Viva la Vida escrita por Evil Maknae


Capítulo 2
Grande Ato.


Notas iniciais do capítulo

Annyeong ^^
Espero que as almas vivas que estão lendo estejam bem~



Boa leitura.



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Enma sabia como havia acabado daquela forma, e amargamente se arrependia. Terminara recentemente de colocar o vestido rosa emprestado de Alda, e naquele momento, tinha os cabelos negros sendo puxados gentilmente pela loira, em um penteado confuso.

Estava emburrada. Não possuía mobilidade alguma com aquela peça, e podia imaginar que após calçar as sapatilhas, seria pior ainda.

— Você tem cabelos realmente bonitos. – Alda dizia. Era gentil.

Talvez fosse apenas manipuladora.

Enma não sabia os motivos de ter se entregado de corpo e alma à Alda, pois como já concluíra, não confiava nem no próprio ar.

Mas havia algo de diferente nela. Um humor colorido, em meio às cinzas dramáticas da realidade. Era como uma pintura viva em uma folha branca de papel.

Como podia isso ser possível?

Espantando os devaneios, apenas observou com mais atenção o local que Alda chamava de casa; era um grande apartamento bem mobiliado na cobertura de um prédio de classe alta, com quadros que pareciam caros, pequenas esculturas de personalidades estranhas, e as paredes tão claras que poderiam cegar Enma.

Apesar de tudo, vazia.

Um silêncio doentio dominava a casa, sendo quebrado apenas pelos dedos ágeis de Alda, correndo pelos longos fios escuros. Enma não sabia o que seria e o que não seria indelicado para perguntar a mais alta, afinal, havia muito tempo que não falava civilizadamente com alguém, como diversão.

— Você mora sozinha? – Decidiu arriscar.

— Aos olhos do governo, não. – Ela respondeu, automaticamente.

Enma permaneceu em silêncio. Definitivamente não sabia lidar com pessoas, ou ao menos, não conseguia entende-las.

— Você nem vai pedir que eu explique? – Alda perguntou, rindo.

— Se isso não te incomodar...

— Não irá. Hm, meu pai era um soldado, digamos... importante. Quando aconteceu a “revolução”, há dez anos atrás, ele ficou maravilhado com tudo, encontrou seu orgulho na vida. Foi um dos primeiros a apoiar. Não demorou muito para que o Supremo visse potencial nele, e o promovesse... Bom, você sabe que todo esse regime é bem... opressor, certo? Meu pai acabou matando minha mãe por sermos de uma religião diferente, apesar de nunca ter se importado antes.

“Eu estava em choque mesmo após semanas. Eu vi tudo acontecendo, ele pegando sua pistola, e apontando direto para minha mãe, dizendo palavras odiosas. Ele lhe deu um tiro na cabeça, e obviamente, não foi considerado culpado.

Eu e minha mãe pensávamos que por sermos familiares de alguém tão importante, não estaríamos em perigo por exercer nossa religião, mas estive errada. Soldados não tem coração. Mesmo que seja seu pai.

Eu fingi por dois anos, que havia me convertido para a maldita crença oficial do país. Eu me mantive segura do meu próprio pai por um bom tempo, mas você sabe, Enma, como tem sido para as mulheres, são tratadas como objetos para três usos específicos; limpar, cozinhar e... estuprar.

Ele não era diferente, nunca foi. Sua verdadeira face estava apenas escondida por uma máscara. Ele tentou me estuprar algumas vezes, e quando eu finalmente explodi quanto a tudo isso... Peguei uma faca de cozinha, e o esfaqueei. Deixei todo meu ódio e lamentações naquele corpo morto.

Nunca me arrependi.”

Quando ela finalmente termina a história e a trança no cabelo de Enma, a morena tinha os olhos arregalados.

— Não está assustada, está? – Alda pergunta.

— Não... Acho que não.

— Não o chamo mais de pai. Ele não merece isso, nem morto. Não fique surpresa com a realidade, ela está mais próxima do que você pensa.

Enma respirou fundo, absorvendo tudo.

— Então, hm, o governo sabe que ele está morto?

Alda riu, amarga.

— Eu fiz uma carta de aposentadoria e assinei como ele. O ditador acreditou tão ingenuamente... Às vezes vêm alguns soldados por aqui, checar tudo, por isso, não posso manter meus objetos de culto em casa. Sobre meus pais... Bem, é fácil inventar mentiras. Eu tenho sorte de confiarem em mim. – Ela deu a volta, e ficou em frente a Enma, a observando no fundo dos olhos. – Sua vez.

“Vez....? De contar a história?”, Enma pensou, engolindo em seco.

