When the Moon meets the Night escrita por MaryHomes


Capítulo 23
Capítulo 5(T2) - A VanHelsing




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Depois dos acontecimentos de alguns dias atrás, Morgana percebeu que Soluço realmente não queria falar com ela, e ela tentou, como tentou, mas ele sempre tinha uma desculpa para a evitar, as refeições juntas, as tardes conversando e trabalhando nos projetos dele, as noites observando as estrelas com Luna e Banguela junto nos voos noturnos, tudo havia acabado. Morgana não entendia, se todos a tinham aceitado, porquê com ele foi tão diferente, ele nem a deixou falar sobre isso de novo, o que só a machucava cada vez mais. Contudo, a morena não foi a única ao perceber o clima estranho entre os dois, todos viam, e Astrid estava começando a fica com raiva do Soluço de um modo que ela nunca tinha achado ser possível. A loira queria dar uma boa surra em Soluço para o fazer enxergar as coisas direito, Morgana tinha dito que eles conversaram, mas a tristeza no olhar dela ao dizer que ele a tinha tratado com indiferenças, Astrid queria ter saído da cabana na mesma hora e tirar as satisfações necessárias, mas Morgana a impediu dizendo que se o Soluço não a tinha aceitado, não seria pela força que ele iria de o fazer. Bem, isso não acalmou a loira totalmente, porém não iria deixar a melhor amiga sozinha, então ela voltou para a sua cabana deixando Morgana com um olhar desolado.

Apesar da tensão entre o líder e a curandeira do grupo, as coisas não podiam parar, principalmente depois do relatório que Perna de Peixe enviou para Berk os avisando sobre os caçadores e em como eles deveriam tomar cuidado, além de informar sobre a aquisição da receita para o Ferro de Gronkel, o que pareceu chamar a atenção do ferreiro de Berk, tanto que uma semana depois, Bocão os tinha ido visitar para poder aprender mais com a descoberta.

Desse modo, estavam na arena, Perna de Peixe com Bocão ao seu lado, diante de um viking de ferro feito pelo Perna de Peixe como demonstração. Astrid estava olhando tudo ao lado de Soluço, poucos minutos depois, Morgana chegou murmurando um "Bom dia" baixo, Astrid retribuiu, ela olhou para o moreno, mas este a evitou completamente, e a garota sentiu os ombros caírem um pouco. Astrid quase bateu no Soluço lá mesmo, mas sabia que a amiga não queria isso. Morgana soltou outro suspiro ao ver Soluço ir até o Banguela para ele ajudarem na demonstração do metal.

— Tem certeza que entendeu essa receita direito? - Bocão perguntou ainda duvidoso com o metal a sua frente.

— É claro que entendi! - Perna de Peixe exclamou bem animado. - Três partes de calcário...

Como se fosse comprovar a eficiência, Melequente passou voando com Dente de Anzol e efetuou um disparo no metal, que não sofreu nenhum dano. Agora Bocão estava bem mais ansioso e confiante.

— ... duas partes de arenito...

Banguela disparou no alto que acabou voando para cima, mas caindo de novo no chão sem nenhum estrago.

—  .... uma parte de minério de ferro...

Vomito e Arroto foram até o viking de metal e começaram a pisar nele com força, e, de novo, não ouve alteração.

— ... e assim uma colher enorme de lava de Ferro de Gronkel resfriada e endurecida! - Perna de Peixe terminou a receita.

Morgana tentou sorrir para a animação do colega, Vomito e Arroto estavam mordendo o metal com, para a surpresa de ninguém, Cabeça Quente também. Mas ao ver pelo canto de olho que Soluço sorria, sem parecer nem um pouco afetado pelo distanciamento deles, o coração se apertou de novo. Depois de tudo que eles passaram juntos, Morgana tinha entendido tudo errado, ele não confiava nela, pelo menos, não mais e a morena estava começando a aceitar aquilo completamente, demoraria, mas ela teria que fazer com que o coração se acostumasse, porque qualquer sonho que ela tivera para os dois, permaneceria assim, um sonho. Astrid, ao ver o semblante da amiga, pensou que se animasse um pouco as coisas, ela melhoraria, então a loira deu um leve empurrão com o ombro na amiga e se aproximou do Perna de Peixe e Bocão.

— Legal, mas vamos ver se o seu Ferro de Gronkel aguenta uma rajada de espinhos a queima roupa.

— Fique a vontade.

Morgana abriu um leve sorriso ao ver a amiga durona. Tempestade se posicionou, Soluço já havia descido com Banguela e estava observando também, longe de Morgana. Então, a dragão se colocou em posição de ataque, Morgana olhava bem até que Cabeça Dura, que não estava com ele antes, começou a andar mancando pelo meio da arena, ele estava cheio de folhas e galhos presos no corpo e parecia totalmente aéreo a sua volta, porque ele murmurava algo. Morgana percebeu que o viking não estava ciente dos acontecimentos ao seu redor, ela se virou para Tempestade que parecia também não perceber o garoto, que agora estava quasse passando bem na frente do alvo.

— Graças a Loki! Vocês não vão acreditar...

— Cabeça Dura! - Morgana não pensou antes de sair correndo, não olhou para trás quando ouviu Astrid chamando o seu nome, mas ela ouviu o familiar zunido dos espinhos da Tempestade sendo atirados, então a morena se jogou completamente em cima do loiro que estava prestes a ser atingido e os dois caíram no chão. Morgana levantou os olhos para ver os espinhos ricochetearem no metal e agora a placa enorme estava caindo sobre eles.

Soluço sentiu o coração parar, depois de dias sem falar com Morgana, sofrendo por sua falta de um jeito que ele não pode dizer que não sabia que seria assim, porque ele sabia, depois de ter admitido para si mesmo que tinha sentimentos pela treinadora e alguns dias depois decidir engolir tudo isso por causa do passado da jovem, ele sentia falta de tudo, das suas tardes juntos e de tudo que faziam juntos, até mesmo Banguela chorava toda noite para ele com saudades da treinadora e de sua dragão. Porém, ele nunca pensou que sentiria o mundo parar ao ver Morgana correndo em direção do Cabeça Dura, com certeza para tentar evitar o provável golpe que o loiro iria levar e ele rezou para o próprio Odin para que a garota não saísse ferida, porque nem ao menos chamar o seu nome em desespero o seu corpo se permitiu fazer. E Soluço só sentiu o seu corpo se mover, com vontade de cair de joelhos, ao ver a morena ter sucesso, salvando o loiro e ele estava prestes a se aproximar, quando o alvo viking de Ferro de Gronkle balançar pelo impacto e cair sobre os dois. Soluço não sabia o que fazer, mas Astrid sabia, porque ela e os outros não exitaram em correr para ver como seus amigos estavam.

Astrid e Bocão puxaram o metal para cima, para ver que este já estava sendo impulsionado para cima pelo ombro da morena, que havia protegido os dois com o membro.

— Morgana, você está bem? - Astrid perguntou preocupada enquanto ajudava a amiga a se levantar.

Morgana se levantou e fez uma careta quando sentiu o ombro não mover direito. Ela não viu o suspiro de alívio que Soluço deu.

— Acho que eu acabei tirando o ombro do lugar, mas de resto estou bem, mas o Cabeça Dura...

Todo mundo olhou para o loiro esticado no chão.

— Conversamos depois.

E ele desmaiou.

— Bocão tem como você carregar ele até a base? - Morgana perguntou, ela conseguiria examinar ele melhor lá.

Soluço achou que seria melhor reunir todo mundo para entender o estado desesperado do Cabeça Dura.

— Como você vai cuidar dele com esse ombro? Quer que eu de uma olhada? - Bocão falou e todos se viraram para Morgana que ainda tinha o braço prendido ao lado do corpo.

— Hum? Ah não. - Ela levou a mão boa até o ombro ruim, o pegou bem e o puxou de volta, um estalo foi bem ouvido. Ela conseguia girar o braço normalmente agora. - Tudo certo.

— Isso foi muito legal. Será que dá para tirar o meu do lugar e colocar de novo? - Cabeça Quente falou boca e aberta como os outros, afinal, colocar o ombro no lugar já era bem ruim, fazer isso sozinha então. Astrid tinha um sorriso de orgulho no rosto.

