HOLD THE LINE - Livro #01 escrita por Lyra


Capítulo 8
CAPÍTULO 8 - Highway to Hell




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/751085/chapter/8

Deitada de costas sobre a cama e com a cabeça apoiada no braço enquanto encarava o teto, Louise não conseguia pensar em outra coisa além de todos os eventos passados com as crianças naquele dia. Seus pensamentos consistiam em teorias macabras relacionadas aos perigos que o futuro lhe reserva e sobre o paradeiro do Will. O que mais havia a assustado fora a citação relacionada ao Demogorgon. Não queria acreditar que tal monstro fantasioso de um jogo de RPG fosse real, muito menos que esse monstro estava correndo atrás do melhor amigo do seu irmão. Mas depois que Eleven provou que mutantes são reais e habitam o planeta Terra, não descarta a possibilidade que existe perigo no escuro e coisas muito além da sua compreensão e ceticismo, tornando assim os seus medos mais intensos e reais.

Respirando fundo, puxando o máximo de ar com os pulmões. A adolescente virou para o lado com a esperança de conseguir pregar os olhos, pelo menos por alguns instantes naquela noite. Mas o medo era maior, o medo de perder o irmão mais novo para o tal monstro, medo de que as pessoas que estão atrás da Eleven invadam sua casa e acabe matando toda sua família enquanto dormem.

― Merda! ― Exclamou levantando da cama com um sobressalto.

Os pensamentos terríveis em relação à segurança da família a despertaram, deixando Lola completamente ativa. Ela calçou as pantufas e, sorrateiramente, começou sua caminhada em direção à sala. Recordava que embaixo de um assoalho solto no chão da sala, próximo a estante de livros, seu pai havia escondido uma arma de pequeno calibre que deveria ser usada apenas para a "segurança" dos membros da família. O Sr. Henderson chegou a dar algumas aulas de tiro para a jovem quando a mesma tinha idade do Dustin, para que ela soubesse manusear o instrumento quando chegasse a hora. A menina sempre foi contra o armamento, mas aqueles eram tempos difíceis e precisaria estar protegida a altura caso os "homens maus" resolvessem aparecer de repente.

Com as mãos trêmulas por segurar tal objeto, Louise certificou de que o mesmo estava carregado antes de travar e esconder no cós da calça. Ninguém, em hipótese alguma, deveria desconfiar de que estaria em posse de armamento a partir daquele instante. Silenciosamente ela subiu as escadas, antes de regressar para o quarto, parou por alguns instantes no quarto da mãe e do irmão, querendo se certificar de que ambos estavam vivos e protegidos.

Após se certificar de que todos estavam bem, Lola regressou para o quarto com o intuito de buscar um local seguro e de fácil acesso onde poderia esconder a arma enquanto dormisse. Afinal, ela não poderia dormir com o objeto no cós da calça, andaria com ele naquele lugar apenas quando tivesse de sair de casa.

O barulho de pequenos pedregulhos batendo contra o vidro da janela do quarto chamou a sua atenção, interrompendo assim a busca pelo local seguro onde poderia esconder a arma e fazendo com que todos os pelos do corpo fossem tomados por um forte arrepio. Segurando a arma nas mãos, ela aproximou com passos sutis da janela, estando pronta para o que tivesse de enfrentar.

― Psiu! Lola! ― O coração da menina ficou mais leve quando ouviu a voz do Jonathan atravessar a fresta que havia aberto para descobrir da onde vinha o barulho. Sentindo o peso do mundo deixar seus ombros, ela voltou a esconder o objeto no cós da roupa. ― Louise Henderson!

― Oi! ― Exclamou a menina quase num sussurro enquanto inclinava o corpo para frente e abria por completo uma parte da janela.

― Desça, preciso de ajuda para procurar o meu irmão ― Falou o Byers mais velho gesticulando para que ela pulasse a janela. ― Venha comigo, por favor.

