Across The Frontline escrita por overexposedxx


Capítulo 30
Capítulo 30 - Calendário


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores! Espero que estejam bem ♥
Pra compensar a demora, trago esse capítulo beeem longuinho, e já adianto que o próximo vem logo: já está pronto, só vou fazer uma última revisão!
Espero que gostem, me perdoem por mais essa demora e boa leitura! ♥



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Ainda era verão quando Rosalie notou que estava sentada à mesa da sala de jantar por mais de uma hora.

O Sol ainda estava lá fora, à pino. A brisa ainda estava passando leve entre a grama e as árvores, e o calendário ainda estava no dia 31 de julho - um pacote que parecia gritar: "Largue os papéis e venha pra fora! Se divirta! É seu aniversário!"

Tudo isso embora parecesse que haviam se passado três dias como aquele só da manhã até ali, e outros setecentos durante aqueles 14 dias desde que Emmett havia partido para a Aeronáutica e, então, não estava mais por perto.

O tempo era mesmo uma coisa engraçada - e assustadora, também, Rosalie pensava. Passando exatamente no mesmo ritmo para todas as pessoas do mundo e, ainda assim, tão diferente: rápido demais, ou lento demais. Dando a impressão de que haviam se passado anos em dias, ou só dias, no que deveriam ser semanas. Tão independente para funcionar e, igualmente, tão dependente de percepções pra se qualificar.

Meio que como o amor - ela torceu o nariz, suspirando, e corrigiu: ou o que quer que estivesse criando todos aqueles efeitos nela nos últimos dias. E trançou a caneta-tinteiro entre os dedos ansiosamente, outra vez, a fazendo dançar, a ponta já seca. 

Em 14 dias, Rosalie havia resolvido muitas coisas: o trabalho estava indo bem - embora notavelmente menos divertido do que duas semanas atrás; Mercedes estava de volta; colocara a casa de Royce à venda e conseguira compradores rápido; passara a fazer visitas às casas que selecionara com a mãe; Alice e Jasper puderam receber a ela e Edward na casa nova, para finalmente conhecê-la; e depois de muito mais no trabalho, na manhã do dia anterior, fizera a última visita à casa que mais havia gostado de sua lista e decidira comprá-la.

As coisas estavam dando certo mas, mais do que isso, estavam acontecendo - o que tornava Rosalie mais ansiosa do que todas as novidades. 

Porque coisas estavam acontecendo, se movendo e encaminhando pelo que pareciam todos os lados de sua vida, e ainda que soasse bom, soava também assustador porque havia uma parte sua que não havia antecipado isso, quando tentara antecipar todas as mudanças sobre a partida de Emmett. 

Ela não antecipara que a vida aconteceria tanto sem que ele estivesse ali para ver e participar, e para que ela assistisse à sua acontecendo também. E não imaginara, ainda mais, que isso faria tanta falta - se é que era essa a palavra.

O que quer que fosse, chegara ao ponto de embaralhar as coisas lógicas e recentes em sua cabeça - como aonde seus pais haviam ido ao sair naquela manhã, e por que ainda não haviam voltado, ou do que as palavras que acabara de ler pela quinta vez, no papel estendido pela mesa à sua frente, realmente falavam.

Não era que fossem palavras exatamente difíceis, ou que não esperasse de contratos e termos como aqueles - eram exatamente o que esperava. Mas, o fato de que sua cabeça parecia querer estar em outro lugar, ao mesmo tempo que ali, era o que as tornava - assim como a tarefa inteira - complicadas. 

Agora, isso era uma constante, mas hoje mais do que nunca, aparentemente: Emmett ficava surgindo em sua mente, o tempo todo. Ele e as coisas estúpidas que havia dito, e as coisas que havia ouvido dela em troca, e a imagem infeliz dele na porta daquela mesma casa, malas prontas e ao lado do corpo, desavisado de que ela não iria se despedir - não fora capaz.

Todas coisas de que ela fora refém por todos aqueles catorze dias e agora, a essa altura, já estava tão cansada que seria capaz de dizer - embora nunca em voz alta - que quase se arrependia de certas partes.