— Bem, vamos ver você agora. - Morgana chegou perto do Cabeça Dura, procurando algum ferimento grave, afinal, o loiro ainda estava com uma cara assustada e parecia ter passado a noite toda fora. - Você está com alguns arranhões e um pouco desidratado, mas vai ficar bem.

— Afinal, o que aconteceu lá, Cabeça Dura? - Soluço finalmente perguntou, ele teve que afastar os pensamentos da morena tão perto de si já que ele estava sentado ao lado do ferido, ele não esteve perto assim dela há dias.

A morena tirou um galho preso nos cabelos dele, antes de se afastar e prestar atenção no que o viking estava tão desesperado em contar.

— Estava escuro, muito escuro, não havia nem a lua para iluminar o meu caminho. - Ele fez uma cara de medo. - E ai, de repente, surgiu no meio da escuridão, olhos vermelhos, dentes enormes e um rosnado que arrancaria até o bico de uma galinha! - A Galinha soltou uma exclamação de indignação. - Foi mal, é modo de falar. - Então, Cabeça Dura pegou a Galinha e começou a "demonstrar" como foi, sacudindo ela de um lado para o outro. - Ele me pegou e me sacudiu igual a um boneco de pano, um lindo boneco de pano. E depois me deixou para morrer.

— Você pode dizer mais alguma coisa sobre o que te atacou? - Perna de Peixe perguntou.

— Foi muito rápido, muito sorrateiro... me da outro adjetivo!

— E o que você acha de "imaginário"? - Melequento falou e todos riram, menos Morgana, que continuava séria, e Cabeça Dura que não havia achado graça.

— Não acho que ele esteja inventando. - Morgana falou.

— Você não está realmente acreditando nisso? - Astrid exclamou.

— Ele está sofrendo de estresse pós trauma, não teria como inventar algo assim e ficar desse jeito. - A curandeira informou, mas não pareceu convencer muito.

— Podem rir bastante, mas um monstro imaginário poderia fazer isso?! - Cabeça Dura apontou para uma marca de mordida no braço ainda vermelha e com as marcas de dente. - Morgana levantou uma sobrancelha ao ver aquilo e se aproximou para dar um tapa na cabeça do loiro. - Hey, por que você fez isso? - Ele quis puxar o braço de volta, mas a curandeira o puxou de volta para observar melhor.

— Seu idiota, porque não me mostrou antes? Isso pode estar contaminado ou até infeccionar! - Exclamou zangada, antes de pegar a bolsa de tratamento que tinha sobre a mesa e começar a limpar e a enfaixar a ferida. - Agora você vai ficar quieto até que eu termine isso e depois a gente vai ver mais sobre esse monstro maluco seu.

— Perna de Peixe, você poderia pesquisar para ver se acha algo sobre essa criatura? - Soluço pediu ao estudioso do grupo, este assentiu. - Bem, até lá, podemos voltar aos afazeres normais.

Com isso todos se dispersaram, Perna de Peixe voltou a sua cabana para fazer a pesquisa, Bocão foi junto.

— Depois que terminarmos aqui, vamos para lá também. - Morgana informou para ninguém em específico, sem tirar os olhos do seu tratamento.

— Você... precisa de ajuda com algo?

Morgana quase pulou de susto, mas conseguiu se controlar, não porque alguém a tinha respondido, mas por causa da pessoa que o tinha feito. Soluço havia falado de vagar e meio exitante, a morena não tinha ouvido a voz dele direcionada a ela há dias, então a surpresa que o próprio Soluço percebeu em seus olhos quando ela se virou para ele era justificável.

— Não... está tudo bem. - Morgana respondeu devagar, tão hesitante quanto ele perguntou e se voltou para o seu trabalho depois. Soluço apenas assentiu antes de sair pela porta com Banguela para ir em direção a cabana do amigo.

Ao falar com ela, diretamente, depois de todos aqueles dias fez o coração de Soluço acelerar como doido. Não tinha pensado direito antes de perguntar, mas naquela manhã, quando ele viu Morgana correndo para frente dos espinhos da Tempestade, ele percebeu que a morena ainda mexia demais com ele, e que se ela tivesse sofrido algum ferimento mais sério, ou até pior, nunca iria se perdoar por sua última conversa ter sido de uma forma tão fria. Contudo, Soluço ainda não sabia o que pensar direito, se ele deveria conversar com ela de novo sobre o fatídico assunto de dias atrás, porém tinha medo de isso só piorar as coisas, que se ouvir da boca dela, seria pior. Assim, ele balançou a cabeça e decidiu que seria melhor focar no problema do dia: achar qualquer coisa que tenha atacado o amigo e conter esse perigo.

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Depois de muita pesquisa e outra série de perguntas para o Cabeça Dura, Perna de Peixe e Morgana procuraram, o loiro olhando nos arquivos que eles tinha e Morgana tentando o ajudar pensando em algum tipo de dragão que ela possa ter encontrado na sua época de nômade.

— Não tem nada aqui parecido com isso. - Perna de Peixe se referia ao monstro. - No Livro dos Dragões, nem nos escritos de Bork, nem no Olho de Dragão.

— Eu também não achei nada nos meus escritos pessoais e nenhuma mordida igual feita por um dragão nos meus livros médicos.- Morgana informou.

Estavam na cabana: Cabeça Dura, Soluço, Perna de Peixe, Morgana e o Melequento, apesar desse último não estar sendo nada útil.

— Vocês dois não vão achar nada mesmo. - Bocão falou um tanto quanto relaxado demais com a situação. Todos olharam para ele questionando-o. - É óbvio que estamos pensando na mesma coisa.

— Eu posso te dar total garantia que não. - Soluço falou. - Mas por que você não fala para a gente o que você está pensando, então?

— Lobisgão.

Morgana colocou a mão na testa, era claro que ele iria sugerir algo ridículo, o grande contador de histórias de Berk, o que mais ela poderia esperar?

— O dragão lobisomem é uma criatura rara e bastante feroz. - Bocão continuou. - Os que sobrevivem a sua mordida, na verdade, não são exatamente sobreviventes. - Ele começou a fazer algumas poses dramáticas para dar efeito a explicação. - Estão amaldiçoados a viver uma vida metade homem e metade Lobisgão. Em noite de Lua cheia, os vikings condenados se transformam em um terrível dragão! Com asas maiores que uma casa, dentes mais fortes que Ferro de Gronkel e com sede de sangue!

Cabeça Dura tinha ficado completamente pálido e assustado.

— Por Thor, isso nem faz sentido! Dragões não podem transmitir um vírus assim! - Morgana tentou argumentar, mas Bocão a ignorou.

— Calma, relaxa Cabeça Dura, o Lobisgão é apenas uma lenda, não é um dragão de verdade. - Soluço tentou confortar o amigo. - Bocão, você já viu um Lobisgão alguma vez?

— Não.

— Alguém aqui ou em toda Berk já viu um Lobisgão?!

Todos responderam com silêncio.

— Não que eu me lembre.

— Caso encerrado. - Soluço quis terminar com o assunto, mas Bocão não.

— Mas as histórias arrepiam até os pelos enrolados de um iaque.

— Sim, e histórias dizem que o Fúria da Noite é uma cria da morte. - Morgana apontou para Banguela que brincava com um novelo de lã do lado.

— Você nunca ouviu as histórias de verdade, garota. - Bocão falou e começou a sair da cabana.

Morgana soltou um suspiro antes de o seguir com os outros, ele os estava levando para uma outra roda de histórias, dessa vez em uma área ao ar livre. Cabeça Quente acabou se juntando a eles, Astrid não, pois ainda estava fazendo patrulhamento, tentado achar alguma pista do tal monstro.

A morena se sentou na grama com o rosto apoiado nas mãos e com os cotovelos apoiados nos joelhos.

— Seu nome era Kessler! - Bocão praticamente rugiu em drama na cara do Melequento que se encolheu.

Morgana soltou outro suspiro de tédio.

