Sábado, 19:07 P.M.

— Filha, você está linda — diz a mãe, mal conseguindo conter a alegria.

— Está maravilhosa — diz Bianca, abrindo os braços. — Diz aí. Fizemos ou não fizemos um ótimo trabalho? Que ótimo o quê? Um magnifico, fantástico, estupendo trabalho.

Larissa ri diante do enorme entusiasmo das amigas e da mãe.

— Obrigada, mamãe. Obrigada, meninas. Não tenho palavras para agradecer. Está tudo muito lindo. Mais que lindo. Está perfeito. Vocês não imaginam como estou feliz.

— Ora essa, é claro que está. Hoje é o dia mais especial da sua vida. Tem mais é que estar feliz, mesmo.

— Este é o seu momento, amiga. Meus parabéns.

— Obrigada, Vivi.

A garota de cabelos ondulados abre os braços e envolve Larissa num abraço apertado.

— Meus parabéns, lindona! Que você seja imensamente feliz e que Deus continue te abençoando. Quero desejar todas as alegrias deste mundo, e saiba que se as tristezas vierem, eu estarei do seu lado, como você sempre esteve do meu. Obrigado por ser mais do que uma amiga comum. Parabéns! Amo muito você.

— Também te amo.

Bianca faz o mesmo.

— Felicidades, amiga! Faz tempo que não digo o quão você é importante para mim, mas hoje é um dia especial e não posso deixar passar em branco. Alguns momentos tristes me provaram que você, além de uma pessoa batalhadora e linda, é a amiga mais verdadeira que alguém pode querer. Feliz aniversário. Que essa data seja multiplicada várias vezes e que venha recheada de alegrias. Você merece isso e muito mais. Amo você.

— Obrigada. Também amo você.

A mãe se aproxima e a abraça com força.

— Vem cá, meu amor. Deixe-me abraçá-la.

— Ah, mamãe. Você, como sempre, sentimental.

— Eu sou assim. O que posso fazer? Ainda mais em um dia como hoje. Me lembro de quando você era uma garotinha. Do dia em que a peguei nos braços pela primeira vez. Senti meu corpo estremecer de tanta alegria, filha. Agora olhe para você. Já é uma mocinha. Uma mocinha linda, meiga e muito graciosa.

— Pare, mamãe. Senão, vou manchar toda a maquiagem.

— Tudo bem. Desculpe. Mas suas amigas têm razão. Hoje é um dia especial. Você está dando um novo passo em sua vida. — A mulher deixa escapar um soluço baixo. — Eu quero que você seja muito feliz, meu amor. Quero que sempre faça a escolha certa. Mas, haja o que houver, eu sempre estarei do seu lado. Eu te amo, Larissa. Não se esqueça disso.

— É claro que não vou esquecer, mamãe. Amo você.

— Também amo você. Agora... chega de pieguice. Aproveite a festa. Seu pai deve estar conversando com os amigos dele. Vou lá cumprimentá-los.

— Ok.

A mulher se afasta. As amigas de Larissa continuam a lhe fazer companhia. Esbanjam alegria por todos os poros, como se em vez de Larissa elas fossem as aniversariantes. Bianca diz:

— Gente, desculpa. Mas não consigo evitar. Essas coisas sempre me deixam emocionada.

— Tudo bem, amiga — diz Larissa. —Também estou emocionada.

— Meninas, eu não quero ser mal educada, mas... estou morrendo de fome.

Larissa ri.

— Calma, Viviane. Espere só mais um pouquinho. Daqui a pouco o jantar será servido. Aí você come.

— Tomara que não demore.

— A propósito, Larissa, onde está o seu namorado? Ele ainda não chegou?

— Não. Ainda não.

— Nossa, que estranho. Ele já deveria estar aqui, não? O que será que aconteceu?

— Sinceramente, não faço a mínima ideia.

— Não quer telefonar para ele? — pergunta Viviane, tirando o celular da bolsa. — Se quiser, pode...

— Não precisa. Deve ter acontecido alguma coisa que o fez se atrasar. Talvez esteja preso no transito, ou... Sei lá.

Bianca olha para Larissa com desconfiança. Está falando do namorado como se fosse algo sem grande importância. Talvez seja apenas impressão, mas Larissa não parece tão preocupada com o atraso da pessoa mais importante da festa.

Ela dá de ombros. Viviane guarda o celular de volta na bolsa, e quando olha de volta para Larissa, percebe um movimento atrás dela e seu semblante muda completamente.

— Bianca, acho melhor a gente ir andando — diz ela, puxando levemente a manga do vestido da amiga.

— Por quê? — Na mesma hora, ela também percebe que estou parado atrás de Larissa e fica séria. — Ah, é claro. Você tem razão.

— Meninas, algum problema? — Larissa pergunta, ingenuamente.

— Não, não tem problema nenhum — responde Bianca, mal conseguindo disfarçar. — É que... eu estou precisando retocar minha maquiagem. Preciso que a Viviane me acompanhe.

— Posso ir com vocês?

