Carmesim escrita por Cece


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Pra você, bela(o) pessoa que veio pelo secço (haha), sinto muito: não tem. É algo mais cute. =)
Obrigada pela atenção e pelo aviso sem noção.
Rimou. (retardo on)



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Os olhos de cor carmesim queimavam-lhe a pele, assim como os lábios grossos que se mantinham entreabertos e cheios de luxuria. Corou imediatamente assim que notou o sorriso sedutor que fora enviado apenas para ela, desviando o olhar e focando no balcão velho de madeira que limpava com tanta vontade e força. Era inegável o quanto aquela mulher mexia consigo. E inegável o quanto era bela.

Ela sabia disso.

Era por isso que fazia aquilo, incomodava a moça tímida que costumava lhe servir em um bar de quinta. Os olhos cinzentos eram sempre assustados e o rosto fitava o chão como se procurasse alguma moeda perdida. Os cabelos escuros caiam na face e o corpo esguio se escondia atrás daquele balcão fedorento. Era a filha do dono do bar e ajudava o velho homem com os afazeres do local.

A frágil garota era deliciosamente tentadora.

Devia estar na casa dos dezessete, e ainda cursava o colégio. Vez ou outra, observava a moça estudar uma pilha de livros em cima do balcão quando não havia movimento. O rosto vermelho incitava o incomodo por ser o centro de suas atenções, e então o cabelo escondia ainda mais sua face. Entretanto, aquilo apenas a atraia mais e mais para a garota.

Não soube quando começara, e nem se terminaria, mas tinha plena consciência de que a desejava.

Sempre fora acostumada a ir aquele bar, desde a sua infância. Seu pai viajava constantemente, então sempre se abrigavam naquele bar perto do terminal. Costumava se divertir com o patriarca, que lhe comprava um copo de suco e contava histórias que lhe faziam arrepiar-se toda quando mais jovem. Sentia saudades daquela época. Falta do pai, que havia morrido jovem demais por uma gripe boba.

Talvez, por isso, tenha se apegado tanto aquele pedaço de lixo próximo ao terminal.

Perdeu o pai aos catorze, mas ele não deixou de pensar nela nem após a morte, então ganhou uma pequena herança para que não ficasse em desespero. Foi para outro país morar com a avó, que lhe tratava como uma moça intocável e que deveria achar um homem também rico para se casar, ideias totalmente divergentes do que o pai lhe ensinara. Cursou o ensino médio em uma igreja católica fervorosa, que tentavam lhe impor submissão. Aos dezoito, decidiu pegar suas tralhas e voltar para a cidade natal. Voltou à sua antiga casa, tão maltrapilha e velha pelos anos em desuso. Limpou, tossiu, espirrou e, quando acabou de arrumar, chorou. Chorou o que não havia chorado no enterro do pai. Depois da limpeza, podia sentir o cheio dele vivo naquele local, desde seu perfume a loção pós barba. Recuperando a sanidade, inscreveu-se em uma universidade e no mesmo curso superior que o pai fizera.

Aos dezenove, passando pelo terminal quando ia para o curso, vislumbrou de soslaio a velha construção que ela e seu pai costumavam frequentar. Adentrou, receosa, e percebeu que nada daquele espaço mudara, as mesas e cadeiras eram a mesma coisa velha; o balcão havia sido pintado, mas já tinha lascas soltas pelo tempo; e o cheiro ainda era terrivelmente fedorento, em uma mistura de álcool e suor masculino e vômito e banheiro sujo e outras coisas ruins que não conseguia distinguir.

Ás vezes se sentia suja, porque conheceu a filha do dono quando ela devia ter apenas oito anos.

Ela era o brilho do estabelecimento, e corria pra lá e pra cá do jeito serelepe das crianças, fazia perguntas e fitava os clientes com olhos grandes e curiosos. Ajudava o pai de jeito desastrado e anotava pedidos em letras que apenas ela podia compreender. Corria pro colo da mãe como uma criança mimada quando caía. Escondia-se rapidamente atrás da matriarca quando alguém não era familiar no local e entrava em uma pequena porta quando os pais mandavam que fosse para cama.

