Conchas escrita por Gaby Uchiha


Capítulo 1
Uma tarde na pacata Valência


Notas iniciais do capítulo

YOOOOOO!!!!! Chegando no limite do prazo, mas conseguindo de última hora, venho postar minha one para o Amigo Oculto Consultoria. Para quem não sabe, esse grupo é formado por mim, Aleksia Kyle, Mirys e Hitsatuke e esse ano, variando do ano passado onde fizemos um desafio a qual Mirys me desafiou a escrever uma ShikaTema, resolvemos fazer um Amigo Oculto com sorteio e tudo e bom... eu tirei uma pessoinha muito especial que eu adoro, mas que eu senti muita vontade de estrangulá-la (~só amor) por ter escolhido os três piores casais desse amigo oculto. Sério, eu fiquei olhando para as paredes ao perceber que eu só tinha como opção: SasoDei, SasoSaku e KimiSaku.

Sério, Alê? KimiSaku? WHAT?

Pois é, e olhem que eu tinha dito que quem tirasse a Alê ia se ferrar e bom, eu me ferrei batendo a minha cabeça na parede até ter duas ideias para a sua one, uma SasoSaku e outra SasoDei, mas eis que eu escolhi SasoDei e colocando-o em um universo que eu adoro muito e que inventei para o Consultoria no ano passado.

O Universo de Cervos! Eu sei, eu sei... passei o ano inteiro vendo pessoas pedindo continuação ou que eu focasse em SasuSaku e nos Águias, mas o universo de Cervos é muito abrangente e com ele eu sou capaz de trabalhar qualquer casal (menos SasoSaku e KimiSaku, diga-se de passagem, até porque eu já deixei bem claro em Cervos que ali tem muita chance de dar SasuSaku), por isso, eu escolhi SasoDei para você Alê, além de presenteá-la com um pouco de SasuSaku!

Beijos minha linda! Divirta-se ao embalo dos Conchas!



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Valência, 1493

 

— Deixe-me ver se compreendi – o homem loiro de longas madeixas e um único olho azul visível pelo tapa-olho, recostou-se melhor em sua poltrona envelhecida, inerte ao balançar suave da embarcação. – Você e aquele líder dos Cervos foram os responsáveis pelo aumento do número de auto-de-fé e fortificação da guarda real, porque desafiaram a Coroa em praça pública durante a execução nas fogueiras e agora estão propondo aliança com outras Resistências para lutar contra o exército dos Reis de Castela, Leão e Aragão?

— Esta é uma forma de se resumir a situação – Sasuke disse de forma apática; inalterado em sua poltrona mesmo diante do olhar incrédulo de Deidara, o líder do Conchas, que desviou o olhar para a mulher calada que sempre seguia o seu líder, acompanhando-o aonde quer que ele ordenasse.

Mesmo buscando um resquício de ironia em Sakura, Deidara apenas descobriu mais seriedade, notando que o pedido do líder dos Águias e aquela carta assinada pelo líder dos Cervos, eram verdadeiros e eles almejavam conseguir seu apoio e frota para ser a linha de frente de luta contra a marinha espanhola.

— Sabem que eu perdi dois navios devido ao descuido de vocês no outono passado, não sabem? – Deidara reiniciou com seriedade após suspirar e entrelaçar as mãos sobre a mesa bagunçada por tantas cartas náuticas. – Surpreende-me, Sasuke, você ter sido tão imprudente e ter jogado seus homens, homens esses que confiam na sua liderança, em uma briga com a Coroa sem antes fazer a Aliança entre Resistências como está fazendo agora.

— Foi um caso especial, não tínhamos tempo de organizar uma Aliança. Tínhamos que acabar com aquele auto-de-fé – Sasuke explicou com impaciência. Odiava a situação que agora se encontrava, sabia que Deidara tinha razão em sua colocação e por vezes se pegava pensando que deveria ter dito não à Shikamaru naquela época, pois agora a Península Ibérica se encontrava em caos, em caça intensificada às Resistências como uma resposta do Rei, porém, antes que se deixasse divagar com uma possibilidade de fazer Shikamaru sofrer pelo ocorrido, o moreno era capturado pelos olhos verdes inquisidores de sua companheira e naquele momento ele se recordava como havia caído naquela grande armadilha.

Agora não adiantava mais se lamentar pelo passado, ele tinha o dever de lutar por aqueles que o seguiam e era sensato em admitir para si que, por mais que os Águias fossem os maiores e mais fortes dentre todos, ele não tinha poderio para lutar contra o Reino sozinho.

— O que de tão especial tinha nesse auto-de-fé? – O olho azul se estreitou estudando Sakura que já se incomodava por receber tanta atenção. – Esta mulher por acaso foi pega pela Inquisição? – A insinuação fez um sorriso perigoso se desenhar na boca larga com algumas cicatrizes localizadas.

Sakura abriu a boca para repreendê-lo, mas Sasuke foi mais rápido ao manter um tom frio de alerta:

— Ela em nada tem a ver com o episódio. O fato é que alguns membros de Resistências foram capturados. Shikamaru, como Chanceler, conseguiu colocá-los para a execução nas fogueiras e pediu ajuda dos Águias para o combate, jurando lealdade e serviços aos Águias quando estes necessitassem. Ele está cumprindo seu papel, conseguindo infiltrar alguns membros dos Águias em altos cargos da Igreja e até da Inquisição.

Deidara coçou a barba por fazer, sem retirar seu olhar analítico de Sasuke. Conhecia-o há anos e Sasuke era tudo, menos imprudente em se meter em um auto-de-fé sem um bom motivo.

— Interessante um homem com tanto poder como o Chanceler ter se importado com os membros das outras Resistências só nesse episódio em particular, enquanto por anos assistiu na queima dos seus próprios homens durante as execuções.

Sasuke suspirou audivelmente, conhecia Deidara bem o bastante para saber da sua astúcia aguçada. Meias verdades não o convenceriam:

— Está certo em suas suspeitas. Havia uma mulher – ergueu o olhar negro para a sobrancelha loira que se erguia com interesse. – Temari. Este é o nome da mulher que fez com que o líder dos Cervos buscasse o meu auxílio.

A gargalhada estrondosa do loiro que bateu com força na mesa, derrubando tantos objetos pessoais, fez Sakura dar um passo para trás, confusa com o acesso de risos inadequados por parte daquele estranho capitão.

— Aquele maldito, fez-me perder duas ótimas embarcações por causa de uma mulher! – A mão grande e calejada socou a mesa com raiva repreendida. – Vou colocar na conta desse maldito o meu prejuízo – o perigo perpassou pelo olho azul.

— Todos sabíamos que em algum momento teríamos que sair da nossa zona de conforto e confrontar a verdade, Deidara – foi lacônico fazendo o outro soltar um impropério antes de se calar assentindo de acordo. – Poderei contar com o apoio dos Conchas?

— Preciso pensar. Lutar contra a marinha é suicídio.

— Eu sei.

O silêncio pairou sobre os três dentro dos aposentos do capitão, antes deste questionar:

— Ficará quanto tempo embarcado?

— Apenas o suficiente. Os homens que trouxe comigo estão acompanhando pelo litoral. Preciso continuar a viagem o mais rápido possível. Há algumas Resistências que preciso visitar antes de retornar a Barcelona.

— Compreendo – assentiu antes de ofertar: – O outro aposento ficará à disposição dos dois. Acomodem-se e descansem, em breve atracaremos em Valência.

— Esperarei sua resposta – o moreno se ergueu sem qualquer agradecimento pela hospedagem e Deidara esboçou um sorriso diante do olhar repreendedor da mulher que o companheiro resolveu ignorar saindo do local.

— Obrigada por nos receber em seu navio – Sakura fez uma mesura antes de seguir seu capitão ao receber um pequeno sorriso de Deidara.

