Across The Frontline escrita por overexposedxx


Capítulo 25
Capítulo 25 - Epifania


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores! Espero que estejam todos bem e se cuidando!
Sei que tenho demorado pra atualizar, e é porque tenho estado realmente ocupada entre esses dois meses (junho e julho, que acabou de chegar), então espero que possam entender e me desculpar por deixar vocês esperando tanto! Dentro de uma semana, ou algo assim, devo ficar um pouco mais livre pra atualizar com frequência.

De toda forma, obrigada pela paciência e por acompanharem! Espero que gostem desse capítulo.
Boa leitura!



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— O que você está fazendo aqui? - Emmett perguntou, imerso na confusão misturada à ira em sua cabeça, e sem esconder o tom de aversão em sua voz. Seu cenho ainda estava franzido enquanto forçava-se a parar nos olhos do homem à sua frente. 

— Ora, garoto, isso é jeito de receber seu pai? - Jared insistiu, dissimulado, abrindo um sorriso com intenção de afeto e abrindo os braços para ele de novo. Emmett permaneceu no lugar, seu coração descompassando terrivelmente, embora os músculos tensionados que faziam a postura rígida não o deixassem transparecer.

— Você não é meu pai. - ele sibilou, o maxilar enrijecido. Por sua cabeça, todos os flashes de suas memórias distantes e majoritariamente infortunas guardadas do rosto mais jovem, mas sempre taciturno, de Jared, ocorriam-lhe numa trilha acelerada, incerta e perturbadora. 

 – Eu vim ver você, é claro. - o mais velho disse como se fosse óbvio, sorrindo de novo e dando de ombros. Então, fez uma pausa e inclinou a cabeça com o que deveria ser alguma espécie de admiração ao filho, lhe dedicando um olhar - Estive te procurando por todo lugar e por tanto tempo, quando te vi no jornal esses dias com essa família... - ele ia dizendo, sorrindo.

— Pra que? - o veterano o interrompeu abruptamente, sem esconder sua raiva dessa vez, sobretudo depois que o mais velho continuou a olhá-lo como se não entendesse - Pra que você esteve me procurando? O que você quer? - ele gesticulou nervosamente - Minha mãe e eu termos ido embora naquela época não foi suficiente pra você entender que te queríamos longe? 

Mas, antes que Jared pudesse prosseguir - de qualquer forma, para Emmett, previsível que fosse -, o som de passos atrás do mais novo, dentro da grande casa, e a voz que veio depois deles em particular, chamaram sua atenção. 

— Emmett? - Rosalie perguntou, num tom intrigado e preocupado também. Emmett relaxou o cenho franzido por um momento, mesmo tendo amaldiçoado a si mesmo mentalmente porque, deduzia agora, havia falado alto o bastante para que ouvissem do lado de dentro. - Quem é? - ela quis saber, se aproximando e arriscando um olhar pelo espaço que havia entre a figura alta e o lado de fora.

— Não é ninguém, Rose. - Emmett disse antes que ela pudesse arriscar mais, e se virou pouco em sua direção para dizer mais convincentemente - Vá pra dentro, sim? Eu já estou indo. - ele garantiu, e Rosalie o olhou com dúvida, abrindo a boca para dizer alguma coisa, em sinal de relutância, que não houve tempo de dizer. Ele engoliu a seco, a olhou diretamente em súplica, e tocou sua mão com discrição - Por favor, Rose. 

Rosalie, dessa vez, apenas o olhou em silêncio e segurou sua mão de volta, com uma firmeza e carinho característicos que ele soube que significavam aceitação ao momento, mas também suporte caso algo desse errado ali, com Jared. 

— Ah, por que não deixa que nos conheçamos? - o mesmo interrompeu antes que a loira se afastasse, se inclinando pra tentar vê-la através de Emmett - É a sua esposa? - ele quis saber, com um sorriso curvado, e o mais novo sequer mencionou responder, quando Jared continuou, com um tom de riso - Ela merece conhecer o sogro, vamos lá, eu prometo não colocar o meu charme em ação, garoto.

