A armadura de Reyna escrita por victor hugo, victor hugo


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem :3



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— Eu estou te dizendo, Piper, essa não foi uma boa ideia.

— Ah, mas é claro que foi, Reyna! Por que é que você está dizendo uma coisa dessas?

Reyna faz um gesto expansivo com as mãos, daqueles que indicam o quão não-confortável ela está ali, vocês sabem, no meio de todos aqueles cabides e tecido e meninas pré-adolescentes que parecem muito, muito desesperadas por shorts jeans que, francamente, não são nem um pouco atrativos para Reyna.

— Por causa disso, talvez? – ela diz.

— É só um shopping. Não são monstros que escaparam do Tártaro.

— Eu sei disso, Piper, eu não sou idiota, é só que...

— Vocês não têm nenhum no Acampamento Júpiter, é isso? – ela supõe – Você nunca entrou em um antes?

— Não se eu pudesse evitar – é a resposta de Reyna.

Piper sorri. Para Reyna, o sorriso soa um tanto demoníaco demais, mas talvez seja apenas coisa da sua cabeça.

— Não é tão ruim assim, Reyna.

— Preferia passar o dia inteiro discutindo com náiades raivosas.

— Você está exagerando.

— Tá. Ok. Talvez. Mas eu só não acho que isso aqui é legal.

— Reyna!

— E, posso falar a verdade? Também não achei que você gostasse.

Piper dá de ombros.

— Bem, é. Mas também é uma daquelas coisas que garotas da nossa idade gostam de fazer com as amigas, não é? Eu só estava pensando que, depois de tudo o que já aconteceu, ia ser divertido a gente vir aqui e sair com algumas sacolas cheias de roupas...

— McLean, nunca imaginei que esse momento chegaria, mas eu preciso te dizer uma coisa: você está parecendo uma filha de Afrodite.

Piper contrai os lábios por um instante antes de responder.

— Eu só achei que ia ser melhor ficar aqui, no meio de todas essas coisas, do que passar o dia inteiro se preocupando com o que a minha mãe te disse... – Piper diz.

Dessa vez, Reyna não dá resposta nenhuma, nem mesmo um movimento sequer em seu rosto. Mas, se tratando de Piper McLean – não, não aquela parte que tem sangue de Afrodite correndo nas veias, mas aquela capaz de sentir empatia –, talvez isso já tenha sido o suficiente.

— Eu já te disse que ela só fala essas coisas pra irritar a gente.

Reyna continua sem dizer nada.

— E nem é como se os deuses soubessem de tudo, não é? Tipo, nós temos duas guerras só nos últimos anos só pra provar isso...

Piper continua falando e falando e falando, mas Reyna não presta muita atenção. Nesse momento, o que realmente se passa em sua cabeça são as palavras que ouvira de Vênus uma vez. Que ela não encontraria o amor onde espera, que nenhum semideus jamais curaria seu coração. Em outras palavras, enquanto todos os outros estavam saindo com alguém, ela ainda teria que enfrentar uma vida solitária pela frente.

— ... estão preocupados demais com as suas próprias vidas para cuidar das nossas...

Quer dizer, ela até já tentou imaginar que isso era uma coisa boa e que talvez ela fosse uma daquelas pessoas que realmente não precisavam estar em um relacionamento para se sentirem seguras e confiantes e que ela realmente não ia ter tempo para constituir uma família quando ainda tinha todos aqueles problemas pós-Gaia para resolver, mas... Ouvir uma deusa dizendo isso deixava tudo tão... Estranho.

— Reyna! – Piper chama – Você está me ouvindo?

Reyna, um tanto avoada, se limita a concordar com a cabeça.

— Então, vamos lá, prove logo essa saia – e, antes que Reyna possa dizer qualquer coisa, Piper joga o pedaço de pano dourado peça sobre os seus ombros. Reyna levanta as sobrancelhas, surpresa com o gesto.

— O que? – é o que ela consegue dizer.

— Faz o seu estilo, não faz? Quer dizer, eu nunca te vi usando nada que não fosse essa armadura de pretora e, bem, imaginei que você não gostasse muito de shorts ou calças...

— Não é isso. É só que eu gosto da armadura.

— Mas você não pode usar ele todo dia.

— Você duvida?

Piper cruza os braços.

— Troque de roupa, Reyna.

— Ei! Não tente usar o seu charme comigo!

— Eu não estou “usando o meu charme em você”! Só estou te sugerindo algo novo!

— Eu não vou usar essa saia.

Piper suspira.

— Calças, então?

— Eu prefiro a minha armadura, já disse.

— Ele não é uma opção.

— Então é melhor nós irmos embora de uma vez.

