Respira fundo, Renesmee, quantas vezes você não fez um jantar para a família?

Mas nesse nada pode dar errado, encaro os três livros de receitas à minha frente sem saber por onde começar, Alec é vegetariano e meu pai é alérgico a mariscos. Tenho que escolher alguma coisa que junte tudo.

Decido então fazer uma pizza de tortilha, paella vegetariana e quiche de legumes. Escuto passos arrastados e logo eu vejo a criatura que vem se arrastando pelo corredor.

— Reeeee, o que você tá fazendo? — Lorenzo pergunta, encostando a cabeça no batente da porta.

— Não sei se você lembra, mas o Alec vem jantar aqui junto com nossos pais. — Falei e peguei a tábua. — Você poderia ser meu irmão favorito e cortar os legumes para mim. — Abro um largo sorriso e ele faz um bico.

— Eu sou o mais velho, você que tem que fazer os meus favores. — Ele acusou, mas pegou a tábua da minha mão. — Além de que eu sou seu único irmão. — Ele destacou, indo para a pia e pegando uma faca, enquanto eu pegava o que seria necessário para a massa.

— Eu sei, mas quero que eles se deem bem.

— Não é porque o Alec é... O Alec que eles não vão gostar. Eu gosto.

— Você já pintou seu cabelo de azul, Lorenzo.

— E ficou lindo. — Ele retrucou, passando a mão em seus cabelos. — Mas meus loiros naturais são mais ainda.

— Aham. Eles quase surtaram.

— Alec é natureba, eles vão gostar dele, isso é paranoia.

Bufei e continuei meu serviço, Lorenzo é três anos mais velho, mas nossa relação foi de irmãos grudados fazendo bagunça, como quando nos juntamos para fazer a pegadinha de primeiro de abril quando tínhamos dez e sete anos. Papai descobriu que colocamos um balde de tinta em cima da porta e conseguiu fazer a gente passar pela porta no lugar dele, deixando mamãe irritada com a bagunça, acabamos os três limpando a sala. Teve também a vez em que nós colocamos fogo nas folhas no quintal enquanto nossa babá cochilava e ficamos apavorados com o fogo, nos fazendo ir até a cozinha buscar um copo de água para apagar o fogo. Depois de algum tempo nós conseguimos disfarçar tudo e esse é nosso segredo desde aquele dia.

— Loh, quando você vai trazer sua namorada aqui?

— Que namorada? — Ele se fez de desentendido.

— Aquela que você sai quase todo dia.

— Você está ficando louca. — Ele desconversou, cortando mais rápido as verduras.

— Calma. — Eu ri de seu nervosismo. — Quando estiver pronto para falar sobre ela é só dizer.

Ele rolou os olhos e continuou seu serviço.

Me deixo vagar para um certo garoto de olhos azuis e cabelos vermelhos, o que faz um contraste interessante. Alec é um cara bem diferente, ele é vegetariano, faz faculdade de artes e é bem emocional, ele é muito de humanas e também ama uma filosofia de vida. Gosta mais de ter um diálogo do que brigas – tirando uma vez que quase bateu em um cara que estava o provocando pelo seu cabelo –, super calmo.

Ao contrário de mim, que sempre procura coisas exatas, sempre uma coisa lógica e com o temperamento instável, admito. Mas de alguma forma nós dois demos certo.

Morar com Lorenzo é algo natural, comum. Nós conseguimos trabalhar juntos com bastante facilidade, quase nunca brigamos e sempre estamos um pelo outro. Assim nós fizemos boa parte do jantar tranquilamente, enquanto ele reclamava de sua chefe da editora.

— Aquilo é uma bruaca! Uma vaca total, sempre quer que eu fique mais no escritório, sempre mandando eu melhorar meus textos, eu tenho uma vontade louca de...

— Jogá-la na parede e chamá-la de lagartixa? — Brinco e ele bate sua cabeça no forno, uma vez que estava colocando as massas para assar.

— Acho que esse jantar está afetando seu cérebro, vou tomar meu banho porque você não me valoriza. — Ele reclamou, indo para seu quarto.

