Apartamento 308 escrita por Sidney Mills


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas, venho aqui trazer mais uma oneshot para vocês, que eu espero que curtam tanto quanto curtiram as outras.



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Ela une todas as coisas
Como eu poderia explicar
Um doce mistério de rio
Com a transparência de um mar

Ao escutar a voz de Jorge Vercillo, um cantor brasileiro, cantando a icônica ela une todas as coisas, entrando pelas frestas da porta do meu quarto, abro meus olhos devagar, tentando adapta-los à claridade do meu quarto, e movo meus lábios em um sorriso.

No apartamento de número 308, apartamento em frente ao meu, há dois anos, uma mulher de nacionalidade brasileira, cujo o nome eu nunca soube, pois o porteiro nunca quis me dizer e eu nunca perguntei, porque não tenho a coragem necessária para falar mais que um bom dia, ensinou-me a gostar de músicas e até mesmo a culinária do seu país, além de ter me feito conhecer e experimentar o que é paixão sem nunca termos trocado mais que duas palavras.

Todas as manhãs, sem exceção, ela me acorda sem saber, com uma de suas músicas que eu sei, fazem parte das suas preferidas, e que hoje em dia, são as minhas também. Especialmente essa de Jorge Vercillo. E eu, mesmo sendo cedo demais, levanto-me feliz. Escutar as mesmas músicas que ela, fazia-me sentir mais próxima dela, mesmo estando longe. E só essa sensação, já me deixava mais feliz e satisfeita. Para quem não sabia seu nome, e apenas obtinha um bom dia ou boa noite, já era muita coisa. Eu me sentia conectada com ela, apenas por escutar as mesmas músicas.

Tempos atrás, um mês depois de sua mudança ao apartamento vizinho, após tanto ouvir suas músicas, sem nunca entender nada, mas curtir a melodia, e ficar curiosa com o que cada uma dizia, eu estava em meu celular, certa noite após largar do trabalho, pesquisando com um aplicativo, o nome dos cantores e das músicas, e descobrindo sua origem. Foi assim que eu descobri sua nacionalidade. Um mês depois e eu estava em um curso de línguas, tentando aprender o português, para poder cantar e entender as músicas da vizinha do apartamento 308, e para, mesmo à distância, poder desfrutar de uma boa música com ela. Dois meses depois, após algumas tardes de estudo, tanto na internet, como na biblioteca comunitária, minhas amigas só encontravam comidas típicas do Brasil em minha mesa, sempre que vinham almoçar ou jantar comigo. Nunca souberam o motivo do meu repentino interesse pela cultura e o país, até que... Até que um dia, quando vieram me visitar em uma sexta-feira à noite, e ao abrir a porta para elas entraram, e dar de cara com a vizinha saindo do seu apartamento, eu fiquei petrificada, observando-a se afastar e sumir no elevador, e denunciei a minha admiração secreta pela mesma.

Sempre que eu a encontro nos corredores do condomínio, meu coração faz uma festa diferente, o meu sangue gela com o nervosismo, meus olhos e lábios sorriem involuntariamente, meu estomago revira, querendo libertar todas as famosas borboletas da paixão, e eu quase perco a fala apenas para lhe desejar um bom dia ou boa noite. Às vezes, sinto-me como uma criança com medo de dar os primeiros passos.

O seu cabelo curto e encaracolado me alucina, seu olhar cor de chocolate me incendeia, seus lábios com uma delicada cicatriz, quase sempre pintados de vermelho, tiram-me o juízo, sua voz desejando-me um bom dia de volta, mexe com todos os meus sentidos, e me fascina, seu cheiro sempre fica por horas em meus sentidos, seu andar me hipnotiza, e sempre que ela sorri, eu me perco no tempo.

Mas, nem sempre foi assim. Nem sempre ela me respondeu os cumprimentos. Nem sempre ela me olhou. Nem sempre ela me sorriu. Nem sempre ela me notou.

Logo depois que, influenciada por ela, comecei a ouvir as mesmas músicas, desenvolvi uma admiração e, sucessivamente, uma paixão por ela e sua cultura. Mas tudo o que eu sabia era que, ela era brasileira, gostava de batons da cor vermelha, roupas escuras, músicas populares brasileiras, adorava animais, e tinha um cachorro de porte pequeno, que chamava carinhosamente de Maggie.

Eu tentava me aproximar, discretamente, é lógico, mas ela sempre fugia. Não descaradamente, mas fugia.

Sempre que eu estava em sua presença, eu pensava em começar um assunto, mas ela nunca me olhava, ou ficava perto de mim por muito tempo. Sempre me ignorava no elevador, no corredor, no portão, no salão de festas, ou na garagem. Quando tinha reuniões do condomínio, eu não desviava o meu olhar dela nem por um segundo, quando era sua vez de dar sugestões, mas ela nunca retribuía. Mantinha-se forte olhando para outra direção. Eu me sentava ao seu lado, mas sentia-me invisível, como aquela personagem do filme dos incríveis. Eu desejava um bom dia, mas nunca obtinha respostas. Eu sempre tentava chamar a sua atenção de alguma forma, mas ela nunca via. Nunca percebia. Nunca me notava. Ela era tímida, e mesmo percebendo isso, eu me sentia inexistente.

