Lovestoned escrita por Ducta


Capítulo 7
Remédios, canivetes, e um passeio de madrugada


Notas iniciais do capítulo

esse capítulo é meio tenso :S



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POV Justin

-Imbecil! Idiota! Retardado! Infeliz! – Eu me xinguei enquanto batia minha testa já dolorida e marcada na parede – É tudo culpa sua Justin seu..

Eu dei uma última batida, essa foi mais forte que as outras. Por culpa minha a Alethia estava no hospital. Porque eu pedi a Bonnie em namoro? Não faço idéia. Eu tenho uma atração muito forte por ela e isso é fato, mas ela não faz meu tipo. Porque eu não contei pra Ale? Porque eu não queria estragar algo que eu nem sei o que é. Algo dentro de mim vive implorando pra mim não estragar esse algo, então eu faço o que posso. Mas pelo visto não foi o certo. Porque eu mostrei aquela sala pra Bonnie? Ainda estou me perguntando o porque.

-Filho, abre a porta. – Minha mãe pediu batendo insistentemente na porta.

-Não mãe, eu quero ficar sozinho.

Ela não falou nada mais. Eu me joguei na minha cama com esperança de dormir um pouco pra aliviar a dor na cabeça. Não deu certo, só consegui rolar e rolar na cama me provocando vertigem e enjôo. Até que foi a vez do meu pai tentar me tirar do quarto.

-Vamos Justin, sai daí, você precisa comer filho!

-Não pai, eu não to com fome, não quero sair do quarto.

-Justin você vai ficar doente desse jeito! – Minha mãe disse com a voz muito preocupada.

-Relaxa mãe, eu vou ficar bem.

-Eu vou continuar insistindo até você sair ok?

-OK.

Essa era uma coisa legal nos meus pais: eles não me forçavam a nada, nunca fizeram isso. Minha mãe ou meu pai podia ter colocado a porta abaixo com muita facilidade, mas como você percebeu, eles preferem fazer tudo com paz.

Minha vontade naquele momento era de morrer. Não, não morrer. Isso não resolveria nada. Eu só queria não sentir, não pensar. Mas isso não era possível. Então a dor ia e voltava cada vez em ondas mais fortes. Eu fiquei deitado o tempo todo, perdi a noção do tempo, ignorei os chamados dos meus pais que se tornavam cada vez mais distantes, ignorei o ruído estrondoso que meu estômago fazia, ignorei o celular tocando “Starstrukk” da Lady Gaga avisando que era a Bonnie do outro lado da linha. Simplesmente ignorei tudo ao meu redor na esperança de conseguir me auto-ignorar.

 

POV Alethia

Quatro dias depois do meu “rompimento” com o Justin, eu saí do hospital, naquela noite eu estava sentada na minha cama, comendo biscoitos de água e sal com chá. Segundo minha mãe, era melhor eu não comer coisas muito pesadas logo de cara. Quando eu saí do quarto pra levar o prato pra cozinha, eu ouvi um choro desesperado na sala, era minha tia Angie, eu sentei na escada pra escutar o que ela dizia aos meus pais. Eu não conseguia ver o rosto deles dali de cima, só ouvir o choro conturbado da minha tia.

-Eu não sei o que eu faço Annabeth... Já faz quatro dias que ele não sai do quarto!

-Porque vocês não colocaram aquela porta abaixo? – meu pai perguntou preocupado.

-Ele fez alguma coisa, uma espécie de barreira do outro lado, não dá pra tirar a porta de lá. – Minha tia disse entre soluços.

-É melhor você tentar dormir Angie. – Minha mãe disse.

-Amanhã eu vou lá falar com ele ok? – Meu pai disse.

Silencio.

-Se meu filho morrer, eu me mato Annabeth.  

Meu estômago deu uma volta violenta. O que será que tinha acontecido com o Justin? Meu coração acelerou de novo. Eu queria descer lá e perguntar o que tinha acontecido, mas eu já sabia o motivo dele ter se trancado no quarto. Eu respirei fundo e voltei pro meu quarto, me enfiando debaixo das cobertas de novo.

