Diário da Carol, 2 de Abril, 03:45

Faz duas horas que eu estou deitada, até agora não consegui dormir nada, e isso deve explicar o que me levou a escrever nesse diário. Todo mundo nessa casa já está dormindo, e eu continuo aqui, às vezes cantando músicas da igreja quando ouço algum barulho estranho. Não tenho ninguém para mandar mensagem, Alice dorme cedo, o Matheus demora tanto para responder que se conversássemos por carta seria a mesma coisa, e por fim sobra o @, e não sou eu que vou mandar mensagem para ele essa hora (nem em hora nenhuma, triste).

Então eu fui remexer entra minhas pilhas de papéis, cadernos e projetos de fanfics, e achei esse diário feio de florzinhas na capa. Tudo nessa casa que pode ter flores, tem flores, podem dar os créditos a minha mãe (que por sinal é a única pessoa que gosta dessas plantanhadas espalhadas pela casa). Minha mãe me deu esse diário depois de ler minha redação ganhadora do prêmio “melhor redação da turma”, ela achou que eu precisava de ajuda ao ver que o tema era “(Não) Tragam Coquetel Molotov”, eu particularmente não vi nada de errado, embora o diretor tenha me olhado com uma cara estranha por uma semana.

O que mais se fala em um diário? Está sendo menos patético do que eu imaginei que seria... Retiro o que disse, acabei de procurar um tutorial sobre como escrever um diário, voltou ao patamar máximo de pateticidade, se é que essa palavra existe. Ok, então eu tenho que me apresentar e tratar esse diário como um amigo (saiba que aqui eu revirei meus olhos, se você é meu amigo pode suportar isso), também dizia para eu levar ele comigo para onde for, mas eu não vou fazer isso porque não sou trouxa nem nada (talvez só um pouco).

Meu nome é Carolina Soares, sem Ana, sem k e sem um segundo sobrenome, só Carolina, embora a Alice insista em me chamar de Carol. Tenho dezesseis anos, meu signo é aquário, se é que isso importa, e ganho o concurso de redação há cinco anos consecutivos, mas as pessoas insistem em dizer que minhas escolhas de temas tem ficado mais estranhas a cada ano. E talvez a coisa mais importante no momento: eu não vou escrever como se fossemos os parças do ano tendo uma conversa, diário, lide com isso.

A madrugada é uma hora meio estranha, é quando eu começo a ter umas reflexões levemente sem noção e pesquisar coisas esquisitas, ontem eu estava realmente empenhada em descobrir quando tempo eu demoraria para ir do Rio de Janeiro até Machu Picchu a pé. Obviamente quando eu acordei já não tinha mais nenhum interesse em caminhar até o Peru. Hoje foi um pouco diferente, enquanto passava Harry Potter eu pensei que pedra filosofal seria só um nome bonitinho para drogas, e então me perguntei se o fato dela estar escondida em Hogwarts e Voldemort tentar roubá-la faz dele um viciado em crack. Talvez faça.

Acabo de atualizar meu status do Whatsapp, quem sabe alguém se importe com o fato de Voldemort usar crack... Ou talvez pensem que eu uso crack, para estar as quatro da manhã pensando nisso. Minha mãe acabou de ligar a luz do corredor, preciso dormir antes que ela chegue derrubando minha porta e jogando fogo no quarto por eu estar acordada essa hora, boa noite, diário.