— Do que ele está falando, Emm? - Rosalie então hesitou de novo, falando baixo, apenas para o ex-soldado, e o olhou com cautela e confusão ao mesmo tempo - É o seu...? - ela quis dizer, mas incerta, porque as poucas coisas que havia ouvido falar do dito pai de Emmett, ou às vezes o tom com que ouvira dizê-las, sugeriam que ele sequer se referia ao tal homem dessa forma. 

— Jared Vincent McCarty, querida. - Jared disse antes mesmo que o mais novo pudesse responder, estendendo a mão pelo espaço entre o filho e o batente da porta, sorrindo audaciosamente - E o prazer é todo meu. 

E Rosalie sequer estendeu a mão de volta, ainda esperando pela resposta de Emmett - embora esta acabasse de ficar ainda mais evidente - e com desconfiança à figura que queria cumprimentá-la, mas o McCarty mais novo se colocou no espaço de onde vinha a mão do outro de qualquer maneira, o obrigando a recolhê-la sob um olhar firme.

— Eu já disse, Rose, não é ninguém. - ele continuou a afirmar, agora tirando os olhos de Jared apenas para olhar de relance à Rosalie em um novo pedido - Por favor, vá pra dentro. Eu estarei lá logo. - e afirmou gentilmente, embora sem conseguir sorrir pra ela. Rosalie então, finalmente, se afastou de volta à sala de jantar e Jared se contentou em vê-la desaparecer, sorrindo ironicamente. O veterano fechou um pouco mais a porta atrás de si.

— "Ninguém", hum? - ele provocou, arqueando uma sobrancelha, e Emmett detestou notar que o gesto parecia tão familiar - Eu estou vendo. Sua mãe te fez acreditar que eu era todas aquelas coisas ruins, não é? - e cruzou os braços, com um ar de riso.

— Ela não precisou me fazer acreditar em nada. -o veterano retrucou duramente, e começou a dizer e gesticular com o mesmo tom - Eu via, eu me lembro de você bêbado todos os dias em que podia e sempre a tratando tão mal, mesmo com todas as coisas que ela fazia pra você... 

— Todas as coisas que ela fazia pra mim?! - Jared o interrompeu, franzindo o rosto todo bruscamente, em tom de indignação e ira: agora parecia não se importar mais tanto com a interpretação que tentara fazer no começo. - Ela não fazia nem um dedo a mais que a obrigação! Eu quem colocava comida na mesa todos os dias, mantinha aquela casa de pé, o teto sobre as cabeças de vocês! - ele vociferou, apontando para um lado e outro, no que houve uma pausa apenas pra que Emmett deixasse escapar um suspiro carregado de riso sem humor. 

— Meu Deus! - Emmett levou as mãos aos cabelos, enterrando as mãos por eles e deslizando de uma vez quando desviou o olhar da figura à sua frente, procurando por uma vista que não fosse perturbadora e ar para preencher seus pulmões: coisas que amenizassem, mesmo que improvavelmente, a ebulição em que seu sangue parecia estar - Deve ser realmente difícil conviver consigo mesmo criando todas essas mentiras pra se convencer, já que nós dois sabemos que ela fazia todas as coisas que você não fazia, inclusive cuidar de mim!

— É, pode apostar que ela cuidou de você, garoto. - o mais velho afirmou com a cabeça, e gesticulou para ele, torcendo o nariz. - E olhe no que isso te transformou. - então, fez uma pausa. Emmett enrijeceu o maxilar enquanto ele continuou, mais petulante do que antes, olhando-o firme nos olhos com a mesma expressão enojada. - Eu devia saber que seria assim. Como sempre foi, um garotinho mimado e ingrato que ela criou. 

— Mimado? - dessa vez Emmett quem vociferou, irritado, e quase avançando mais um passo para o mais velho, seu corpo projetado para frente e inflexível - Você sequer sabe todas as coisas que aconteceram comigo até chegar aqui? Você sequer sabe que eu fui pra guerra em 1942? - ele perguntou sem esperar resposta, e só por um momento pensou ter visto os olhos de Jared recuarem, seu cenho cedendo por um mínimo instante. Mas, Emmett não se importou e apenas prosseguiu, dizendo entredentes e mais baixo do que antes - Você não sabe nada sobre mim, nunca soube. E também nunca me fez nada de bom para que eu fosse grato a você. 