— Você é sempre assim tão ranzinza?

— Você consegue extrair o pior de mim.

— E não consigo te fazer experimentar uma saia? Sério?

— Não sei porque você está insistindo tanto nisso.

— Porque não se trata apenas da sua roupa, Reyna, mas da forma como você vê o mundo.

— E o que isso quer dizer?

— Você sabe, talvez mudar um pouco.

— Mudar? Eu sou uma Ramírez-Arellano, filha de Belona, a pretora do Acampamento Júpiter, a semideusa que protegeu a Atena Partenos de Órion, eu não tenho o que mudar.

— É, mas a guerra acabou. Você tem que aproveitar os tempos de paz também.

— Eu sei aproveitar os tempos de paz...

— Você passa o dia inteiro de armadura, isso por acaso é aproveitar os tempos de paz?

— Eu quero estar preparada, é só isso. Quer dizer, você tem a sua voz sempre com você, mas nem todos nós...

— Nós duas sabemos que não é isso, Reyna.

Reyna hesita antes de dizer mais alguma coisa. Piper está certa, afinal. Para ela, é mais fácil passar o dia inteiro enterrando adagas de prata em um boneco de boxe do que fazer qualquer outra coisa... Não, não qualquer outra coisa, ela sabe bem. Impedir que seu corpo continue em movimento constante só vai fazer com que seus neurônios se mexam.

E ela tem algumas memórias que prefere manter guardadas. Vocês sabem, sobre seu pai, ou Hylla, ou qualquer coisa que não tenha acontecido nos últimos poucos meses. É fácil mantê-los longe quando ela está se ocupando com outras coisas, coisas mais importantes, mas, ás vezes...

Mais uma vez, Reyna se lembra da mãe de Piper dizendo que semideus algum curaria seu coração. Se lembra da própria Vênus dizendo também que ela não encontraria o que deseja onde espera, não é? Então, por que, bem, esperar por alguém? Ela prefere manter os pensamentos em ordem por conta própria, pelos seus próprios métodos.

— Então você realmente não vai falar nada? – Piper insiste.

— Imagino que não.

— Nem mesmo tirar essa armadura?

— Você faz mesmo tanta questão disso?

— Nada me deixaria mais feliz.

— Que... Peculiar.

— Eu não espero que você entenda.

— Eu realmente não entendo.

— Você precisa se abrir mais.

— Eu não preciso me “abrir mais”.

— Ah, qual é! Quer dizer, o que eu sei sobre você?

— O que você precisa saber.

— Isso é o suficiente?

— Para entender que eu gosto da minha armadura? Acho que não.

— Isso já está ficando ridículo.

— Isso só prova o meu ponto, que você é tão fechada que não pode nem aceitar um conselho.

Reyna volta a levantar as sobrancelhas.

— Um conselho?

— Só se deixe ser ajudada, tudo bem?

— Eu não...

— Eu não estou pedindo pra você me contar toda a sua história, é claro que não, você não precisa fazer isso. Eu só quero que... bem... Quando você estiver pronta, saiba que eu estou aqui, para ouvir o que é que você tem a dizer, está bem? Ou até só pra conversar, se for só isso que você quiser...

Reyna pisca algumas vezes, surpreendida por aquelas palavras.

— Piper...

— Se for isso que você quiser saber, você não precisa vestir a saia se não quiser, está bem?

Reyna apenas encara Piper como resposta. Não sabe muito bem como lidar com essa situação porque, bem, nunca passou por coisas assim antes. Quer dizer, ela não é bem o tipo de pessoa que os outros olhem e parem para oferecer ajuda nem nada assim. Ela sempre foi a pretora, ora bolas, precisava instigar força aos seus soldados...

Mas, parando pra pensar, talvez ela não precise ser mais essa Reyna Impenetrável. A guerra já acabou, não é? Talvez seja mesmo hora de deixar que alguém realmente ultrapasse pelas fendas de sua armadura, não é? Talvez a armadura em si já estava ultrapassada.

— Quer saber, McLean? Você está certa.

Dessa vez é Piper quem fica surpresa por ouvir aquelas palavras, Reyna consegue identificar isso no rosto dela, na forma como seus olhos ficam meio esbugalhados. Reyna estende a mão para ela.

— Me dá aí a saia.

Depois do que se parece tempo demais processando a informação, Piper sorri. E estende a saia para ela. Ignorando o quanto aquela cena pode ser estranha para todas as garotinhas mortais, Reyna não hesita em agarrá-la das suas mãos.

— Você sabe de uma coisa? Agora eu entendo porque Jason Grace gosta tanto de você.

Piper sorri como resposta.

E, para a sua própria surpresa, Reyna está sorrindo também.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? :D



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