Como da despedida, por exemplo. A falta dela, pra ser mais exata.

Afinal, é claro que ela ainda se achava certa sobre tudo o que havia dito e, mais do que isso, sincera sobre como estava se sentindo - se ele queria contestar isso, devia ter feito alguma coisa pra mudar as atitudes entre eles antes e durante aquela véspera. E por isso, ainda sentia certa raiva e ressentimento mas, havia outra parte sua que não a deixava esquecer do quanto gostava de Emmett e, no fundo, queria seu bem - e era aí que entrava a pontada de arrependimento e, em maior grau, angústia, de não tê-lo dado um adeus apropriado, ainda mais considerando no que ele estava indo se aventurar.

Mas, não era como se isso mudasse algo agora, além do fato de que sua cabeça estava cheia de coisas nas quais não era hora de pensar, tendo tanto que ler e assinar - e rápido, se ao quisesse passar o dia de seu aniversário fazendo isso e ter sua casa nova de uma vez por todas.

—O correio chegou. - Mercedes anunciou, entrando na sala de jantar com papéis diversos, que analisava brevemente, nas mãos.

E isso bastou para, finalmente, a atenção de Rosalie cessar com o que estava fazendo.

Ela ergueu os olhos discretamente para a papelada que Mercedes ainda segurava e, assim que a deixou sobre a mesa, manteve os olhos ali como se pudesse descobrir algumas coisas escritas àquela distância, sem precisar perguntar ou se mover - o que mostraria o interesse que queria esconder.

Mas, nenhuma parte de seu disfarce realmente adiantou - antes de se afastar para a cozinha, a outra mulher adiantou.

—Nenhuma é dele, querida. São só cartas e convites para os seus pais. - ela disse, em tom de lamento, e largou os papéis sobre a mesa para passar uma mão na cabeça da garota, como carinho. - Sinto muito.

—Pelo que? - ela desconversou, fingindo não entender e, forjou um sorriso descontraído, levantando os olhos dos contratos. Tentou rir. - Eu não disse nada, não estou esperando nada de Emmett. Estou assinando esses contratos. - gesticulou para a mesa e, sob o silêncio de Mercedes, baixou os olhos de volta para o que estava fazendo, a caneta inquieta entre seus dedos conforme tentou se concentrar.

—E eu não falei no nome de ninguém, você quem disse. - a outra disse num murmúrio, se inclinando para a figura sentada de Rosalie, um sorriso satisfeito nos lábios, antes de se afastar para a cozinha.

Com isso, a loira não pôde evitar de tirar os olhos dos papéis de novo, fitando algum ponto aleatório à sua frente e mordendo a língua dentro da boca, amaldiçoando a si mesma por ser estúpida com algo tão mínimo.

—Está tudo bem, menina. - Mercedes disse, então, voltando ao cômodo com um sorriso breve. - Não é como se você precisasse esconder isso. É o seu aniversário, é claro que estaria esperando algo dele, e eu aposto que ele só está muito ocupado pra não ter mandado. - ela afirmou com certeza, recostando-se na mesa.

—Ele provavelmente está bravo, isso sim. - a loira contestou na mesma hora, exausta demais para continuar resistindo ao assunto e se levantou, largando a caneta na mesa. - E se quer saber, não faz diferença, porque eu também estou. Ele que lide com isso como quiser.

—Certo. - a outra respondeu, mais baixo, entendendo o tom de Rosalie, ao que instigou. - E se ele, por acaso, estiver lidando igual você está, o que vai ser? - ela questionou séria, de braços cruzados. - Vão ficar sem se falar até ele voltar?

—Talvez, sim. - a loira respondeu simplesmente, dando de ombros e, quando fitou a expressão cética de Mercedes, retrucou. - O que? Você não quer mesmo que eu volte a fazer como era com Royce no começo, não é? Pedindo desculpas sem me achar errada, sem saber o que havia feito, só pra fazê-lo se sentir melhor e dizer que estava tudo bem. - ela expressou nervosa.