— Era um garoto esquisito, cabelo vermelho, olhos negros como a noite e traveso como um Nadder em um galinheiro. Uma noite, o pequeno Kessler desobedeceu os pais e foi explorar a floresta. Os dias se passaram, e nem sinal dele, apenas gritos distantes vindos da floresta.

Morgana teve que dar crédito ao Bocão pelo drama e como ele contava a história, caminhando de um lado para o outro com uma tocha segurada com a pinça de metal, Perna de Peixe até tremeu quando Bocão se aproximou mais, Morgana quase riu, mas achou que seria meio indelicado.

— ... o pestinha nunca voltou. - Bocão falou triste e deu as costas ao grupo antes de se virar com tudo e soltar um grito, todos menos Morgana e Soluço gritaram de susto. - Ou será que não?! Todo ano depois disso, no dia de aniversário do pequeno Kessler, aparecia um dragão vermelho de olhos negros que sobrevoava a casa dos pais dele e pegava uma das ovelhas do rebanho. O dragão ainda olhava para trás, os provocando. - Imitou toda a cena antes de falar calmamente, como se não tivesse acabado de assustar todo mundo. - Mas eu não me preocuparia, Cabeça Dura, você não está mostrando os sintomas.

— Ei! Como a gente vai saber se ele não está demonstrando nenhum sintoma? Você tem que falar para a gente Bocão, só para sabermos. - Melequento falou, mas a sua cara não era de preocupação com o amigo e sim puro deboche.

Morgana arregalou os olhos percebendo a onde aquilo iria terminar, então ela se levantou rapidamente. Parecia que a Cabeça Quente também tinha percebido.

— Espera ai, você não pode-

Bocão a interrompeu antes: -  Bem, primeiro seria uma certa sensibilidade a luz.

— Você não falou para mim que a sua cabeça doi quando você olha para o sol? - Melequento perguntou ao loiro com malicia na voz.

— É, eu falei isso sim.

— Isso é ridículo! Todo mundo tem sensibilidade ao sol. - Morgana tentou apaziguar, mas Cabeça Dura não ficou menos preocupado quando ele se voltou para as brasas em um caixote e soltou uma exclamação de dor tampando os olhos.

— Uma sede incontrolável.

— Bocão!

Morgana olhou assustada quando o doente começou a coçar a língua.

— Parece que está com sede. - Melequento voltou a provocar, Morgana estava prestes a bater nele, mas Cabeça Quente foi mais rápida e tampou a boca dele com a mão.

— Ele está sempre com sede!

— Exatamente, ele ficou desidratado naquela floresta.

Melequento as ignorou: - O que mais, Bocão? Você pode nos dizer mais.

— Braços agitados, por causa das asas que estão crescendo.

Cabeça Dura começou a mexer os braços de forma um pouco descontrolada acabou até acertando a irmã no rosto.

— Cuidado!

— Desculpe, eu estou um pouco descontrolado.

— O que mais? - Melequento riu, mas acabou gemendo de dor pela pancada na cabeça que Morgana deu nele.

— Olha, Bocão, seria melhor parar com isso, antes que-

De novo a morena foi interrompida por um Bocão animado demais em compartilhas o seu conhecimento nas histórias.

— Por fim, uma vontade incontrolável de comer peixe fresco!

Morgana teve que desviar do caminho quando Cabeça Dura pulou do banco e saiu correndo até o barril de peixe fresco que eles deixavam para os dragões, o loiro se juntou a refeição com Vomito e Arroto.

— Tem gosto horrível. - Rosnou e depois saiu correndo com um peixe na boca e dois em cada mão.

— Isso é demais! Que cara idiota. - Melequento falou rindo e acabou levando outra pancada da curandeira.

— Eu só não faço pior, porque não precisamos de outro doente, você fez ele assimilar isso! Agora, vai realmente achar que vai virar um dragão. - Morgana praticamente gritou na cara do viking.

— Você não tem ideia do que fez. - Cabeça Quente parecia tão irritada quanta a morena.

Depois dos eventos meio conturbadores, Cabeça Quente conseguiu achar o irmão e o acalmar um pouco, ele acabou dizendo que "tinha que achar um lugar para os seus bens preciosos antes de tudo" e saiu. Soluço achou que seria melhor se todos se reunirem na cabana principal para comerem algo e decidirem o que fazer depois.

No meio do jantar, Cabeça Dura voltou com um carinho de mão cheio de coisas.

— O que você está fazendo, Cabeça Dura? - Soluço perguntou por todos.

O loiro soltou um suspiro de pesar antes de voltar a andar, primeiro, ele parou ao lado do Melequento.

— Vou te dar a Clavinha, cuide bem dela, ela gosta de sentar perto da janela para olhar a Lua. A Lua cheia, que ironia.

— Por Thor, que gentileza. - Melequento jogou a clava por cima do ombro, como se não importasse. Morgana lançou um olhar tão frio para ele que Melequento acabou se encolhendo em seco antes de se levantar e voltar a pegar a arma.

— Perna de Peixe, vou te dar a minha tigela preferida.

Perna de Peixe olhou bem a tigela e viu um Gronkel desenhado nela.

— Hey, essa tigela é minha!

— Bem, agora você a achou. Coma bem, meu amigo. - Ele andou até Morgana. -  Minha cara amiga Morgana, para você eu deixo o meu par de botas preferido, mas seria bom você dar uma lavadinha antes.

Morgana soltou um suspiro e depois fez uma careta ao pegar o sapato e o colocar no chão novamente, ela com certeza precisava lavar as mãos algumas vezes.

E ele continuou andando até parar ao lado do líder. - Soluço, o que eu posso dar para um viking que já tem tudo? - Ele puxou Cabeça Quente da cadeira. - Aqui.

— Hey, você não pode me dar para ele!

— Com o tempo ela vai se afeiçoando a você. Vai ser difícil para ela, e com certeza vai passar por um longo período de luto, mas ela vai precisar de outro irmão gêmeo e eu nomeio você. É um trabalho difícil, o cheiro dela é horrível. Também, você vai ter que começar a se vestir como eu e deixar o cabelo crescer.

Soluço fez uma careta antes de chamar a atenção: - Já chega, o que você está fazendo?!

— Eu só estou me preparando. - Deixou os ombros caírem.

— Para o quê?

— Astrid, você viu a Lua? - O loiro apontou para a Lua cheia que se podia ver pelas portas da cabana. - Quando ela chegar ao seu ápice, que eu acho que seja lá no alto, eu vou virar um dragão, o Cabeça Dura Lobisgão.

Melequento começou a rir, mas parou quando Cabeça Dura chegou bem perto dele, cara a cara.

— Você é um cara engraçado, Melequento, eu vou comer você primeiro. - Falou com uma voz rouca e começou a emitir uns sons esquisitos.

Morgana abriu um sorriso com a cara de horror do Melequento.

— A gente já conversou sobre isso, o Lobisguão é uma lenda, não é real, você não vai se transformar em um dragão! - Soluço falou sério. - Perna de Peixe, fala para ele, por favor.

Perna de Peixe começou a balbuciar  e encolher os ombros, sem saber o que falar, vendo isso, Morgana achou melhor falar algo.

— Cabeça Dura, se você quiser uma opinião médica, você não vai se tornar um dragão, simples assim, isso não existe. - Morgana falou de forma lenta para ver se ajudava, mas o loiro não mudou a sua expressão de sofrimento. - Olha, se você quer uma explicação, você só deve ter sido mordido por um animal comum, algum com presas, como uma raposa, tem muito outros animais na ilha além de dragões.

— Tá, mas agora eu preciso dizer o adeus mais difícil da minha vida, com licença. - Cabeça Dura saiu com um aceno dramático, provavelmente indo falar com Vomito e Arroto.

Melequento começou a rir.

— O que foi que eu te disse? - Cabeça Quente estava bem brava. - Você vai me ajudar a concertar isso, Melequento! Está me ouvindo?!

Cabeça Quente também saiu, indo pensar no que fazer para concertar as coisas.

— Nossa. Parece que a garota ficou uma fera né? - Melquento falou em um tom zombateiro.

Aquilo foi o suficiente para acabar com a paciência de Morgana, então ela foi ao lado do idiota, o agarrou pela gola da túnica e fez que ele entendesse bem as próximas palavras dela.