Ela lembrava sua juventude, e o bar lembrava seu pai.

Por três anos, seguiu frequentemente o mesmo caminho quando voltava da universidade. Do copo de suco da infância a vodca com soda da adolescência. Observava a pequena criança envelhecer aos poucos. Da menina serelepe à uma mocinha rabugenta que ia virar pré-adolescente. Quando terminou o curso superior, não via motivos para seguir um caminho tão longo apenas para beber. Começou a trabalhar no antigo ramo do seu pai, e iniciou suas próprias viagens e suas próprias aventuras.

Aos vinte e sete voltou, cansada das próprias viagens. Já havia tido sua profissão como escritora no ápice, e conseguia viver com a renda que ganhava dos livros. Decidiu descansar, e vislumbrou mais uma vez o bar que amaldiçoava e gostava. Entrou novamente depois de tantos anos, e percebeu que nada mudara – e duvidava muito que mudaria.

Mas a viu.

A criancinha passara de serelepe, rabugenta a tímida. Era uma adolescente agora, com cabelos escuros longos e olhos cinzas belos demais. De pele alva desejosa e corpo tocável. Tão bonita aos seus olhos. Seu carmesim maldoso em nada se parecia com o cinza puro do seu olhar. E ela a olhou, e corou, e desviou o olhar.

Manteve-se olhando e desejando.

Então, completou seus vinte e oito. Ela aniversariou os dezoito. Observou os namoradinhos dela, enciumou-se, lógico, mas continuou com os sorrisos sedutores e desejosos. Queria que ela questionasse, que indagasse. “Por quê?”, perguntaria. “Porque quero você. Quero lhe provar, me deliciar com teu gosto, me embriagar com seu cheiro”, responderia. Mas ela não perguntava e, toda vez que a via, corava, virava o rosto ou entrava na pequena porta atrás do balcão.

Era escritora, mas não se dava bem com as palavras para descrever o que sentia com aquela menina tão...Tão!

Ah! Tão angelical que seus demônios queriam possuí-la de todas as formas. Era os seus vícios de conduta. Tinha ira e inveja de quem a tocava; e desejava concluir o pecado de luxuria com ela, e apenas com ela.

Ansiava pelos prazeres carnais.

Até que um dia decidiu se confessar. Ao invés de se acomodar em uma das mesas, aproximou-se do balcão e sentou no banco. A menina estranhou, franzindo o cenho e a fitando mais tempo do que esperado. Pediu sua bebida, que foi entregue timidamente, e pôs-se a saborear. O bar não estava movimentado, e a escritora conseguiu contar mais dois clientes em um canto trocando caricias. Vislumbrou o local à procura do dono, mas não o achou.

— Onde estão seus pais? – Perguntou à moça, que limpava o balcão com avidez.

Os olhos cinzentos lhe fitaram assustados. Nunca haviam trocado uma palavra sequer.

— E-ele e-está d-doente – balbuciou, e um rubor lhe tomou a face. – Está no hospital e minha mãe está cuidando d-dele.

Assentiu, sem realmente se importar como o homem estava.

Havia aparecido no local às 22:00. Bebeu mais uns drinques e esperou o tempo passar. Ouvia o burburinho do casal de amantes que ainda estava lá, incomodando-a. A filha do dono continuava a limpar o maldito balcão, ignorando o olhar luxurioso que costumava compartilhar com ela – ou para ela. O seu tédio já estava em ápice quando o casal decidiu ir embora. Visualizou o relógio na parede e percebeu que ele marcava 00:00. Nunca havia ficado tanto tempo naquele local, inalando o cheiro cruel e esperando uma epifania.

— V-você já vai? – perguntou assim que viu os pombinhos indo embora, enrolando os dedos uns nos outros. – V-vou f-echar m-mais cedo.

— Por quê? – indagou em tom esperançoso.

Os olhos tímidos fitaram a escritora, engoliu em seco e percebeu que tentava ter coragem.

