*

O alvorecer transbordava por de trás das nuvens alaranjadas do horizonte do reino, quando o barco dos irmãos das ilhas do sul desaparecia entre as ondas do mar, ao longe do fiorde.

Anna cantarolava animada com nossa vitória, assim como Kristoff e Sven, com o pequeno boneco de neve falando o quanto Hans e seus irmãos tinham sido inoportunos com todos do reino, inclusive ele , mesmo. Não esperava menos de um sujeito sem escrúpulos como ele.

 Ao anoitecer, quando a lua estava alta no céu e as estrelas brilhantes, fomos ao encontro dos Trolls, com as lembranças de minhas tias e minha mãe, em mãos, com a esperança de que tudo fosse colocado em seu devido lugar, como sempre deveria ter sido.

— Kristoff chegou!_ o loiro foi puxado por diversos trolls menores e um ou dois maiores, com sorrisos e risadas pelo simples fato de terem o “familiar” de volta ao lar, assim como sua esposa. Será que estavam felizes por mim também?

— Sim, Sim! Estou de volta graças aos nossos amigos de outro mundo_ Anna correu para perto de seu noivo, sorrindo enquanto começava sua historia de como tínhamos parado em um mundo que não tinha “exatamente” magia, onde existiam outros personagens de contos que foram escritos em livros, conhecidos como Contos de fadas.

Mas omitiu algumas partes mais detalhadas, como o que minha tia Ingrid tinha feito nesse mundo, e tentado por minha irmã contra mim, e todo o resto. Não queria manchar a imagem dela desse jeito, ela merecia ser amada.

Vovô Paby parecia feliz ao nos ver, tanto que puxou Kristoff para um abraçado apertado – uma coisa bem incomum, já que o pequenino era mais reservado – assim como Anna, que parecia tão feliz que não conseguiria esconder nem que quisesse.

— Elsa! Que bom ver que a vossa majestade esteja bem e segura_ esbanjo meu melhor sorriso, me aproximando dos demais, notando alguns pequenos se afastando devagar, tentando não ser indiscretos. Não era de esperar.

— Vovô Paby, precisamos de sua ajuda, por favor _ me ajoelho na frente do troll, mostrando a pedra roxa em minhas mãos, vendo os olhos frios e negros do pequeno a analisando com cuidado.

— Isto e...

— Precisamos que reverta o feitiço que nossa mãe pediu para o senhor fazer_ Anna fez o mesmo movimento, ficando ao meu lado, usando seu tom doce e um tanto infantil, tentando convence-lo_ Veja isto como um presente de casamento.

As íris negras do troll vagaram pelo pequeno gramado da casa dos trolls, se virando para nós depois de andar 4 ou 6 vezes um do lado do outro, deixando um rastro raso no chão, dando a entender que já tinha pensado o suficiente para nos dar uma resposta definitiva, ou era o que esperávamos.

— Esta certo, mas não como um presente de casamento de vocês dois, mas sim por que suas tias não mereciam ser esquecidas pelo povo delas e pelas pessoas que a amavam.

Anna pulou nos braços no pequeno troll, o abraçando tão forte, que se o mesmo não fosse de pedra, provavelmente teria quebrado. Kristoff comemorou junto com os pequenos, com Sven e com Olaf, que serviu como bola para os menores brincarem.

Era revigorante ver todos naquela clima tão bom, com tudo caminhando como deveria ser: em paz. Isso deixava meu coração “aquecido”.

*

Três meses depois...

Anna corria de um lado para o outro, puxando fitas coloridas e alguns sapatos do armário, me perguntando o que achava naquele, ou do outro, pro seu casamento, que seria amanhã ao por do sol.

— Anna, todos são lindos na minha opinião, desculpe-me!_ a ruiva bufou, jogando as fitas na cama e os sapatos no chão, sentando na cadeira de sua penteadeira, levemente ruborizada e ofegante.

— Eu sei! Mas eu quero que seja perfeito, mas parece que só consigo me afundar em varias decisões que não consigo suportar.

