Sede de Poder escrita por Mermaid Queen


Capítulo 34
Capítulo 34: Sede e Vingança


Notas iniciais do capítulo

basicamente o capítulo final e eu nem acredito que to escrevendo essas palavras mesmo



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Estavam todos diante de uma janela estilhaçada. Os primeiros raios do amanhecer se refletiam nos cacos de vidro que restavam na estrutura de metal.

Olivia segurava David firmemente com uma faca no pescoço. David olhava para Serpente com uma expressão confusa e assustada, querendo entender por que o pai participava daquilo em vez de ajudá-lo.

E Serpente estava calmo ao lado dele, com uma mão segurando o rosto de Carla e outra sobre o peito dela, mantendo-a imóvel.

E gesticulando desesperadamente estava Jack, do outro lado da sala. Nada o prendia. Nada o impedia de fugir. Katherine gostaria que ele já tivesse ido.

Quando a notou, Jack parou de falar subitamente. Todos seguiram o olhar dele. Katherine permaneceu imóvel.

— Esperamos por você – Serpente a saudou com um meneio de cabeça. – Para o ato final.

Katherine engoliu em seco.

— Quer que eu o consagre presidente? – perguntou com cautela. – Que eu reconheça e admita o seu golpe?

Serpente abriu um sorriso.

— Seu consentimento? Ah, não… claro que não. O único consentimento de que eu precisaria, é o de todas aquelas pessoas lá fora, que me trouxeram até aqui.

— Katherine, fique para trás – Jack alertou. – Não ouça.

— O que quer de mim então? – perguntou Katherine, ignorando-o. – Por que os mantém reféns?

— Preciso dar ao meu povo o que eles desejam de mim. O fim do pacto com os vampiros. O fim da matança e o controle dos monstros – Serpente anunciou.

— E eu não tenho escolha – Katherine concluiu, indicando David e Carla com a cabeça.

— Sempre há uma escolha – Serpente argumentou, encolhendo os ombros. Carla se debateu nos braços dele, mas ele a apertou mais.

— Está jogando comigo – ela acusou, adentrando a sala para olhar nos olhos do pai, cheia de rancor.

— Claro que sim. Conheço sua índole. Sei que escolha você tomaria desde o começo.

— Katherine, você não pode… - Jack tentou falar, mas foi interrompido por Serpente.

— É o sacrifício final. Sei que está disposta a fazê-lo, mesmo que seja para salvar uma garota que você mal conhece e o seu irmão ingrato.

Carla lançou um olhar desesperado para Katherine e fez que “não” com a cabeça, mesmo com lágrimas escorrendo pelo rosto. Uma sensação elétrica percorreu o corpo de Katherine enquanto a ansiedade e o nervosismo a consumiam. O olhar dela foi de Carla e David para Jack.

— Não pode deixá-lo vencer, Kate – disse Jack, e ele também tinha lágrimas transbordando dos olhos.

Katherine foi até ele e o abraçou.

— Está disposto a deixá-los morrer pela sua causa – disse ela, desvencilhando-se dele e limpando as lágrimas do rosto de Jack cheio de fuligem. – E eu entendo. Sem mim, os seguidores dele vão achá-lo fraco. A multidão não vai mais estar aqui para protegê-lo quando mais Agentes vierem com reforços. Não pense que eu não entendo.

— Não, Kate – Jack sussurrou, passando a mão pelas tranças desalinhadas dela. Ele a olhava como se ela fosse uma garotinha outra vez. – Você foi tão forte até agora. Não importa para mim nada do que ele disse. Você lutou tanto. Não posso perdê-la outra vez.

Aquelas palavras abriram um buraco no peito de Katherine. Doeu mais do que qualquer dor que ela já conhecera. E doía ainda mais pensar que ele estava sim prestes a perdê-la.

Quando ela começou a se virar para Serpente, viu ele e Carla caírem no chão, juntos. O sangue mal respingara no rosto de Katherine quando ela mesma foi atingida e caiu ao lado deles.