Sakura estreitou os olhos ao sair do aposento sob o tombadilho para a área aberta do navio clandestino, o mesmo que seu líder, destoando do ambiente e dos marujos de poucas roupas e tatuagens expostas, caminhava calmamente sob o seu inseparável casaco de pele de animal escura, a qual escondia o pesado machado que ele usava durante as lutas.

Os passos pesados sobre as botas escuras pararam ao escutar o piar alto do seu falcão. O som retirou a carranca de Sakura, pois se havia algo que encantava aquela mulher, era Garuda com seu tamanho e pelagem brilhante cortando o céu para pousar sobre a luva de falcoaria de Sasuke.

— Garuda! – Sakura disse com um arfar, adiantando-se para estender um petisco que carregava na bolsa ao falcão sempre esfomeado. Um piar para a mulher foi como o reconhecimento instantâneo.

— Vamos para dentro. Garuda trouxe uma mensagem de Barcelona – comunicou algumas notas mais baixas para a mulher que se prontificou a segui-lo para o quarto localizado do outro lado da embarcação.

Assim que se isolaram nos aposentos, Sasuke deixou Garuda sobre a mesa e retirou a mensagem que o animal carregava na pata. Sakura se sentou na escrivaninha, acariciando o animal e cuidando para que ele se alimentasse após a longa viagem.

— É de Naruto – comunicou próximo da mulher. – Está dizendo que Shikamaru conseguiu mais dois aliados ao Norte de Leão.

— Isto é ótimo – arfou com a notícia antes de um vislumbre de incerteza perpassar os verdes sempre brilhantes: – Será que conseguiremos o apoio do Capitão Deidara?

— Eu não sei – suspirou ao admitir e estender a pequena mensagem escrita pela escrita torta e malfeita de Naruto. – Teremos que ser pacientes para lidar com Deidara. Ele é sensato em temer se aliar a nós tendo a marinha como possível adversário, ao mesmo tempo que sabe que mesmo que não se alie, será atacado.

Sakura assentiu com compreensão, antes de sorrir com a passagem onde Naruto informava que ele e Temari mandavam lembranças para ela e pediam para que colocasse juízo na cabeça de Sasuke.

O que mais ele tem é juízo, meus amigos. Ponderou antes de estudar o homem que retirava as armas do cinto, mas um movimento involuntário de lábios demonstrando desconforto, chamou a sua atenção.

Foi involuntário que suas mãos ergueram a barra da camisa masculina o suficiente para ver o ferimento que infeccionava.

A boca feminina se abriu em choque enquanto o homem afastava o toque feminino de si com um olhar repreendedor, mas que em nada desencorajou o cintilar de raiva nos olhos verdes que se recuperavam do choque inicial.

— Não é nada demais – comentou voltando para as suas armas, mas o erguer abrupto e irritado da mulher o fez fechar os olhos e inspirar para garantir paciência pelo que viria.

— Nada demais? – Questionou com fúria e orgulho ferido, esperando os negros voltarem apáticos para si antes de continuar: – Meu trabalho é “nada demais”? Disse-me que já estava bem, que não sentia dores, por que mentiu?

— Não queria que perdesse seu tempo com algo insignificante – tentou contornar, mas suas palavras só pioraram a situação ao ver o choque nos olhos verdes, porém a boca não entrava de acordo com o olhar decepcionado.

— Meu trabalho é garantir que permaneça vivo. Sei que tem sua ambição pessoal e eu disse que cuidaria de você para que conseguisse – as palavras saíram rápidas em direção ao homem tão maior que ela. – Mas pelo visto continuo sendo uma inútil aos seus olhos – proferiu antes de se deixar cair sobre a cadeira e virar o rosto para impedi-lo de ver as lágrimas que queriam nascer no canto dos seus olhos, mas Sasuke já havia visto o suficiente.

Sakura puxou o ar para murmurar sem demonstrar a voz embargada:

— O senhor é tão estúpido às vezes. Uma infecção como essa pode matá-lo. É preciso cuidado mesmo da mais inocente.

Sasuke suspirou sabendo que a magoara. Se havia algo que Sakura não gostava era de ser inútil, de depender dos outros, e era aquilo que a fez treinar e aprender sobre ervas medicinais após o líder dos Águias tê-la tirado daquele prostíbulo onde seus próprios haviam vendido por um saco de alimentos.

A vida inteira ela se sentiu um estorvo e mesmo que Sasuke soubesse e admitisse para si mesmo que Sakura era muito útil além de ótima combatente sempre sendo leal e cuidando com tanta morosidade de todos os membros dos Águias machucados, era difícil colocar aquela verdade na cabeça feminina que sempre achava que precisava fazer mais do que já fazia, sobrecarregando-se, chegando ao ponto de desmaiar de exaustão pelos corredores dos esconderijos dos Águias, e mesmo que ela achasse que ele ainda não soubesse daqueles episódios, Sasuke sabia de tudo o que ocorria em sua Resistência.

— Sakura – chamou com o tom neutro, mas ela foi petulante em continuar lhe dando as costas. Em outra situação, tirá-lo-ia um sorriso de canto nunca admirado por ninguém, já que ela inconscientemente agia na dualidade de respeitar seu superior e em outras vezes, desrespeitá-lo; mas ali, o ato de ignorá-lo, só o fez meditar por mais paciência que não ofertaria para outro subordinado. – Sakura – disse em um tom mais grave abrindo o fecho da corrente que segurava o pesado casaco sobre os seus ombros.

O baque surdo do casaco de encontro ao chão chamou a atenção da mulher que se voltou para o homem que continuava a retirar as peças de roupa uma a uma, deixando-as cair no chão sem cuidado, até sobrar apenas a calça negra, deixando a parte superior nua aos olhos da mulher que, por mais que não admitisse, ainda não havia se acostumado com as tantas cicatrizes de tantos tamanhos que desenhavam o tronco forte e malhado devido aos anos de luta e liderança dos Águias.

— Pode cuidar deste ferimento para mim? – Questionou como uma forma de erguer a bandeira branca da derrota naquele desentendimento momentâneo.

Que seus homens não descobrissem, pensou vendo os olhos desviarem de uma cicatriz longa e diagonal em seu peito que denunciava o quanto foi mal cuidada, datando uma época anterior ao seu primeiro encontro com aquela mulher.

— Deite-se – foi tudo o que proferiu antes de se focar em misturar as ervas que carregava consigo.

Alcançou a mistura esverdeada e gosmenta antes de se erguer e se ajoelhar ao lado da cama que o corpo grande se encontrava deitado pronto aos seus cuidados.

— Mais um pouco e infeccionaria – comentou com os olhos analíticos de alguém que sabia do que falava, ao mesmo tempo que as mãos habilidosas cuidavam do ferimento.

Sasuke permaneceu em silêncio, observando todos os movimentos de Sakura enquanto ela fazia o seu trabalho com esmero.

Admitia a si que a sensação anestésica em sua pele era refrescante e até julgou como aceitável quando ela apertou a faixa mais do que deveria só para fazê-lo grunhir pela dor no local inflamado.

Era uma relação estranha a que tinham, mas de alguma forma, confortável para os dois.

— A embarcação deve estar quase atracando em Valência – começou organizando seus pertences. – Vou ao mercado comprar mais ervas, o que temos em estoque é o suficiente para pequenas emergências, mas nunca sabemos o que nos espera pela frente.

— Irei junto – anunciou tentando se erguer, mas as mãos femininas que se espalmaram em seus ombros, o impediram de continuar o movimento.

— Não. O senhor fica. Precisa descansar. Sei que ficou de guarda a noite – empurrou-o de volta para a cama antes de erguer o capuz.

— Há guardas do reino por Valência – alertou.

— Também há nossos amigos que em breve estarão em Valência – pontuou decidida. – E não há motivos de desconfiarem de mim. Guardas não se importarão com uma simples camponesa fazendo compras no mercado.

Os negros permaneceram estreitos para a mulher que suspirou afastando uma mecha rebelde do rosto:

— Por favor, tente pelo menos dormir um pouco – pediu sendo conhecedora da insônia que sempre acometia aquele homem.