— Arrumar um casamento e bem difícil, Anna, mas você consegue, na verdade, já conseguiu o que eu considero o mais dificil_ sorrio, pegando uma fita azul e outra verde que estavam na cama, puxando minha irmã pra frente do grande espelho, deixando a se olhar enquanto colocava as fitas coloridas em seu cabelo, tentando fazer um penteado como nossa mãe fazia_ Você conseguiu um homem que te ama e vai te fazer muito feliz por vários e vários anos.

— Ahh, sim você tem razão e o que eu mais quero, que sejamos feliz juntos. Estou sendo boba em me preocupar tanto, fico muito feliz em ter você do meu lado Elsa_ Anna puxou meus braços, empolgada, sorrindo de orelha a orelha.

— Eu sei, mas agora você precisa se arrumar e se concentrar pra amanhã, irei ver se esta tudo no lugar para você_ sorri, deixando o quarto, permitindo que Anna ficasse com seus pensamentos e decisões de o que vestir, indo conferir se já estava tudo pronto para amanha.

Tudo tinha que esta em perfeita ordem

*

No dia seguinte

12:00

— Ah Elsa você tinha que ter visto o quanto a igreja ficou deslumbrante para a cerimonia, realmente as decoradoras de Arendell estão de parabéns. Tem que chama-las pra quando você se casar_ Anna sorrio meio torto, talvez pelo fato das moças ainda estarem ajeitando o vestido de casamento, alfinetando-a o quanto podia para ficar perfeita ao por do sol, enquanto a ruiva tentava espantar a dor incomoda, alfinetando a mim.

— Não acho que tenha um cara certo para mim, Anna, não sou uma típica mulher do reino, venho com bagagem a mais, lembra?_ circulo o “pedestal” aonde minha irmã estava, com duas senhoras ajeitando e ajustando o vestido branco e delicado.

— Deixe disso, só por que você tem poderes de gelo e fez o que fez com o reino há alguns anos, não quer dizer que você seja diferente das demais mulheres do reino. Claro, você e a rainha então isso já tem uma certa diferença né? Casar com rainha não deve ser fácil.

— E casar com uma princesa também não deve ser tão fácil_ divertir-me com o bico que Anna fez, tentando não imaginar o que seria depois de casar com o loiro, amante de renas, cumprindo alguns deveres reais.

— Tenho certeza de Kristoff vai se acostumar, até por que, nossas vidas não mudaram só por que vamos nos casar

— Claro, que tolice a minha _ apoio-me na parede perto do espelho em que a ruiva se observava, imaginando no que a mesma tinha tido a minutos atrás.

Talvez seja assim daqui a alguns anos, vou encontrar alguém e me apaixonar perdidamente e vamos governar nosso reino juntos, tendo uma vida feliz e tranquila, como a de Anna e Kristoff.

Talvez sonhar com isso seja errado tanto quanto pensar em alguém que queira-me como esposa, uma mulher que não sente calor e nem frio, com poderes fortes o suficiente para mata-lo congelado, o transfornando em uma estatua de gelo para jardim...

Que monstro eu seria...

— Elsa?_ sinto as mãos de Anna me trazendo de volta a realidade, com seus ordens azuis me analisando com preocupação no rosto.

— Ah, desculpe Anna, estava pensando em como vou sentir falta de você quando viajar para Corona_ esbanjo meu melhor sorriso falso, tentando deixa-la calma_ Deus, ate de Kristoff vou sentir falta.

— Relaxe boba, só vamos por alguns dias, você vai ver que logo logo estarei de volta, talvez com nossa prima Rapunzel, sinto falta dela e queria você a conhecesse_  sinto meu peito se encher de alivio ao conseguir driblar a ruiva, que começou a tagarelar sobre nossa prima Rapunzel, filha de nossa tia distante, que era rainha do reino de Corona.

— Também gostaria de conhece-la, Anna.

Também gostaria de esquecer meus pensamentos e sobre meu futuro depois deste casamento.

*

A Igreja ficou lotada, vários de nossos parceiros comerciais estavam la, mesmo com o atraso de alguns meses do casamento de Anna, entretanto por causa disso, nossos parentes não puderam comparecer, mas mandaram seus presentes e o quanto estavam felizes por Anna e seu noivo.