Katherine sentiu o peito queimar como se tivessem metido ferro em brasa na pele dela. Quando se recuperou do susto e conseguiu puxar um pouco de ar, começou a gritar:

— SAIAM DAQUI! SE AFASTEM DA JANELA! PRO CORREDOR!

Ela se virou de bruços e começou a se erguer do chão com dificuldade, porém congelou quando sentiu cheiro de sangue. Não do próprio sangue.

Ao lado dela, caídos no chão, estavam Serpente e Carla. Katherine arrastou Carla com o máximo de delicadeza que pôde para longe da janela, porém quase tropeçando em si mesma devido à urgência. Largou Serpente onde estava, vendo de relance o sangue que escorria do abdômen dele.

— Preciso de você comigo – sussurrou para Carla, respirando rápido. – Fica. Segura um pouco. JACK!

Jack vinha na direção dela com o casaco que ele vestia anteriormente. Fez menção de enrolá-lo no peito dela, mas Katherine arrancou da mão dele.

— Não para mim, Jack! – ela exclamou. Com as mãos tremendo, tentou estancar o sangue do ferimento no peito de Carla. – Onde estão Travis e Chris?

David e Olivia estavam no chão adiante, escondidos embaixo de uma mesa alta no corredor.

— Serpente os amarrou… eles…

Katherine podia ver o pânico que tomara conta de Jack. O peito de Carla subia e descia rápido e os olhos dela reviravam.

— Nós vamos estancar – Katherine disse, apertando a blusa. – E você vai ficar bem. Entendeu?

— Dor… — Carla sussurrou com a voz fraca.

— Manda David ir soltar eles e trazê-los até aqui – Katherine falou com a voz firme. – E você vai imobilizar Serpente. Ele levou um tiro também. Aproveita enquanto…

Jack saiu correndo. Katherine teve tempo de vê-lo segurar David com firmeza pelos ombros antes de baixar os olhos novamente para Carla.

Uma pequena parte dela sabia que era inevitável. Outra parte dela estava revoltada por não poder chorar. E a parte relutante continuava a comprimir o ferimento com a blusa já encharcada de sangue.

— Eu sinto muito – Katherine disse, abraçando Carla com firmeza. – Eu nunca quis que você se envolvesse. Deveria ter te levado para longe daqui, Carla, eu sinto muito.

Carla apertou os dedos de Katherine de leve antes de ceder. Katherine desabou sobre ela tremendo violentamente.

— Não… - ela choramingou, com o rosto colado ao de Carla. – Você não merecia nada disso…

Não podia ser verdade. Com o corpo de Carla nos braços, Katherine tremia e se lamentava, balançando a cabeça em negação. Não podia acreditar naquilo. Nem sabia de onde vieram aqueles tiros. Quem poderia ser responsável?

Ela os encontraria. Faria com que engolissem o projétil que ela arrancaria do próprio peito antes de drenar todo o sangue deles. Faria com que pagassem. Como gostaria que Serpente ainda não estivesse morto, para que ele também pudesse pagar.

Os olhos dela ardiam. Os fantasmas das lágrimas que um dia ela pudera derramar agora a lembravam de tudo o que havia sido tirado dela por Serpente.

Katherine soltou o corpo de Carla devagar, deixando-o deslizar por seus braços até o chão de carpete. Quando levantou a cabeça, seu olhar se cruzou com o de Olivia e ela começou a andar naquela direção.

A cada passo de Katherine, Olivia se encolhia mais. Quando ela ergueu a mesa sob a qual Olivia se escondia e arrancou fora uma das pernas de madeira, Olivia soltou um berro aterrorizado. Então agachou até que os olhos das duas ficassem no mesmo nível.

— Você vai cuidar de Carla como se a sua vida dependesse disso – Katherine falou devagar. – Porque depende. Se alguma coisa acontecer com ela enquanto eu estiver fora, é melhor você começar a correr. E não vai fazer diferença, porque eu vou te alcançar.