O desvio do olhar negro foi a resposta que ele tentaria se deixar relaxar, por mais que duvidasse daquilo.

Sakura se apressou a deixar mais alguns petiscos para Garuda e sair dos aposentos antes que seu líder mudasse de ideia e resolvesse segui-la. Agradeceu aos céus por ver que já estavam tão próximos do porto, foi com a respiração presa que esperou os longos minutos que demorou para atracarem e ela poder descer pela rampa verificando uma última vez para ver se Sasuke não havia fugido do quarto.

Sabia que ele se sentia responsável por ela, mas a mulher gostava de gozar um pouco de liberdade e poder sair das asas da grande águia. Passear pelas ruas de pedra das cidades que visitavam, fingindo ser apenas uma camponesa, era um oásis para Sakura, algo perto da normalidade do turbilhão que era e sempre foi sua vida.

Nem mesmo o cheiro de podridão que perpetuava pelo cais destruiu o encantamento nos olhos esverdeados vidrados na imagem de Valência.

— Tão cedo e já fugindo de Sasuke – Deidara comentou com humor descendo pela rampa para alcançar a mulher encapuzada no cais. – Não me surpreende, aquela falta de humor afugenta qualquer ser, mesmo a mais doce donzela.

— Não estou fugindo – rebateu quando o capitão já estava próximo o suficiente para esbanjar sua altura para aquela membra dos Águias. – Vou apenas ao mercado comprar algumas ervas para a comitiva.

— É a única mulher da comitiva? – Questionou acompanhando-a em direção a cidade, cruzando muitos marinheiros que transportavam pesados caixotes em direção aos navios que logo partiriam.

Deidara percebeu o silêncio e o olhar desconfiado, antes de sorrir erguendo as mãos para o alto.

— Acredite, não sou inimigo do seu líder e muito menos estou sondando-a para saber detalhes da comitiva. Se quisesse Sasuke morto, já o teria matado quando subisse sozinho no Desbravador de Mares.

— Meu líder não seria derrotado tão facilmente – rebateu confiante, fazendo o homem inclinar a cabeça para estudar a mulher ao seu lado por inteira, fazendo-a ruborizar com o olhar indiscreto.

— Não se preocupe, apenas fiquei curioso. Presumo que não conheça Valência, a levarei ao mercado – fez uma mesura galante e Sakura se pegou surpresa. Não sabia se era adequado ir ao mercado acompanhada do líder dos Conchas, mas se pudesse convencê-lo de participar da Aliança...

— Há quanto tempo se conhecem? – Questionou em uma tentativa de aproximação, enquanto notava que algumas mulheres desviavam o olhar antes de ruborizarem com a visão daquele capitão.

Ela não poderia negar, aquele líder dos Conchas era belo. Não era musculoso, mas era esguio com um andar altivo. O queixo quadro recoberto pela barba curta e castanha era o charme que exaltava os longos cabelos loiros, onde a metade superior se encontrava presa em um rabo de cavalo, enquanto algumas tranças salpicavam no restante solto.

— Desde quando ele era um dos amados filhos de um rico judeu.

Deidara viu a mulher estancar e abrir a boca incrédula, aquilo o fez sorrir maldosamente.

— Tanto tempo assim?

— Sim. Eu era membro do alto escalão da marinha de Castela e Leão – explicou ao voltarem a andar. – A família dele era muito rica, sempre estavam entre a realeza, foi assim que conheci Itachi.

— O falecido irmão de Sasuke? – Questionou surpresa, não havia conhecido, mas todos dos Águias diziam que ele havia sido um bom líder ao lado do irmão mais novo.

— Sim – Deidara esboçou um sorriso nostálgico sobre um tempo em que tudo parecia menos complicado. – Mas Sasuke não gostava de mim – riu se lembrando do rosto jovem e apático de Sasuke sempre quando se encontravam. – Porém, compreendo o porquê de Shikamaru preferir que Sasuke viesse me convencer desta Aliança.

— Qual acha que seja a justificativa? – Ouviu o questionamento interessado antes de focar o único olho visível nos olhos verdes interessados.

— O fato de eu ter sido mais do que um amigo de Itachi.

Os verdes se tornaram evidentes ao compreender a verdade, enquanto as maçãs tornavam vermelhas com o significado.

Um canto que exibia uma pequena cicatriz se ergueu com diversão diante do embaraço da moça que descobria que Deidara havia sido um amante assíduo de Itachi, sendo que o falecido Uchiha era casado com uma moça judia.

— Agora compreende porque a família Uchiha não gostava muito de mim.

— Não vejo isso como um motivo de mandar meu senhor para conseguir sua ajuda – foi sincera.

— Mesmo que não nos déssemos bem, eu tinha muito respeito por aquela família. Eu desertei do reino e de todos os meus títulos que conquistei como capitão, quando eu vi o rei queimar todos os membros daquela família na fogueira – o semblante bonito e antes risonho, se tornou sombrio. – Até hoje consigo me lembrar perfeitamente dos gritos de Izumi enquanto era queimada viva. Seus gritos eram tão altos que o público ficou em silêncio vendo-a agonizar.

O silêncio da companheira fez ele se voltar para os verdes chocados com o que ele dizia.

— Creio que aquele marrano arrogante deixou de acreditar em Deus depois de tudo – pontuou e o olhar caído de Sakura foi a afirmação silenciosa.

Deidara suspirou erguendo o olhar para o mercado que se aproximava.

— Questiono-me por que vocês dos Águias seguiram Sasuke apesar da ideia insana de se meter naquele auto-de-fé.

— Mesmo se ele não houvesse ajudado, eu desertaria para ajudar – admitiu focando o olhar para frente, fazendo Deidara erguer a sobrancelha solitária compreendendo o todo.

— Sabe que mesmo que todas as Resistências se juntem para combater o rei, não seremos o suficiente e acabaremos como os outros, mortos na fogueira?

— Eu sei – os passos femininos pararam antes de se voltar para o homem mais alto que ela, que parecia brilhar sob a luz do sol sobre os seus cabelos. – Se este é meu fim, aceitarei lutando. Prefiro agonizar nas chamas depois de uma batalha do que me esconder na toca como um rato, esperando que me encontrem, me torturem, para no fim terminar presa sobre uma fogueira. Prefiro morrer pelo que acredito do que pelo medo, senhor.

Deidara viu os verdes cintilarem enquanto Sakura proferia cada palavra com convicção em sua direção e aquilo o fez sorrir perigosamente enquanto se inclinava para aproximar os seus rostos.

— Agora entendo porque aquele mal-humorado a escolheu no fim das contas.

O rosto feminino ferveu com a insinuação.

— Na-não temos nada... – tentou se explicar, mas Deidara se recompôs confiante contornando-a:

— Vamos, ande logo. Ali se encontra o melhor lugar para comprar ervas medicinais em Valência.

Ouviu o suspiro aliviado da mulher pela mudança de assunto antes da mistura forte de cheiros capturar sua atenção.

Foi com surpresa que Deidara viu a mulher se perder entre tantas barracas enquanto analisava as ervas, as cheirava e comentava com as vendedoras sobre seus benefícios.

Aproveitou o momento para estudar o local e ver alguns guardas do reino transitarem inertes à presença de dois membros de Resistências.

Estúpidos, zombou em mente com um sorriso perigoso antes de sentir um olhar fixo em si. Não foi com surpresa que ele viu um soldado o observando com olhos estreitos; em outra ocasião, seria cuidadoso, mas aquele em especial, recebia seu sorriso de puro escárnio que apenas provocava mais fúria nos olhos castanhos daquele soldado um pouco mais baixo que ele e aquilo divertia o loiro.

Olhou de relance sua companheira absorta pelos vendedores antes de resolver quebrar a distância entre ele e o soldado ruivo parado próximo da entrada de uma taberna.