— Não! — Viviane grita sem querer. — Quero dizer... Fique aqui e aproveite a festa. Daqui a pouco a gente volta para falar com você mais um pouquinho, está bem?

— Mas...

As meninas se retiram depressa, e Larissa continua parada, desentendida. Até que minha voz a faz entender o que está acontecendo.

— A vida é mesmo impressionante.

Ela se vira lentamente.

— Adrian...

— Mas sabe o que mais me impressiona? Sua cara de surpresa ao me ver aqui. O que foi? Não imaginava que eu tivesse a ousadia de vir à sua festa, não é?

Larissa abre um sorriso irônico, e por um momento o brilho em seu olhar desaparece.

— Eu já vi a vida mudar muitas vezes. O mundo dá muitas voltas, sabia? E, cá entre nós, acabam sendo engraçadas essas voltas que ele dá.

Fico mudo por alguns instantes, olhando para o chão e assentindo devagar, tentando não deixar que nenhum pensamento estúpido tome conta de mim.

— Posso te perguntar uma coisa?

— Pode.

— Por que tudo isso?

— Por que tudo isso? Estou realizando um sonho. Desde pequena, eu idealizava este momento. Era tudo o que eu mais desejava na vida.

— E você está feliz?

— Sim. Muito. Nem imagina o quanto.

— Deixa eu te fazer uma última pergunta: por acaso já me esqueceu?

A pergunta deixa Larissa muda por alguns segundos. Meros segundos que para mim parecem durar uma eternidade.

— Responde: você já me esqueceu? Já me tirou do seu coração?

— O que você acha? É claro que eu já te esqueci. O que pensou? Que eu passaria a vida inteira esperando por você? Não, meu amor. O mundo não gira ao seu redor. Graças ao Victor, eu conquistei a oportunidade de refazer a minha vida com quem me ama de verdade.

— E você o ama?

Larissa fica muda novamente.

— Vamos, não fique calada. Você o ama?

— Sim, eu o amo! — responde depressa. — O amo com todo o meu coração.

— Mentira!

— Não, não é mentira. Eu o amo com toda a minha alma.

— E para onde foi todo aquele amor que você dizia sentir por mim? Acabou? E aquela carta e todas aquelas palavras? Tudo aquilo era mentira?

Conforme as palavras saem da minha boca, a surpresa estampada no rosto de Larissa se torna cada vez mais nítida. Nunca uma carta foi tão especial na minha vida.

— Lembra do que estava escrito no começo da carta? "Você me deixou completamente alucinada desde o momento em que te conheci. Por mais que eu tente me concentrar na escola ou nas tarefas de casa, não consigo esquecer a sua imagem, o seu sorriso, as suas brincadeiras e até mesmo o seu silêncio, quando você fica com aquele seu olhar contemplativo..."

Sem chance de conter as lágrimas, Larissa se entrega ao pranto. Continuo falando:

— Quer que eu acredite que todo aquele sentimento acabou, que você não me ama mais?

— O que quer que eu diga?

— Não quero que me diga nada. Sei perfeitamente o que você sente por mim. Nada do que você diga ou faça vai me fazer pensar o contrário.

— Então o que você quer? Me diz o que você quer!

Me aproximo devagar, estendendo minha mão até tocar o rosto dela. 

— Quero que saiba que eu te amo mais que tudo. Que nunca vou sentir por outra pessoa o que eu sinto por você... — Deslizo as pontas dos dedos pelo rosto seu rosto, parando os lábios a poucos centímetros dos dela. — Quero pedir que não me abandone. Sei que deve me odiar por tudo que eu fiz você passar, mas, acredite, eu estou arrependido. Por favor, Larissa, me perdoa.

Repouso a minha testa na dela, minha boca se abrindo numa entrega ardente e apaixonada.

— Adrian...

— Por favor, me escuta. Se ainda restar um pouquinho daquele amor, me dá uma oportunidade de mostrar o quanto eu te amo. Deixa eu te mostrar que posso ser o cara que você sempre sonhou.

Nossos rostos se aproximam ainda mais, e quando nossos lábios finalmente se tocam, uma onda de choque percorre todo o meu corpo, me fazendo estremecer.

Seguro o rosto dela com suavidade e murmuro:

— Sei o quão é difícil para você acreditar em mim, meu anjo. Mas tudo que eu digo, tudo que eu sinto, é verdadeiro. Só preciso de uma oportunidade.

— Adrian... — diz ela, tornando a me encarar. — Vai embora. Não torne as coisas mais difíceis entre nós. Eu te suplico...

— Não, Larissa. Sou eu quem te suplico. Por favor, me escuta. Eu te amo. Não consigo imaginar a minha vida sem você. — Faço uma pausa. — Me diz. Se não há esperança para mim, por favor, me fala como faço para te esquecer.

Larissa ergue o queixo e diz:

— Começa se afastando de mim.

A mudez cobre o meu rosto, enquanto Larissa se afasta correndo.

— Então este é o adeus final, meu amor...

Cabisbaixo, sem olhar para ninguém, ando ininterruptamente até o jardim.