Fiquei sentada na grama por um tempo, até que percebi que o sol iria se por logo. Me levantei, batendo a mão na calça para tirar a poeira. Me virei para ir embora, quando um cheiro doce e enjoativo atingiu meus pulmões.

Comecei a tremer, e senti aquela dor aumentar. Tentei me controlar, mas o cheiro ia ficando cada vez mais doce, provavelmente o dono do cheiro estava chegando mais perto. Senti meus músculos arrebentarem, e logo depois se prenderem novamente. Minha dor passou, somente a que Jacob colocou lá ficou.

Eu não sabia se corria na direção do cheiro, ou na direção oposta. Meu extinto decidiu por mim, uma decisão estranha na minha opinião, mas como eu nunca tive instinto de sobrevivência, a não ser hoje quando fui falar com Jacob. Corri com toda a minha velocidade na direção daquele cheiro. Era estranho o jeito que eu corria, não parecia ser sobre duas pernas, e sim sobre quatro patas. Parei automaticamente quando pensei nisso. Mudei o curso da corrida, deixando aquele cheiro para trás, e corri para um lago que havia na floresta.

Andei vagarosamente, até a margem do lago, colocando somente minha cabeça para a imagem refletir. Eu parecia uma loba, sério, eu devo estar em um sonho. Devo ter dormido na clareira e estou sonhando com isso. Só pode ser, não tem outra explicação. Olhei novamente, dessa vez deixando a imagem ser refletida até meu peito.

Isso não era um sonho, tenho certeza disso, a dor que Jacob deixou ainda é real, um sonho não é tão real. Que ótimo, agora eu sou uma loba. Como vou entrar em casa, e falar com Charlie?

Senti uma dor de cabeça aguda, como se colocassem várias agulhas em minha mente. Uivei com a dor, e senti mais “agulhas” tentando ultrapassar a barreira. Ouvi vários passos se aproximando, e fiquei sem ação. Eu não ia nem para frente e nem para trás, fique totalmente imóvel. Cinco lobos enormes apareceram em minha frente, e eu dei um passo para trás. Senti novamente aquela dor, e uivei um pouco mais baixo.

Um dos lobos carregava algo na boca, parecia ser um tecido. Ele avançou um pouco mais, e eu comecei a correr. Ouvi dois dos lobos virem atrás de mim, e corri com minha máxima velocidade. Era a mesma velocidade que a de Edward, ou até maior talvez. A floresta era somente um borrão dos meus lados.

Um dos lobos apareceu na minha frente, e eu desviei para o lado, fazendo com que ele voltasse a correr. Não sei por quanto tempo eu corri, a única coisa que sei é que de repente cheguei na frente da estrada. Olhei para os lados, e tentei ouvir melhor. Nenhum, carro vinha. Voltei a correr, mesmo sendo a estrada. Até que cheguei a casa dos Cullen.

A casa estava abandonada, mas eu consegui ver que os móveis continuavam lá. Fui para trás da casa, um dos únicos lugares em que haviam paredes, e me concentrei em voltar a forma humana. Foi difícil, mas na quinta tentativa consegui.

Percebi que estava sem roupas, provavelmente elas explodiram na hora em que me transformei. Subi para o quarto de Alice, e abri o closet. Provavelmente no quarto dela haveriam roupas, afinal ela não levaria alguma coisa da coleção passada. Ri com esse pensamento.

Coloquei um shorts e uma camiseta, peguei um dos poucos sapatos sem saltos que haviam lá, vesti tudo e sai da casa, tomando cuidado para não ser vista pelos lobos.

Andei lentamente até a estrada, e lá comecei a correr, tomando mais velocidade. Entrei na floresta, e tentei aumentar ainda mais minha velocidade, o que para minha surpresa, foi possível. Não corria tanto quanto corri enquanto estava em forma e loba, mas ainda assim, chegava a ser a velocidade em que Edward corria.

Cheguei em casa, por sorte sem ninguém me seguindo, e pude ouvir Charlie batendo com o garfo e a faca no fundo do prato.

-Oi pai. –falei, enquanto entrava em casa.

-Olá, onde estava? – Charlie perguntou olhando para o relógio. Olhei na emsma direção, e constatei serem exatas 19:30.