A menina chegou a ponderar por alguns instantes o pedido do melhor amigo, depois de todas as coisas que havia descoberto naquela tarde, não era sua pretensão largar a mãe e, muito menos, o irmão mais novo sozinhos em casa. Mas também não poderia deixar Jonathan perambular pelos lugares sem a proteção devida, correndo assim o risco de encontrar o tal Demogorgon no caminho.

― Eu... ― Ela ameaçou fechar a janela, pensando seriamente em negar o pedido do rapaz. Porém acabou cedendo ― Um minuto... Já estou descendo.

A adolescente fechou a janela do quarto por uma fração de segundos, apenas o tempo necessário para ela preparar a cama como se estivesse embaixo das cobertas caso a mãe ou o irmão resolvessem procura-la e calçar os tênis. Não importava de deixar a casa de pijamas pela segunda vez naquela estranha semana. Sabendo exatamente onde pisar, ela caminhou até a beirada do telhado e desceu pela calha, caindo nos braços do melhor amigo que já a esperava.

― Onde você esteve essa tarde? ― Perguntou a menina aos sussurros enquanto caminhavam com passos rápido até o carro do rapaz.

― Fui ver o Lonnie ― Respondeu o menino com expressões descontentes. ― Ver se ele sabia alguma coisa sobre o Will.

― E alguma novidade? ― Lola sentou com as pernas cruzadas no banco e virou preocupada para o melhor amigo.

― Nenhuma, infelizmente ― Jonathan suspirou fundo com pesar.

― Odeio ele ― Murmurou a menina voltando o olhar para frente.

Por mais que não fosse do feitio da Louise falar mal sobre os familiares dos melhores amigos, abrindo exceção para Nancy. O patriarca da família Byers pedia para ser odiado pela morena, por passar grande parte do tempo com a família, ela tinha conhecimento sobre todos os maus bocados que o homem fez, não apenas os meninos, mas Joyce passar. Ela o odiava, com todas as suas forças e não escondia isso de nenhum membro da família Byers. Felizmente Jonathan não a levou para o encontro com seu pai, caso contrário não esconderia as expressões de desgosto na face e até falaria poucas e boas para o homem.

[...]

A Floresta das Trevas não ficava muito distante da casa da família Henderson, tanto que o caminho até o local fora silencioso. Nem mesmo uma música fora colocada no rádio para tocar e servir de trilha sonora aos amigos. A perna esquerda da adolescente não parava de tremer, o que chamou a atenção do rapaz, o fazendo pousar sua mão sobre o joelho da menina com o intuito de amenizar seus nervos.

Quando Jonathan estacionou o carro na estrada fechada pela policia, Louise sentiu o coração bater acelerado e um fio gelado de suor escorrer por sua espinha. A Floresta foi o último lugar onde Will fora visto e o local onde encontraram Eleven. Apenas coisas estranhas estavam acontecendo ali, dando razão ao apelido recebido.

Enquanto Jonathan pegava a câmera fotográfica no bagageiro do carro, Louise perdia o seu olhar em meio as árvores, temendo que aquele fosse o fim de suas vidas. A Floresta parecia mais escura e assustadora que o habitual, a menina podia jurar que até uma energia esquisita dominava o recinto. Caso não tivesse escutado as coisas que Eleven disse, não teria medo de ingressar no recinto, porém, sabendo que havia coisas além da sua compreensão rondando a cidade, ingressar com Jonathan anoite na floresta era o seu pior pesadelo.

― Vamos. ― Avisou Jonathan entregando uma lanterna para Louise, enquanto segurava com força a câmera fotográfica em mãos. ― Preciso que seja minha luz, Lola.

― E quando não sou? ― Brincou a menina acendendo a lanterna e a apontando no chão.

A adolescente seguiu Jonathan para dentro da Floresta, sentindo o coração apertar ao atravessar a faixa posta pelo capitão Hopper. Lola mantinha sempre uma mão nas costas, ficando pronta para retirar a arma do cós das calças a qualquer momento e a outra na lanterna, iluminando todos os locais pedidos pelo rapaz para ajuda-lo a fotografar melhor as evidências que os ajudariam a encontrar Will.

