Band-Aids Coloridos escrita por Siaht


Capítulo 1
Band-Aids Coloridos


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas lindas!!! ;D
Tudo bem com vocês?
Bom, depois de ter escrito um super Angst sobre o Steve, eu precisava escrever algo mais fofo sobre o personagem. Demorou um pouco, mas saiu.
Espero que gostem! ♥



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Steve Harrington não era o tipo de pessoa que tinha todas as certezas do mundo. Muito pelo contrário. Na maior parte do tempo, o garoto não fazia ideia do que estava fazendo ou, ainda pior, do que diabos estava acontecendo ao seu redor. A seu favor, entretanto, estava o fato de que ele, ao menos, tentava. Se esforçava mais do que qualquer um e, bom, nem sempre isso resultava em alguma coisa positiva ou terminava bem, mas, fosse por desencargo de consciência ou por ser simplesmente muito estúpido para parar, ele continuava tentando.

Então, sim, talvez o rapaz não fosse a pessoa mais inteligente do planeta. Talvez ele nunca conseguisse ser aceito por alguma faculdade. E talvez continuasse a ter problemas para diferenciar os nazistas do resto da população da Alemanha, ou para acompanhar o raciocínio de um grupo de nerds de 13 anos. Apesar de tudo isso, após 17 anos de vida e de ter lutado contra monstros interdimensionais duas vezes – duas malditas vezes! –, Steve Harrington adquira alguns conhecimentos.

Um: ele sabia sobre a existência de uma dimensão demoníaca, repleta de criaturas monstruosas que, por alguma espécie de castigo divino, estavam sempre aparecendo em seu caminho;

Dois: sabia como cuidar de seus cabelos. Lavar, hidratar, pentear e manter os melhores penteados com uma boa dose de laquê da Farrah Fawcett... Quando se tratava de questões capilares, Steve Harrington eram realmente um rei;

Três: sabia que amava Nancy Wheeler. Amava com tudo de minimamente bom e decente que existia dentro dele;

O que nos levava diretamente ao próximo item:

Quatro:  sabia que Nancy não o amava (pelo menos, não do modo como que ele a amava) e que precisava deixá-la ir. Precisava deixar que a garota se sentisse livre para seguir seu coração e ser verdadeiramente feliz;

Cinco: sabia que precisava manter um grupo de crianças irritantes – e com uma insana tendência suicida – a salvo;

Seis (e mais importante): sabia que não sabia o que fazer com a sua vida de agora em diante. Não tinha mais Nancy, não tinha mais amigos, não tinha mais popularidade, não tinha qualquer perspectiva de deixar Hawkins e ir para uma faculdade.

Em resumo, toda sua vida era uma grande merda! E, após essa incrível constatação, tudo ao seu redor começou a girar e a se transformar em trevas.

.

.

O garoto precisou de um minuto inteiro para se acostumar à claridade, quando finalmente  se libertou da inconsciência. Um minuto inteiro também foi o necessário para que as lembranças da noite anterior o atingissem como bombas, fazendo-o saltar na cama em desespero. O grito de dor que escapou por seus lábios deixou claro que aquilo foi um erro.

Seu corpo inteiro protestou em agonia, no entanto, aquilo sequer se comparava ao terror que corria por suas veias à medida em que os flashes de memórias se tornavam mais intensos. Mundo invertido. Menino Byers possuído. Destruidor de Mentes (ou qualquer coisa parecida). Billy Hargrove quebrando a sua cara (repetidamente). E o túnel. Oh Deus, ele havia entrado em um maldito túnel do inferno cheio de demodogs com aquelas malditas crianças e... não se lembrava de mais nada. E não se lembrar fazia com que um milhão de hipóteses apavorantes se passasse por sua cabeça dolorida. A maioria envolvendo cadáveres ensanguentados e desfigurados de pré-adolescentes.

— Steve. Steve. STEVE!

O grito fez o adolescente gemer em dor. Porra! Sua cabeça já estava suficientemente dolorida sem que fizessem barulhos próximos a ela. Ainda assim, aquilo fez o rapaz prestar atenção, pela primeira vez, ao local a sua volta. Estava em uma cama, que definitivamente não era sua, em um quarto desconhecido, cercado de paredes cobertas de pôsteres de bandas que nunca ouvira falar. Aquilo só serviu para deixá-lo ainda mais alarmado.