— Você vai ajuda-la, Melequento, e vai fazer isso de muita boa vontade, ou eu vou garantir que você se torne algo muita mais desconfigurado do que um "Lobisgão".

Pelo olhar de pavor do garota, Morgana percebeu que ele entendeu bem, ela o soltou e ele saiu correndo atrás da loira.

— Sabe, você as vezes me assusta mais que um Grito da Morte. - Perna de Peixe falou para a Morena, que sorriu, aceitando o comentário como um elogio.

O resto da turma começou a sair, estava de noite e não havia mais nada que pudessem fazer de noite.

— Soluço?

O moreno estava prestes a voltar para a sua cabana, Astrid e Perna de Peixe já haviam saído, quando ouviu a voz da curandeira, ele se virou devagar.

— Será que a gente poderia conversar? - Morgana falou devagar, temendo dizer algo errado, temendo piorar as coisas mais do que já estavam ruins, mas ela queria concertar, implorar por perdão se isso ao menos fizesse deles amigos de novo, se pelo menos fizesse Soluço olhar para ela de novo.

Soluço trocou o peso de um pé para o outro: - Foi um dia estressante, temos que pensar em algo para o Cabeça Dura ainda, não acho que seja a melhor hora.

E naquele momento Morgana soube que não importava o quanto ela tentasse, Soluço já estava decidido em relação a eles, e ela estava cansada de tentar fazer as coisas voltarem ao normal.
Soluço engoliu em seco, não queria fazer aquilo, se separar da morena, há poucos dias ele estava pronto para conversar sobre um futuro juntos e agora pareciam mais longe um do outro do que quando se encontrar pela primeira vez e eram inimigos. Quando ele viu Morgana desviar o olhar para o chão e seguir para fora da cabana, ele soube que ela tinha desistido de ter alguma reação dele, e aquilo machucou demais como ele nunca acho que faria.

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Astrid e Morgana estavam terminando o seu reconhecimento diário diurno pela ilha nos dragões, quando Astrid não aguentava mais o silêncio da amiga.

— Ok, isso já está me irritando, o que aconteceu?

— Hum? - Morgana piscou confusa e se virou para a amiga.

— Não me venha com esse "hum?", você praticamente não falou nada essa manhã, mal comeu no café, parece que não dormiu direito com essas olheiras e Luna e Amarok estão um poço de preocupação. Repetindo: o que aconteceu?

Morgana soltou um suspiro, sabia que não podia ficar escondendo nada da melhor amiga, o único ombro amigo(humano) que ela tinha agora.

— Eu cansei Astrid, ontem eu decidi que não vou mais insistir com Soluço.

— Insistir? Espera um minuto, ele falou algum porcaria para você de novo? - Astrid fechou as mãos em punhos.

— Não... - Morgana sentiu Luna soltar um resmungo de preocupação, ela fez um carinho na cabeça. - Eu só tentei conversar novamente, mas ele não quis, inventou outra desculpa. Eu cansei Astrid, eu não vou correr atrás de alguém que não me deixou nem explicar, se Soluço vai tirar as conclusões dele sem nem ao menos me ouvir, então ele não é o tipo de pessoa que achei que fosse. - Que eu achei que gostava ela completou mentalmente.

— Morgana...

Astrid estava prestes a xingar, falar o quanto Soluço estava errado e que não a merecia, mas ela não podia, Soluço também era seu melhor amigo, e ela não podia não por causa da amizade, mas sim porque a loira sabia que Soluço não era assim, ele é uma das pessoas mais honestas e compreensivas que ela já conheceu, foi o primeiro viking a aceitar um dragão como amigo, perdoou inimigos, então por quê estava agindo assim? Ela não entendi, não de verdade. Astrid percebeu que estava na vez dela de ter uma conversa com o líder, de ser a ponte entre eles. Mas primeiro eles tinham um outro problema para resolver entre a turma.

Desse modo, depois do patrulhamento, as duas garotas e Soluço se reuniram no deck dos estábulos para ver como estava Cabeça Dura.

— Então, a onde ele está? - Astrid perguntou quando Morgana a ela pousaram.

— Ele se trancou em uma cela ontem a noite, pensando que iria se "transformar", o Bocão está tentando falar com ele agora. - Soluço explicou.

— Eu vou lá ver se consigo examiná-lo, preciso trocar as ataduras dele também. - Morgana disse olhando para a amiga e depois foi para dentro do estabulo, sem nem ao menos olhar para o moreno no local.

Soluço tinha percebido aquilo, por Thor, até Luna o estava ignorando, tendo sentado de costas para ele, só mexendo a cabeça quando Banguela foi correndo para o seu lado e abrido o enorme sorriso banguela costumeiro para a fêmea, ela, como sempre, lhe deu uma lambida do focinho fazendo o mesmo derreter um pouco. Soluço sentia par de olhos em cima de si, então procurou por eles e encontrou um par azul não muito alegres o encarando, na hora, Soluço sabia que Astrid tinha conhecimento do que estava acontecendo entre os dois, afinal elas eram amigas bem unidas, e a loira não parecia nem um pouco feliz, tanto que Soluço já iria abrir a boca para inventar qualquer desculpa quando ela levantou a mão em um claro sinal de "depois", então ele fechou a boca e esperaram.

Não demorou muito para Bocão e Morgana voltarem e pela cara deles, não eram boas notícias.

— Bem, eu fiz o que eu pude, mas ele não quer falar com ninguém, só com aquela galinha. - Bocão informou.

— Não quer mesmo, ele só deixou eu trocar os curativos porque disse que "a galinha ficaria preocupada", depois ele se fechou completamente. - Morgana continuou o relatório, aquilo estava ficando bem preocupante.

— Ele está convencido que a Lua não atingiu  o seu ápice ontem e que vai ser hoje a noite.

— Eu não entendo, nem o Cabeça Dura é bobo o bastante para acreditar nessa história, muito menos assim, só porque o Melequento o convenceu.

— Ah que ótimo. - Soluço disse de forma sarcástica ao ouvir os murmúrios de loucura do Cabeça Dura.

Um bater de asas chamou a atenção de todos.

— Aquela é...? - Astrid perguntou.

— A Cabeça Quente. - Soluço respondeu. - ... montando o Dente de Anzol?

— E onde está o Melequento?

— Está lá. - Bocão respondeu ao apertar os olhos para enxergar melhor. - Ele está atrás dela com cara de assustado e lágrimas nos olhos.

Cabeça Quente claramente não sabia pilotar o dragão em que estava, porque Dente de Anzol acabou indo de barriga no chão quando pousou, jogando os dois cavaleiros para fora da sela.

— Aterrizagem maneira.

O Pesadelo Monstruoso não concordou com a loira, bufando e indo embora depois.

— Parece que a "missão" de vocês deu certo. - Morgana comentou. A loira havia ido até a cabana da morena na noite anterior pedir por uma lista de dragões da ilha, e ela acabou deduzindo o resto.

— Missão? Mas o que vocês estavam fazendo? Estávamos precisando de vocês.

— Estávamos recolhendo amostras. - Cabeça Quente respondeu ao Soluço.

— Amostra de quê? - Astrid perguntou, mas ela e Soluço acabaram pulando de susto quando Cabeça Quente respondeu ao mostrar o braço cheio de mordidas do Melequento.

— Mordidas de dragão, algumas delas têm que bater com a do meu irmão e vai convencer ele de que essa ideia de Lobisgão é só mais uma das suas ideias paranoicas.

Morgana teve que colocar a mão na testa em frustração, sabia que a loira queria comparar as mordidas, só não sabia que usaria o Melequento de papel. Ela se limitou a jogar um frasco para a loira que a olhou confusa.

— Passe isso no Melequento depois, já que você o usou como molde, ele vai precisar de tratamento depois.

— Bem, foi ele que começou com o seu impressionante, porém sinistro, poder de sugestão. A culpa é do Melequento que o meu irmão, sem noção, acha que vai virar um dragão.

— Pelo visto, essa você mereceu, Melequento.

Todos tiveram que concordar com o Soluço.