-Fui para La Push falar com Jake, e depois dei uma volta pela cidade. – menti, e por incrível que pareça ele acreditou. Eu com certeza não poderia responder para meu pai assim: “Eu fui andar um pouco na floresta, e senti um cheiro doce. De repente eu virei uma loba, que foi perseguida por outros lobos, até chegar a casa dos Cullen, lá eu peguei uma roupa que Alice havia deixado, e vim correndo até aqui. Por sinal eu namorava um vampiro, que tinha sua família também vampira, e eu constatei que tenho uma super velocidade como eles.” Ele me internaria no hospício.

-Sei, e voltou sem carro? – perguntou Charlie. Droga, eu esqueci da picape.

-Pois é, eu vou buscá-la amanhã queria andar um pouco. – Disfarcei. – Boa noite. – Lhe dei um beijo no rosto, e subi para meu quarto antes que ele percebesse mais alguma coisa.

Me joguei na cama. Eu iria chorar novamente, se não tivesse coisa mais importante para me preocupar, como por exemplo o fato de eu ter que sair da cidade. Não poderei ficar aqui, eu não sei o que sou capaz de fazer, e não pretendo machucar a ninguém. Não irei para Jacksonville morar com a minha mãe, seria outra coisa fora de questão. Mas talvez ela saiba de alguma coisa quanto ao fato de eu virar uma loba branca enorme.

Decidi que conversaria com Charlie sobre eu ir morar com mamãe novamente. Caso minha mãe saiba para onde eu devo ir, eu sairei da casa dela, e irei para onde quer que seja, caso ela não saiba, eu mesma irei atrás disso. Tenho que saber o porque de eu ser uma loba.

Coloquei um pijama, troquei minha coberta por um lençol, e me deitei, dormindo logo em seguida.

Eu corria para todos os lados, sem saber exatamente para onde ir, até que vejo uma luz muito brilhante queimar meus olhos. Tento enxergar normalmente, mas não consigo, sigo na direção da luz, e acabo trombando em algo, ou alguém. Olhei para cima, e reconheci a figura em que trombei. Era Jacob, mas ele não tinha brilho algum nos olhos. Ele caiu o chão com o impacto, o que eu não entendi, Jake não cairia assim sem um motivo, a não ser que ele estivesse muito fraco, coisa que ele não estava pois seus braços continuavam com os músculos. Então a outra possibilidade seria ele estar....

-NÃO!! – Acordei gritando e respirando fundo. Pude ouvir que Charlie ainda estava lá em baixo, e me levantei. Peguei uma roupa no armário, e desci para falar com ele, e tomar um copo de água para me acalmar.

-O que foi Bella? – Charlie perguntou enquanto pegava mais um pedaço do sanduíche que comia.

-Só um sonho. – respondi, abrindo a geladeira e colocando água em um copo. –Queria conversar com você. – me sentei na cadeira a sua frente, e ele sinalizou para que eu continuasse.

Respirei fundo, eu não poderia simplesmente falar para ele que eu estou indo morar com minha mãe, não queria magoá-lo. Tentei encontrar uma solução, enquanto tomava outro gole de água.

-Pai, você se lembra de quando falou em eu voltar a morar com minha mãe? – perguntei e ele assentiu, me olhando sério. – Eu acho que você estava certo, eu devo mesmo voltar a morar com ela.

-Mas Bella, agora você já está melhor, está vivendo novamente. – Charlie falou como se não entendesse.

-Eu sei, mas acho que tem chances menores dos Cullen irem para Jacksonville do que voltarem para cá, e eu não quero reencontrá-los até ter superado totalmente isso tudo. – expliquei, e ele engoliu o que mastigava.

-Eu lhe entendo. – Pude ouvir a tristeza na voz de Charlie. – Quando você pretende ir? – ele perguntou.

-O mais rápido possível. – eu realmente estava com pressa de ir para lá.

-Arrume suas coisas, vou ver se consigo um vôo para hoje ou amanhã. – Charlie falou, sua voz falhando no fim. Ele realmente não queria que eu fosse embora. Lhe dei um abraço apertado, e um beijo na bochecha, e subi para meu quarto.