—É claro que não, Rose, não é disso que estou falando. - Mercedes respondeu rápido, negando com a cabeça, e voltou a dizer com mais calma. - Você não deve se desculpar se não acha que está errada. Afinal, só disse o que estava sentindo e ele disse coisas que, de algum jeito, te feriram. - então fez uma pausa. - Só estou dizendo que, quando estiver pronta, devia dizer isso a ele. É o único jeito de ele saber como você se sentiu, entender o que não deveria repetir, e você ter a chance de entender como ele estava se sentindo também, para dizer tudo o que disse.

E com isso, Rosalie finalmente pareceu ceder por alguns instantes, se dando tempo para suspirar longamente e umedecer os lábios, apoiando o cotovelo no encosto da cadeira à sua frente.

—Aí é que há um problema também. - ela enunciou num tom mais baixo, observando os dedos nas pontas do cabelo. - Eu não sei se quero entender, porque não sei se posso fazer alguma coisa com isso, Mercedes. - e enfim voltou a fitar a mais velha, que ao observá-la com uma dúvida silenciosa e sincera, a incentivou a explicar.

—Eu estava falando sério quando disse a ele que, se tudo aquilo era o que pensava, não havia nada a fazer. Porque certas coisas que ele pensa sobre mim, as coisas que disse, eu... - e negou com a cabeça, procurando as palavras, quando gesticulou com ansiedade. - Eu não sei se posso mudar, porque se ele ainda as pensa depois do quanto me esforcei e confiei nele até aqui, não acho que há mais o que eu possa fazer. 

—Não há mais o quanto me esforçar para demonstrar ou só fazê-lo enxergar. - então sorriu sem humor, piscando muitas vezes. - E, na verdade, ele também não tem obrigação de tentar, realmente, e eu... - e deu de ombros. - Acho que já fiz tudo o que posso.

Enfim, Rosalie cedeu com a cabeça para o lado, recostando-a ao ombro com a ajuda do cotovelo que estava sobre a cadeira, e fitou outro ponto no ambiente, os olhos ardendo um pouco, enquanto a outra mulher a observava.

—Ah, menina, venha cá. - Mercedes disse e, na mesma hora, caminhou até a loira, a abraçando e fazendo colocar a cabeça em seu ombro. - Desde que estão juntos, essa é só a primeira briga de vocês, e vocês dois estavam cheios de ansiedade, receios e todo o resto. Coisas que não queremos dizer saem facilmente nessas horas. - ela disse com honestidade, afagando a cabeça loira em seu ombro.

—É, mas coisas que queremos muito dizer, também. - Rosalie contrariou, ajeitando a cabeça no ombro da mulher, quando acrescentou mais baixo. - Eu sei porque eu disse o que queria, pela maior parte. 

—Bem, - Mercedes assentiu, se afastando com as mãos entrelaçadas às de Hale, que a encarou. - você é quem sabe o seu limite, querida. E de toda forma, tem que se lembrar que a parte de Emmett é sempre uma escolha dele.

—Agora, se quer saber a minha opinião, - ela aconselhou, e afagou o rosto da outra antes de se mover de volta para a cozinha, falando mais alto.- é que ele continuaria aceitando o risco de tentar, se você aceitar também. Porque, apesar de vocês dois serem igualmente teimosos e péssimos em demonstrar isso quando ficam com raiva, se importam muito um com o outro pra desistir assim.

E com essa constatação, Rosalie apoiou-se novamente na cadeira em que antes sentava, e enterrou as mãos nos cabelos enquanto fitava os papéis na mesa. E então, num instante e com um suspiro fundo, se empertigou novamente, refazendo a expressão para ir até a cozinha, tomar um copo d' água - esperançosa de que a simples ação, ou a bebida, fossem fazê-la arejar as ideias e ser mais capaz de fazer o que deveria.

Foi quando Mercedes parou ao batente, jogando o pano por sobre um dos ombros e a observando com, ao mesmo tempo, carinho e atenção.