—  Steve! — a voz –  ele conhecia aquela voz – chamou novamente e uma pequena mão pousou reconfortantemente em seu peito.

O rapaz precisou se concentrar, o que apenas fez sua cabeça doer ainda mais, para virar o rosto e enxergar o mar de cachos castanhos do menino que o fitava com preocupação. Dustin. A visão o encheu de alívio. O pirralho estava bem. Restava saber o que havia acontecido aos outros três patetas.

— Steve? — o garoto chamou novamente, começando a soar levemente apavorado.

— Ei, idiota! — Harrington tentou dizer com um sorriso, embora sua voz tenha saído fraca e arrastada e sorriso tenha se transformado em uma careta de dor. Céus, ele odiava Billy Hargrove todas as suas forças e adoraria passar por cima daquele desgraçado com seu estúpido camaro. Umas dez vezes. Pensar naquele carro dos infernos fez  uma lembrança de Max, dirigindo como uma lunática, invadir sua mente. Merda! Aquela noite havia sido insana de tantas maneiras diferentes que ele sequer entendia como havia sobrevivido! Pensar em possíveis mortes fez o desespero voltar a dominá-lo.

— Max, Lucas, Mike...? — questionou em pânico. Aqueles três pentelhos tinham que estar bem e... — Deus, o Portal! — exclamou finalmente se lembrando que a menina telecinética (Eleven ou qualquer coisa parecida) precisava fechar um bendito portal para que eles pudessem (tentar) viver em paz naquela merda de cidade.

— Ei, está tudo bem. Eles estão bem. El fechou o portal. Todo mundo está bem. — Dustin lhe assegurou com um sorriso carinhoso e leves tapinhas em seu ombro.

Steve o fitou, ou pelo menos tentou, já que sua cabeça latejava e tudo saía de foco quando se concentrava demais, por meio minuto antes de resolver acreditar no pirralho.

— Você devia se deitar. — o menino continuou, o empurrando lentamente em direção ao travesseiro — Você teve uma concussão das feias... —  naquele momento o garoto soou envergonhado, mais do que isso, quase culpado.

O adolescente pensou em protestar, mas estava cansado e dolorido demais para discutir e seu corpo parecia explodir em gratidão ao se ver novamente no conforto do colchão.

—  Você tem certeza que Mike, Max e Lucas estão... —  o rapaz não foi capaz de terminar a sentença, porque,  como uma espécie de demônio que é invocada sempre que seu nome é citado, Lucas e Max adentraram o quarto correndo.

— STEVE! — gritaram em uníssono, fazendo o rapaz gemer. Por que aquelas pestes tinham que fazer tanto barulho?

— Você está acordado! — Lucas pontuou o óbvio. O alívio estampado em seu rosto de um modo tão intenso, que o Harrington desejou que sorrir não doesse tanto.

— Você está bem? — Max questionou, enquanto puxava a manga do casaco nervosamente, mal parecendo capaz de encarar o garoto mais velho.

A resposta sincera seria “não, eu definitivamente não estou bem!”. Seu corpo inteiro doía, sua cabeça latejava, seu estômago se embrulhava, sua visão estava turva e focar em qualquer coisa por mais de um segundo era como experimentar a morte. As crianças, entretanto, não precisavam saber disso. Sendo assim, Steve forçou um sorriso – o que doeu como o inferno – e tentou soar convincente – mesmo que sua voz soasse áspera e fraca – quando disse:

— Sim, eu estou bem.

— Cara, você deu um susto dos grandes na gente. — Lucas comunicou com uma pontada de receio ainda evidente na voz.

Max confirmou com um aceno de cabeça. 

— É, foi meio assustador quando você desmaiou e tudo mais...

— Eu desmaiei?

— Você não lembra? — Dustin, que estava sentado ao seu lado, perguntou com os olhos crescendo em espanto.

 — Não... — Steve começou incerto, se lembrando que não fazia ideia do que havia acontecido ou de onde estava. — A propósito, onde nós estamos?

— Hum... de volta à casa dos Byers. — Lucas respondeu como se fosse elementar.

Steve olhou ao seu redor novamente, sentido o sangue congelar em suas veias. Oh, não! Não, não, não, não! Aquilo não estava acontecendo. Aquilo não podia estar acontecendo.