— Bem, parece que eu sei mais do que você imaginava, não é? - Jared desafiou, arqueando uma sobrancelha e encarando o filho firmemente, e com um tom de quem se satisfazia. - Afinal, eu te achei aqui, e não só por causa daquele jornal, mas porque eu soube que você faria como a sua mãe. - ele disse mais baixo e rispidamente. Emmett franziu o cenho discretamente, incerto se teria se perdido em alguma parte da conversa, ou se aquela era apenas mais uma forma que Jared arrumara para ganhar sua atenção.

— Sempre correndo pra debaixo das asas deles, os Cullen. - ele então continuou, torcendo o nariz de novo, com desgosto, e o olhar se desviando com o mesmo tom, conforme riu sarcasticamente. — E dizendo que era apenas por serviço. Me tratando como se eu fosse estúpido o suficiente pra acreditar! - ele exclamou, nervoso, negando com a cabeça conforme deixava o riso se esvair. 

Emmett, então sim, franziu o cenho sem discrição, os músculos de seu rosto retesando como os dos braços fizeram, ao passo que em sua cabeça um raciocínio embaralhado fluía livremente - como se corresse de seu entendimento e, ao mesmo tempo, para ele. 

Era como se houvesse uma espécie de névoa sobre alguma parte ali e, conforme Jared falava, uma parte sua queria perseguir a parte nublada até esclarecê-la, almejando aquela sensação inegável na solução de um enigma - que Emmett mesmo, no entanto, ainda não sabia qual era.  Mas outra - ele não tinha certeza se maior, mas definitivamente mais forte -, queria relutar, parar de ouvir às coisas que Jared dizia porque abalavam alguma parte sua perturbadoramente, e correr pra longe de qualquer vento que pudesse transformar a névoa numa coisa compreensível. 

Como se, por algum motivo, não valesse a pena enxergar lá fora depois de tanto tempo no escuro, porque as coisas que vinham com a claridade podiam incapacitar mais dolorosamente do que ficar de olhos fechados. 

— Do que você está falando?- Emmett negou com a cabeça, piscando muitas vezes enquanto relutava para não se perder no conflito em sua cabeça. Alguma coisa não estava certa, e era desconcertante. - Você está ficando louco. - ele continuou a negar com veemência - Eles não tem nada a ver com isso, deixe-os...

— Ah, você também não tente me fazer de idiota. - disse Jared com ignorância, parecendo não registrar o estado do mais novo, e se afastou em direção ao carro em frente à garagem. - Você estava sempre com ela nessas horas. Imagino que tenha sido conveniente, não? Todas as mentiras que ela contou a eles, se fazendo de vítima, tão típico, e agora você é "parte da família"! - ele zombou, gesticulando para o nada, quando se aproximou de novo do veterano à porta, cerrando os dentes. — Nunca abriu a boca para defender seu próprio pai, não é? 

— Eu já disse, você não é meu pai, e está completamente louco! - Emmett bradou exasperado, gesticulando duramente enquanto se afastava para outro canto, as mãos enterradas nos cabelos, como se assim pudesse controlar sua cabeça, fazê-la parar. Então, reuniu o que restava de seu fôlego, com o coração acelerado tomando-o dos pulmões, e se virou para Jared. - O que você quer? Me diga o que você quer e vá embora!

Mas, Jared sequer se moveu.

— Oh, eu estou vendo... - ele disse com deslumbramento, seu semblante firme cedendo um pouco quando apontou, com o que parecia contentamento. - Você não se lembra. - e então continuou, com tom irônico, se aproximando de Emmett. - A sua nova família não te contou? Vocês vinham aqui toda semana, quase todos os dias, escondido de mim, fazer sabe-se lá Deus o quê. E tudo porque esse Doutor Cullen e sua esposa protegiam sua mãe, acreditando nas coisas que ela contava, dizendo que eu a maltratava! - ele riu sem humor, visivelmente transtornado pela lembrança, as mãos se fechando em punho. 