— Não está mais tão engraçado, não é? - Morgana perguntou de forma sarcástica.

— Não, para mim perdeu a graça todinha.

— Então anda. - Cabeça Quente saiu puxando a sua cobaia para dentro do estabulo, para testar as mordidas.

Novamente, a atenção de todos foi desviada, mas agora por um chamado  de Perna de Peixe se aproximava rapidamente com Batatão.

— Soluço, Morgana! Vocês não vão acreditar! - O loiro estava bem animado. - Eu já estava esgotando as minhas ideias com qualquer coisa que pudesse ajudar a gente, quando o meu anjinho lindo aqui.... - Ele abraçou Batatão. - ... esmagou a minha mesa e olha o que eu encontrei. - Ele tirou uma lente de Olho de Dragão do bolso. - É aquela que vocês dois acharam na caverna com o Gustav. Eu queria te devolver, Soluço, Eu geralmente não sou irresponsável com artefatos valiosos, mas...

Perna de Peixe começou a falar demais e Soluço teve que interromper.

— Perna de Peixe, a gente precisa ver o que tem nela!

Astrid e Morgana rolaram os olhos pela animação dos dois que não era adequada a situação atual.

— Olha, eu tenho trabalho para fazer, tem como você vigiar os dois para que eles não se percam no mundinho de dragões deles e foquem no nosso problema. - Astrid pediu ao colocar a mão no ombro da amiga.

Morgana quis pedir para trocar, mas sabia que ela seria necessária para traduzir a nova lente, já que só ela e Perna de Peixe sabiam da língua usada nas projeções do objeto. Assim, ela apenas assentiu e montou em Luna para seguir os outros dois até a cabana do Soluço, onde estava o Olho de Dragão. Foi meio estranho para Morgana, entrar no lugar que parecia proibido para ela já fazia dias, o mesmo desconforto era visível no Soluço, porém Perna de Peixe não pareceu ver nada disso, já que continuou a falar sobre as suas hipóteses e ideias de como as novas informações poderiam ser úteis, ou em como ele estava animado com a possível descoberta de novos dragões. No final, todos os três começaram a trabalhar e Soluço percebeu que ele sentia falta disso.

Já Banguela estava muito feliz de voltar a passar um tempo com Luna, já que como os seus donos não estavam se falando, consequentemente, o período que os dragões passavam juntos também era menor. Apesar de Luna não se expressar bem, ela também estava feliz em ver o macho, a alegria dele em vê-la, fazia falta, assim ela se permitiu recostar nele quando esse se deitou perto da mesa de trabalho dos humanos, Banguela soltou uma bufada de satisfação ao colocar a sua cabeça em cima da companheira.

Tinha passado horas e... nada! Eles não acharam nada de útil, tentaram como os dragões, mexeram nos botões no Olho de Dragão, com diferentes combinações, mas não deu certo. Sem que eles percebessem, já estava de noite, e era lua cheia.

Perna de Pexie soltou um rosnado de frustração.

— Cansei! Já chega, eu já tentei todas as combinações possíveis! - Ele largou o Olho de Dragão na mesa.

— Olha, vocês vão ter que continuar sem mim, preciso ver como esta o Cabeça Dura e o Melequento, conferir se a Cabeça Quente não matou ele com a mordia de algo venenoso.

Morgana abriu a porta da cabana para sair e a luz da Lua entrou, o Olho de Dragão que estava em cima da mesa e com o cabo virado para a saída, começou a emitir um brilho.

— Espera! - Soluço gritou ao perceber a mudança. - Olhem isso. Vamos tentar algo. Banguela?

O Fúria da Noite hesitou um pouco em sair da posição confortável que estava, mas sabia que era o seu trabalho, então ele se levantou o que acabou acordando Luna, que também se levantou indo em direção da dona. O dragão foi até o objeto e emiti uma chama baixa para usar no Olho de Dragão e obteve resultado, porque o mesmo emitiu imagens na parede.

— Aquilo é um humano com asas no lugar dos braços? - Morgana falou indignada, aquilo não poderia estar mostrando o que eles achavam que estava mostrando.

Perna de Peixe pegou o Olho de Dragão e mexeu nas combinações: - Olhem lá, com uma cauda também.

— Isso só pode ser brincadeira. Não é possível que seja real. - Morgana continuou falando, não acreditando, mesmo que estivesse na sua frente.

— Vocês podem decifrar?

Morgana chegou mais perto par ler melhor e viu que tinha uma citação no canto.

— "Nenhum homem pisará nessa margens a menos que se torne o que mais teme."

Morgana se virou assutadas para os dois, lá estava o que eles procuravam, que poderia ajudar o seu amigo, mas o que também parecia confirmar uma lenda.

— Aquela deve ser a ilha dos Losbigões. - Perna de Peixe leu outra parte, a que continua o desenho de uma ilha e a sua localização.

— É por isso, meu amigo, que nós sempre damos ouvido ao Bocão. - Soluço falou tentando quebrar o clima tenso.

— Soluço, Morgana, esse Lobisgão pode não ser só uma lenda. - Perna de Peixe tinha medo na sua voz.

— A ilha não parece ficar longe. - Soluço comentou, e depois se voltou com um sorriso para os dois companheiros, Morgana sabendo o que o líder queria, cruzou os braços e também sorriu para Perna de Peixe, o loiro encolheu os ombros ao ver as expressões dos amigos.

— Por que eu tenho a impressão que nós vamos sair em uma missão de reconhecimento?

Eles não precisaram dizer mais nada, Morgana foi pegar os suprimentos necessários e avisar Astrid, e os outros dois foram buscar a Batatão nos estábulos. Em poucos minutos, estavam os três cavaleiros no ar.

Para a sorte do grupo, a ilha não era longe, com um voo rápido, eles levaram menos de uma hora para chegar. A ilha também não era muito grande, então foi fácil encontrar a caverna que foi descrita no Olho de Dragão. Eles pousaram e entraram, para infelicidade do Perna de Peixe. O local era amplo, cheio de estalactites e estalagmites.

— Banguela, ilumina para gente.

O tiro de plasma fez o seu serviço, mas também fez com que uma onde de morcegos saísse voando, os assustando. Soluço não soube se foi automático de seu corpo ou mente, mas quando os morcegos acabaram, o morena percebeu que ele tinha usado os braços para não se cobrir, mas sim a garota ao seu lado, Banguela tinha feito o mesmo com Luna, usando a sua asa para cobrir a fêmea. Ao perceber o que fazia, Soluço se retirou rapidamente.

— Obrigada. - Morgana respondeu baixinho, Soluço só assentiu e se voltou para o outro companheiro que olhava para dentro da caverna bem assustado.

— Não se preocupe, Perna de Peixe, vamos estar com você o tempo todo.

Eles entraram com mais cautela agora, não querendo ter mais surpresas, afinal, estavam procurando um "dragão" potencialmente muito perigoso.

— Tem algumas coisas escritas ali. - Morgana apontou para o teto, estava meio escuro, mas era possível ler. - " Cuidado com a fera, volte antes que se transforme nela", bem, pelo menos o monstro parece gostar de poesia.

Morgana deu de ombros, aquilo parecia cada vez menos real, se a pessoa se transformava em dragão, como tinha escrito aquilo? Porém, Perna de Peixe parecia fazer o contrario, acreditando em tudo, porque ele estava tremendo todo.

— Nosso destino está selado!

— Perna de Peixe, relaxa, são só desenhos em uma caverna.

— Eu não acredito que a gente vai morrer perseguindo um dragão imaginário!

Morgana acabou soltando um risinho e recebeu um olhar feio do loiro.

— O quê? A sua frase foi engraçada.

Eles foram se aprofundando mais na caverna e os três vikings ficaram tensos quando Banguela e Luna começaram a rosnar, ao seguir os olhos para o origem do problema, eles viram uma sombra na parede do que parecia ser um dragão humanoide, o mesmo que apareceu no Olho de Dragão.

— Soluço, Morgana! É ele! - Perna de Peixe soltou um choro de medo e abraçou a Batatão. - Se eu for morrer, garota, que bom que seja com você.

Morgana rolou os olhos e se colocou em posição defensiva, segurando bem o Osso Voador.