— De quem é esse quarto? — o rapaz perguntou alarmado, fazendo aquelas três pestes traidoras se entreolharem. Foi Max quem teve coragem de responder, encarando os próprios pés.

— Do Jonathan...

Merda! Merda! Merda!

— Não! Não mesmo! Sem chance! — o garoto começou, enquanto tentava se levantar, fazendo com que uma pontada de dor o atingisse por inteiro. Não demorou muito para que três pares de mãos estivessem apoiadas em seu peito, o empurrando de volta para o colchão.

— Eu disse que ele não ia gostar disso. — Dustin declarou, sentindo-se orgulhoso por conhecer o Harrington melhor que os amigos.

— O que a gente devia ter feito? Ter deixado alguém que teve uma concussão das feias largado em um colchão fino no chão? — Lucas questionou irritado, convicto de que haviam feito a escolha certa. — Além disso, foi ideia do Jonathan e ele disse que não se importava...

Steve bufou incomodado.

— É claro que ele disse... O maldito bom moço! — o garoto resmungou, recebendo olhares das crianças.

— O que a gente devia ter feito? — Max questionou, repetindo a pergunta de Lucas, enquanto cruzava os braços sobre o peito e encarava o garoto mais velho – ferozmente – pela primeira vez. Soava mais como a ela.

— Me deixado em alguma vala na estrada para morrer. Teria sido menos humilhante. — o rapaz também cruzou os braços sobre o peito, emburrado.

Dustin revirou os olhos, se segurando para não ordenar que o amigo machucado deixasse de se comportar como uma rainha do drama. O adolescente, no entanto, era um idiota teimoso e já estava tentando se levantar novamente.

— Ei! — Dustin disse o forçando a se deitar pela terceira vez. — Você precisa descansar, Steve.

­— Além disso, o Hopper disse que é melhor você nem pensar em sair dessa cama até que seus pais venham te buscar. — Lucas frisou.

— O Hopper disse o que? Meus pais? Meus pais nem estão na cidade... — o garoto respondeu confuso.

— Nós sabemos. — os três pirralhos responderam juntos novamente. Deus, aquilo era irritante!

— A senhora Byers ligou para eles, depois que te levamos para o hospital e nos certificamos que você não ia entrar em coma, ou morrer, ou qualquer coisa parecida... — Dustin informou, soando ao mesmo tempo culpado e aliviado.   

— Vocês me levaram para o hospital? — aquilo era muito informação e estava fazendo com que a cabeça do rapaz doesse ainda mais.

Os três assentiram.

— Tem certeza que não se lembra? — Lucas inqueriu — Você estava consciente nesse momento.

— É, até vomitou no carro do xerife e tudo mais... — Max contou, se esforçando bastante para reprimir o riso. Ela sabia que não deveria rir do garoto que se quebrara inteiro tentando defender a ela e a seus novos amigos do psicopata que era seu meio irmão. Ainda assim, imaginar a expressão no rosto de Jim Hopper, após um adolescente vomitar em seu carro, era simplesmente impagável.

Steve gemeu. Merda. Tinha como aquilo ficar pior ou mais humilhante?

 — Relaxa! — Dustin disse, lhe dando um leve e reconfortante aperto nos ombros. — Você também vomitou na sala da senhora Byers e no carro do Billy.

O Harrington suspirou pesadamente – sim, havia como ficar mais humilhante – e enviou ao menino um olhar irritado. Ou, pelo menos, tentou lhe enviar um olhar irritado, já que não acreditava que alguma expressão poderia ser lida por trás de todos os hematomas, cortes e inchaço que deveriam tomar conta de seu rosto. Inferno! Ele realmente abominava Billy Hargrove!

— Ok, então o xerife me levou para o hospital. E o que mais? — o adolescente questionou curioso. Uma parte dele tentando juntar todos os pequenos fragmentos perdidos da noite anterior. — Aliás, como nós chegamos até ao xerife, para começo de conversa.

As crianças trocaram outro olhar nervoso, fazendo o menino mais velho entender que boa coisa não sairia dali.

— Comecem a falar. — ordenou.

Dustin respirou fundo antes de deixar as palavras saírem.