— Cale a boca, cale a boca agora! - o veterano retrucou outra vez, desviando para outro canto de novo, mais descontrolado do que antes porque o estado de negação em sua cabeça estava sendo dolorosamente contrariado por Jared.

— Mas, Francine quem era chorona demais. - o mais velho prosseguiu como se não ouvisse, franzindo os lábios e com os olhos em outro lugar conforme recostou-se no carro e disse doentiamente. - Não aguentava um empurrãozinho, um tapa que fosse! Igualzinho a você. 

E dali em diante, foi apenas um átimo até que Emmett estivesse encurralando-o no carro e acertando por centímetros a lataria do carro com um soco, ao invés de seu rosto, com toda a força que podia. O barulho do metal se dobrando sob seus ossos foi estrondoso, e pareceu ecoar conforme o maxilar do ex-soldado enrijecia a um ponto doloroso, mas que ele não sentia, e sua respiração rareava, quente, muito perto do rosto do homem mais velho. 

Ele viu, naquele segundo anterior, Jared piscar os olhos com força e afastar-se minimamente, querendo evitar o momento do impacto, mas agora já estava com um novo sorriso débil no rosto e, como se soubesse o quanto o mais novo estava se esforçando para manter o controle, provocou, num tom baixo:

— Então é verdade que não se pode negar os genes por muito tempo, afinal. 

Então sim, Emmett avançou para ele certeiramente, sem pensar em nada além da adrenalina que incendiava sua raiva, e sua mão direita fechada em punho teria acertado em cheio o rosto envelhecido, mas semelhante ao seu, se não fosse pelas duas mãos que chegaram até ele, segurando-o firmemente de cada lado de seu corpo.

— Emmett. - Carlisle chamou-o de perto, parecendo suspendê-lo da vista turva e afogueada que sua raiva o fizera ter. - Não vale a pena, venha pra dentro. - ele recomendou, e o corpo de Emmett pareceu ceder um pouco, embora não tivesse tirado os olhos do pai biológico. Então, o loiro insistiu. - Venha. Nós vamos cuidar disso.

— Eu nunca vou ser como você. - ele disse então, uma última vez, entredentes, e moveu o braço, cujo ombro era segurado para trás por Edward, para pegar a carteira em seu bolso, de onde tirou algumas notas e atirou sobre Jared, dizendo com aversão - Se veio aqui por dinheiro, tome. E vá embora. Nunca mais me procure, nem a ninguém dessa família.

Enfim, quando o veterano terminou de falar aquelas palavras, vendo Jared encará-lo enquanto abaixava-se para pegar as notas com uma espécie bizarra de desespero, ele se deixou afastar dali pelas mãos dos dois que o incentivavam de volta à casa, e caminhou com eles até lá, embora sem realmente ver as coisas que passavam diante de seus olhos. 

Ele viu Edward guiá-lo com uma mão em suas costas e recolhê-la depois, ao mesmo tempo que ouviu Carlisle desaparecer porta afora, fechando-a atrás de si, e em seguida notou Esme a pouca distância com uma expressão preocupada, mas contida, num canto de onde veio Rosalie: seu semblante era um pouco mais firme, mas mesmo assim, a preocupação estava evidente em todos os traços enquanto caminhava até ele, sem hesitar. 

— Emm... - ela começou a dizer, olhando aflita do rosto dele para a mão direita, outra vez machucada. Quando se aproximou o bastante, no entanto, o ex-soldado a interrompeu.

— Isso não foi nada. - ele adiantou, olhando de relance para a mão cuja dor começava a sentir. E quando viu Rosalie abrindo a boca para dizer alguma coisa, que imaginou sabiamente ser uma contrariedade ao que ele acabara de dizer, interrompeu outra vez, segurando sua mão levemente com aquela que não estava machucada. - Olhe, Rose, eu preciso de um tempo sozinho, está bem? Depois cuido disso. 