— Devemos ser sinceras. Para confiarmos uma na outra. Sem pressão, me conte apenas o que conseguir. – Alda disse, se sentando no chão, a olhando com ternura. – Você deve superar.

Enma estava gelada. Não queria falar sobre aquilo, mas Alda estava certa. Indiscutivelmente certa.

— Tudo bem, eu... Eu irei contar. Há seis anos atrás, meus pais e eu estávamos cansados desse maldito lugar, e tentamos fugir para outro país. Você pode imaginar que deu errado; nós fomos pegos antes mesmo de embarcar...

“Nós íamos nos infiltrar em um barco cargueiro internacional, mas os soldados nos pegaram no cais. Eles mataram meus pais na hora, mas eu consegui fugir, e os despistei depois de correr muito pela cidade.

Eu tirei a conclusão de que não poderia mais voltar para minha casa, então procurei um local para viver escondida, porque, afinal, eu era procurada. Sou procurada. Eu acabei achando um edifício abandonado, com um cômodo bem grande.

Ainda, eu vivo por pequenos roubos, e me escondo sempre que há uma checagem no prédio. Funciona.”

Enma respirou fundo quando finalizou a história. Engoliu as lágrimas teimosas, e lembrou-se da pequena rebeldia que faria hoje, para tentar vingar não apenas seus pais, mas toda a população reprimida de alguma forma.

Fosse pelas crenças, pelos entes mortos, ou pela liberdade.

— Sabe que se eu disser que sinto muito não mudará nada, não é? – Alda disse, sem emoções.

Enma começara a pensar que a loira talvez não possuísse coração, por dizer verdades como aquela com o rosto perfeitamente limpo.

Talvez fosse apenas coragem, misturada ao sentimento de ter nada a perder.

Relutante, assentiu. Só podia concordar.

— É. Nada muda. Nunca.

— Não seja pessimista. Nós iremos revolucionar hoje. Se conseguirmos seguir com o plano todo, será maravilhoso, pense em como isso pode acarretar ações de todos. O terrorismo pode servir para algo. – Alda disse, colocando um sorriso no final desta vez.

— Terrorismo? – Enma pensará apenas agora que tudo isso era um grande ato de terrorismo.

Mas quem se importava, afinal?

Tudo que fazia era para o bem de todos.

Tinham de viver, não?

— Terrorismo. O bom e velho terrorismo. – A loira disse, confiante, e se interrompeu em seguida. – Ei, já não está na hora?

Enma perdera um pouco a noção do tempo.

Sentindo um frio no estômago, assentiu. Seria tarde demais para desistir agora.

Calçando as sapatilhas claras, pensava apenas no pior.

—_____

Estavam próximas do destino final. Enma pôde sentir o corpo tremendo ao avistar os soldados. Alda apertou sua mão, tentando tranquiliza-la.

— Estamos chegando. Sorria. – Ela disse, de lado.

A morena não respondera. Apenas continuou andando.

Os soldados as pararam. Não mostravam seu olhar ameaçador, e os rifles estavam abaixados. Se Enma fosse tola, diria que estavam de bom humor, portanto, inofensivos.

Mas não era.

Nunca fora tola.

— Alda, e... Quem é ela? – O soldado mais próximo perguntou. Ela contara dez no total, todos usando suas roupas militares marrons, porém nenhum parecia ameaçado.

— Minha amiga, Jerome, chama-se Enma. Nunca a viu? Está sempre em minha casa, entretanto. – Alda mentira com tamanha naturalidade.

— Não, ao menos eu não. Por que a trouxe agora? Já não veio aqui hoje? – O soldado chamado Jerome adquirira um tom pouco mais agressivo.

— Eu a encontrei na rua, por acaso. Disse sobre o campo, e quis traze-la. É incômodo? Desculpe, podemos voltar. – A loira disse, inocentemente.

— Não, creio que não. Tomem cuidado apenas. Bom passeio. – Jerome saiu do caminho de ambas.

Enma sentiu o corpo quase relaxar embaixo da roupa rosa. O primeiro obstáculo se fora.

Podiam avistar o campo por trás da rua vazia e cinzenta. Era verde, florido e bonito, mas não era seu destino. Alda olhou para trás, espiando os soldados, já indiferentes, olhando outras direções, e puxou o braço da morena até entrarem em uma curva da rua discreta, quase contrária do campo.

Apesar do calor do verão, seus corpos estavam gelados.

Lá, havia uma construção em ruínas, toda de tijolos, com mais de um andar. Grafites de rebeldes provavelmente mortos, decoravam o local com triunfo.

Enma gostava de coisas assim.