— Banguela, ilumina.

Com o disparo do Fúria da Noite, ele viram melhor a figura e esperaram pelo ataque, Perna de Peixe tremia sem parar, mas os dois morenos estavam sério, até que Morgana relaxou o corpo e franziu a testa em interrogação.

— Soluço, não está se mexendo.

O líder arregalou os olhos ao perceber que era verdade, então ambos começaram a olhar ao redor procurando o que projetava a sombra e eles encontraram e não era dragão.

— Olhem só os olhos dele! - Soluço exclamou animado.

— Eu não vou olhar os olhos dessa coisa!

— Perna de Peixe, não é real! Pare de tremer e venha ver. - Morgana exclamou e seguiu Soluço.

Quando o loiro finalmente criou coragem de olhar, ele percebeu o porque eles estavam tão tranquilos, Morgana e Soluço estavam parados agora na frente de uma pedra em formato de um dragão, a mesma era a fonte da projeção da sombra, e no lugar dos olhos estavam dois objetos hexagonais.

— Lentes de Olho de Dragão. - Solução afirmou ao retirar uma e Morgana pegar a outra.

— Isso explica tudo, essa história ridícula de Lobisgão, o fato de estar no Olho de Dragão, a pessoa que criou o Olho de Dragão, também criou essa história ou a usou para esconder as lentes. - Morgana concluiu.

— Sim, e acabou dando certo se elas estiveram aqui até agora. - Soluço complementou.

Eles suspiraram aliviados por saber que tudo não passava de uma bobagem.

— Vamos voltar então, e finalmente colocar um fim nessa história. - Morgana falou.

Os outros dois assentiram e eles voltaram para os dragões para voltar ao Domínio. Tão rápido quanto eles chegaram na ilha, eles voltaram para casa. Pousando no deque dos estábulos, eles deram de cara com Bocão.

— Bocão, como está o Cabeça Dura? - Soluço perguntou.

— Sumiram, ele e a Galinha saíram pouco depois de vocês. Falou sobre saltar do penhasco mais alto quando se torna-se um dragão de verdade.

— O quê?! E você não achou que seria um pouquinho importante impedir isso?! - Morgana perguntou indignada.

— Eu estava ocupado.

— Fazendo o quê? - Soluço perguntou tão em choque quanto a morena.

— Estava extraindo o veneno da serpente do mar do Melequento, você, Morgana, sumiu e alguém tinha que fazer.  - Bocão se defendeu. - Vocês deviam ter ouvido, ele parecia um iaque sendo virado do avesso.

— Por que você não deu o tônico para ele não sentir dor?

— Que tônico?

Morgana soltou um suspiro de frustração.

— Depois eu dou uma olhada no Melequento, nós precismos fazer alguma coisa.

— Vamos falar com a Cabeça Quente. - Soluço deu a ideia.

— Também se mandou, foi procurar o irmão. Parece que ela acha que mesmo que ele se torne dragão, não sobreviveria ao voo, levou o Melequento junto. Eu fiquei até surpreso de ele ter ido, ele está bem ruinzinho.

— De novo, por que você o deixou ir então? - Morgana só soltou um grunhido de raiva quando Bocão se limitou a dar de ombros. - Olha, a gente tem que ir atrás deles, primeiro vamos impedir que o Cabeça Dura se mate no penhasco, depois eu cuido do Melequento.

Perna de Peixe e Soluço concordaram.

— Vá buscar a Astrid, nós vamos na frente.

Assim, Morgana foi atrás da amiga, para sorte da morena, ela estava na sua cabana, ambas estavam no ar e Morgana conseguiu explicar as coisas rapidamente antes de eles se juntarem ao Perna de Peixe e Soluço, afinal, o melhor lugar para procurar seria o pior e mais alto penhasco da ilha. Depois de alguns minutos, eles estavam certos, porque de longe eles puderam ver Cabeça Dura na ponta de um penhasco com Cabeça Quente perto, provavelmente tentando convencer com o irmão a não realizar a ideia idiota. Eles conseguiram pousar quando o loiro começou a rugir para a lua.

— Cabeça Dura, para! - Soluço gritou já pulando para fora do da sela em desespero ao ver o amigo tão perto da borda do penhasco. - Não há transformação! Você não vai se transformar em dragão nenhum! Morgana, Perna de Peixe, falem para ele.

— É verdade, nós encontramos a caverna do Lobisgão, era tudo um mito para deixar as pessoas afastadas disso aqui. - Perna de Peixe mostrou as lentes de Olho de Dragão.

— Cabeça Dura, ouça a gente, não é real, é um mito, não tem como você se tornar um dragão, a Lua já está no ápice há horas, e você está completamente normal. - Morgana também tentou explicar.

— Não, eu não acredito em vocês, eu estou horrendo, terrível!

— Cabeça Dura, você não está horrendo. Terrível, as vezes sim, mas horrendo não! - Astrid também o tentou convencer, mas parecia que ele não queria ouvir ninguém.

— Então, como vocês explicam isso? - Cabeça Dura estendeu o braço se referindo a marca de mordida, ele tinha arrancado as ataduras.

Todos ficaram em silêncio, mas Morgana jogou os braços para o alto não aguentando que parecia que o Cabeça Dura só ficava inventando uma justificativa atrás de outra.

— Por Thor, isso pode ser mordida de qualquer coisa, você não viu direito o que era, não é porque a Cabeça Quente não achou a combinação que ela olhou todas opções.

— Você só diz isso porque não sabe uma resposta certa. - Cabeça Dura se virou para fim do penhasco segurando a Galinha acima da cabeça. - Agora é hora de voar!

Morgana arregalou os olhos assutada, parecia mesmo que o Cabeça Dura iria pular, ela puxou a corda com o gancho da sela da Luna, pronta para lançar no viking, se ele não iria parar com aquilo pela razão, então seria pela força.

— Espera! Espera! Eu posso explicar! Eu posso explicar! - Todos se viraram quando viram Melequento aparecendo puxando um saco enorme que parecia carregar alguma coisa que se mexia muito.

— Você está pior do que eu, cara.

E estava mesmo, ele tinha marcas de mordida pelo o corpo todo, uma atadura envolta da cabeça e parte dessa cobria um olho também.

— Estou assim porque você tem uma irmã maluca e a curandeira resolveu sumir.

Morgana cruzou os braços impaciente, ela não tinha culpa se ele tinha virado cobaia.

— Melequento, o que tem na sacola? - Soluço perguntou por todos que não estavam entendo nada.

— Eu estou trazendo o que fez isso! - Ele esticou o braço e mostrou uma mordida que parecia mais recente que as outras e que para surpresa de todos, era igual a do Cabeça Dura.

— O Lobisgão pegou ele também! Salvem-se quem puder!

— Sério, Cabeça Dura?

— Não é um Lobisgão, não é nem um dragão, é um lobo! Eu peguei ele, você não vai virar um dragão, Cabeça Dura.

O alívio era visível no rosto do loiro, ele abriu um sorriso enorme de felicidade.
— Não vou? Não vou!

— Eu avisei que podia ser outra coisa. - Morgana abriu um sorriso arrogante e levantou o punha para bater com a da Astrid, finalmente tinha acabado.

— Eu só fiz você pensar nisso, mas não é verdade. É engraçado, mas não é real. - Melequento falou.

Com isso o clima tinha ficado relativamente menos tenso, até sorrisos foram abertos nos rostos dos jovens cavaleiros. Morgana suspirou aliviada, ela abriu a boca para falar que eles voltasse quando um pequeno estalo chamou atenção dela, por ter vivido anos sozinha, a garota tinha se tornado observadora em um nível que não era comum, então quando o chão aos pés do Cabeça Dura, bem na ponta do penhasco, ela viu e sabia o que iria acontecer.

Soluço estava sorrindo, aliviado com o desfecho quando um vulto negro passou por ele, o líder teve que piscar os olhos algumas vezes para ver que tinha sido Morgana que havia passado correndo por eles. Pela segunda vez em menos de dois dias, Soluço sentiu o coração parar completamente, porque Morgana parecia ter antecipado mais uma vez um acidente, pois quando Cabeça Dura levantou a perna para dar um passo para frente, o chão sobre os seus pés se desfez completamente o fazendo cair para a escuridão, e a curandeira tinha simplesmente pulado no mesmo buraco, depois disso um gancho saiu voando para cima, Banguela foi correndo até a borda e conseguiu pegar a corda pela boca.