—Está precisado se distrair, querida. Ver o mundo, encontrar e falar com amigas. - disse ela, em tom de conselho e, ao final, a loira jurou que quase pôde ouvi-la falar em nomes.

Mas, talvez fosse só coisa de sua cabeça, pensante demais e, de toda forma, com o silêncio que seguiu-se, de repente não importava mais e Rosalie apenas suspirou.

Isso era outra coisa em que vinha pensando bastante nas últimas semanas - e, em sua opinião, era uma verdade. Mas, não havia tempo pra pensar nisso agora, também - ou disposição - então a loira só cedeu brevemente, mais em voz alta do que no pensamento que, em tempo, impediu de se alongar.

—Sei disso, você tem razão. - ela continuou, depois de um gole de água, tentando dispersar imagens da cabeça. - Mas, não tenho amigas com quem encontrar, Mercedes. - e disse como se fosse óbvio, quase dando um riso irônico baixo, mas apenas pousou o copo na bancada. - Acho que tenho que fazer novas amigas e, honestamente, não sei se tenho tempo pra isso agora.

—Bem, querida, - Mercedes prosseguiu pela cozinha, inspirando levemente. - o tempo quase sempre faz a si mesmo para coisas boas; as que realmente devem vir para nós. Tenho certeza que vai ser o mesmo com você e seu tempo. - ela sorriu serena, afagando as costas da loira antes de checar algo no forno. 

E com isso, Rosalie parou com seu copo nas mãos, reflexiva e reticente por um instante; até que se deu por vencida, sem querer pensar demais no que aquilo significava, e levou a si e sua água de volta para a mesa na sala de jantar, onde sentou-se, mencionando concentrar-se de novo na tarefa com os papéis.

Mas, então de novo, antes que pudesse fazê-lo de verdade, o som de passos vindo da sala calhou perfeitamente com sua falta de vontade em aquietar-se, e Rosalie esperou que se aproximassem da sala de jantar.

—Bom dia, garotas. - Edward enunciou, chamando a atenção da irmã e de Mercedes, que vinha da cozinha e murmurou um "bom dia" sorridente em troca. - Já estamos nas discussões de aniversário? O que é dessa vez? - perguntou ao entrar, falando sobre o tom de voz de Rosalie há minutos, e espiou por sobre o ombro da irmã, dando um sorriso para a outra mulher.

Rosalie virou-se levemente para vê-lo conforme o ouviu e, com um sorriso contrariado e breve, olhou-o de esguelha.

—Sim, estamos discutindo qual dos meus irmãos vou leiloar, para comprar um presente de aniversário. - brincou ela, unindo os papéis sobre a mesa e gesticulando para eles, como se provasse o que acabara de dizer.

—Uh, decisão difícil. - ele fez uma careta, cruzando os braços por um segundo. - Você sabe, considerando que quem vale mais também vai ser o primeiro a te dar os parabéns. - e então sorriu para ela, abrindo os braços em sua direção.

E então, Rosalie não pôde evitar de rir, se levantando da cadeira na mesma hora, aceitando os braços abertos dele e o abraçando de volta em seguida, esticando o pescoço para descansar a cabeça em seu ombro. Os pensamentos de antes, com felicidade, se dissiparam de sua mente.

—Feliz Aniversário, Rose. - ele desejou, sorrindo. - Não fique muito convencida, mas Jazz e eu meio que não funcionaríamos sem você, então continue assim. - e com isso, Rosalie riu abafado e com gosto, ouvindo uma risada contrariada e baixa dele também, que continuou, falando mais baixo agora. - Obrigado por se irritar comigo e, com isso, me deixar demonstrar amor da forma que faço melhor.

Foi quando se afastaram e ambos riram - ela diante do sorriso tímido e, ao mesmo tempo, divertido do irmão; e ele sob o olhar feliz, risonho, admirado e emotivo dela, que ainda o segurava pelos ombros.