— Consigo ver em seu hospitaleiro olhar o quanto está feliz pelo meu retorno – iniciou com um sorriso zombeteiro para o ruivo de semblante fechado.

— Disse para não voltar a Valência.

— Eu não ia – deu de ombro mexendo no cabo da espada –, mas ouvi de longe seus pensamentos se questionando sobre o meu retorno – o sorriso aumentou ao ver os castanhos cintilarem de raiva. Sua diversão particular naquela cidade portuária.

— Devo prendê-lo? O rei ficaria muito feliz em assistir a bela fogueira que sua embarcação fará – desafiou, mas Deidara permaneceu seguro diante das ameaças de Sasori.

— Se isso o faria tão feliz, então por que ainda continuo em liberdade? – Exibiu com satisfação as mãos libertas. Os castanhos verificaram o perímetro percebendo que não havia nenhum outro soldado para testemunhar a conversa que o irritava. – Eu tenho uma teoria – supôs, ganhando mais uma vez a atenção do ruivo, o que fez rir. – Eu o incomodo.

— Isto não é uma teoria, apenas uma realidade – foi seco, mas o loiro sorriu perigosamente diminuindo o tom de voz:

— Não disse o tipo de incomodo, caro soldado.

— Vá ao inferno – finalizou a conversa dando-lhe as costas enquanto seguia para dentro da taberna deixando um zombeteiro capitão para trás.

Assim que a porta de trincos enferrujados bateu com força, todo o humor se desfez do rosto masculino, restando olhos presos no lugar onde antes o outro estava.

Se lembrava bem da primeira vez em que se viram, naquela mesma taberna que Sasori havia entrado. O capitão bebendo no balcão, entorpecido pela bebida, enquanto o carrancudo soldado se encontrava num canto do local, entre outros soldados que se divertiam com as mulheres que apareciam para se ofertar.

Foi naquele momento que os olhos dos dois se cruzaram pela primeira vez, mantiveram aquele embate até o loiro, já bêbado, lhe enviar um sorriso, fazendo com que o ruivo lhe direcionasse o primeiro estreitar de olhos cintilando raiva.

Mal sabiam que os encontros e desencontros seriam sempre assim, um sorrindo com escárnio enquanto o outro lhe presenteava um olhar de puro ódio.

Não sabia bem como havia irritado tanto aquele homem, mas isso só tornava as coisas mais divertidas e curiosas.

 

Quando saiu da taberna tropeçando nos próprios passos, ouviu pela primeira vez o tom rouco e apático daquele homem, menosprezando sua condição.

— Veio até aqui para me socorrer? Estou comovido – ironizou antes de vomitar nas botas do soldado.

— Maldito! – Vociferou tentando se livrar dos resquícios de vômito. – Perdi a aposta de quem iria cuidar do bêbado e impedi-lo de fazer alguma besteira pela vizinhança – justificou.

— Sei – assentiu descrente antes de rir do soldado que resolveu dar as costas e voltar para a taberna, mas que parou assim que o bêbado continuou em um tom baixo: – Perdi alguém.

A confissão pareceu chamar a atenção de Sasori, pois ele parou deixando apenas o perfil visível pela lua.

— Dói perder alguém – murmurou antes de rir sem humor. – Eu pensei que se bebesse esqueceria, mas... – o olhar ficou perdido no nada – parece que tudo só aumentou...

— Vamos – o ruivo anunciou. – Vou deixá-lo em casa.

— Eu não tenho casa – falou subitamente como se lembrasse de algo. – Eu não pertenço a um lugar. Eu não tenho nada.

Sasori esfregou o rosto como se pedisse paciência para lidar com aquele bêbado.

— Todo mundo tem um teto para se deitar. Pelas suas vestes acredito que seja do porto.

— Tenho um barco – ponderou estreitando os olhos como se forçasse a memória. – Sim, um barco. Um barco grande.

— Então vamos ver esse barco – se adiantou passando o braço de Deidara sobre os seus ombros para ajudá-lo a andar.

Aquele foi a única vez que Deidara pode ver de perto o rosto sério e imponente de Sasori, além de descobrir que ele era capaz de ajudar um mero bêbado.

O ruivo manteve o olhar no caminho mesmo que sentisse o azul fixo em seu rosto e aquilo o irritasse, se manteve centrado até ouvir a pergunta vinda da língua enrolada:

— E você? Por que estava na taberna?

— Esperando um bêbado para usar como desculpa e perder propositalmente a aposta só para fugir daquele lugar.

Aquilo tirou um riso de Deidara antes deste refletir:

— Você poderia ter ido sem ajudar, mesmo assim resolveu me levar para casa.

O outro nada respondeu, apenas ergueu os olhos castanhos para o céu, vendo como aquela noite estava estrelada e calma...

 

— Capitão? – A voz feminina o trouxe de volta para o presente. – Está tudo bem?

— Sim – forçou um sorriso antes de inspirar fundo e voltar para o humor anterior. – Que tal bebermos alguma coisa antes voltarmos para o Desbravador de Mares? – Apontou otimista para a taberna.

Os verdes sérios estudavam o seu rosto e ele sabia que Sakura havia visto algo ali, mas ele a julgou como sensata em não se intrometer em assuntos que não lhe diziam o respeito.

— Claro, por que não?

O loiro a guiou para o lugar não tão cheio àquela hora, mas com clientes suficientes para fazê-los ir sentar no balcão, antes que uma garçonete encorpada e de avantajado decote viesse apoiar os antebraços no balcão, deixando mais a mostra os seios volumosos.

— O que vai querer, meu capitão? – Falou maliciosa, passeando a ponta dos dedos pela gola aberta que exibia um princípio de uma tatuagem.

— O de sempre para mim e a minha companheira – apontou para Sakura que observava tudo em completo silêncio. Viu o momento em que a mulher dedicou um olhar desaprovador ao seu corpo, antes de sorrir de maneira depreciativa para voltar ao trabalho.

Aquilo fez o colo de Sakura ficar vermelho pelo constrangimento e uma pontada de falta de autoestima, já que sabia muito bem que não era a dona de um corpo cheio de curvas como as mulheres que via transitarem por aí, mas o toque singelo da mão calejada do capitão sobre a sua, chamou sua atenção.

Foi com surpresa que ela viu um sorriso de canto acolhedor.

— Não se apegue a pequenos detalhes. Acredite, o conteúdo é o que faz ser duradouro a atenção.

Deidara viu a mulher sorrir sem graça e agradecida, enquanto depositava a cesta com as ervas e cobria a sua mão com as duas.

Um movimento involuntário em um canto da taberna fez o olho do loiro recair sobre Sasori que havia parado o movimento da caneca de cerveja para observar incrédulo aquele capitão de mãos dadas com uma mulher.

O acordar para a realidade trouxe de volta aquele brilho raivoso para os olhos castanhos que desviaram com brusquidão.

— Ele é o seu amigo? – A mulher cochichou percebendo a troca de olhares cheia de tensão.

— Não. Apenas um conhecido – voltou o corpo para a caneca posta na sua frente.

— Ele é um soldado – a observação baixa mostrou o receio da mulher, fazendo-o sorrir sem humor.

— É, ele é, mas não se preocupe, ele não fará nada contra nós – acalentou batendo na caneca de Sakura com a sua. – Que tal um brinde?

— A quê? – Questionou erguendo a sua.

— À nossa morte – relembrou a conversa anterior dos dois.

Sakura riu um pouco, antes de brindar:

— À nossa morte!

Eles viraram as canecas e tomaram tudo de uma só vez, antes de terminarem rindo com cumplicidade.

Sasori sozinho na mesa de canto observava tudo com atenção, por vezes flagrando o loiro se aproximar da mulher para dizer algo que a fazia rir enquanto continuavam a beber.

Sua bebida já estava quente quando resolveu se erguer abruptamente deixando algumas moedas sobre a mesa envelhecida.