— Bom, depois que nós saímos do túnel, tendo cumprido de forma primorosa nossa missão, é válido ressaltar, você meio que desmaiou. Provavelmente porque a sensação de segurança fez a adrenalina baixar no seu sangue e tudo mais...

— Ok, isso eu já sabia. O que aconteceu depois.

— Bom, a gente te trouxe de volta para cá. — Lucas explicou. — Nós realmente queríamos te levar para um hospital, mas ia ser difícil para Max dirigir até lá e ainda mais difícil inventar uma desculpa para tudo isso, sabe.

Oh, merda! Merda, merda, merda! Ele havia estado em um carro dirigido por uma pirralha marrenta de 13 anos não apenas uma vez, mas duas naquela maldita noite. Era um verdadeiro milagre que estivesse vivo.

— Ótimo! Excelente! Vocês deixaram a Max dirigir de novo. Por que não? Vocês têm mesmo um desejo desesperado pela morte!

— Ei, o que a gente deveria ter feito? — a ruiva questionou irritada.

Steve já estava se cansando daquela pergunta estúpida. Especialmente por nunca ter uma resposta para ela. Aquelas crianças endemoniadas haviam feito o melhor que podiam, ele sabia disso e se sentia culpado por tê-las colocado em uma posição de ter que fazer aquele tipo de escolha em primeiro lugar, mesmo assim, isso não fazia com que estivesse tudo bem. Longe disso. O portal podia estar fechado e os monstros derrotados, mas o modus operandi continuava sendo o caos.

 — Ok — disse se dando por vencido. Sua cabeça latejando mais a cada minuto — O que aconteceu depois?

— Bom, resumidamente, você acordou, surtou um pouco com a Max dirigindo e vomitou um pouco no carro do Billy, o que todos nós achamos justo, à propósito. Um pouco nojento, porém, justo. — Dustin contou, recebendo acenos de concordância dos amigos.

Steve suspirou resignado.

— Continue. — disse com um aceno de mão.

— Então, nós chegamos até aqui e basicamente tentamos fazer com que você continuasse consciente, até que o Hopper e a senhora Byers voltassem e o xerife te levasse até um hospital, inventando que você tinha sido assaltado e tudo mais. — Lucas resumiu e o Harrington se sentiu extremamente grato pela capacidade de concisão do garoto.

— Aparentemente o médico disse que você ia ficar bem, mas que alguém precisava ficar de olho em você. Não te deixar dormir muito, fazer perguntas ocasionais para garantir que seu cérebro não tinha derretido... Essas coisas. Então, ele te trouxe de volta pra cá.— Max esclareceu, levemente desconfortável.

— Você não se lembra mesmo de nada disso? — Dustin questionou ainda preocupado.

O garoto não sabia como responder a pergunta. Enquanto as crianças narravam as desventuras da noite anterior, algumas memórias foram sendo desbloqueadas e passando por seu cérebro em flashes. Nada muito claro, mas já era alguma coisa.

— Um pouco. — disse dando de ombro. Bom, tentando dar de ombros, já que o movimento só o fez uma careta de dor dominar seu rosto. — Vocês falaram alguma coisa sobre meus pais?

— Ah, sim! Nancy tinha comentado que eles estavam fora da cidade. Foi justamente por isso que Hopper te trouxe de volta para cá.

— Quando o dia amanheceu, o Jonathan consertou o telefone e a Nancy ligou para a assistente deles que passou o número do hotel em que eles estão hospedados. E, bom, resumindo eles estão voltando pra Hawkins em um vôo no fim da tarde que foi o primeiro que eles encontraram.

— Cara, a sua mãe está enlouquecendo a senhora Byers! Tipo, sério, ela já ligou umas dez vezes querendo saber sobre você. — Lucas contou.

— Sério? — indagou com um misto de expectativa e esperança.

As crianças confirmaram com um aceno de cabeça, fazendo um meio sorriso se abrir nos lábios feridos do adolescente. Não era como se seus pais fossem pessoas ruins e, de certa forma, Steve sabia que eles o amavam e se importavam. Eram, no entanto, pessoas que trabalhavam demais e tinham certas limitações na hora de demonstrar afeto. Sabia que devia sentir-se grato por eles, ao menos, tentarem e apreciava o esforço. Ainda assim, era sempre bom ter a comprovação de que havia interpretado os sinais corretamente e realmente havia afeto e preocupação por parte dos progenitores.  