—Ah, também amo você, Eddie. - ela completou, apertando os ombros dele e logo o puxando para perto de novo, num abraço mais forte e surpreendente, ao que ele riu, a tempo de que ela murmurasse.- Acho que essa é a coisa mais doce que você já me disse. - e ambos riram novamente. - Obrigada, mesmo.

Mercedes assistia à cena da cozinha, os olhos cintilando em afeto e encanto, sem dizer coisa alguma, quando houve um novo comentário.

—Aposto que está pensando agora que é uma pena que eu seja o mais valioso, e também o preferido, hum? - Edward comentou, descontraindo o cômodo novamente quando se afastaram e ele rumou até outra cadeira, ouvindo a risada de Mercedes vinda da cozinha, junto à de Rosalie. - Mas, Jasper ainda pode te render um bom dinheiro, se quer saber o que eu acho.

Com a brincadeira, a mais velha não pôde evitar de estreitar os olhos para ele e querer rir de novo, colocando a cadeira à sua frente, afastada da mesa, de volta no lugar.

—"O preferido". Olhe quem está sendo convencido agora. - Hale ironizou e o caçula encolheu os ombros com uma expressão de quem dissera fatos, e a irmã indicou a cozinha com a cabeça, num tom de riso. - Vá tomar seu café.

—Eu vou, - ele riu suave uma última vez, concordando com a cabeça, enquanto se apoiava numa cadeira, inclinando-se para a mesa, com os olhos ali. - mas não antes de saber o quão perto posso ficar desses papéis. - e franziu o cenho, tentando decifrá-los à distância. - São da casa nova?

—Sim, os próprios. - Rosalie assentiu, remexendo a papelada sobre a mesa, pelo que podia ser a centésima vez. - Papai recomendou que eu lesse o máximo possível dos termos e do contrato antes de assinar, então estou tentando fazer isso. - ela suspirou, com cansaço, mas emendou uma ideia que a fez sorrir um pouco. - Quando terminar e entregar, será oficialmente minha.

—Uau, Rose, isso é ótimo! - ele sorriu sinceramente, assentindo com a cabeça. - Parabéns. - e a irmã assentiu com a cabeça, agradecendo. - Mas, devo admitir, não pensei que estivesse tão importante pra receber tantos papéis. Esses são...? - ele continuou, confuso, gesticulando para os papéis do correio que, no entanto, estavam próximos o bastante dos documentos para parecerem pertencer à loira.

—Ah, não, esses não são pra mim. - ela negou rápido, demorando os olhos ali, nos papéis que ele indicava, mais do que o esperado. E acrescentou com uma tentativa de insignificância, para não atentar os pensamentos de antes, sobre Emmett, querendo surgir em sua cabeça. - É o correio, Mercedes quem pegou e checou, não há nada pra mim.

—Ah, sim. - Edward concordou lentamente, olhando a irmã com suspeita e de volta aos papéis, que deslizou um sobre o outro para ler do que se tratavam, sem tirá-los da mesa.

Até que um, em formato de convite, com mais colorido e detalhes do que a maioria na pilha, chamara sua atenção e, convenientemente, ele não pôde deixar de brincar em voz alta:

—Esse, por acaso, é o leilão em que você vai nos anunciar? - ele ergueu os olhos e uma das mãos, aonde estava o convite, para Rosalie que, inicialmente, o fitou séria e depois sorriu, tendo lido o título do convite que dizia: "Leilão Beneficente Mansion Vita - Edição XXI".

—Agora pode ser. - a mulher riu levemente, dando de ombros para a brincadeira que, no entanto, apreciara.

—Interessante, é beneficente. - o de olhos esverdeados continuou a comentar, dessa vez num tom que parecia mais para si mesmo, o papel virando entre seus dedos, até que o fez parar, subitamente. - Espere aí. - ele fez uma pausa. - Esse não é o nome da garota amiga de Emmett?

Com a junção dos vocativos, Rosalie estava com os olhos erguidos naquela direção novamente mas, dessa vez, num tom diferente - assim como sua voz, que lembrou ao caçula de como a ouvira minutos antes, do andar de cima.