Não sabia o que o motivava a dar passos tão grosseiros e largos para alcançar com pressa uma distância considerada daquele lugar, daqueles dois, enquanto se perguntava o que Deidara estava fazendo com uma mulher, se todas as vezes em que o viu acompanhado fora de homens... homens que tinham as bocas devoradas pelo loiro ensandecido pelo desejo do momento.

Sasori havia pensado que... ele só gostasse de homens. Então por que uma mulher? Será que era apenas uma amiga que o soldado nunca havia prestado atenção?

Estagnou os passos pensativos quando se encontrou em uma viela sem saída.

Como é que eu vim parar aqui?

 

A saída abrupta do soldado foi percebida pelos dois, principalmente por Deidara que ficou perdido em pensamentos encarando a porta de saída.

A risada baixa e abafada de Sakura o despertou para o rosto zombeteiro da mulher:

— Por que não vai atrás do seu amigo? Acho que ele nos entendeu errado.

O sorriso pequeno do homem foi a resposta silenciosa para que ela esquecesse aquele assunto.

— Vamos. Está na hora de voltar, antes que aquele seu companheiro venha atrás de mim com um machado em punho. Tenho certeza que ele não vai gostar de saber que eu trouxe em uma taberna onde os homens parecem que vão te atacar a qualquer momento – se levantou puxando a mão livre dela. – Não queremos que ele faça uma chacina em Valência, não é?

— Não – negou desanimada olhando para a caneca vazia que deixava para trás –, mas a bebida estava tão boa.

— Honrado por ter gostado da minha sugestão – fez uma mesura exagerada quando alcançaram as ruas de pedra. – Sempre às suas ordens, minha senhora.

Sakura riu da situação, em pouco tempo, descobriu em Deidara um amigo divertido.

— Sinto-me honrada, meu senhor – respondeu com outra mesura antes de seguirem lado a lado.

Buscaram algumas vielas para cortar o caminho, mas na terceira curva deram de cara com três soldados. Seguiriam normalmente, mas assim que um deles chamou por Deidara e esse reconheceu como um antigo companheiro da marinha que não se davam bem, o loiro soube que estavam com problemas.

Tentou dar a volta, mas ele e Sakura se descobriram encurralados por mais dois soldados do reino.

— Tenho observado seus passos desde que atracou no cais. Interessante o caminho que você escolheu, caro companheiro – o soldado estudou com afinco o desertor, antes dos olhos escuros recaírem sobre a mulher encapuzada que aparentava ser apenas uma camponesa carregando uma cesta com ervas. – Deve ser uma das mulheres que servem como prostitutas desses homens que se intitulam visionários.

— Eu não sou uma... – Sakura começou ultrajada pelo insulto, mas o loiro a interrompeu:

— Ela não tem nada a ver com isso. Só é uma amiga que não conhecia a região e pediu ajuda para encontrar um mercado.

— Uma mulher andando sozinha com um homem que não seu familiar? Com certeza não é uma camponesa inocente – deu um passo à frente retirando sua espada da bainha.

— Eu realmente não quero matar vocês – Deidara proferiu baixo fazendo os homens rirem.

— Você contra nós cinco? – Um disse com escárnio seguindo o coro das espadas sendo desembainhadas.

Um olhar rápido para a companheira e ele descobriu que o comentário havia feito o brilho assassino que os Águias eram conhecidos, acender nos verdes. Por mais inofensiva que ela aparentasse ser, o loiro sabia que Sasuke não andaria com uma simples mulher, se ela havia chegado até ali, é porque poderia ser fatal.

Uma troca de olhares e eles se decidiram. Deidara ficou com os três da frente e Sakura com os restantes, surpreendendo-os com a rapidez e a agilidade que ela tinha com as duas adagas para bloquear e atacar.

Deidara gostaria de estar com uma armadura completa como os soldados, mas devido ao disfarce que sempre tinha que usar quando adentrava em alguma cidade, seu corpo ficava vulnerável, restando apenas sua habilidade de manejar sua antiga e inseparável espada.

Bloqueou um, desequilibrou outro, atacou o último, repetiu a dança sem tempo para respirar, apenas capaz de verificar pelo canto dos olhos que a pequena mulher já havia cortado a garganta de um dos soldados e tentava desviar dos ataques do outro que era mais ágil.

Com um golpe certeiro em uma falha da armadura, Deidara acertou um ponto vital, antes de retirar a espada e rodopiar o corpo para cortar a garganta do que vinha para cima de si, no entanto, o terceiro, aquele que um dia foi seu companheiro, acertou-o na coxa, retirando um grunhido de dor daquele capitão.

Antes que desequilibrasse, acertou um soco de esquerda atordoando-o seu oponente. Iria finalizar matando-o, mas o chamado urgente de Sakura o fez acordar para os outros soldados que vinham na direção dos dois.

— Corre! – Gritou para a companheira que não perdeu tempo em passar por cima dos soldados que havia matado, segurando com força a cesta com as ervas para os Águias.

Deidara tentava se guiar em direção ao mar, se conseguissem chegar ao cais estariam a salvos porque seus homens os ajudariam a se livrar dos tantos soldados que os perseguiam.

Pularam muros, contornaram becos tentando despistá-los, mas a quantidade de perseguidores só parecia aumentar. Quando já sentiam o cheiro do mar, Deidara sentiu o impacto do cabo de uma espada contra a sua nuca, derrubando-o.

Mesmo com a visão atordoada, ele ouviu os gritos de Sakura tentando se soltar dos guardas que a imobilizavam. Tentou se erguer para lutar, mas os dois soldados que o contiveram não deixaram margens para escapatória.

— Achou que ia fugir de mim, Deidara? – Localizou a voz infame do ser que o havia golpeado antes dele chutar o ferimento, tirando-o mais um grunhido de dor.

— Deixe a mulher ir, seu problema é comigo – tentou ao Sakura ajoelhada com os braços torcidos para trás e um filete de sangue já destoar na lateral do seu rosto devido a tentativa de se libertar.

— E deixá-la avisar os seus amigos inimigos da Coroa? – Questionou. – Eu acho que não, Deidara. Você sabe bem como as coisas funcionam.

— O que está acontecendo aqui? – A nova voz fez Sakura e Deidara erguerem o olhar para Sasori que adentrava aquele beco e via com surpresa quem estava sendo contido.

— Apenas estamos prendendo dois membros de Resistências. Vamos levá-los para o interrogatório. Por que? Conhece esses dois? – Questionou o infame homem com desconfiança.

Os castanhos encontraram o único olho visível de Deidara que demonstrava seriedade e um claro alerta, antes do ruivo proferir a sentença:

— Eu não os conheço.

A frase chocou Sakura que havia visto uma chance de eles escaparem, mas aquilo só fez o mais velho deles sorrir com satisfação e ordenar que seus soldados os levassem para a prisão.

A mulher sabia o que os esperava, por isso tentou se soltar, mas seus protestos eram inúteis e só pioravam os apertos em seus braços. Um olhar de Deidara enquanto ambos eram arrastados pelas ruas de Valência ouvindo a população xingá-los, a alertou para parar de resistir.

Sakura acatou enquanto via as mulheres que antes lhe ofertavam ervas, apontarem os dedos tortos e jogarem objetos em sua direção chamando-a de bruxa e herege.

Ela respirou fundo e seguiu em frente tentando bloquear as palavras maldosas os cuspes que o chão recebia. Tudo o que ela pedia e que Deidara inconscientemente concordava, é que os outros não fossem pegos também.

 

***

 

Sasori permaneceu naquela viela, de frente para a espada envelhecida de Deidara e a cesta destruída de Sakura, onde as ervas haviam sido pisoteadas e um livro recém-comprado, estava sujo pela terra batida.

Havia feito aquilo que a Coroa aprovaria como certo, mas a sensação de traição era maior que o senso de dever que ele jurou à Coroa.

Não acreditava no que ele ia fazer, mas com impulso ele pegou a arma e o livro caído para serem suas provas. Apressou o passo para o cais ali perto, ignorou outras embarcações e marinheiros, se dirigindo para a grande embarcação onde uma vez ele havia deixado um Deidara bêbado.