A dupla permanecia em silêncio, sabiam que não deveriam estar ali. Mas encontrar Will era mais importante do que qualquer outra coisa, chegando a ser mais importante que a própria segurança. Lola recordou da El dizendo que o menino estava se escondendo, talvez o achassem mais cedo do que imaginavam, por uma fração de segundos ela teve esperança.

Um grito alto vindo mais ao fundo da floresta quebrou o silêncio, chamando a atenção do casal de amigos. Os pensamentos ruins relacionados às coisas ditas por Eleven tomaram conta do cérebro da Louise em questão de segundos, sendo como um raio, estrondoso e impiedoso. Sem hesitar, recordando também de que Nancy e Barb estavam aprontando alguma por aí, Lola saiu correndo em disparada, jogando a lanterna no chão e empunhando a arma que carregava. Não permitiria que outras pessoas tivessem o mesmo destino ou um pior que o Will.

― Lola! ― Jonathan gritou surpreso ao notar o ato heroico da amiga e começou a correr em seu encalço.

Louise correu o máximo que suas pernas permitiram, não dava atenção ao caminho, queria apenas chegar logo até a fonte do berro. Entretanto, toda aquela vontade de ajudar o próximo esvaiu de seus pensamentos quando alcançou a fonte do gritos e percebeu que não passava de baderna adolescente.

― Puta que pariu ― Murmurou a menina devolvendo a arma no cós da calça e cruzando os braços sobre o peito.

― Lola, desde quando você... ― Jonathan estava prestes a perguntar sobre a arma, mas Louise gesticulou o mandando ficar em silêncio.

― Shiu! ― Ordenou apontando na direção do barulho.

Não muito distante, uma pequena festa acontecia na casa de Steve Harrington. A dona dos berros era Carol, a qual estava sendo ameaçada ser jogada dentro da piscina por Tommy H, as duas pessoas mais insuportáveis do colégio de acordo com Louise. Sentado na esteira, bancando o típico clichê de adolescente babaca, estava Steve Harrington, na esteira ao seu lado estava Nancy. A menina parecia achar graça em tudo o que faziam, como se estivesse dependendo da aprovação deles para sobreviver, isso vez com que Lola revirasse os olhos. A única com quem se identificava da turma era Barb, a qual estava mais distante e não escondia o desgosto por estar ali.

― Pobre, Barb. ― Sussurrou a menina para que apenas Jonathan pudesse escutar. Ela estava mesmo com pena da ruiva, a única pessoa que a cumprimentava nos corredores e trocava palavras com ela. Claro que tudo isso quando não estava próxima da Nancy.

A atenção da Louise estava toda voltada para o grupo de babacas que festejavam em volta da piscina. Não conseguia acreditar em como Nancy se vendeu por tão pouco, principalmente para chamar a atenção de pessoas como Steve, Carol e Tommy H.

― Está querendo me impressionar? ― Perguntou Nancy para Steve ao seu lado, após o mesmo beber uma lata de cerveja pelo lado contrário.

― Não funcionou? ― Perguntou Steven com desdém. Mentalmente Louise respondeu aquela pergunta retórica e fez uma careta.

― Você é um clichê, já percebeu né? ― Disse Nancy ao menino.

― Uau! Descobriu a América ― Sussurrou Lola com a constatação óbvia da menina. Chamar Steve de clichê era parte dos xingamentos de Louise ao rapaz nos corredores. Isso desde a época que se falavam.

― Você é um clichê ― Disse Steve em resposta ― Qual é dessas notas? Do ensaio da banda? Das revistas em quadrinho? Das aulas particulares para as crianças? Dos prêmios de ciência?

― Hey! ― Nancy chamou a atenção do rapaz, antes que ele prosseguisse com as perguntas ― Essa não sou eu.

― Ah! Esqueci que essa é a Aberração Henderson ― Falou Steve dando com os ombros. Louise teve que cobrir a boca para não rir ao notar que tornaria tópico de conversa.

― Alguém falou da Aberração? ― Tommy soltou uma gargalhada ― Caralho, se não fosse esquisita seria uma das mais gostosas do colégio.