E então, Rosalie se viu no direito e em tempo apenas de assentir levemente e, sem dizer mais nada, prolongou o toque de suas mãos o quanto pôde conforme ele se afastava. Em seguida, acompanhou sua figura com os olhos, que rumava ao jardim dos fundos, como todos da sala fizeram, até que Carlisle estivesse de volta ao lado de dentro, atraindo sua atenção. 

Ele soube o que os outros queriam perguntar antes mesmo que o fizessem, quando todos os olhares pousaram em sua efígie, e então respondeu. 

— Ele foi embora. - Carlisle disse sob um suspiro, fechando a porta atrás de si antes de checar a sala com os olhos - Aonde está Emmett? - ele perguntou de cenho franzido e olhar apressado. 

— No jardim. - Rosalie respondeu baixo, com desânimo, mas mal o fizera e seu pai já estava atravessando a sala rumo ao local que ela dissera. 

— Preciso ver a mão dele antes que piore. - e explicou, como se alguém fosse capaz de acreditar que era apenas daquilo que se tratava sua preocupação apressada, quando Esme o interrompeu, tocando seu ombro. 

— Carlisle. - ela disse com um olhar carinhoso, mas tom sério. Só então o loiro parou aonde estava e organizou seu ritmo incomum, pairando os olhos sobre os esverdeados da esposa - Ele quer ficar sozinho. Dê um tempo a ele, se lembre do que você mesmo disse a mim horas atrás. 

E assim Carlisle cedeu, se colocando ao lado da esposa com uma expressão menos pesarosa, mas ainda assim, aflita, e envolveu-a pelo ombro num meio abraço - ao que ela correspondeu passando um braço por suas costas. 

— Horas atrás? - Rosalie começou, franzindo o cenho, num tom ainda baixo repleto de dúvida, mas que logo se transformou em indignação, conforme as peças pareceram se encaixar impossivelmente em sua cabeça. - Então vocês sabiam disso tudo? Que tudo isso ia acontecer?! - ela gesticulou nervosa, alternando o olhar entre os pais. 

— É claro que não! - Esme se exasperou primeiro, parecendo ofendida e, de repente, claramente aflita. - Não fazíamos ideia de que o pai de Emmett iria aparecer aqui! - ela emendou, gesticulando para a filha, e se acalmando sob um aperto do marido em sua mão, quando continuou num tom mais discreto, de quem refletia em voz alta - Nós nunca teríamos deixado.

Mas, nada na forma como o sangue de Rosalie estava fervilhando sob sua pele parecia dizer que aquelas sentenças haviam servido de algum conforto. Pelo contrário: conforme as palavras de sua mãe aderiam aos resquícios das outras em sua cabeça, a loira só conseguia sentir todas as coisas se intensificarem dentro dela. Afinal, todas as últimas coisas que ouvira e a atitude de Emmett só podiam, juntas, significar uma coisa: seus pais sabiam de coisas sobre ele que nem o mesmo sabia e que acabara de descobrir, da pior maneira possível. 

Coisas que, Rosalie tinha certeza, ela também não sabia, e por qualquer motivo que fosse, teria de ser um bem consistente para sustentar o fato de que haviam escondido coisas tão importantes de seu passado - e, em geral, sua vida! - do homem a quem supostamente tinham como filho. 

Mas, é claro, não só dele - dela também. Porque, é claro, por mais egoísta que parecesse sequer pensar nisso agora, Rosalie não podia evitar: se, enfim, como as respostas em sua cabeça faziam parecer, seus pais conheciam Emmett, sua família e haviam convivido com eles em algum lugar do passado, por que é que não a haviam lembrado quando ele chegara à casa, naquele Natal de 1946? Por que não haviam feito o que teria poupado a ela um ano de mau tratamento infundado a uma pessoa com que, na verdade, ela sempre havia simpatizado, e só não conseguira associar à lembrança?

Ou melhor, e mais além: por que é que não haviam falado sobre Emmett e sua família o tempo todo, enquanto ela crescia, para que então pudesse se lembrar sempre daquele garoto tão adorável e doce que já conhecia, e quem sabe conhecê-lo melhor ao invés de a Royce, e então sua vida seria feliz há anos àquela altura, ao lado da pessoa certa.