Assim que alcançou a rampa, viu o moreno coberto por um pesado casaco de pele, parar com um olhar estreitado para o ruivo de trajes de soldado.

— Algum problema? – Questionou frio.

— Você é um dos homens de Deidara? – O ruivo rebateu com outra, o que não pareceu agradar Sasuke que apenas aproximou mais alguns passos de forma ameaçadora.

— Algum problema, soldado? – Questionou mais uma vez enquanto a mão coberta pelo casaco alcançava o cabo do machado de cabeça dupla que carregava no cinto.

— Ele foi capturado por soldados do reino – confessou fazendo Sasuke estancar o passo. Sasori ergueu a espada e o livro antes de continuar: – Ele e aquela mulher que o acompanhava. Foram levados para interrogatório.

O moreno pegou o livro de maneira ríspida e apenas com um folheio descobriu se tratar sobre ervas medicinais, não havia dúvidas de que pertencia a Sakura, provavelmente ela havia comprado mais um livro para conseguir mais conhecimento e repassar para os jovens que formavam o primeiro grupo que ela ensinava sobre cuidados com os feridos das Resistências. Ela estava animada demais com aquele feito e se empolgava com cada novidade que descobria através da viagem em busca de novos aliados, mas havia o porém, estava diante de um soldado do reino...

— É uma emboscada?

— Se eu quisesse atacá-los, teria dito aos outros que esta embarcação pertence aos Conchas, algo que eu sei há algum tempo.

— Como sabe que eles foram pegos e como tem isso? – Apertou com força o livro em mãos.

— Eu os vi. Eu estava lá quando os levaram para o interrogatório... – não conseguiu continuar pois o homem avançou com velocidade antes de segurar a armadura com força.

— Deixou-os levar? – A voz destilava pura raiva. – Covarde! – Os negros pareciam mais escuros e perigosos. – Onde ela está?

Sasori empurrou Sasuke para longe antes de cuspir as palavras:

— Sei que fui covarde, mas fiz isso para poder avisá-los. Eu quero ajudar e posso levá-lo até eles.

Os negros estudaram o adversário antes de se aproximar e proferir a ameaça:

— Assim que eu resgatar a Sakura, o matarei – deu as costas caminhando pelo cais enquanto o falcão piava sobrevoando o cais.

Sasori suspirou voltando a postura antes de seguir o moreno irritado para o interior de Valência.

Só o ruivo conhecia a cidade como a palma da sua mão, por isso, usando seu conhecimento pelas vielas estreitas, alcançou uma das entradas do prédio de pedra onde soldados entravam e saiam.

Sasori observou pelo reflexo da espada dois se afastarem antes de dar o sinal para Sasuke.

O moreno sabia que era hora de invadir o local, por isso, assobiando para o seu falcão, viu o animal voar para uma janela piando alto, anunciando que o local estava limpo.

 

***

 

A dor se espalhava como um veneno por todo o seu corpo, entorpecendo seus sentidos, fazendo com que gritasse em pensamentos para que parasse, enquanto por fora, mordia os lábios para que de seus lábios não saíssem o som que seus algozes almejavam.

A tosse baixa chamou a sua atenção e com dificuldade, o loiro ergueu os olhos para ver Sakura também acorrentada e machucada pela sessão de tortura a qual eram expostos.

Ela sabia que um de seus ombros já havia deslocado devido a torção que as correntes faziam acima de si, deixando até a ponta dos seus pés mal tocando no chão pútrido daquela cela escura.

Por mais que a dor perpetuasse pelo seu corpo e seu olho esquerdo estivesse tão inchado que nem conseguia mais abrir, Sakura sabia que aquilo só estava começando.

Tossiu sangue mais uma vez, antes de erguer seu olhar para o loiro em pior estado que o seu.

Deidara já havia tido a camisa rasgada, expondo mais a pele já tão marcada ao chicote que exibia sua carne com orgulho.

Desviou o olhar para a mulher ruiva em um canto que deveria estar a dias naquela tortura e por vezes recobrava sua consciência para ver que os novos brinquedos dos soldados, lhe davam um momento para se descansar.

— Então – começou o pior dos soldados, desfilando calmamente entre os dois acorrentados –, quem vai começar a falar? – Questionou recendo o silêncio como esperado. Um sorriso sombrio desenhou os lábios marcados do homem que já havia vivido muitas lutas, antes dos olhos escuros recaírem sobre a mulher. – Primeiro as damas, somos homens civilizados.

O cuspe de Sakura acertou o rosto do seu algoz, antes do tapa alto reverberar alto pelo recinto.

Deidara evitou demonstrar raiva ao ver o soldado acertando com força o estômago de Sakura com o cabo da sua espada. Mais sangue jorrou da boca da mulher que contorceu de dor e fez as correntes reclamarem no alto.

O algoz limpou o cuspe no seu rosto antes dos olhos loucos voltarem para Deidara, ainda imponente apesar das costas já exibirem a carne crua.

— Que tal um banho? – Questionou antes de um dos seus homens jogarem água salgada no capitão e o sal de encontro a suas feridas abertas, fazê-lo grunhir de dor.

— Seu... merda – vociferou entre os dentes trincados, tentando manter a lucidez que a dor teimava em nublar.

O som do chicote reverberou mais uma vez abrindo mais uma ferida, enquanto o corpo se contorcia de dor.

— Mais uma vez – o que parecia ser o chefe vociferou mais uma vez e Sakura testemunhou mais uma vez o chicote fazer uma sequência ininterrupta de açoites contra o corpo já tão sujo de sangue, suor e água suja do mar.

— Não – grunhiu com raiva tentando chutar sem muita força o principal soldado, mas só conseguiu a atenção de todos e a risada infame dos homens para a sua situação, pelo menos, e Sakura agradecia por isso, o som do chicote havia parado de golpear as costas de Deidara.

— Ora, ora, ora. Vejam se não é a nossa pequena gatinha raivosa – o soldado sibilou próximo de Deidara, antes de se voltar para o loiro: – Sua amiguinha custou dois bons soldados para mim – explicou voltando os olhos para a mulher coberta de suor e sangue: – Talvez ela só precise aprender bons modos. Meus homens ficarão felizes em provar de uma mulher depois de tanto tempo longe de seus prazeres – abriu as mãos fazendo os risos ecoarem pelos outros quatro que acompanhavam a sessão de tortura. – Quem sabe depois você não queira compartilhar conosco alguma informação valiosa...

Os verdes tornaram evidentes compreendendo o que aconteceria, enquanto a mulher se remexia tentando se soltar para se afastar do soldado vil que se aproximava de dela.

Deidara abandonou a aparência apática e começou a se remexer inquieto nas correntes, tentando se libertar para proteger Sakura.

O som do rasgo do tecido e do grito feminino foi silenciado pelo corte de uma lâmina e uma cabeça rolando no chão até parar aos pés da ruiva no canto incriminada como bruxa.

Foi como se o tempo parasse e todos ficassem petrificados vendo a sombra grande e negra se erguer lentamente deixando a mostra o machado que já gotejava sangue e os olhos repletos do mais puro ódio.

Sasuke? A mente de Deidara questionou incrédulo antes que o rompante de outra lâmina acordar todos para o presente.

Um soldado habilidoso cortou a garganta de um antes de avançar sobre outro, mas mesmo a luta que transcorria a sua frente, não retirava o choque do rosto de Deidara ao reconhecer Sasori ensopado pelo sangue dos tantos soldados que teve que matar para chegar até ali.

Os olhos castanhos estavam impiedosos e como uma dança que ele muito bem conhecia os passos, ele seguiu a melodia das espadas derrubando mais um ao mesmo tempo que Sasuke, sobrando apenas o principal que parecia seguro apesar de estar na mira de uma espada e um machado que clamava por mais sangue derramado.