—Amiga de Emmett? - ela perguntou na mesma hora, franzindo o cenho e se inclinando em sua direção. - Quem? Deixe eu ver. - pediu, estendendo a mão com certa urgência.

—Aquela de quem você ficou enciumada. - ele respondeu simplesmente, entregando o convite na mão dela enquanto lembrava, vendo-a torcer o nariz discretamente à menção do ciúmes. - Anna Elizabeth...? - e tentou, incerto do restante.

—Anna Elizabeth Davis. - Rosalie completou, lendo no convite o nome de que se lembrava, tendo ouvido na voz da própria mulher. - Sim, é ela mesmo. Ela é uma das organizadoras do evento.

—Bem, isso é legal. - Edward elogiou, positivamente surpreso com a coincidência, e sorriu antes de olhar a irmã de relance e sair para a cozinha, de onde Mercedes veio com curiosidade.

—É, suponho que sim. - a loira deu de ombros, dispensando o convite sobre a mesa, com uma tentativa de falta de interesse e, enquanto Mercedes o pegava para ver também, acrescentou com certa relutância. - Ela na verdade pareceu uma pessoa... - e suspirou, tentando achar a palavra, que saiu com leve tom de dúvida. - Amigável.

Pela tentativa da irmã, Edward reprimiu o riso enquanto adentrava a sala de jantar novamente, com uma xícara de café nas mãos.

—Bem, então quem sabe você poderia ir nesse evento, não? - Mercedes sugeriu, de repente, e Rosalie piscou muitas vezes, tentando ter certeza do que achava que ela estava dizendo, quando recebeu a confirmação. - Encontrar com ela, conversar um pouco.

E com a breve conversa de minutos antes clareando sua mente, inesperadamente, Rosalie engoliu a seco e, genuinamente indecisa sobre a ideia, criou um silêncio longo até responder.

—Sim, quem sabe. - ela disse, enfim, apesar de outros pensamentos, e então balançou a cabeça para livrar-se deles. - Veremos mais tarde. Quando meus pais chegarem, falarei com eles sobre isso. - e suspirou, fitando a mesa. - Agora, vou terminar logo com isso e me livrar para o jardim.

E com essa fala, Edward e Mercedes trocaram um olhar breve e cúmplice - por sorte, despercebido de Rosalie, que voltou a assinar os papéis da casa com impaciência demais para lê-los.

(...)

Estar debaixo do chuveiro parecia, agora em particular, como ter uma espécie de benção para Emmett. Os músculos, doloridos do treinamento intenso e excessivo nos últimos dias, não mais soavam tão impedidos: conforme a água fria espalhava-se pelo corpo, era como se estivesse intacto - ao menos até que se movesse demais para um lado ou outro. 

Além disso, havia o silêncio, vindo com o milagre de estar sozinho no banheiro espaçoso e coletivo do alojamento, e que muitas vezes era extremamente agradável - até que, não com muita surpresa, um dos garotos - ou, mais provavelmente, uma série deles - invadisse o lugar com um baque e conversas altas.

Mas, ainda assim, o conjunto daquilo era suficiente. A dor, inclusive, não era ruim: o lembrava de que estava fazendo alguma coisa, e ainda mais, algo de que gostava e sentira falta. Ele estava de volta à sensação de ter atividades o suficiente para ocupar sua energia e mente, ao menos em grande parte do dia - e isso era uma ótima coisa que sentir. 

E a bagunça por toda parte - nos vestiários, no lado de fora ou no alojamento -, dos rapazes majoritariamente mais novos que ele, era boa em certa medida também: por mais que gostasse, e às vezes precisasse, de sua bolha de paz intocada, com espaço para só um, também estava se tornando bom vê-la estourada de tempos em tempos, independente de sua vontade, deixando-o no meio das brincadeiras e conversas com os outros que, em grande parte do tempo, faziam-no sentir-se como em um time - como costumava ser no quartel, anos antes.