Eu só vim ter progresso em minhas tentativas quando, uma vez, ficamos presa no elevador, quando faltou energia, e o gerador não funcionou, e o porteiro não atendia o telefone de emergência.

~•~

Um ano atrás

Tocava uma música suave nas caixas de som do elevador, e eu assobiava baixinho no seu ritmo. Eu estava em uma ponta, encostada à parede, observando-a de canto de olho. E ela, olhava-se no espelho, mexendo em seus cabelos.

Em minha mente, eu ensaiava milhões de formas de iniciar uma conversa.

ꟷ Oi, tudo bem? Eu sou a Emma, a sua vizinha do 310. Você é brasileira?

ꟷ Oi, tudo bem? Todos os dias eu escuto as suas músicas, e acabei me apaixonando por elas.

ꟷ Oi, tudo bem? Acho as suas músicas muito interessantes.

― Oi, tudo bem? Você é brasileira?

Mas nenhuma era boa o suficiente, ou me parecia ser.

Eu nunca fui boa em iniciar conversas, ou mesmo mantê-las. Mas sempre tive sorte de conviver com pessoas que sabiam fazer, e eu não precisava me preocupar.

Tudo o que eu queria, era poder conversar sobre suas músicas tocadas de manhã cedo, as culpadas por essa paixão secreta por ela ter começado, sobre o seu país, pois, de verdade, passei a me interessar por ele e toda a sua cultura, sobre os seus gostos culinários, queria poder dizer o quanto eu me apaixonei, graças a ela, por Jorge Vecillo, Seu Jorge, Caetano Veloso, entre outros. Mas eu não sabia como começar essa conversa sem me sentir uma idiota, ou ficar vermelha de vergonha, e ela não colaborava também.

Estávamos quase chegando em nosso andar, quando o elevador parou de repente, e as luzes se apagaram. Eu já sabia o que havia acontecido. Tinha falto energia.

Olhei rapidamente para a morena ao meu lado, e foi a primeira vez que ela me olhou nos olhos. Foi preciso um solavanco do elevador para eu voltar a realidade e me desprender de seus castanhos, que estavam bastante assustados.

Peguei o telefone de emergência, e disquei o número 24, que era da portaria, mas o Sr. Boston não atendia.

ꟷ Não se preocupe. Eu ando com a chave de segurança. ꟷ Disse-lhe, colocando a mão em minha bolsa, e puxando uma chave de fenda.

Vi sua mão estendida para mim, e entendi que ela pedia para segurar a minha bolsa, enquanto eu destravava a porta.

Quando o fiz, vi que o elevador ficara preso entre dois andares, e precisaríamos escalar, com a ajuda uma da outra, se quiséssemos sair dali.

ꟷ Vamos ter que escalar. ꟷ Avisei fazendo uma careta, mas no fundo, nervosa com a possibilidade de sentir o meu corpo encostado ao seu, e já imaginando como seria poder tocar em sua mão depois, e ter o seu cheiro grudado em mim.

Peguei minha bolsa de suas mãos, guardei a chave de fenda dentro, e apontei para o chão do andar de cima, que era justamente o nosso.

ꟷ Farei um apoio, e você sobe, ok? ꟷ Ela assentiu rapidamente, demonstrando o nervosismo em seus lindos olhos castanhos.

Uni meus dedos, transformando minhas mãos em um degrau, e ela colocou o primeiro pé, meio incerta.

ꟷ Pode confiar. ― Disse com firmeza, tentando passar confiança.

E então ela tocou em meu ombro, deixando-me arrepiada, e impulsionou-se para cima, segurando-se no chão do andar. Agarrei suas pernas, sentindo o cheiro do seu suave perfume, e a empurrei para cima, até que conseguisse subir por completo. Quando se sentou no chão, abaixou-se rapidamente e estendeu seu braço para mim. Fiquei surpresa, pois imaginava que me deixaria ali, para ir atrás do porteiro, pedir ajuda. Segundos depois, quando começou a me puxar, o Sr. Boston chegou, e juntos, puxaram-me para cima também.

Após o porteiro nos pedir perdão trezentas vezes e ir embora, com uma expressão de alívio, ela me agradeceu algumas vezes, e também foi embora, deixando-me com um largo sorriso nos lábios, o cheiro do seu perfume em minha roupa, e a boa sensação de ter tocado em sua mão.

~•~

Desde então, principalmente depois que eu tive o prazer de conhecer a sua fiel companheira, e a cadela se apaixonar perdidamente por mim, ela passou a falar comigo todas as vezes que nos esbarrávamos, seja no prédio, ou na rua. E todos os dias antes de dormir, uma história nova de romance, com nós duas de protagonistas, acontecia em minha mente.

Eu fechava os olhos, colocava Jorge Vercillo para tocar, a música que sempre me lembrava ela, por ser exatamente como a música diz, por ser a que ela mais escutava, e porque eu sabia que era uma de suas preferidas, e deixava minha mente viajar para as mais diversas formas em que nos aproximávamos, apaixonávamos, namorávamos e nos amávamos.