— Bom. — Steve disse, tentando se levantar.

— Ei, você não entendeu nada do que nós falamos? — lá estavam os pirralhos novamente.

— Será que eu posso, pelo menos, ir ao banheiro?

— Ah! Claro. — Dustin disse, enquanto ele e Lucas ajudavam o garoto mais velho a se levantar. Foi apenas então que reparou nas roupas que estava vestindo. Aquele pijama velho e desbotado definitivamente não pertencia a ele. Merda!

Os garotos seguiram seu olhar.

— Você não quer saber. — Lucas o alertou.

— Maravilha. ­— o adolescente resmungou.

— O que você queria que a gente fizesse? — lá estava Max fazendo aquela maldita pergunta novamente. — Não podíamos te deixar coberto de sangue, vomito e sujeira do Mundo Invertido.

Steve apenas suspirou, sabendo que não adiantava discutir, e deixou que Dustin e Lucas o ajudassem a caminhar até o banheiro. Seu corpo doía mais do que ele tinha imaginado e, acredite, ele não havia imaginado nada minimamente bom.

Na sala encontrou Mike e Eleven – era esse o nome dela? – de mãos dadas, assistindo alguma coisa na TV. Era uma visão doce. Os dois lhe sorriram amigáveis. Hopper e Joyce conversavam em voz baixa na cozinha e, pela porta entreaberta, ele podia ver Jonathan e Nancy sentados na varanda ao lado de Will. Sentiu-se estranhamente contente por ver que o pequeno Byers estava bem, mas a imagem de Nancy, ainda que de costas, era suficiente para fazer  seu coração se apertar dolorosamente. Ainda não estava pronto para vê-la ou mesmo pensar nela.  

Tentou deixar tudo isso de lado, enquanto passava pelo portal do banheiro e fechava a porta – sem nenhum pudor – nas caras de Dustin, Lucas e Max. Soltou um suspiro cansado, se apoiando na pia. Era bom ter um instante só para ele. Levantou os olhos e fitou seu reflexo no espelho. Encontrou um rosto inchado e, coberto por hematomas e cortes o encarando de volta. O rosto de um estranho. Algo, no entanto, atraiu sua atenção em todo aquele caos. Em meio a hematomas vermelhos e arroxeados, alguns band-aids coloridos se destacam. A visão era, no mínimo, cômica, mas não foi isso que fez um sorriso se abrir nos lábios cortados do menino.

Aquilo era coisa das crianças. Steve sabia que sim. Nenhuma explicação era necessária e o rapaz conseguia até mesmo imaginar os pirralhos, tentando consertar toda a merda em seu rosto com os band-aids mais ridículos que haviam conseguido encontrar. Eles tentaram consertá-lo. Tentaram cuidar dele. Se importaram genuinamente com seu bem-estar. Era um pouco ridículo e um pouco doce. E o rapaz gostou da sensação quente e reconfortante que a constatação despertou em se peito.

No fim, tudo ainda era uma droga. Monstros eram reais, Billy Hargrove ainda estava por aí, Nancy não o amava e ele não fazia ideia do que iria fazer com o resto de sua vida. No entanto, de alguma forma insana, nada disso parecia realmente relevante, porque um grupo de nerds de 13 anos se importava com ele. Patético, Harrington, infinitamente patético!

Patético ou não, nada mudaria o fato de que na manhã, após presenciar o fim do mundo pela segunda vez, o rapaz havia adquirido uma sétima certeza. Por mais absurdo e tolo que pudesse soar, Steve Harrington se dera conta de que, às vezes, tudo o que você precisa é de alguém que coloque band-aids coloridos em seus machucados. Depois, bom, você segue daí.

— Steve, você está bem aí dentro? — a voz de Dustin soou preocupada do outro lado da porta.

O sorriso se alargou em seu rosto dolorido.

— Sim, Dustin, eu estou bem. — não era de todo verdade, mas não era de todo mentira.


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Notas finais do capítulo

Tentativa de escrever algo fofo. Espero que tenha funcionado.
Porque eu amo muito a relação entre o Steve e as crianças!
Espero que tenham gostado! ♥
Beijinhos...
Thaís