E então também, Emmett não teria tido que passar por todas as coisas que havia passado sozinho: a violência de seu pai, a morte de sua mãe, os traumas pós-guerra e o desamparo de não ter seu lar, estendido por tanto tempo na obrigação de viver entre ruas e abrigos insuficientes, com fome, frio, solidão, e outras dificuldades que ela nem podia imaginar. 

Ele nunca teria tido que se tornar esse Emmett, revestido em tantas camadas por todos os tipos de sofrimento que passara, que agora tinha que se esforçar enormemente para resgatar quem era de verdade - e não por ela, que o amava de todo jeito, mas por si mesmo. Porque aquela não era a sua versão original, de que gostava um tanto mais, e de que sentia falta.

A versão que, agora ela sabia, seu pai havia começado a arruinar, quase como Royce fizera com ela, mas desde muito cedo e tão pior para uma criança - o que para Rosalie parecia explicar, pensando em coisas médicas que já ouvira de Carlisle, o por que ele esquecera de tantas coisas que haviam se passado ao mesmo tempo que essa época tenebrosa, a começar, por exemplo, por ela e sua família. Coisas de que ele precisava de ajuda para lembrar e superar, o quanto antes possível - uma ajuda de que, na opinião dela, seus pais o haviam privado quando escolheram omitir-se daquela forma. 

— Vocês sabiam quem ele era! Vocês sabiam o tempo todo! - Rosalie retrucou nervosa, depois de algum tempo parada com as mãos enterradas nos cabelos e todos aqueles pensamentos, banhados em indignação, crescentes em sua cabeça - Como vocês puderam? Como puderam esconder tantas coisas dele? De todos nós?! - ela vociferou, gesticulando na direção dos pais.

— Rosalie, nós falaremos disso depois, quando Emmett estiver aqui. - Carlisle interviu, num tom alto e firme, mas sem o escândalo que o tom da filha sugeria - Afinal, isso diz respeito apenas a ele.

— Ah, agora... - ela começou a resmungar, mas Edward antecipou que, mais tarde, a irmã se arrependeria do que quer que fosse retrucar com os pais, que já estavam bem aflitos sem a pressão vinda dela.

— Rose, se acalme. - ele interrompeu, pedindo o mais serenamente possível, parado a pouca distância, entre ela e os pais, e parecendo reflexivo.

— Não, Edward, não venha me dizer para me acalmar! - ela protestou, irritada com a condescendência do irmão. - Como você pode não ver a gravidade aqui? - e então fez uma pausa, estudando a expressão do caçula. - Não me diga que você já sabia. 

Edward balançou a cabeça em negativa, e hesitou um pouco em dizer, pela solidariedade ao estado dos pais.

— Eu tinha... Tinha dúvidas sobre ele ter sido escolhido "ao acaso" para vir pra casa naquele Natal, e depois sobre a naturalidade de nossos pais com ele, e alguns momentos... - ele desviou o olhar, estreitando os olhos e abrindo a boca sem dizer coisa alguma, por alguns instantes, ainda parecendo ponderar. - Momentos em que vocês estavam conversando sobre alguma coisa que nenhum de nós podia estar por perto pra ouvir. E embora não ouvisse, eu percebia que havia algo diferente. - e então, pausou, ainda balançando a cabeça, parecendo desacreditado. - Agora tudo faz sentido. Mas, até então, - disse, se virando para irmã com seriedade - eu sabia tanto quanto você, Rosalie, ou até menos. 

E isso, enfim, por algum motivo, aquietou um pouco à ela, que então apenas caminhou por algum tempo na sala, em silêncio, antes de deixar-se ceder ao sofá, com um tom de impaciência e preocupação que se assemelhava aos do restante da família. 

Entrementes, no jardim, Emmett se sentava a uma das cadeiras pintadas de branco, os cotovelos sobre os joelhos e o rosto enterrado nas mãos. Sempre concentrado, como se assim algo de tudo o que estava em sua cabeça pudesse se encaixar e resolver, mas também ansiosamente, às vezes a posição do ex-soldado mudava - como se assim pudesse renovar sua perspectiva, para uma menos impactante das lembranças que, aos poucos, lhe retornavam à consciência. 