Todas as noites eu a namorava em meus sonhos, e todos os dias, eu a namorava em pensamentos.

•§•

Após tomar o meu café da manhã, pego minha mochila, e saio para mais um dia de trabalho, e como programei, desde que minha secreta paixão começou, no mesmo horário que a minha vizinha do apartamento 308.

Encontro-a no elevador, desejo-lhe bom dia, e quando chego na garagem, sigo para o meu carro, e ela para o dela. Uma Mercedes linda, que sempre me deixa babando.

Na hora de passar pelo portão, eu sempre deixo-a passar primeiro, só para ter a oportunidade de lhe ver por mais tempo, e receber um sorriso em agradecimento.

Coloco Seu Jorge para tocar, e quando saio da garagem, uma coisa diferente de todos os dias, acontece.

Ao invés dela seguir para o lado esquerdo, como sempre, segue para o mesmo lado que eu, e dez minutos depois, para no acostamento.

Antes mesmo que eu pudesse raciocinar, para entender o que acontecia, ela já estava olhando para mim, de fora de seu carro, chamando-me.

Sem pensar duas vezes, ligo o alerta do meu velho carro, e paro logo atrás do seu.

Surpreendendo-me mais uma vez naquele dia, antes mesmo que eu perguntasse o que havia acontecido, ela toma a frente em me dizer o ocorrido.

ꟷ Meu carro quebrou, e eu estou muito atrasada. ꟷ Faz uma careta, que eu achei adorável e fiquei feliz por ver mais que sorrisos ou apenas olhares. Senti que estávamos progredindo mais uma vez. ꟷ Sei que não nos falamos muito, apenas alguns “bom dia” esporádicos... ꟷ Sorriu, e eu desejei passar o dia ouvindo mais daquele som. Bem clichê, eu sei, mas real. Muito real. Nunca acreditei muito nessas coisas, até tudo acontecer comigo, exatamente como eu apenas lia que acontecia. ꟷ Mas será que seria pedir muito, se você me desse uma carona até o prédio do New York Times? Eu tenho uma reunião em uma hora e não posso me atrasar.

Ao ouvir para onde ela iria, meu coração parou por alguns segundos, e quando voltou, bateu mais rápido que os pandeiros de uma escola de samba, que aliás, é meu sonho ir conhecer o Rio de Janeiro, e ver uma pessoalmente.

Como assim ela estava indo para o mesmo lugar que eu trabalho?

ꟷ Claro! Eu trabalho lá. ꟷ Sorri-lhe, segurando a minha vontade de gritar. Depois dessa surpreendente coincidência, nada mais me afeta ou me surpreende.

ꟷ A propósito, meu nome é Regina! ꟷ E estende a mão para mim, deixando-me perplexa. ― Regina Mills! ― Sorri-me, dessa vez, um sorriso que me mostrou sua arcada dentária quase toda.

OK! Talvez eu tenha falado cedo demais.

ꟷ Prazer, Emma. ꟷ Apertei a sua mão com gosto, sorrindo ainda mais. ꟷ Emma Swan! ― Acrescento, exatamente como ela fez, na esperança de que ela use essa informação, assim como irei fazer quando chegar em casa, para me procurar em algum lugar, e saber mais coisas sobre mim, exatamente como costuma acontecer nos famosos clichês, em filmes, séries e livros. ― Vamos? ꟷ Chamei-a, mais animada que o normal.

ꟷ Claro! ꟷ Ela trancou o seu carro, e então seguimos para o meu.

E então, com o progresso que tivemos naquela manhã, eu senti, que a partir daquela carona, as coisas não seriam mais como antes. Que agora, passaríamos de esporádicos cumprimentos de bom dia, boa tarde, ou boa noite, para boas conversas, de preferência, com mais de cem palavras.

Eu havia criado a esperança de que agora eu iria conseguir conversar com ela sobre suas músicas brasileiras, iria lhe contar como me apaixonei pelas mesmas, e como as conheci, um dia, quem sabe, seriamos mais que vizinhas e amigas, eu pararia de namorá-la sozinha, em sonhos e pensamentos em minha brilhante mente, e quem sabe até, iriamos ao seu país de origem, para eu conhecer de perto, com ela sendo minha guia, a cultura brasileira, que ela, mesmo sem saber, fez-me ficar apaixonada.


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Notas finais do capítulo

Assim que terminei essa fanfic, outra autora, "TheParrilland" teve uma ideia, que eu adorei, de fazer outra oneshot, com outra música, como uma continuação dessa daqui. Ficamos bem animadas com a ideia, e esperamos que vocês curtam tanto quanto a gente curtiu.

*Apartamento 310: https://www.spiritfanfiction.com/historia/apartamento-310-11515741

Músicas citadas/usadas:

*Ela une todas as coisas - Jorge Vercillo: https://www.youtube.com/watch?v=8FG3JhhKx8c

*Mina do condomínio - Seu Jorge: https://www.youtube.com/watch?v=2GsBx_SmjOI



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