-Não pensa. Não pensa. – Eu disse a mim mesma. – Não é problema seu, não é! Ele que foi o errado, ele tem que sentir culpa um pouco que seja. Não é problema seu.

Eu me revirei na cama por duas horas ou um pouco mais segundo o relógio no criado-mudo.

-Uma e treze. – eu murmurei tirando meu cabelo do rosto.

 Quando eu baixei meus olhos lá estava meu molho de chaves, todas as minhas chaves eram coloridas em vários tons de rosa e roxo. A da casa do Justin era a única de outra cor, verde. Ela cintilava um pouco mais que as outras na luz abafada do meu abajur. Eu respirei fundo e me levantei da cama. Eu estava com um conjunto de moletom preto desgastado, meu favorito pra dormir; calcei o primeiro tênis que eu vi, prendi meus cabelos em um coque solto e peguei as chaves.

Me esgueirei pelo quarto o mais silenciosamente que pude e sai de casa provocando o menor ruído necessário. Eu vi os carros dos meus pais na garagem enquanto destrancava o portão. Eu sabia dirigir e seria mais rápido. Mas Justin morava na próxima quadra e eu faria muito barulho quando ligasse o carro.

-Nada como uma caminhada à uma da manhã. – Eu disse saindo de casa.

Eu caminhei com pressa, meus cabelos se soltando cada vez que o vento frio açoitava meu rosto. Eu não fazia a menor idéia do que eu estava fazendo nem o porquê, eu só sentia que tinha que fazer. Eu entrei na casa dos meus tios em silêncio, quando cheguei no corredor do segundo andar me lembrei que não conseguiria abrir a porta. Eu entrei no quarto de hóspedes, que era ao lado do de Justin e arreganhei a janela. Eu conseguiria pular até a varanda dele, não ia ser fácil, mas não seria impossível. Eu subi no parapeito da janela – que graças aos deuses era daquelas grandes – e me preparei pro salto.

-É só calcular. Física básica resolve. Distância e velocidade, simples. Vamos lá Alethia, você não tem medo de altura, vamos lá!

Antes que eu pudesse me arrepender, eu pulei. Escorreguei na chegada e quase bati a boca no chão, mas pelo menos estava dentro da varanda.

A porta estava aberta, antes que eu pudesse entrar eu já estava ouvindo uma tosse contínua e forçada do lado de dentro. Eu entrei com o coração querendo sair pela goela.

-Ah, Justin! – eu sussurrei contendo o grito na minha garganta.

Ele estava deitado de bruços com a cabeça pra fora da cama, vomitando sangue. Sangue puro. 

-Ale... – ele tentou falar.

-Não, não fala. Que aconteceu com você? – eu perguntei retoricamente.

Ele me olhou, passou a manga da blusa na boca e sentou na cama. A meia luz que vinha da janela eu vi seu rosto. Ele estava pálido, sem cor nenhuma no rosto, olheiras roxas, ele estava suando frio pelo que senti quando fui verificar a temperatura, suas mãos, depositadas nas pernas, tremiam compulsivamente, seu peito fazia ruídos e sua respiração era descompassada e ele tinha várias marcas de cortes pelo corpo, os dos pulsos eram o mais fundos pelo que pude ver.

-Justin... – eu tentei, mas olhei em volta.

O quarto estava cheio de frascos de remédios espalhados pelo chão, um canivete sujo de sangue largado no criado-mudo, travesseiros e roupas largados por todo o lado, lençóis presos no ventilador de teto. Enquanto eu memorizava cada detalhe daquele quarto meus olhos se encheram de lágrimas quando percebi do que se tratava.

-Quantas vezes você tentou se matar nos últimos quatro dias, Justin? –Eu perguntei tentando conter as lágrimas.

À minha frente Justin ficou mais estático e seus olhos se arregalaram levemente.

- umas cinco. – Ele respondeu num sussurro rouco.

-Você tá usando drogas garoto?! Como você pôde pensar em se matar?!

-Calma Alethia. – ele disse ainda naquela voz baixa.

-Calma? Como calma? Olha pra você Justin! – eu disse tirando os cabelos dele da testa.

-Eu to bem.

