, ou aquela sopa de ervilhas como você. - Ele falou com a voz grave, enquanto acariciava a bochecha dela com o polegar. - Nenhuma garota vai esperar as temporadas de séries e animes terminarem de sair, sem ver os spoilers na internet, para maratonarmos juntos. Nenhuma garota vai ler os livros da coleção de Harry Potter ou Senhor dos Anéis quando eu estiver doente com a voz doce como a sua. Nenhuma garota no mundo vai virar a noite jogando CS Go comigo, o Nino e a Alya e carregar como você. Nenhuma garota no mundo sabe os meus gostos musicais... - Adrien parou por uns segundos, tomando folego. - E se alguma garota conseguir ser tudo isso, ela ainda não vai ter o seu cheiro, muito menos o seu sorriso. Ela não vai conseguir em uma roupa curta me enlouquecer como você faz com seus pijamas de bolinhas, ela não vai conseguir fazer o meu coração parar de bater falando em dez línguas, o que o seu eu te amo faz em uma só. - Adrien encostou a testa na dela, ficando de joelhos no banco, suas respirações misturando-se. - Eu não sei o que você considera como amor perfeito, mas, para mim existe apenas uma palavra para descrever isso... Marinette.

Marinette sorriu.

— Qual seria a probabilidade de sermos perfeitos juntos?

— Quem disse que precisamos ser perfeitos?

— Eu achei que... - Ela sussurrou sem jeito.

— Se não existir probabilidade do amor perfeito com você... - Adrien sussurrou contra a pele dela de volta. - O imperfeito parece maravilhoso para mim.

Marinette selou os lábios de Adrien, calando-o.

E para a alegria dele o sabor ainda era melhor do que lembrava.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Probabilidade do Amor Perfeito" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.