— Meu pai n-não quer que eu feche tarde hoje. Que eu fique sozinha – respondeu.

Ah! Que merda, pensou. Assentiu decepcionada, pegando o casaco que havia jogado no banco ao lado e se levantando. Engatou nos braços e tirou as notas do bolso, entregando para a adolescente. O que você pensou? Que ela ia lhe convidar para algo? Me poupe, sua idiota!

— N-não estou lhe expulsando – exclamou assim que percebeu o que fizera.

Um olhar cruel tomou a face da mais velha.

— Não precisa – cuspiu –, eu já entendi. Fique com o troco.

A jovem rodeou o balcão, aproximando-se dela.

— Sinto muito – respondeu sem gaguejar. – Fui rude – corou –, eu sei.

Era a primeira vez que estava tão perto dela desse jeito. Seu cheiro era tão bom que havia esquecido do local fedorento que estavam. O corpo exalava um calor reconfortante e os olhos eram muito mais belos de perto. Deduzia ter a mesma altura que ela, porque, com certeza, era alta. Seu hálito havia batido em seus lábios, e a mais velha teve a imensa vontade de beijá-los e senti-los, mas não o fez.

E, dessa vez, quem corou foi ela.

— Leve-me até a porta e lhe perdoarei – pediu.

A mais jovem assentiu rapidamente, seguindo ao seu lado em uma caminhada rápida. Abriu a porta e o sino soou de forma irritante, em um aviso de que teria que partir logo.

— Então... – a jovem iniciou, claramente desconfortável.

— Hoje é meu aniversário – soltou, e amaldiçoou-se por isso. Que diabos estava fazendo, afinal de contas? Chantagem psicológica?

A adolescente arregalou os olhos.

— Sinto muito, eu não queria ter feito isso – lamentou a moça.

Suas mãos negaram de forma exaltada.

— Eu que sinto! Não deveria ter contado – exclamou. – Você não precisa se sentir culpada.

A moça abaixou a cabeça, corada.

— Queria poder te dar algo – falou. – Você sempre vem aqui – sussurrou. – Parece solitária.

E era. Havia perdido a única pessoa que amava tão cedo, e sua mãe havia fugido com um qualquer. Mas por que sentira essa solidão apenas agora?

— Se me der o que eu quero, com certeza vai se sentir culpada – zombou, e os olhos carmesim irradiaram ironia.

Os olhos da mais jovem se arregalaram em pura curiosidade.

— O quê? Eu posso... – Mas fora interrompida.

Sua camisa fora puxada em brusquidão e sua boca calada com um beijo. A mais velha a empurrou contra o batente da porta, encostando seu corpo ao dela. As mãos tímidas puxavam a barra da camisa da cliente ainda mais para si. A escritora pediu passagem, que foi concedida, e invadiu sua boca com a língua quente e gulosa, desbravando cada mínimo local. Travava batalhas com a língua dela, passeava pelo céu da boca e raspava os dentes de forma sedenta, voluptuosa. Escutou um pequeno gemido da mais jovem, e os dedos tímidos mudaram de posição, apertando e arranhando sua cintura de forma possessiva.

O beijo foi cessado bruscamente quando ambas tiveram que recuperar o folego.

A adolescente corou e abaixou a cabeça, claramente transtornada. Havia aguentado aqueles olhares por muito tempo, queimando sua pele, lhe trazendo sensações que a faziam se sentir estranha, mas de um jeito bom. E agora seu corpo todo tremia, seu coração batia acelerado. Estava assustada, mas queria mais.

Ansiava por mais.

Suas mãos ainda agarravam a cintura da mais velha, quando uma pequena pergunta saíra de seus lábios de forma incontida.

— Por quê? – indagou, levantando os olhos cinzentos para logo ver um sorriso estampar a face bela da mais velha.

— Porque quero você. Quero lhe provar, me deliciar com teu gosto, me embriagar com seu cheiro.

E beijaram-se novamente. A partir daquele momento, a filha do dono não estaria mais só.


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