-Não! Você não está! Há quantos dias você não come?

-Dois e meio.

-E ainda diz que tá bem! Você viu a quantidade de remédios que você tomou?

-Eu estava tentando dormir. Não consegui parar de pensar em você, isso estava me matando.

-Você estava se matando Justin!  Cacete, a primeira vez que a gente briga e você já tenta se matar?

-Não consigo ficar sem você.

-Para de ser cínico garoto! Você estava tentando se matar por mim não é? Alguma vez você pensou no desespero dos seus pais do outro lado daquela porta? Já pensou no quanto sua mãe chorou enquanto você estava trancado aqui tomando remédios, se cortando com canivete, tentando se estrangular com lençol... Acho que você não sabe, mas sua mãe disse pros meus pais que se você morresse, ela se matava. Com você morto e sua mãe morta, você acha que seu pai, um filho do deus da morte, pensaria duas vezes antes de acabar com a própria vida? Puta merda Justin! Você morre, sua mãe se mata por sua culpa, seu pai se mata por causa de vocês dois e eu me mato de tanto remorso. Eu me mato meus pais se matam e assim vai. Seis mortes por causa do seu egocentrismo!

-Eu não tinha pensado nisso. – ele disse com lágrimas correndo pelo rosto.

-Eu sei que não, você não pensa sem mim. Agora para de putaria, toma um banho, come alguma coisa, aliás, muita coisa e depois passa quatro dias dormindo beleza?

Ele deu um sorriso amarelo e assentiu.

-Fica aqui comigo? – ele perguntou rouco.

-Claro. – Eu disse passando a mão em seu rosto frio. – Vai tomar banho enquanto eu faço um chá pra você.

-Chá?

-Quatro dias sem comer Justin. Você não espera que eu te dê um hambúrguer quarteirão do Mc Donald’s quer?

Ele sorriu de novo.

-Vem, eu te ajudo a levantar. - eu disse enquanto o segurava pelos braços.

Quando ele se trancou no banheiro eu me vi de frente ao desafio de tirar o guarda-roupa da frente da porta. Ele estava vazio então foi mais fácil de mover.

Eu fiz pra ele a mesma coisa que minha mãe fez pra mim. Quando voltei pro quarto dele, ele estava sentado na cama, enrolado na toalha azul marinha, ele ainda tinha o mesmo tom de pele, as olheiras e os cortes continuavam lá, mas agora ele sorria.

Eu me sentei na frente dele e observei comer. Ele estava morto de fome.

-Alethia sobre aquele dia eu... – ele começou enquanto trocava de roupa no banheiro.

-Não fala nada – eu interrompi. – Não estou aqui pra isso.

-Só diz que me perdoa.

-Não. Eu não vou te perdoar. Agora vem aqui, vou te fazer dormir.

Ele não disse nada, deitou no meu colo e eu comecei a fazer cafuné nos seus cabelos. Poucos minutos depois, ele já estava dormindo.

Eu o cobri, peguei o bloquinho de anotações em cima da mesinha do computador e saí do quarto.

“Tia Angie, o Justin está vivo, por favor, não pense mais em se matar. Só peço pra que você não pire quando o ver. Ele tentou se matar, mas duvido que vá te falar. Não fale nada, espere ele melhorar um pouco ok? Se ele não comer direito, me avise que eu vou socar comida pela goela dele. Te amo muito, beijos Alethia.”

Eu olhei o relógio do outro lado da sala, duas e quarenta da manhã. Eu voltei pra casa, a luz da sala estava acesa. “Deuses” eu pensei.

-Mãe?

-Você estava com o Justin? – ela perguntou levantando do sofá e vindo na minha direção.

-Sim.

-Como ele está?

-Vivo.

-Isso é bom. – ela disse com um sorriso amarelo.

Eu não agüentei e comecei a chorar, não sei bem o porquê. Minha mãe me abraçou apertado, afagando meu cabelo.

-Que foi meu amor?

-Mãe eu quero te pedir uma coisa. Uma coisa que eu pensei quando estava no hospital.

-O que é filha?

-Deixa pra amanhã mãe, preciso conversar com você e com o papai juntos.

-OK então.


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