E sob seu olhar, a grama dançava lá e cá com a rajada de vento que subitamente enchia o fim de tarde, não mais tão ensolarado quanto antes, e as poucas nuvens corriam no céu, como deveriam, mudando a paisagem aos poucos. 

Exatamente como deveriam, Emmett pensou. 

Como se nunca houvesse escolha, mesmo que a forma tão natural como faziam - no farfalhar e no movimento curvilíneo da grama muito verde, ou no sopro perfeitamente gradual das nuvens no azul escurecendo - fizesse parecer que havia. Porque, na verdade, o tempo todo, a forma como essas coisas existiam - que era o que verdadeiramente lhes dava sentido -, estavam à mercê de algo que as obrigava, mesmo sem sua consciência. 

E de repente, com esse pensamento, todos os movimentos acerca dos quais pensava tão exageradamente pareceram insultantes. Como se houvesse algo neles que se identificava tão assustadoramente com alguma parte sua - ou com todas agora, na verdade -, que tudo o que podia fazer era olhá-los com um assombro e desgosto que o faziam querer correr. Correr dali, mas não como planejara mais cedo, e sim como uma fuga. Uma fuga que pudesse livrá-lo do horror que era notar tudo de uma vez só. 

Devia ser o que chamavam de epifania: a súbita sensação de compreensão das coisas, da essência delas na vida que se leva, muitas vezes capaz do contrário ao alívio que se pressupõe que o entendimento traga. 

O que, para Emmett, era mais do que compreensível, visto que ele acabara de recuperar as lembranças dolorosas primeiro: de Jared agredindo à sua mãe e a ele, ainda criança, em flashes que, ele tinha certeza, representavam uma série de dias diferentes e ainda incompletos em sua cabeça - tantos quanto a memória uma vez inibida pelo trauma começava a permitir-lhe. 

E era essa a razão maior pela qual ele se sentia um caos. Não era que não fosse um imenso choque saber que, de alguma forma, na verdade ele conhecera todos os Cullen, inclusive Rosalie, aquela casa e tudo o mais sobre eles, muito antes do que pensava ter sido um acaso milagroso, ou sua segunda chance milagrosa, no Natal de 1946: era realmente uma surpresa e, em sua maior parte, desconcertante e responsável por uma série de perguntas que lhe ocorreram. Mas, ele não tinha certeza do quanto podia pensar nessa parte agora, já que as memórias que deveriam haver dela, por algum motivo, ainda não haviam vindo à tona. 

Então, só lhe havia a parte mais assustadora e que, em algum ponto, fizera dele quem fora por todos aqueles anos e quem ainda sentia ser, especialmente agora: uma versão maior do garotinho assustado que tanto não devia ter passado por aqueles episódios violentos que, ao recuperá-los na memória, sentia-se de volta à vontade de simplesmente correr para longe, como costumava querer fazer ao ver a mão de Jared, às vezes segurando seu cinto surrado, se levantar para acertá-lo.

E pensando nessa mesma vontade, Emmett se levantou exasperado da cadeira que já não era mais um descanso, de olhos marejados, pele corada demais e passos confusos, mas rápidos, em direção à porta dos fundos da casa - após a qual não tinha certeza do que iria fazer, e da qual mal viu Rosalie aparecer, aflita e evidentemente impaciente o bastante para estar ali.

—Ah, desculpe, você já estava vindo pra dentro. - ela disse, com surpresa, e cautela pelo estado visível dele. E então, ia começar a se desculpar e voltar para a família preocupada na sala de estar, em espera por ele, quando foi interrompida. 

—N-não. - o veterano engasgou com a palavra, de repente com o nó se estreitando em sua garganta, e pigarreou para continuar. - Eu não estava voltando. Ainda. 

—Oh. - Rosalie reagiu apenas, intrigada e mais preocupada do que antes, se possível. - Então, se importa se eu ficar aqui um pouco? Eu sei que você pediu pra ficar sozinho, Emm. Mas, eu queria ajudar. 

—Tudo bem. - ele respondeu simplesmente, acenando fracamente com a cabeça e sem se mover mais um passo. 