— Traidor! – Vociferou para Sasori antes de avançar sobre ele, mas o golpe foi impedido pela urgência de desviar do machado que buscava sua garganta.

O último soldado conseguiu desviar de mais dois golpes mostrando que era habilidoso, mas quando Sasori, com um movimento veloz, desarmou o seu superior, Sasuke conseguiu cravar seu machado no ombro do homem assombrado, antes do ruivo terminar o combo invadindo a armadura por uma falha para acertar um ponto vital.

Aos poucos o brilho da vida foi se apagando dos olhos do grande soldado, restando apenas um corpo sem vida que caía sobre sua própria poça de sangue assim como seus outros subordinados e corpos desfalecidos deixados pelos corredores da velha construção.

Só naquele momento que Deidara liberou com alívio o ar que nem sabia que estava prendendo, mas assim que viu o líder dos Águias retirar seu machado ensanguentado do corpo sem vida e finalmente fixar seus olhos negros na mulher acorrentada e machucada, com parte da sua roupa rasgada, exibindo um dos pequenos seios, o loiro compreendeu que não havia terminado.

Os negros se voltaram para ele e Deidara compreendeu que o ódio tinha se intensificado e era dedicado apenas a ele, culpando-o por tudo.

A seriedade desenhou o rosto do capitão que não se acovardaria diante do machado que era preparado mais uma vez para o ataque, mas com surpresa, o loiro viu o seu soldado bloquear o ataque de Sasuke sem ao menos demonstrar medo diante dos negros dominados pela raiva.

— Sasori, pare! – Deidara vociferou. Mesmo conhecendo a habilidade do ruivo, ele sabia que o desejo de vingança de Sasuke era maior do que tudo.

— Não – Sasori gemeu bloqueando outro golpe do moreno que parecia ficar mais irritado com a intromissão.

— Pelo visto terei que matá-lo antes do que o prometido – a voz fria do líder dos Águias reverberou baixo pelo recinto, enquanto a mulher remexia as correntes inquietas, buscando nitidez da voz:

— Parem! – Arfou. – Senhor, pare! – Implorou mais alto, mas Sasuke parecia bloqueado para a sua voz. – Sasuke, pare, por favor! – Gritou com toda a sua força conseguindo a atenção dos três, principalmente dos dois que lutavam e tinham suas armas bloqueadas. – Ele estava me protegendo – explicou.

— Protegendo? – Uma risada baixa, sem humor e perigosa ressoou da boca masculina com escárnio.

— Se não fosse por ele chamando atenção dos soldados para que o chicoteassem, eu teria sido atacada muito antes que você chegasse – cuspiu as palavras com força, tentando fazê-lo voltar a razão, mas só Deidara compreendia como aquelas palavras surtiram mais efeito em Sasuke do que os outros poderiam imaginar.

Uma troca de olhares entre os dois disse tudo... Itachi.

O homem que tentou despistar a atenção dos soldados quando os irmãos foram capturados. Chamou tanta atenção que as sessões de tortura o desfiguraram, tudo assistido por Sasuke que recebia mais marcas em seu corpo.

A visão do irmão desfalecendo à sua frente sem deixar o sorriso confortador desaparecer voltou a sua mente como um balde de água fria trazendo-o de volta para a realidade.

Ainda entorpecido pelas lembranças dos dias que permaneceu acorrentado de frente para o corpo sem vida e profanado do seu irmão, o machado perdeu sua força e o homem deu um passo para trás, antes de gritar e fincar sua arma nas correntes da bruxa atrás de si.

A ruiva de olhos castanhos despertou para sua liberdade enquanto tentava se equilibrar sobre as pernas fraquejadas e fugir daquele lugar.

Deidara suspirou de alívio ao ver o homem sempre carrancudo se voltar para a sua companheira de Resistência e cobrir sua nudez com o seu casaco antes de quebrar suas correntes para carregá-la para fora daquele lugar.

O momento de alívio foi substituído pela raiva direcionada ao ruivo que destruía as suas correntes e ofertava sua ajuda como na primeira vez em que se viram.

— Ficou louco? Não se meta mais na frente daquele homem!

— Esta é sua forma de me agradecer? – Rebateu com o brilho da raiva voltando aos olhos castanhos.

— Por que me defendeu? – Questionou subitamente enquanto tentava seguir o mais rápido possível por entre os corredores salpicados de corpos, denunciando o que eles enfrentaram para chegar até os reféns.

Sasori nada respondeu. O silêncio e os olhos em frente enquanto tentava contornar vielas e evitar soldados, foi a sua única resposta. No entanto, o que ele não admitia é que por dentro ele se fazia a mesma pergunta.

Só foi desperto quando tentou subir a rampa para a embarcação e diferente do outra vez em que o deixou ali na calada da noite, o sol estava a pino, assim como todos os marujos despertos e com espadas apontadas para o soldado suspeito que praticamente carregava o seu capitão.

— Não o ataquem. Ele não é um inimigo – Deidara suspirou ao ver todos os seus homens prontos para defendê-lo enquanto Sasori assumia uma posição de ataque.

— Mas senhor... – começou um antes de ser interrompido.

— Sasuke já embarcou?

— Sim – um se prontificou a anunciar – chegou carregando aquela moça ensanguentada, com uma mulher suspeita seguindo-os de perto.

— Ele se trancou nos aposentos, Capitão – outro continuou. – E aquela mulher estranha não sai da porta proferindo palavras em outra língua para nós quando nos aproximamos – comentou um tom mais baixo.

— Deve ser uma bruxa capitão. Devemos jogá-la ao mar?

Deidara quis socar o temor supersticioso dos seus homens, mas tudo o que ele queria era a sua cama e ficar longe de Valência, por isso, tomando a sua voz autoritária, proferiu as ordens:

— Deixem-na em paz. Deem-na água e alimento e se afastem da cabine do Sasuke, a menos que queiram perder suas cabeças para aquele machado e – procurou um rosto entre todos os homens antes de gritar: – Imediato! Tirem-nos daqui imediatamente, quero pelo menos uma milha de distância dessa cidade, AGORA! – A ordem fez com que todos procurassem suas posições e trabalhassem para afastar o navio da costa.

Deidara apontou com o queixo para a porta abaixo do tombadilho e Sasori compreendeu levando-o até os aposentos.

Assim que se isolaram do restante dos Conchas, Deidara suspirou aliviado tomando a pose altiva, caminhando tranquilamente pelo seu grande e bagunçado aposento, agradecendo aos seus homens por terem preparado a água do seu banho como ordenado antes de sair para o mercado.

— Você consegue andar sem ajuda? – Sasori inquiriu com raiva ao ver o homem aparentemente tranquilo, se espreguiçando apesar dos cortes que sangravam nas suas costas.

— Você acha que algumas poucas horas de tortura são capazes de me derrubar? – Estreitou o único olho visível com seriedade por cima do ombro antes de apontar com o polegar para o próprio peito e olho escondido pelo tapa-olho. – Essas marcas eu não recebi em tabernas, mas sim em sessões de tortura – concluiu voltando a retirar as botas antes de retirar a única peça que ainda cobria seu corpo. Expondo ao mundo o corpo glorioso e bem-feito de um capitão marcado pela vida de marinha e como líder de uma Resistência.

Os olhos castanhos desviaram da visão quando Deidara fez menção de ficar de frente para ele. Focou o olhar na mesa bagunçada pelas cartas náuticas enquanto o barulho de água reverberava pelo ambiente.

Tirou a espada que havia guardado e deixou ali em cima antes de comentar:

— Eu já suspeitava que era um desertor, mas hoje pude ver com detalhes as gravações em sua espada. É de uma qualidade que só o alto escalão tem.