— Eu te amo, Lorenzo! — Grito para ele que faz um coração com as mãos e some pelo corredor.

Olho o timer e vejo quanto tempo falta para ficar pronto, para eu mesma tomar o meu banho.

Não entendo porque estou tão nervosa, eu já apresentei vários namorados para meus pais, inclusive o primeiro o papai quase matou quando chegou em casa, mas no final deu tudo certo.

Alec me faz isso, faz tudo ser mais intenso, faz parecer que tudo é a primeira vez, ele me faz sentir única e especial como nenhum outro fez.

A campainha toca e eu corro para a porta, a abrindo e sendo imediatamente abraçada por meus pais.

— Oh, querida, quando vocês vão nos visitar? — Mamãe questionou com um bico.

— Assim que possível. — Respondo, a apertando para aplacar um pouco a saudade.

— Assim eu espero, esse garoto quer tirar você da gente. — Papai reclamou com um bico.

— Não é isso, papai. — O beijo na bochecha. — Só estamos meio ocupados. Entrem.

— Vá se arrumar, Ness. — Mamãe falou. — Vai que seu namorado chegue e você está de pijama.

— Ele estava muito confortável. — Me defendo. — E estou olhando o jantar.

— Vai, filha, eu olho para você. — Papai dá uma piscadinha e estreito meus olhos para ele.

— Eu asseguro que ele não fará nada, certo, Edward? — Mamãe se vira para ele.

— Certíssima, Bella.

— Okay. — Dou mais um abraço neles e corro para o banheiro.

Tomo meu banho rapidamente sem molhar o cabelo, uma vez que os lavei de manhã.

Procuro uma roupa decente e acho um macaquinho jeans e o visto, fazendo uma maquiagem leve e rápida. Quando chego na cozinha meus pais e Lorenzo estão pondo a mesa e conversando sobre um novo jogo de lógica que estamos jogando em conjunto, por enquanto mamãe está saindo na frente da gente. Meus pais são meio antiquados às vezes, mas nós quatro somos pessoas que adoram um jogo lógico, então sempre procuramos por novidades.

— Esse cara aí, Alex, está sendo respeitoso com sua irmã? — Papai pergunta para Lorenzo, fazendo ele me olhar com um sorriso malicioso.

— É mais fácil Renesmee não o estar respeitando. Espero o dia que os pais dele virão reclamar dela. — Lorenzo falou zombeteiro e eu fiquei espantada, abrindo a boca chocada.

— Renesmee. — Papai me olhou questionador.

— É mentira! Sou completamente inocente nisso. — Reclamo e mamãe ri. — E é Alec.

Okay que eu agarro ele quando não espera, que o convido para ficar no meu quarto e não ir embora, que às vezes o sequestro de Berkeley, mas isso é completamente normal. Certo?

A campainha toca novamente e dessa vez só pode ser Alec, eu abro a porta e o encontro encostado na parede oposta. Seus cabelos vermelhos levemente bagunçados, está vestindo uma camiseta e uma calça jeans rasgada, traz dois buquês de rosa na mão, um vermelho e um branco e seus olhos brilham intensamente.

— Olá, namorada. — Ele fala lentamente, enquanto se aproxima e me beija suavemente.

— Olá, namorado. — Lhe dou mais um selinho e o puxo para dentro de casa, onde todos já estavam na sala.

Meu pai o avalia atentamente, procurando alguma coisa para falar, mas apenas por diversão.

— Olá. — Papai o cumprimentou.

— Oi, querido. — Mamãe o cumprimentou, e fez sinal de abano para mim quando ele se virou para falar com Lorenzo, como se estivesse com calor e deu uma piscadinha.

— Boa noite. Eu trouxe essas belas flores para as damas presentes, quero dizer, esqueci as suas, Lorenzo. — Ele falou malicioso e meu irmão rolou os olhos. — Brancas para a senhora Cullen e vermelhas para Renesmee, mas elas jamais terão tanta beleza e não durará tanto quanto a de vocês. — Ele falou, dando um sorriso sedutor e nos entregou os buquês. Mamãe o agradeceu com um beijo na bochecha, aproveitei para lhe dar um beijo, fazendo papai pigarrear.

