Uma noite dessas escrita por Boss


Capítulo 1
Capítulo Único: Uma noite dessas


Notas iniciais do capítulo

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Era uma noite dessas onde a lua estava cheia e brilhava tão intensamente que não haviam estrelas, o vento frio, o ar seco e as nuvens róseas prometiam uma madrugada chuvosa, algo completamente comum já que era fim de Novembro e a época das chuvas já tinha se estabilizado.

Não que ela percebesse esses detalhes, sua visão estava embaçada pelo cansaço, suas olheiras junto com a sombra preta a faziam parecer uma panda, suas costas doíam pelo esforço do dia, sua pele estava seca pelo contanto constante com o ar condicionado, sua cabeça martelava anunciando a enxaqueca.

Em outras palavras ela se sentia um caco, algo comum depois de um plantão, ou dois, ou três... pensando bem, que dia era aquele mesmo? Ah, certo... terça feira, era seu terceiro dia de plantão...

Não pensando muito ela foi tomar banho, sabia que por mais cansada que estava não conseguiria pregar o olho, a mente e o corpo lutando contra a exaustão apenas por hábito... de banho tomado ela colocou a roupa preta, uma calça e blusa compridas mas não muito quentes, depois pegou a mochila com a máscara e a placa de papelão, enquanto passava pela cozinha aproveitou e pegou uns petiscos e uma fruta para comer no caminho, na saída de casa ela se lembrou da foice.

Ela fora andando, os carros costumavam assustar e as bicicletas eram facilmente roubadas mas quando ela andava assim, toda de preto, pelas sombras e uma enorme foice de brinquedo ninguém mexia com ela, era engraçado até ver os membros de gangue se encolhendo nas paredes próximo aos becos quando ela passava, as vezes, se ela queria dar um clima mais sombrio para si ou quando estava chovendo e frio ela usava o manto mas nessa noite ainda era abafado então sem manto preto hoje.

Ela chegou na ponte suspensa com tempo de sobra, não havia viva alma naquela imediação então ela sentou apoiada na mochila e começou a comer o jantar sentindo sua dor de cabeça diminuir enquanto respirava o ar puro da noite e ouvia os sons abafados da cidade pelas estruturas de metal.

Fazia anos que isso acontecia, começou com uma aposta tola entre amigos e família, logo depois de assistirem a corrente do bem, todos estavam dispostos a fazer algo para mudar o mundo, passo a passo.

 No início foi legal, todos procurando uma forma de ajudar a melhorar a cidade, vendo estatísticas e fazendo planos, buscando auxilio do governo, das empresas e das ONG´s, com o tempo as ações foram diminuindo ao mesmo tempo que os trabalhos escolares aumentavam e um dia ela percebera que era a única, bem não exatamente a única, era apenas a que não misturava o trabalho com seu projeto pessoal de corrente do bem.

Ela entendia, claro, todos mudaram e cresceram e tiveram que deixar algo para trás ela também fizera mas, simplesmente não foi a mesma coisa...

E então eles chegaram, eram em grupo dessa vez, o que a fez sorrir, esses eram os melhores, sempre corriam e gritavam quando a via saindo das sombras. Ela pôs a máscara de esqueleto e um capuz preto empunhou sua foice e deu um passo para a luz vendo a reação tão esperada.

O próximo demorou muitas horas, ele claramente não estava bem, não gritou quando ela apareceu e nem parecia notar sua foice ou máscara, ou pior, ele não se importava mesmo, esse era o tipo mais difícil de lidar.

“Então realmente existe essa coisa de morte hein? Legal...”

“Nem tanto na verdade, poucos me veem e os que fazem logo não podem falar... É um pouco solitário.”

“Entendo...”

“Olha, eu sei que você está aqui para morrer e tudo, também é por isso que eu estou aqui mas... antes de chegarmos a essa parte pode falar comigo? Só por uma hora? Para eu não ficar tão só.”

E então era a hora da decisão final, se ele dissesse ‘não, sinto muito, arranje outro’ ele com certeza se jogaria e seria o fim de mais um, se dissesse sim... a história poderia ser diferente.

Ele sorriu, aquele sorriso de ‘eu-sei-que-você-é-gente-e-não-uma-criatura-sobrenatural’ e se sentou ao lado dela.

E falou

E falou

E falou

Eles ficaram lá até o amanhecer e ninguém além dele veio, era como se sentissem que algo a mais estava acontecendo naquela ponte.

No fim não chovera, era quarta-feira e ela estava indo para casa.

Era dia de folga então ela não se importou com o horário que foi dormir, enquanto andava pelas ruas ela recebia olhares estranhos e risos, pela manhã sua roupa era sempre quente demais, desconfortável demais e ridícula demais, mas seu sorriso também era demais.

Na próxima semana ela iria a outro lugar, reconhecido como um ponto de suicídio e falaria com outra pessoa que só precisava ser ouvida, agora ela tomaria outro banho e dormiria, teria dias preguiçosos até sexta quando seus plantões começavam de novo.

Na cama havia uma caixa com faixa vermelha com fita amarela mal amarrada, o que a fez sorrir ainda mais, ao seu lado uma barra de chocolate e um cartão que dizia

“Oi sis, fui te visitar e invadi sua geladeira feliz aniversário”.

De fato, ela estava feliz.


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Notas finais do capítulo

Olá! Esse foi o presente de aniversário que eu fiz para meu controle, espero que você tenha aproveitado tanto quanto ele 0/
Qualquer consideração por favor coloque nos comentários.



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