Revolução escrita por The Stolen Girl


Capítulo 1
Epifania


Notas iniciais do capítulo

Espero que você goste, Ane ♥ (e todos os outros que escolheram vir até aqui)



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Ninguém nunca soube decifrá-lo. Todos os passageiros relacionamentos que tivera foram uma sucessão de decepções, visto que se sentia vazio ao tentar fazer algo dar certo. Nunca teve a paciência ou sequer a vontade de permanecer ao lado de alguém por tempo suficiente para que de fato conhecessem um ao outro além do que o cotidiano revelava. Às vezes culpava sua infância por isso, o fato de os pais nunca terem tentado de verdade estar presentes para ele, nunca terem se preocupado com o que se passava na cabeça do filho. O casamento fracassado dos pais, findado quando o rapaz completou 17 anos, fez com que seu coração deixasse de acreditar que algo do tipo poderia dar certo para qualquer pessoa.

Por isso, ao se pegar pensando nela, tentou entender o que havia mudado dentro dele. Entender, dentre tantas outras coisas, como não conseguia esquecer o olhar da garota por detrás das lentes dos óculos que ela usava. Ou como se sentiu intimidado em sua presença, vulnerável, exposto. Queria entender como um encontro de dois minutos num elevador bagunçou sua cabeça por dias. Se ele acreditasse em destino ou amor à primeira vista, talvez fosse fácil. Porém, nada disso fazia parte do vocabulário dele. Só o que sabia era que provavelmente nunca mais a veria, e que daqui algum tempo não pensaria mais nela como um acontecimento tão relevante, como agora. Porque, ao contrário do que gostaria, aquele olhar lhe causara um desconforto tão profundo que ele passou a questionar toda a sua vida. Afinal, o que fez durante seus 26 anos de existência? Será que, como ela, seus olhos estampavam tantas aventuras e desejos? A verdade é que ele nunca achou que o mundo estivesse a sua altura. E antes, ele nem sequer questionaria quem era aquela moça e porque diabos seus olhos continham toda a verdade do mundo, uma verdade que ele não conseguia acessar por si só.

De fato, nunca quis saber a história de ninguém, mas se imaginou construindo toda uma vida para a garota do elevador. Criou, em sua mente, um apartamento bagunçado e gatos de estimação. Um namorado sorridente e meio preguiçoso deitado no sofá, além de uma televisão ligada no jornal. Durante a semana, ela sairia para trabalhar, talvez em alguma loja, e iria aos fins de semana para a casa dos pais. Na vida que ele inventou para ela, não havia nada de extraordinário, mas nada faltava. Porque os olhos dela o fizeram acreditar que nada que ela quisesse na vida já não tinha sido executado.

No entanto, ele nunca chegaria a conhecer Anelise. Nunca descobriria seu nome, nem que a sagitariana que tinha quase sua idade nutria um imenso amor pela escrita e a leitura. Nunca assistiria um dorama de sua indicação, nem visitaria a casa dos pais dela, com os quais ela ainda morava. Nunca ouviria sua playlist de canções japonesas e nem teria acesso a sua espontaneidade ou reclamações. Anelise seria para ele simplesmente a garota do elevador, aquela que causou em seu âmago uma revolução.

Olharia para sua vida de uma forma diferente. Seu próprio apartamento, minimamente organizado e cheio de móveis, mas inexplicavelmente vazio de significado. Seu escritório no trabalho, a mesa abarrotada de papéis que ele, na verdade, odiava avaliar. As escolhas que fizera até lá e não o levaram a lugar algum além de uma vida sem emoções. Ao se lembrar dos olhos da garota, enchia-se da força que nunca teve para realizar mudanças em sua realidade que agora se revelava tão desconcertante.

Achava que nunca entenderia o motivo daquilo. Na verdade, não esperava entender como um par de olhos poderia ser o gatilho para tantas revelações e autoconhecimento. No momento, era o que menos interessava para ele. O fato é que, Anelise, onde quer que estivesse, tinha operado mudanças na vida de um homem que nunca mais veria, e para o qual nem se lembrava de ter olhado no elevador.

Afinal de contas, o que mais importa não é saber o bem que fez, e sim fazê-lo apenas por ser você.

fim


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