— Mal começaram a namorar e Renesmee já o está deixando tão irritado que os seus cabelos ficaram vermelhos?

— Pai!

Alec riu do que o papai falou, e provavelmente do meu constrangimento.

— Bem, senhor Cullen, o senhor deve saber, já que os seus cabelos estão ficando brancos. — Ele devolveu, fazendo papai rolar os olhos e sorrir.

— Você é dos meus, Edward Cullen, Terrorista para os genros. — Papai estendeu sua mão e eles se cumprimentaram.

— Alexander Withlock, Alec para os sogros. — Meu namorado revidou e papai arregalou os olhos.

— Caramba! Não me diga que é parente de Jasper Withlock, aquele imbecil. — Papai falou animadamente, me deixando confusa.

— Sou filho dele. — Alec respondeu.

— Eu fui um grande amigo daquele louco, até ele se mudar e perdermos o contato. Que mundo pequeno. — Papai falou, tratando Alec como se fosse um velho amigo.

— E não é? Fale mais sobre ele. — Alec deu um empurrão de leve em papai que retribuiu e eles foram falando de Jasper.

— Eu acho que perdemos nossos pares, filha. — Mamãe brinca, enlaçando nossos braços. — Lorenzo, você poderia ser um lorde e nos acompanhar? — Mamãe pergunta e ele se curva rapidamente.

— Será um prazer estar na companhia de damas tão belas. — Ele graceja e se enfia em nosso meio, nos conduzindo para a cozinha.

Quando chegamos nos sentamos na mesa e papai e Alec se viraram para nós.

— Ele e papai picharam a parede da escola juntos! — Alec exclamou animadamente para nós.

— Que exemplo, Edward. — Mamãe o repreendeu.

— Qual é, era divertido. — Papai falou animado.

— Nós precisamos marcar um jantar com meus pais juntos, eles vão adorar. — Alec sugeriu e papai concordou rapidamente.

— Seria ótimo! Mal posso esperar pra ver ele de novo. Ainda tem cabelo de boi lambeu?

— Não, cortou tem três anos. — Alec falou, em um muxoxo triste.

— Pai, Alec é seu genro. — Lorenzo o cutucou, fazendo ele ficar confuso rapidamente.

— Eu sei. Ah. — Ele se virou para Alec. — Se quebrar o coração da minha filha, quebrarei suas pernas, Withlock.

— Eu mesmo faria isso, Cullen. — Alec respondeu e bateu continência.

— Bem, gente, eu e Lorenzo fizemos o que estava ao nosso alcance para que a comida fosse vegetariana e não houvesse marisco algum. Espero que gostem. — Falo, fazendo sinal para eles se servirem.

— Quem é vegetariano? — Mamãe perguntou, nos avaliando.

— Eu, não gosto da ideia de comer animais desde alguns documentários. — Alec respondeu, com uma careta.

— Eu sempre quis! Mas nunca consegui. — Mamãe falou animada. Parece que Alec ganhou mais um ponto.

— No começo foi difícil. Mas agora não sinto mais falta alguma. — Ele respondeu.

Nós todos comemos em um silêncio agradável, vez ou outra perguntavam algo sobre o curso de artes que Alec faz. Ou então sobre como ele é alguém tão complexo. Ou então mamãe o elogiando exageradamente.

Minhas preocupações eram infundadas afinal, Alec caiu nas graças dos meus pais como se eles fossem amigos dos velhos tempos, o que me fez rir de mim mesma e minhas preocupações.

Alec pode ser meu oposto, mas é fofo e dedicado, ele tem amor e segurança que me deixa confortável ao seu lado, não me deixando surtar. Seu cheiro de flores do campo me embriaga de tal forma que me deixa bem mais leve.

Mas foi só a menção de que no próximo fim de semana eu estou convidada a conhecer seus pais que me deixou mais uma vez a beira de uma crise de nervos.

De novo não!