― Vai se foder! ― Xingou Carol dando uma cotovelada do rapaz, o fazendo se contorcer de dor. ― Aquela menina não passa de uma abominação, isso sim.

― Esses dias, ela foi de viatura para o colégio ― Disse Tommy em tom de chacota.

― Aposto como ela fode com o delegado, do jeito que é vadia ― Falou Carol cheia de maldade. Louise não escondeu as expressões de nojo com a simples ideia de foder com Hopper.

― Lola... ― Jonathan começou a sussurrar e apoiou a mão sobre o ombro da adolescente, como se estivesse disposto a tira-la de lá. Mas Lola só o mandou ficar quieto com um chiado, estava interessada nas coisas que diriam sobre ela.

― Louise não é vadia. ― Defendeu Steve com o cigarro na boca. ― Ela só é esquisita.

― Como não? Lembra de quando ela deu em cima do Tommy e depois ficou bancando a desentendida? Ficou dizendo que ele que a beijou, como se isso fosse acontecer ― Falou Carol revirando os olhos.

― Ele a chamou de gostosa ― Disse Barb defendendo Louise e se metendo no assunto pela primeira vez.

― Esqueci que são amigas da aberração ― Falou Carol com nojo no tom de voz.

― Não somos amigas da Lola ― Disse Nancy irritada com o que Carol havia dito. Naquele instante Louise sentiu raiva por tê-la defendido durante o jantar. ― Não mais. Já faz tempo, não temos nada em comum. Nós gostamos de nos divertir, enquanto a Lola... Bem, é uma aberração.

― Está vendo, essa é a verdadeira Nancy ― Louise cerrou os punhos e olhou para Jonathan, o qual a admirava com uma mescla de surpresa e pena.

― Então tá, festeira. Porque você não mostra como se faz? ― Perguntou Steve mudando o assunto abruptamente enquanto entregava para Nancy uma lata de cerveja e um canivete.

― Me dá essa câmera ― Sem hesitar, Louise tomou a câmera fotográfica das mãos do Jonathan ― Vou mostrar para Karen quem a filha dela é de verdade.

― Louise... ― Jonathan tentou impedir que Lola seguisse o plano, mas não conseguiu pegar o objeto de volta.

Por mais que tentasse segurar, as lágrimas escorriam pela face da Louise a cada clique que fotografava. Ela não possuía o mesmo talento que o Jonathan para a fotografia, mas tentou ao máximo dar o seu melhor. Agora era oficial, ela entregaria Nancy para a mãe na primeira oportunidade que tivesse, mostraria o monstro que a menina se tornou e como aquelas companhias não faziam bem.

Aquela não era mais a Nancy que ela conhecia, até mesmo Barb estava sendo deixada de lado e tornando obsoleta. Sentiu pena, não do sofrimento da Barb, mas da própria Nancy. Da figura patética e sem personalidade que estava se transformando. Talvez, se ela vesse as fotos antes da mãe, tivesse esperança de voltar a ser como era, de voltar a ser a velha e doce Nancy.

Aos poucos a festa na piscina foi acabando e o grupo entrou na casa do Steve. Dava para saber o que aconteceria a seguir através da janela do quarto, Nancy estava apenas de sutiã e o nervosismo pela primeira vez estampava a face. Aquela era a Nancy verdadeira, ali ela estava sendo a menina gentil com quem Lola passava horas brincando de casinha.

― Vamos embora ― Murmurou Lola ao tirar as últimas fotos, devolvendo a câmera para Jonathan. Não pretendia invadir a privacidade da adolescente, já estava bom por aquela noite.

A menina não queria que Jonathan a visse chorar, por isso tomou a dianteira. Mas o plano não seguiu em frente quando o rapaz a alcançou. O menino não sabia o que dizer para consola-la, por isso apenas a abraçou. Seu desejo era mostrar que estava ali por ela, mostrar que Lola ainda possuía alguém com quem contar, que ela possuía um amigo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por estarem acompanhando, agradeço de todo o meu coração. Milhões de beijos e até o próximo capítulo ♥ Lyra.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "HOLD THE LINE - Livro #01" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.