Ao se levantar, Katherine viu Olivia saltar de onde estivera escondida e ir rastejando aos tropeços até onde estava o corpo de Carla.

— Eu vou me vingar – prometeu baixinho para Carla.

E entrou novamente na sala com a perna da mesa na mão.

Jack estava suspenso no alto da parede, com uma mão de Serpente ao redor do pescoço dele. Ele se debatia e gritava e a pele estava adquirindo uma coloração azulada.

Katherine cruzou a sala em um milésimo de segundo e atingiu a cabeça de Serpente por trás com a perna da mesa, com toda a força que conseguiu. Madeira explodiu para todos os lados. Quando ela abriu os olhos, esperando encontrar Serpente no chão, encontrou somente um pedaço da madeira ainda em mãos, e Jack ainda suspenso no ar.

Serpente virou a cabeça para ela lentamente, com madeira presa à pele e filetes de sangue escorrendo, porém ele não parecia se importar. Os olhos dele agora eram vermelhos. Quando ele largou Jack, a mão dele alcançou o pescoço dela em um piscar de olhos, e a pele dele era fria como metal.

Katherine tentou chutá-lo e empurrá-lo, mas somente o fez sorrir.

— Eu gosto da morte, Katherine – disse Serpente com a voz raspada. Katherine sentiu arrepios. – Se eu tivesse tido coragem, teria me matado antes. Quem diria?

Ele começou a conduzi-la para fora da sala, e pelo corredor. Passaram por Olivia, que continuava com aquele olhar aterrorizado na cara, mas ainda guardava o corpo de Carla. Katherine ouviu vozes no andar de baixo ao passarem em frente às escadas, mas Serpente não se incomodou. Levou-a pelo pescoço até outra sala, chutou as janelas e contemplou a multidão com o seu troféu em mãos.

Os raios de sol já alcançavam a altura dos dedos dos pés de Katherine. Apesar dos sapatos, o calor fazia a pele dela arder. Em breve, começaria a queimar. Ela se agitou de medo com a lembrança do sol derretendo a pele dela no dia anterior.

A multidão gritou de prazer quando Serpente a exibiu no ar.

— Acabou! – ele gritou. – O terror acabou! A corrupção do governo americano acabou! Está tudo exposto, e a maior arma deles está bem aqui! Mas ela parece inofensiva agora…

Katherine não perdeu tempo se agitando e dando esse prazer aos manifestantes dele. Ela não precisava mais do ar para sobreviver, e o incômodo no pescoço era meramente um incômodo.

Serpente ainda não experimentara o sol sobre a pele, mas já sabia sobre esse perigo. A cada segundo, o sol subiria mais, e o tempo dele naquela janela diminuía. Ele teria que dar fim àquele show em breve.

Katherine fechou os olhos e tentou ignorar a voz de Serpente exaltando os próprios feitos. Tudo o que fizeram fora em vão. Tudo por que Jack, Chris, Travis e tantos outros Agentes lutaram havia sido em vão. O golpe de Serpente estava concretizado, com o apoio popular e o respaldo da mídia.

Estavam ambos cobertos de sangue depois do que havia sido uma batalha sangrenta que durara a noite toda, e, ao amanhecer, ele havia sido o vencedor. O único que poderia salvá-los do mal dos vampiros. O único vampiro bom.

Em meio ao discurso dramático, Katherine se pegou pensando que pelo menos nem tudo pelo que ela lutara havia sido em vão.

David podia escolher agora. Já estivera diante da verdadeira natureza do pai, já vira o que ele era capaz de fazer, e agora podia escolher fugir ou ficar. E ele tinha para onde fugir. E quanto aos outros… os outros envolvidos estavam seguros. Evan já garantira isso para ela.