Assim, Rosalie fez exatamente o oposto, e caminhou os passos que faltavam até estar suficientemente perto dele e à sua frente. Ela fitou seu rosto neutro mas, ao mesmo tempo, carregado de emoções - do que seus olhos muito azuis blindados por lágrimas não a deixavam duvidar -, notou a mão ferida um pouco trêmula e a outra fechada em punho, e hesitou apenas um instante enquanto abafava sua agonia por vê-lo naquele estado, em nome da necessidade de reunir-se para a única coisa que parecia ser de ajuda o bastante agora.

Em seguida, portanto, Hale estendeu as mãos para as dele - com mais cuidado àquela que estava ferida - e tocou-as carinhosamente o bastante para atrair sua atenção, o que fez Emmett dirigir os olhos para os dela quase automaticamente. E ela estava esperando por isso, exceto pela forma inapropriadamente linda e também agonizante como o azul perfeito das íris dele pareceu se diluir nas lágrimas acumuladas, quase afundando seu coração no peito dolorosamente - um detalhe que, no entanto, se tornou massivo o bastante para incentivá-la a passar de uma vez os braços ao redor dele, o trazendo para o mais perto possível. 

E quando o fez, de mãos firmes nas costas dele e se esticando o quanto pôde para levar o rosto perto de seu ombro, Emmett confinou todo o ar que havia em seus pulmões sem perceber, por diversos segundos, até que a emergência por oxigênio suscitou todas as outras, fazendo-o voltar a respirar ao mesmo tempo em que soluçou desesperadamente, sem aviso, deixando as lágrimas molharem seu rosto quente e seus braços se aterem ao corpo de Rosalie de volta, com mais necessidade e firmeza do que ambos haviam antecipado - mas, como não se incomodaram em mudar, pelos tantos minutos seguintes que se passaram assim. 

E, dessa vez, foi Rosalie quem repetiu a ele, entre os soluços que tremulavam seu corpo grande e as lágrimas que molhavam os ombros dela, as palavras que ele dissera a ela em um de seus momentos de maior caos, com os adendos específicos necessários.

—Vai ficar tudo bem. - ela assegurou, afagando as costas dele com dedicação, e acrescentou com sinceridade, num tom mais baixo. - Eu sinto muito, Emm. Sinto tanto. - disse, estreitando ainda mais os braços ao redor dele, como pôde, e sem a necessidade de apontar a que parte estava se referindo para que ele entendesse, e assim apertasse mais os olhos, que eram antes fendas mínimas de azul cercado por um avermelhado intenso. - Você não está sozinho, nunca, em nada disso. Eu estou aqui com você, sempre vou estar. E nós vamos passar por isso juntos, como em todo o resto. 

E em certo ponto, enquanto Rosalie repetia essas frases que declaradamente faziam promessas, os soluços cessaram, as lágrimas se tornaram mais espaçadas entre uma e outra, e os sons de respiração do veterano voltaram a ritmar-se como lhes era natural: mudanças que, aos poucos, lhe deram alguma serenidade em meio ao caos para refletir algo que Rosalie terminou por abarcar com sua nova frase:

—Ao menos, agora você sabe. - ela tentou consolá-lo, com uma sinceridade que pareceu segura diante da calma gradativa dele, e então completou, trazendo a lembrança também sincera do que ela mesma passara. - E saber pode parecer esmagador agora, mas fica melhor com o tempo. Você vai tirar algo bom disso, Emm, sei que vai. E vai ficar tudo certo, logo.  

E Emmett acreditou em cada palavra do que ela dissera, sem hesitar: tudo porque, no mesmo passo em que as ouviu, algo em sua cabeça estalou-se percebendo como, na verdade, a coisa mais dolorosa e assustadora sobre a epifania não havia sido passar pelo maremoto impiedoso e instantâneo que ela parecia. Mas, sim a percepção súbita de que, com todos aqueles anos de inconsciência, havia passado tão perto de nunca experimentá-la. 


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso. Espero que tenham gostado, foi um capítulo importante!
Me deixem saber o que acharam, e até o próximo!

Se cuidem ♥



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