Desesperados, todos foram até a borda, Soluço não tinha percebido em como havia segurado a respiração até que eles chegaram a borda, descendo pelo cabo da corda que Banguela segurava, estava Morgana segurando firme o objeto com uma mão e a outra segurava um pé do Cabeça Dura, que estava de cabeça para baixo segurando a Galinha.

— Bem, essa foi por pouco.

Morgana ouviu os suspiros de alívio de cima, ela olhou e viu um par de olhos verdes fixos nela, a garota logo desviou para outro par verde, mas este era animal, Banguela começou a puxar os dois. Quando estavam no chão, Morgana começou a enrolar a corda e viu Cabeça Quente correr para abraçar o irmão.

— Muito obrigada Banguela, me lembre de fazer aquele salmão que você gosta. - Morgana fez um carinho na cabeça do dragão e esse também recebeu uma lambida na bochecha de Luna o agradecendo por salvar a dona.

— Já sei, você vai dizer que se tocou do quanto me ama, em como estava com medo de me perder e nunca mais fazer essas coisas. - Cabeça Dura falou enquanto a irmã o abraçava.

— Na verdade, eu só iria dizer que você é um idiota.

Morgana sorriu com o reencontro fofo, geralmente os irmãos não compartilham afeto assim e era bonito ver, já que a morena perdeu o irmão, não podia deixar que Cabeça Quente passasse pela mesma coisa. A morena ainda podia sentir os olhos de Soluço sobre si, mas ela resolveu ignorar, não queria perguntar o que ele tanto olhava se fosse a ignorar depois de novo. Soluço percebeu que ele não parava de encarar a curandeira, então ele respirou fundo para alcamar o coração acelerado e começou a olhar ao redor para achar algo para se distrair até que ele percebeu um detalhe.

—Humm... Melequento, onde está o lobo?

Todos olharam alarmados ao redor até que um rosnado alto foi ouvido, dos arbustos pulou um lobo cinza com a boa aberta e os dentes a amostra bem na direção do Melequento, este soltou um gritinho alto se cobrindo com os braços esperando pelo impacto... mas não veio, quando Melequento olhou de novo, o lobo estava no chão dormindo, nas costas dele era possível ver um dardo, todos se viraram para a origem do disparo e viram Morgana com uma zarabatana.

— Você tem tudo ai, não é? - Astrid perguntou com os olhos arregalados.

Morgana deu de ombros: - Eu ando bem preparada, além do mais, valeu a pena por ouvir o gritinho do Melequento.

Com aquilo todos riram, menos o alvo da piada.

— Tira essa cara de emburrado, Melequento. Vamos voltar para o Domínio para eu te examinar. - Morgana foi para Luna, mas se virou antes para os outros. - Hum, seria bom realocar esse lobo para outra ilha, não queremos que ele morda mais ninguém.

— Certo. - Soluço tomou as rédeas da situação. - Astrid, Perna de Peixe, vocês reloquem o lobo para a ilha mais próximas, não demorem porque está tarde. Banguela e eu levamos os gêmeos de volta para o Domínio já que a Morgana vai levar... - Ele se voltou para a morena mas está já estava em voo indo embora com o doente. - o Melequento.

Soluço soltou um suspiro pesado antes de ir até Banguela com os gêmeos. Astrid quis protestar porque precisava conversar com Soluço, mas ela decidiu deixar passar porque ela e o Perna de Peixe eram os únicos com dragões, então apenas observou ele ir embora, antes de ir ajudar o amigo.

— Hum, Astrid, você também percebeu o clima estranho entre a Morgana e o Soluço?

Astrid pensou em soltar tudo em cima do Perna de Peixe, mas seria melhor não para a Morgana ter discrição. Eles colocaram o lobo no saco de novo e Tempestade ia carregá-lo.

— E por que você acha isso?

— Bem, quando nós fomos na ilha do Lobisgão, as coisas pareciam meio tensas entre os dois.

— Olha...

— Se bem que as coisas parecem estar estranhas desde o dia que a gente contou a história da Morgana para o Soluço.

Astrid piscou devagar antes de se virar para o Perna de Peixe.

— Espera um minuto! Você acabou de dizer que o Soluço soube do passado da Morgana por você e os outros?! - Astrid praticamente gritou, Perna de Peixe soltou aquele gemidinho característico dele quando não sabia o que falar.

— Bem, ele queria saber, ficou insistindo, então a gente contou.

— Ok. - Astrid tricou os dentes. - Nós vamos terminar esse trabalho logo, porque eu tenho uma coisa muito importante para fazer ainda hoje.

—--------------- xx ----------------

Soluço tinha acabado de colocar o jantar para o Banguela quando as portas da sua cabana se abriram com tudo, ele pulou de susto junto do dragão, mas ambos se acalmaram quando viram que era Astrid, porém, depois de ver o olhar da jovem, Soluço pensou que teria sido melhor se um caçador tivesse entrado.

— Astrid? Deu tudo certo com a transição do lobo? - Ele começou a falar coisas aleatórias para evitar a jovem. - Bem, eu tenho algumas anotações para revisar, a gente pode se falar amanhã. - Ele caminhou até a sua mesa de trabalho, mas Astrid claramente tinha esgotado já toda a paciência que tinha.

— Agora já chega Soluço , o que diabos aconteceu com você? - Astrid jogou os papéis dele da mesa no chão.

— Astrid! Está louca!? - Ele começou a pegar os papéis só para terem eles arrancados de suas mãos e jogados no chão de novo. - Astrid! Quer parar com isso?

— Eu paro quando você me responder.

O moreno desviou o olhar para o chão.

— Eu não sei do que você está falando.

— Por Thor, você não sabe, não é? Depois de todo esse seu showzinho seu com a Morgana. - Astrid suspirou antes de continuar. - O que vocês exatamente conversaram naquele dia?

Soluço sabia exatamente de quando ela estava falando.

— Olha, por mais que vocês sejam amigas, não acho que isso seja da sua conta.

— Não é da minha conta? É claro que é, porque a minha amiga passou por um inferno, recebeu o apoio de todos os amigos, mas chegou em casa, cheia de dor pelos ferimentos só para ter a pessoa mais importante para ela a tratar como lixo. Você não é assim, Soluço.

Daquela frase, uma coisa muito importante chamou a sua atenção.

— O que você quer dizer com "cheia de ferimentos"?

Astrid arregalou os olhos depois de entender.

— Você não sabe...

— Não sei o que?

— Eu não acredito nisso, Soluço! Você nem procurou saber a história toda! Ela foi torturada lá, chicoteada, afogada, Soluço! Torturada por informações nossas e não disse nada!

— O quê...? - Soluço estava em choque, torturada? Como ele não tinha ouvido sobre isso antes. O treinador de dragões ficou olhando para o espaço juntando as peças na sua cabeça e percebendo o quanto ele fora cego, em como ela escondia as costas no dia, como ela foi praticamente carregada por Astrid, ele também não a tinha visto nos dias seguintes, mas tinha achado que era porque ela ficara chateada com ele, mas devia ter sido porque ela estava em recuperação. - Os outros não me disseram nada.

— Perna de Peixe me disse que você tinha prometido falar com Morgana depois, e eu também achei que você tinha ouvido a história por ela e não pelos outros, eles apenas te disseram o básico Soluço.

— Como assim? - Soluço engoliu em seco.

O rosto de Astrid se suavizou, ficou mais compreensivo, Soluço parecia totalmente perdido, então a loira achou que ela deveria contar, porque depois do que a dupla tinha passado, a treinadora não sabia se Morgana conseguiria contar tudo de novo, não quando Soluço não deu uma chance para ela da primeira vez. Então ela contou, tudo, completamente tudo, do melhor jeito possível como se a história fosse dela, para que Soluço realmente entendesse, como ele deveria ter feito da primeira vez.

— Eu... porque ela não me disse isso antes?