—Ah, aí está você! - Emmett ouviu a voz de Seth ecoar ofegante banheiro adentro, junto ao baque da porta se abrindo e, com a surpresa, o mais velho passou uma mão do rosto para os cabelos, alisando-o pra trás enquanto se afastava da cascata do chuveiro. - Cara, você é rápido. Até mesmo pra pegar o banheiro vazio. 

Emmett riu com a constatação, vendo Seth desamarrar os coturnos sobre um dos bancos, entre os armários, ainda ofegando. 

—Não teria graça nenhuma ganhar de você naquela volta, se não fosse pra chegar aqui primeiro. - ele riu e deu de ombros, esfregando o sabonete nas mãos para passar no rosto, enquanto Seth soltava um riso descrente. 

—É, suponho que eu devia ter imaginado essa. - o garoto cedeu um pouco, ficando em silêncio por não mais do que segundos, até se agitar de novo, com indignação. - Mas, é sério! Você precisa me contar o que é! Estamos só nós aqui, preciso saber como consegue. - ele disse, como se fosse óbvio, e Emmett desviou do pilar no chuveiro para encará-lo com dúvida, o rosto já enxaguado. 

Seth arregalou os olhos antes de explicar num fôlego só. 

—Correr tão rápido e tão bem assim! Como você consegue? É humanamente impossível! E ainda mais hoje, eu nunca te vi correndo como hoje!

Com isso, o veterano sorriu breve e baixou os olhos oportunamente, para o registro do chuveiro, girando-o até que a água parasse de sair e, quase ao mesmo tempo, esticou a mão para o chuveiro ao lado, aonde deixara sua toalha pendurada. 

Apesar de apreciar os elogios - que quase sempre vinham quando se tratava de Seth -, ele sabia exatamente o por quê correra tão bem, e tão mais rápido, naquela manhã. 

Sabia o tanto mais que as coisas, que já estavam em sua cabeça há dias, estiveram pesando desde a noite passada, quando se dera conta da data que viria, e o tanto que isso o obrigara a canalizar para algum lugar todos os sentimentos e ideias que o manteriam acordado à noite, se não fosse o cansaço por atividades e esforços físicos como aqueles. 

Mas, ele não se sentia no humor certo para falar sobre isso - ainda mais, não com qualquer um dos garotos ali, que demoraria a conhecer e com quem confidenciar esse tipo de coisa, e também que provavelmente não entenderiam a dimensão ou significado das coisas que o afligiam àquela altura. Um ponto que, além do mais, o fazia sentir falta de Dominic, seu terapeuta, e da terapia semanal em si - e então, não podendo fazer nada sobre isso, seguia com a lógica de canalizar a falta pra outro lugar. 

—Me sinto mal em desapontar, mas... - Emmett pausou, suspirando. - Realmente não faço nada de mais, Seth. - riu, amarrando a toalha na cintura e viu o garoto rolar os olhos, jogando a camiseta por cima do ombro. - Eu só treino e, na hora de seguir pra corrida, pego a motivação de... - e fez um suspense bobo, como se procurasse palavras. - Vencer e tomar banho sozinho, antes de todos vocês. 

Isso somado à expressão convencida do de olhos azuis, fez o garoto gargalhar e rolar os olhos pra ele enquanto passava ao seu lado no corredor, antes de ficar, milagrosa e estranhamente, quieto.

Foi no passar desse instante que o veterano viu Seth levar as mãos ao bolso da farda, tirando pela um cordão de onde um amuleto rústico pendia. Enrolou-o em uma mão e levou-o pra perto dos lábios, quando sibilou palavras em uma língua que o outro não conhecia, antes de afastá-lo de novo e deixá-lo sobre as roupas no armário.

—É um colar muito bonito. - Emmett comentou, sorrindo brevemente, meio virado para o armário que abria, meio para o garoto.

