Não importa o que eu faça, ele sempre virá… Essa certeza minou nosso relacionamento, fez-nos prisioneiros em nosso próprio círculo de lógica imoral, e agora, nos resta apenas, o prazer carnal. Sempre me questionei sobre o que me prendia a você, e vi que o seu rastejar ao ver minhas pernas abertas, era o que me enchia de orgulho profano, me deixava provedora de sensações inesquecíveis. O custo era alto, já estávamos endividados, mas eu nunca me importei em dar um pouco mais de mim, a fim de vê-lo implorar por mais.

            Eu queria viver para sempre, prometi a eternidade a você. Mas a que preço? Sou lobo ou ovelha? Acho que um pouco dos dois, afinal, eu gosto do sabor do sangue em meus lábios… O sangue hipotético onde se enquadram os seus sentimentos por mim. Não posso culpá-lo por divertir-se às custas do meu amor, eu faço a mesma coisa repugnante com você, basta você precisar um pouco mais de mim.

            Gostamos de ter o controle entre nossos dedos cobiçosos, sufocando o querer do outro em nossa própria gaiola de egoísmo, e usamos o fato de sermos humanos para garantir nossa redenção, pois o temor em perder nossa existência plena nos assombra. Mordo os lábios ansiosa, parece até a primeira vez que nos possuímos. Oh, luxúria… Como posso concentrar-me em te odiar, se as rotações de sua língua fazem-me voar até as estrelas? Maldita condição humana… Me sinto quebrada e desprovida de força, queria possuir maior resistência, mas sou a minha maior inimiga, entorpecida, subjugada, vadia… Adoro ouvir isso, quando proferido por seus lábios, o jeito que os seus olhos faíscam quando esta possesso de desejo, sabendo que realizará todas as minhas vontades em troca do prazer, prazer que só eu sei te dar. Posso levá-lo a um paraíso, sei bem qual o caminho, e sou a dona dos atalhos, em um mapa que só pertence a mim. Nenhuma outra fará o que eu fiz com você, porque é muito intenso para que uma garotinha faça o que só uma mulher sabe fazer.

            É tudo tão quente, confuso e embaçado… Mal posso distinguir onde você termina, e onde eu começo. Sabemos que é um erro, mas continuamos com nossas testas coladas, unidos intimamente em nossos hábitos errôneos, que ao mesmo tempo em que nos afastam, nos aproximam mais e mais… Ao final de tudo, com os pensamentos enevoados pelo êxtase, pensamos que isso é o suficiente, que valerá a pena e que nada está quebrado. Vã ilusão, prisioneira das minhas vontades… Onde estou, quem sou e o que preciso, estão em segundo plano agora.

            A dor sempre volta em meio à madrugada, a solidão nos sufoca. Juntos e solitários… Sentimo-nos envelhecer exponencialmente em questão de segundos, o tempo parou. A impressão é que estamos em letargia, enquanto a chuva gelada e fina, cobre nossos corpos anestesiados. Quero abrir os braços e sentir a chuva… Quero abrir a boca e aliviar a minha sede, quero o sabor da água fresca, desprezando o ardor ácido na língua. Quero viver, amor, quero viver! Parece que não cabemos juntos nessa utopia. Onde está a vida eterna? Por Deus, onde você colocou a minha chance? Caindo, estamos sempre caindo, amor.

            Dê-me mais uma dose de você, do que tiver para oferecer. Um cigarro, uma dose de heroína, ou aquele sorriso sincero, que vale mais do que qualquer entorpecente pesado. Só mais uma vez, amor. Dê-me mais uma dose de você, do que tiver… Não importa que seja superficial, insincero, inverídico, ou até mesmo insuficiente, eu quero mesmo assim. Quem sabe dessa maneira, eu ganho uma overdose e chego ao paraíso?