— É – Deidara murmurou jogando mais uma concha de água sobre sua cabeça, já que a banheira não era o suficiente para deitar, obrigando-o a ficar de pé, sentindo a água escorrer com prazer pelo seu corpo, por mais que a ardência nas costas lhe tirasse alguns grunhidos de dor. – Isso já faz muito tempo – puxou os cabelos soltos para trás, enquanto abria o olho intacto e o outro branco como leite, inutilizável há algum tempo. Focou o olhar na parede de madeira, sabendo que o outro o encarava pelas costas, talvez um pouco incomodado pela sua nudez, pensou com ironia.

— Deve jogar álcool em cima das feridas – opinou pegando uma garrafa de vinho tinto, aproveitou para tomar um gole grande da bebida envelhecida antes de tomar coragem para se aproximar do loiro nu de costas para si. Derramou uma grande quantidade nas costas maculadas, tirando um gemido de dor pela ardência.

— Acabou de jogar meu melhor vinho na minhas costas – riu com humor se voltando de frente subitamente para o ruivo de maxilar trincado.

— É melhor eu ir. Tenho que voltar a Valência – explicou estendendo a garrafa para o capitão com o intuito de partir, mas mão calejada que o segurou com força pelo punho, deixava claro que não o deixaria partir daquela vez.

— Se voltar para a Valência, será como um traidor. O decapitarão em praça pública por ajudar uma Resistência. Pensas que ninguém o viu, mas existem olheiros e esses o viram comigo. Seu destino foi selado assim que me ajudou a fugir.

— Não tenho outra opção – disse frio.

— Tem uma, sabes disso. Uma que vem pensando há algum tempo.

— Não me tornarei um de vocês – disse com asco, retirando um sorriso sombrio de Deidara que apenas se deteve a sair da banheira e se aproximar do homem com a armadura de um soldado para dizer em um tom mais baixo:

— Porque tem medo de ficar perto de mim e gostar, mas há muito tempo observo que não age como os outros soldados e que no fundo não aceita a atual situação do Reino.

Os castanhos desviaram para um ponto qualquer e Deidara sabia que suas palavras estavam sendo absorvidas lentamente pela cabeça ruiva e teimosa daquele soldado.

Há tempos ele vinha voltando de tempos e tempos para Valência só para ver aquele soldado, sempre terminando naquele choque de olhares antes que o primeiro desviasse, esse sempre era o soldado.

Sasori fez menção de falar algo, provavelmente mais palavras ofensivas, mas antes que o primeiro "A" saísse da sua boca, a pressão de lábios gélidos pelo recente banho se fez sobre a sua boca, surpreendendo-o.

Não houve tempo para pensar ou reagir, pois, as mãos calejadas acostumadas a manejar o leme de um navio, seguraram com força as laterais do rosto do ruivo, aprofundando o beijo, dando margem para que Deidara provasse com a língua o gosto amargo de vinho da boca de Sasori.

Por um momento pensou que ele o empurraria ou ameaçaria com a espada quando as mãos de Sasori se ergueram, mas após um momento de hesitação, as mãos escolheram se alojar no quadril estreito do loiro, enquanto o ruivo correspondia o beijo com voracidade. Um beijo com gosto de vinho e cerveja barata. Deixando para o depois, a hora de pensar no que haviam feito.

 

***

 

— Então esta é a sua comitiva? – Questionou Deidara de maneira relaxada, apoiando a mão no cabo da sua espada enquanto observava os homens truculentos sobre cavalos e Sasuke em pé a sua frente, com a expressão apática de sempre, enquanto Sakura exibia um sorriso amável e a tal bruxa não saía de perto dela.

— Não importa. Você vai se aliar ou não? – Questionou com mal humor, deixando evidente seu desejo de partir e deixar Sakura o mais longe de Valência; esta, por outro lado, apenas estreitou o olhar para o seu líder sem modos, tirando um riso do loiro.

— Sim, eu vou me aliar a vocês. Compreendo que agora é meu dever buscar outras Resistências que tenham frotas para aumentar a Aliança. Já tenho alguns em mente – cedeu vendo o sorriso largo de Sakura esbanjar para ele.

— Ótimo – foi lacônico estendendo algumas cartas com o selo dos Águias para distribuir aos futuros aliados, mostrando a seriedade do caso. – O apoio dos Conchas facilitará para que outros se aliem.

— Exato – concordou estendo cartas com o selo dos Conchas. A seriedade saiu do rosto ao se voltar para a mulher que ficou de cama por duas noites seguidas tendo um líder mal-humorado se negando a se afastar ou deixá-la aos cuidados de outros. – Sente-se melhor?

— Sim. Não se preocupe. A culpa não foi sua – foi gentil estendendo a mão para Deidara que beijou como um cavalheiro.

— Caso não nos vejamos mais uma vez, pelo menos já brindamos pela nossa morte – brincou fazendo Sasuke erguer uma sobrancelha em confusão.

— Quando for à Barcelona, avise-me. Temos amigos donos de uma taberna. Posso jurar que é a melhor bebida que já experimentei. Será por minha conta.

— Estou tentado a seguir para Barcelona com vocês.

— Sentirei saudades da sua companhia, Capitão. Obrigada pela hospedagem.

— Cuide-se e cuide desse mal-humorado aqui – apontou com o queixo o moreno que bufou dando as costas, preparando o cavalo que levaria ele e a pequena mulher, já que a ruiva que agora estava sobre a proteção dos Águias, ficaria com o cavalo de Sakura por enquanto.

— Cuide do seu soldado, Capitão – apontou com queixo para Sasori agora sem a armadura de um soldado, mas sim as vestes simples de um homem que jurou a lealdade aos Conchas.

O ruivo bufou desviando o olhar, mas o movimento grosseiro só retirou risos dos dois amigos.

— Acredite senhorita, estou cuidando muito bem do meu soldado – exibiu um sorriso perverso que corou a mulher de belos olhos verdes, antes de rir encarando os olhos castanhos cheios de raiva para si.

Deu um último beijo nas mãos femininas antes de ajudar a mulher ainda machucada a subir no cavalo negro que o líder já montava.

Observou eles partirem e sumirem em meio a floresta densa do Sul de Castela e Leão, rumo ao alcance de uma nova Resistência, até que a lufada de ar raivosa de Sasori chamar a sua atenção para o único companheiro que desembarcou para se despedir dos convidados.

Estou cuidando muito bem do meu soldado— ouviu-o murmurar em meio aos olhos raivosos.

— O que eu fiz para merecer esses olhos? Só disse a verdade – zombou recebendo um olhar castanho em chamas sobre o ombro largo. – Nesses dois dias eu vi outro tipo de olhar – atiçou com um sorriso com más intenções, fazendo seu companheiro desviar o olhar, apesar das lembranças já terem sido acordadas na mente dos dois.

A lembrança de dois corpos febris, corpo a corpo, dividindo-se na dualidade de domínio e carícias libidinosas, até que o prazer os inundasse e terminassem a noite com as respirações entrecortadas, lado a lado, encarando o teto de madeira da cabine do capitão, questionando-se se alguém pode ouvi-los....

— Não se preocupe – Deidara reiniciou alto, tirando o ruivo dos próprios pensamentos. – Todos já sabem – os lábios esticados eram o anúncio da perversidade que diria. – Meus homens estão apostando em quem é o dominante. É claro que eu sou a pessoa em quem eles apostaram...

— Maldito! – Vociferou apressando o passo, deixando o capitão divertido para trás, mas a seriedade voltou ao rosto do loiro que observou os mares infinitos a sua frente.

Ele sabia que aqueles mares calmos em breve se tornariam um mar de sangue.

Não sabia quanto tempo ainda faltava, mas sabia o que tinha que fazer, afinal...

 

Mar e sangue são o seu lar

 

FIM!


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Notas finais do capítulo

E mais uma vez SasuSaku fica aberto, mas é porque o enfoque aqui não é eles ^^
Obrigada a todos os que leram!
As outras histórias já estão disponíveis para a leitura!

Hitsatuke: https://www.spiritfanfiction.com/historia/principe-do-fogo-11441585

Mirys: https://www.spiritfanfiction.com/historia/magia-11442229

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