—Ah, esse? - Seth ergueu as sobrancelhas e pegou de volta pra indicar, sorrindo largo assim que o mais velho assentiu. - É mesmo, não é? Eu o adoro, levo pra todo canto que posso. - ele assentiu, orgulhoso, e começou a explicar. - Meu pai quem fez, ensinando a mim e minha irmã como fazer. É um costume da nossa tribo, fazer esses presentes à mão, sabe? E agora me lembra dele, é como se... - e pausou, analisando o colar. - Me sentisse mais perto.

Diante disso, Emmett, ao mesmo tempo, entendeu e questionou-se: de repente, se deu conta de que sabia muito pouco sobre a história de Seth. Tão pouco, que se via precisando perguntar para ter certeza que entendera o contexto de sua fala.

—Mais perto como em... - ele hesitou, em dúvida. - Daqui até a sua tribo? Ou ele...? - e sugeriu, sem  querer dizer as palavras, dirigindo ao garoto o olhar mais cauteloso que havia em si. 

—Ah, não, mais perto porque ele faleceu, quis dizer. É como se tivesse uma parte dele comigo. - Seth respondeu então, categórico e sem rodeios, antes de continuar com mesma intensidade. - Minha mãe também faleceu, mas antes dele, então meio que é diferente. Sinto falta dela, mas cresci com isso, então... Me acostumei a vê-la, ou a imaginá-la talvez seja melhor, em quase tudo. - ele explicou, gesticulando.

—Sinto muito, Seth. - Emmett disse quase imediatamente, sentindo-se péssimo por tocar no assunto e tê-lo feito falar sobre algo, para dizer o mínimo, tão delicado. - Desculpe ter perguntado, eu...

—Não, tudo bem. - o garoto o interrompeu, sorrindo com honestidade. - Temos permissão pra falar dessas coisas, porque somos amigos, certo? - ele arqueou as sobrancelhas, querendo assegurar, embora não tivesse esperado resposta alguma. - Além do mais, eu meio que gosto de falar sobre eles dois, quando posso. Os mantêm vivos pra mim, sabe? - ele deu de ombros, e enfiou os coturnos no armário, depois a camisa que acabava de dobrar.

—Sei do que está falando. - o outro assentiu, levemente mais tranquilo, e agora com uma sensação engraçada, boa, de confiança com o garoto. - Fico fazendo isso com a minha mãe às vezes, na minha cabeça. Com o tempo, acho que ajuda mais do que machuca. - ele concluiu, embora tivesse se virado para o próprio armário tão logo mencionara Francine, incerto do quanto queria que Seth visse seu rosto naquele lapso de segundo.

—É, penso que sim, também. - o mais novo assentiu, não totalmente alheio às maneiras suspeitas de Emmett, mas o suficiente para seguir com a conversa no que pensara, inocentemente, ser outro rumo. - E o seu pai? Ele está esperando você em casa ou... - ele sugeriu, incerto do que acrescentar.

O que, realmente, não foi preciso: à menção do vocativo, Emmett imediatamente sentiu seu estômago esfriar, agitando o caminho até sua garganta - o que o fez reagir com pressa.

—Morto. - disse, sem pensar bem numa frase e, ao olhar caloroso e firme de Seth, balançou a cabeça, corrigindo. - Ele morreu... Faz tempo. 

E, após isso, houve silêncio entre ambos, apenas o som metálico da porta do armário de Emmett colidindo com outro, enquanto ele se virava-se para pegar a própria camisa no armário. 

O que durou até que ele conseguisse dissipar, forçosamente, a figura de Jared e as memórias que vinham com ela, para o fundo de sua cabeça e, enfim, erguesse os para o garoto. Seth, ainda que em silêncio,  soava culpado e, Emmett desconfiava, pensando dizer algo, então ele adiantou:

—Não se preocupe assim, Seth, está tudo bem. - o veterano atraiu a atenção do rapaz para seu rosto e sorriu um pouco ao, propositalmente, parafraseá-lo com algo de minutos atrás. - Temos permissão pra falar dessas coisas.


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Notas finais do capítulo

Me deixem saber o que acharam, por favor! Ideias/teorias sobre o que está por vir também são bem vindas ♥

Beijos! Se cuidem e até logo!



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