Entraram rapidamente, sem deixar rastros, ainda segurando as cestas da colheita de flores. Alda a guiara no escuro, chegando em um canto isolado ainda no primeiro andar. Lá, havia uma entrada quase não visível, com uma pequena escada que as levava ao cenário da conversa mais cedo.

Alda, sem hesitar vez alguma, desceu, e andou firmemente até onde se localizavam os explosivos, ainda estava mais confiante que Enma, com certeza.

A morena olhou para o relógio de pulso branco que havia pego emprestado de Alda. Faltavam cinco minutos para o meio dia, e as batidas de seu coração acelerado podiam ser sentidas em suas têmporas. Suas pernas tremiam, e ela sentia que podia cair a qualquer minuto, junto a seus devaneios de adrenalina.

Alda chamou sua atenção com um aceno. Era hora, finalmente. Demoraria três minutos exatos para ocorrer a explosão, e nesses três minutos elas deveriam correr o mais rápido que podiam em direção à saída.

Com um suspiro pesado, Enma passou a língua por seus lábios secos, e foi rapidamente até o detonador, um botão velho avermelhado. Lançou seu último olhar à loira, envolta da escuridão do subsolo, querendo alertá-la a preparar-se para correr. Sem pensar mais, apertou.

Um instante depois, ambas corriam, literalmente por suas vidas. Foram em direção de onde se localizava o altar de Alda, ofegantes e doloridas, sentindo o corpo leve por conta da adrenalina, nervosismo e emoção. Era uma sensação tão boa e tão ruim, que Enma tivera vontade de rir e chorar ao mesmo tempo.

Aquela sensação era tão...

Tão livre...

Finalmente, ao subir as escadas para a superfície, ambas puderam descansar, caindo de joelhos naquela construção abandonada. Riram olhando uma para outra, de desespero ou satisfação.

— Bom trabalho. Agora, iremos para o campo, ok? – Alda se levantou rapidamente, estendendo a mão para a morena. Saíram da construção tranquilamente, e seguiram com cuidado em direção ao campo, mas uma cena desconfortante foi encontrada, antes mesmo de pisarem na grama.

Os soldados procuravam por elas ali. Cerca de cinco deles olhavam em todas as direções, com os rifles prontos.

A fuga podia ser falha, e elas podiam morrer, de verdade.

Alda buscou o pulso de Enma, para darem meia-volta antes de serem vistas, e consequentemente, levarem tiros.

Novamente, correram por suas vidas, uma guiando a outra em direção à construção novamente. Enma não fazia ideia dos planos de Alda, mas visto que não seria capaz de pensar em algo senão a morte, concluiu que deveria confiar nela, mais uma vez.

Adentraram a escuridão abafada novamente, e desta vez, subiram por escadas detonadas e empoeiradas, por três andares. Este, estava cheio de móveis cobertos por panos brancos, iluminados apenas pela luz do sol, que passava por frestas do telhado.

“É, a natureza nunca se curvará ao Homem”, lembrara Enma.

Se colocaram embaixo de um móvel que parecia difícil de se mover. Apesar do fato de que os soldados não as viram, não deveriam sentir autoconfiança demais, aquilo tudo era real. Estavam ambas inquietas, com a respiração acelerada, e os batimentos cardíacos altos.

A explosão ao menos havia dado certo?

Não saberiam dizer.

As peles formigavam embaixo dos vestidos desconfortáveis, as mentes tão agitadas que poderiam surtar. Ainda mantinham as cestas para flores junto de si, em uma tentativa de esconder provas de que sequer estiveram ali.

A morena buscara o olhar de Alda, que tremia incessantemente. Sabia que a conhecia havia pouco tempo, mas não a vira desconfiante daquela forma em vez alguma.

Talvez descobrissem que o pai de Alda estava morto.

Talvez Alda quem fosse morta.

Tudo por culpa de Enma...

A mais baixa, em uma tentativa que seria provavelmente falha de reconforta-la, segurou a mão da loira. Seus olhos pararam de tremer ao sentir a mão suada e fria da morena, de alguma forma.

— Você será caçada. – A morena sussurrou. Não queria assusta-la, muito pelo contrário.

— Eu sei. Se eu for encontrada, serei morta. – Ela disse, melancólica.

Pela primeira vez naquele dia, Enma tivera uma ideia, que poderia dar certo.

Não pensava direito devido ao corpo gritante pela adrenalina, mas mesmo que arriscado, precisaria tentar, em retribuição a tudo que Alda fizera.

Apenas uma chance.

— Escute, com atenção; eu tenho um plano que pode te salvar.


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Notas finais do capítulo

Deram muitas palavras, então perdão se houver algum erro, por favor me avise~

Obrigada se leu até aqui, e até o próximo...



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