— Porque ela achava que você iria reagir desse mesmo jeito que você reagiu, duvidando dela. - Astrid apertou o ombro dele em conforto, mas não pareceu deixar o moreno mais tranquilo.

— Se eu tivesse a deixado falar, o modo como eu falei com ela. - Ele apoiou a cabeça nas mãos. - Eu nunca a vi assim, como... - A palavra era salgada em sua boca. - ... uma traidora, eu só fiquei confuso.

— Então, você vai falar com ela agora?

— Eu não sei se ela quer falar mais comigo...

Depois de tudo que ele disse, melhor, de tudo que ele não disse, não sabia mais se tinha um modo de concertar as coisas.

— Você quase a perdeu duas vezes em dois dias, quer mesmo que o último momento entre vocês foi uma briga idiota causada por você?

Aquilo fez Soluço levantar a cabeça, ele ainda tinha aquelas duas cenas bem presas em mentes, duas vezes ele quase a perdeu, apesar de saber que Morgana tem plena capacidade de se proteger e de que eles corriam riscos todos os dias, de algum modo, o fato de eles terem brigado o deixava perturbado. Soluço sabia que se ele perdesse Morgana, não saberia mais o que fazer, ela era o futuro dele, não podia ser com mais ninguém. Agora, o futuro líder de Berk sabia o que queria, o que realmente sentia, ele já sabia antes, não conseguia dizer ou descrever completamente, mas agora ele podia dizer que estava completamente apaixonado pela Morgana, depois de ouvir a história parecia que os sentimentos dele só tinham aumentado graças a coragem que ela teve de enfrentar tantos inimigos de uma vez pelo o que ela acreditava e ainda tão jovem, com a ideia em que Soluço nem conseguia segurar um machado sozinho, quando ele nem sonhava em montar ou treinar dragões. Não podia perde-la, não iria perde-la.

Quando Soluço levantou a cabeça, pelo olhar determinado dele, Astrid sabia o que ele tinha decidido e abriu um sorriso.

—--------------- xx ------------------

Morgana estava exausta, foram muitas reviravoltas em dois dias, e sempre que um dos gêmeos está metido, ela tem muito mais trabalho, com o Melequento então, nem se fala, a curandeira nem sabe como o viking durou tanto nas mãos da Cabeça Quente, ela teve que retirar o resto de veneno da serpete do mar, limpar os ferimentos de mordia, enfaixar, e preparar 3 tipos de tônicos para ele: um para dor, outro para acelerar a cura e um para ele dormir. Quando ela quis se tornar uma curandeira como a mãe fora, não esperava que teria que trabalhar com 3 pessoas no mesmo ritmo que seria com uma tribo inteira.

— Você também está exausta, não é garota? - Morgana fez um carinho no queixo de Luna enquanto ela estava deitada na pedra. - Eu preciso fazer uma anotações e já vou dormir também, ok?

Morgana desceu de volta para o primeiro andar da sua cabana, para a sua área de trabalho, onde usava de consultório e se sentou na escrivaninha, ela tinha acabado de pegar o seu caderno a onde ela escrevia os ingredientes que precisava reabastecer quando ouviu uma batida na porta, a morena achou isso muito estranho, afinal todos os outros deviam estar dormindo já. Morgana foi até seu armário de armas e retirou um machado, devagar e em posição defensiva, ela andou até a entrada e puxou a corda ao lado para abrir a porta, levantou machado arrancando um grito de susto de Soluço.

— Por Thor, Soluço! - Morgana exclamou e abaixou a arma. - Quer me matar de susto?! Sabe que horas são?

— Desculpe, é.. eu só queria... - Soluço coçou a nuca em nervosismo.

Morgana não queria ver o moreno agora, mas se ele estava ali nessa hora da madrugada deveria ser sério.

— Você quer entrar?

Soluço engoliu em seco e assentiu rapidamente. Morgana abriu espaço para ele e depois foi guardar o machado no lugar, quando ela se voltou para o viking, ele trocava o peso do corpo de uma perna para outra e mexia com as mãos o tempo todo em claro sinal de nervosismo.

— Está tudo bem? Por que você veio aqui essa hora? - Morgana ficou preocupada. - Aconteceu algo com o Banguela? Ele está doente?

— Não, não, ele está bem, eu o deixei dormindo. - Soluço abriu um pequeno sorriso ao ver a morena suspirar de alívio, mas depois ele engoliu em seco de nervosismo. - Eu vi porque... porque eu sinto saudades.

Morgana sentiu as pernas tremerem: - O quê?

Soluço criou coragem e caminhou até para bem na frente de Morgana, se ele erguesse a mão poderia tocar em seu rosto.

— Eu quero me desculpar, Morgana. Eu fui idiota, não procurei saber a história toda, fui injusto e covarde. Por favor, me perdoe.

— Mas o quê?... por quê?Eu... - Morgana não sabia o que falar, há poucas horas ele nem olhar para ela e agora estava na sua cabana implorando por perdão.

— Se você quiser eu posso me ajoelhar por perdão.

Aquilo tirou Morgana do seu estados de transe e ela piscou recuperando o controle do seu corpo quando Soluço começou a se ajoelhar, a morena o puxou pelos braços para cima antes que ele fizesse aquilo.

— Soluço, não seja louco, você não pode se ajoelhar para mim... eu não sou ninguém.

Morgana soltou os braços dele, mas Soluço rapidamente pegou as mãos dela e as levantou no alto para que ele pudesse ver aquilo, as mãos deles unidas, juntos.

— Você não é ninguém, você é uma das pessoas mais importantes para mim e quase perder você hoje, eu não conseguiria viver mais.

— Soluço, porque você mudou...?

— Porque você tem uma melhor amiga que me fez perceber o quão idiota eu fui.

— Talvez isso só reforçasse algo para você, eu não quero estar aqui se você não confiar em mim. - Morgana soltou as mãos das dele e as segurou frente ao peito. - Porque doeu, doeu tanto que você estivesse me vendo como um deles, um monstro.

— Não, Morgana eu nunca achei... - Soluço sentiu as lágrimas de acumularem. - Eu nunca veria você assim, nunca.

Morgana olhou para o chão, não queria olhar para ele quando as suas próprias lágrimas já caiam.

— Por favor Morgana, por favor. - Soluço implorou, agora já chorava, não podia perde-la. - Eu confio em você com a minha vida, coma vida do Banguela.

Morgana soluçou e não aguentou mais, ela se jogou nos braços do viking a sua frente, Soluço a envolveu e a deixou chorar em seu ombro enquanto ele mesmo afundava o rosto no cabelo dela, os fios curto eram uma cortina macia contra a bochecha dele, e o cheiro, como ele sentiu falta, aquilo era um lembrete do que Ryker tinha feito a ela, e Soluço o faria pagar por isso, com certeza faira.

— Me prometa, me prometa, me prometa. - As palavras saíram um pouco abafadas, mas Soluço entendeu bem.

— Eu prometo. - Soluço a abraçou mais forte. - Eu prometo.

"Algum dia eu vou ajoelhar para você de novo e espero que você fique feliz."


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Notas finais do capítulo

Gente, eu acho impressionante em como os capítulos ficam grandes, eu não achava que isso iria acontecer nesse porque como o episódio da série é focado no Cabeça Dura, a Morgana não está em várias cenas, então eu não as escrevo, mas acabou ficando grande do mesmo jeito. Bem, posso dizer que não foi um capítulo fácil de se escrever porque eu acabei criando uma tensão no ultimo capítulo maior do que eu esperava e que foi bastante difícil de se trabalhar nesse, assim, eu até tinha pensado em aumentar o tempo da briga do casal, mas achei melhor não, não combina com os dois, e eu estava morrendo de saudades de escrever uma cena fofa entre eles. Então eu tenho uma pergunta para vocês, vocês gostaram de capítulos grandes assim ou acham cansativos demais? Porque eu posso diminuir, como grande partes das cenas são as mesmas da série, posso resumi-las, vocês que decidam.
Alguém entendeu o trocadilho no nome do capítulo?

Me contém o que vocês acharam. Vejo vocês no próximo capítulo ^^

kiss



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