Nunca vi minha irmã tão feliz por receber pedaços de papeis de nossos parentes – parentes estes que nunca conheci e acho que nunca virei a conhecer direito.

Quando a cerimonia começou, puxei Anna para leva-la ao altar, tentando acalma-la o possível para que conseguisse andar ate o noivo, que estava tão nervoso quanto ela. Por sorte, Olaf estava la para acalma-lo o máximo possível, fazendo suas gracinhas e piadas, ao lado de Sven, o fiel parceiro de Kristoff.

— Elsa, estou com medo, não podem me dar um copo de água, por favor, sinto como se fosse desmaiar com tantas pessoas me olhando!_ Anna apertou meu braço com força, tremendo como se estivesse em pé no gelo.

— Ei, fique calma Anna, se concentre no seu noivo e ignore todos, você vai conseguir_ apertei sua mão, tentando passar confiança para que tudo desse certo. Afinal, Anna nunca tinha sido famosa por ser tranquila.

— C-Certo, vamos la_ sorri, vendo a retribuir, apertando minha mao, como se não houvesse consequências – provavelmente estaria roxo mais tarde.

A música começou a tocar, leve e suave, dando inicio a entrada da noiva, que começou a caminhar, com um passo de cada vez, mostrando todos os dentes com seu sorriso nervoso e tremulo, e com sua mão destruidora de dedos.

Um, dois, três, perdi a conta quando o loiro a pegou pela mão e demos inicio a segunda parte da cerimonia. Meu coração parecia pular de alegria ao ver tamanha felicidade da ruiva, que chorava a cada palavra que o padre dizia, foi maior, quando Kristoff a beijou, selando o matrimonio e dando um novo começo aquele casal.

Isso me deixava feliz, extremamente feliz, mas também aliviada, pois enquanto todos aplaudiam o novo casal saindo da igreja, percebi que tudo estava caminhando como tinha que ser, e não faltaria muito para que terminasse, como deveria ser.

*

“ Minha amada irmã,

Sei que esta carta pode parecer muito precipitada, ou até desnecessária ao meu ver, mas acho que nunca poderia deixa-la sem minhas ultimas palavras.

Minhas palavras despedida, minhas palavras de adeus. Mas saiba que eu te amo, e por isso decidi que preciso partir para longe, o mais longe que eu puder.

Não sei o que encontrarei pela frente, mas não precisa se preocupar, desbravarei vários lugares, sendo livre, sem problemas, sem deveres reais que me prendam a uma rotina enfadonha e infeliz em um castelo com tantas lembranças amargas.

Depois do que vivemos no outro mundo, e quando tivemos aquele problema com meus poderes sem controle, percebi que preciso de um tempo sozinha pra colocar meus sentimentos, meus medos, minhas dores, em ordem. Você esta começando uma nova vida, com uma pessoa que ama você, não pense que estou estragando tudo de novo, por favor.

Só quero ter o direito de recomeçar também.

Da sua querida irmã que te ama muito.

Elsa de Arendell.”

Deixei a pena ao lado da carta, fechada e com o selo da família real de Arendell, analisando tudo que tinha acontecido, e que estava para acontecer. Minha irmã estava arrumando as malas, mesmo que fosse 4 da manhã, para viajar logo que o sol nascesse, assim como seu noivo, que levaria Sven e Olaf, a muito custo, ao menos de minha parte.

Não sei aonde iria e não tinha muitos planos, mas quantos não fizeram grandes feitos em circunstancias piores, mesmo que minhas ideias não fossem descobrir nossos países ou algo do tipo como nos livros, o que vier, eu aceito com prazer.

— Elsa! Esta na hora, por favor, venha me ajudar e se despedir_ Anna bateu na porta do escritório, gritando sem muita necessidade.

— Já estou indo Anna, estou terminando aqui.

Sim, já estava terminando.

Quando saísse por aquela porta.

Quando deixasse Anna no cais, vendo a partir pra Corona em sua lua de mel, saberia que estaria livre.

Por enquanto.