E Carla, ela levaria no coração. Não se perdoaria por isso. Jamais poderia, depois de prometer a ela que não deixaria nada de ruim acontecer. Pensou em como Carla falara sobre a mãe, pensou com arrepios naquela mãe amorosa recebendo a notícia da morte da filha. Katherine estremeceu.

O sol começou a queimar os pés dela. Katherine não sabia se Serpente sabia como matá-la. Ela mesma não tinha certeza. Só sabia sobre o sol. Talvez se cortasse a cabeça e a separasse do corpo. Porque os ferimentos cicatrizavam com marcas pequenas, então ela era capaz de alguma regeneração. Só não sabia quanta regeneração. Mas provavelmente estava prestes a descobrir. Manteve os olhos fechados enquanto sentia a luz do sol subindo e lentamente esquentando o suficiente para ultrapassar as roupas dela e queimar a pele.

De repente, Katherine desabou. E a multidão começou a gritar lá embaixo.

Ela caiu no chão de joelhos e abriu os olhos, tentando entender o que acontecera. Viu Chris e Travis na porta, com armas na mão.

— O que vocês…

Serpente agarrou uma das tranças dela antes que ela pudesse entender, mas permaneceu deitado. Estava novamente com a mão na garganta dela, dessa vez com força.

— Atiramos nos joelhos dele! – Chris gritou.

Os dois correram e agarraram cada um, um braço de Serpente e puxaram para trás. Não tiveram muito sucesso em lutar contra ele, mas a surpresa foi suficiente para que Serpente cedesse o aperto.

Sem hesitar, Katherine se soltou da mão dele e voou com os dentes diretamente na garganta dele. O sangue a inundou por dentro e por fora, e tinha um gosto diferente do sangue que ela já provara antes. Era amargo e pungente, menos metálico. Fez com que ela pensasse em veneno. Era sangue morto. Mas ela não parou.

O sangue do próprio pai. Katherine não sabia se com aquele sangue, a vida dele se esvaía junto, mas, novamente ela não parou. Ouvia gritos distantes, sentia pancadas nos ombros e nas costas, mas eram tão leves que pareciam uma lembrança. O sol queimava o rosto dela, os ombros, o pescoço, o peito. O sangue aliviava aquela dor, mas era cada vez mais insuportável. Ainda bebendo sangue, Katherine fechou os olhos. Sentiu medo de ficar cega pela luz do sol. Sentiu medo de abrir os olhos e se deparar com nada mais do que os próprios ossos, mas não parou.

Só parou quando chegou à última gota.

Então ela levantou a cabeça e os sons do ambiente a atingiram. Lentamente, ela se virou de costas para a luz para poder abrir os olhos, e o caos a encarava de volta.

A pele dela estava em chamas. Katherine começou a gritar, e os gritos dela se confundiram com os de David, Travis, e Chris e Serpente. Serpente estava tão queimado quanto ela. Bolhas explodiam na pele dele, que parecia liquefeita em alguns pontos. Em outros, estava negra como couro antigo.

Mas os olhos dele estavam bem abertos e a encaravam, vermelhos como o sangue que a cobria. Enquanto estivesse vivo, aqueles olhos a perseguiriam, cheios de ódio. Ele iria até o inferno atrás de Katherine, ela podia sentir. Ele mataria a todos que ela amava somente pelo prazer de vê-la sofrer.

Sem nem sentir mais os dedos, Katherine fechou a mão em volta da perna de mesa quebrada que usara para bater nele, uma perfeita estaca improvisada.

E certificou-se de olhar fundo nos olhos vermelhos de Roberto Flores antes de enterrar a estaca no coração dele.

Serpente arregalou os olhos e começou a gritar, e o corpo dele entrou em combustão. Katherine saltou para trás, pensando que era devido às queimaduras, mas então se deu conta que havia sido a estaca. Era assim que se matava um vampiro.

Sem esperar que ele parasse de pegar fogo, Katherine agarrou o corpo de Serpente, ergueu-o no ar em frente à janela e o exibiu antes de jogá-lo para a multidão.


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Notas finais do capítulo

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