À distância de um corredor e duas portas, Rosalie e Emmett estavam ambos, naquela tarde de Sol à pino sobre Seattle, no escritório da família Cullen, ocupados com seus próprios afazeres bem diversos um do outro: ele estava mergulhado numa papelada que parecia impossivelmente infinita quanto mais concluía e dispensava, enquanto ela se dividia entre ficar à par das tarefas que viriam na segunda-feira - seu primeiro dia oficial de trabalho -, por meio de alguns modelos de documentos e papeladas concluídas que seu pai havia lhe dado, e contemplar a decoração que havia feito em sua nova sala. 

Em ambas as salas a luz do Sol acolhedoramente quente chegava, ainda que sob ângulos diferentes, deixando os cômodos adequadamente mornos, enquanto as paredes - incluindo a envidraçada e inteira que se via no fundo ao entrar - garantiam que o mínimo de barulho possível chegasse às salas nesses andares mais altos. Tudo estava, em boa parte da perspectiva, ideal para uma tarde de trabalho - ou de adaptação - tranquila. 

Mas, isso não realmente se manteve por muito tempo: conforme a tarde avançou para o horário de almoço, Emmett - que estava particularmente disperso naquela manhã - rumou à sala onde agora Rosalie trabalharia, e assim a atmosfera antes quieta e serena do lugar - agora decorado ao gosto da loira - se foi com o caminhar da conversa sobre as tantas coisas que estiveram na cabeça do ex-soldado a manhã inteira.

—...e a Academia onde os pilotos estudam também é nesse campus, entre o prédio dos dormitórios e uma espécie de ginásio de treinamento. Segundo o General com quem falei, eu provavelmente teria que ficar por lá a maior parte do tempo, uma vez que o curso começasse, o que dura alguns meses, e pouco mais de um ano se considerar os testes finais aéreos. Ele disse que eu também tenho chances de fazer os testes de ingresso mais rápido do que a maioria e teria alguma familiaridade com certas partes do processo que deviam agilizá-lo, talvez até quanto às insígnias, levando em conta a "reputação" de veterano de guerra. - Emmett terminou de explicar, de braços cruzados e olhos no tampo da mesa sobre a qual estava sentado. 

Rosalie o olhava atentamente, encostada à uma das paredes laterais, as pernas cruzadas e as mãos ocupadas uma com a outra, distraidamente. Ela sabia que havia um "mas" na argumentação que o ex-soldado estava fazendo em voz alta, e parecia-lhe tão fácil deduzir qual era porque, por mais que não fosse dizê-lo assim, tão logo, sobretudo frente à animação que sabia o quão saudável era para ele, era o mesmo que se apresentava para ela diante de todas aquelas novidades. 

—Então, eu não sei, fiquei realmente animado com algumas coisas, mas essa de um ano inteiro por lá... - Emmett continuou, balançando a cabeça negativamente e, franzindo um pouco o cenho, levantou a cabeça - Eu não sei. Não quero ficar tão distante, e tão de repente. Não quero que pareça que estou dando as costas pra vocês, entende? Pra você, é claro, mas especialmente para Carlisle e Esme, que fizeram tanto por mim desde o começo, tudo isso. - ele gesticulou para si mesmo e olhou ao redor, fazendo-a entender do que estava falando. 

—Emm, meus pais seriam as últimas pessoas a pensar isso de você. - dessa vez Rosalie quem cruzou os braços e deu um meio sorriso com tom de obviedade - É claro que vão sentir sua falta, Dona Esme provavelmente vai chorar por semanas, - ela rolou os olhos e Emmett torceu o nariz, sorrindo lisonjeado, mas ao mesmo tempo contrariado com a ideia - mas eles podem lidar com isso. 

—Afinal, você é como um filho que estaria saindo de casa por um tempo, e eles já passaram por isso muitas vezes: quando cada um de nós foi estudar fora, depois quando me casei, e agora Jasper. Eles estão bem treinados. - a loira brincou com tom de riso, e o de olhos azuis a encarou procurando ter certeza do que ouvia. Ela voltou a falar, com naturalidade - Só garanta que vai te fazer feliz e prometa ligar umas duas vezes por semana, então eles vão ficar satisfeitos.

—Você acha mesmo? - Emmett quis assegurar, sem esconder seu semblante sincero, que se dividia entre a ansiedade e a angústia da dúvida. 

—Eu sei. - Rosalie afirmou categoricamente, sorrindo, e assentiu com a cabeça - Eles vão ficar bem.

Houveram alguns segundos de silêncio enquanto o ex-soldado remexia em coisas organizadas pela mesa da mulher de olhos castanho claros, e ela fitava, ora o chão amadeirado, ora as paredes, e uma vez a paisagem pelo vidro - justamente quando sua atenção foi puxada de volta à fala de Emmett.

—E você? - ele perguntou simplesmente, levantando o olhar para encará-la, e Rosalie o encarou de volta automaticamente, mas um pouco pega de surpresa - Você vai ficar bem? Feliz por mim?

Com isso, houve silêncio outra vez, entre o qual a loira saiu de seu descanso, recostada à parede, e sorriu brevemente enquanto caminhava até ele, que a observou cautelosamente, ainda mais intrigado pelo sorriso que ela tinha nos lábios. 

—É claro que vou. - disse Hale, ladeando com as mãos o rosto dele, erguido na direção do seu, carinhosamente. Emmett a encarou sorrindo, as covinhas aparecendo em suas bochechas com discrição. 

Ele apreciou o carinho que Rosalie desferiu em sua pele, deslizando, numa ida e volta, os dedos delicados pelas laterais de seu rosto, e ela apreciou a vista dali, olhos nos olhos muito azuis que faiscavam nos seus, e depois nos traços que desenhavam o rosto que a fazia querer tomar tempo para decorá-lo o dia todo. 

—Quero dizer, - ela interrompeu o silêncio, fechando as mãos na altura de sua nuca - feliz por você, é claro. Já "bem", pode ser que demore um pouco mais. - e segurou um sorriso aflito que fez Emmett unir as sobrancelhas e desfazer o sorriso nos lábios, numa expressão de lamento. Rosalie sorriu de novo, como se isso pudesse diminuir o peso da confissão que faria, e disse - Vou sentir sua falta.

—E eu a sua. - ele respondeu sinceramente, descansando as mãos pouco acima da cintura dela, e uniu as mãos atrás de suas costas para trazê-la para mais perto. A loira acarinhou distraidamente os cabelos dele à altura de suas mãos, acima da nuca, e voltou à atenção quando ele dissera - Acho que posso ter que escrever uma lista lembrando dos motivos pra estar lá e não voltar pra casa toda vez que sentir muito a sua falta.

Rosalie não pôde evitar de rir com o comentário, e Emmett se divertiu observando e ouvindo o som de sua risada, genuína e doce, no tom de uma melodia imprevista e perfeita, porque sabia era assim que ela reagiria. 

—Deus, você é mesmo um romântico incorrigível. - ela disse, enfim, regulando os resquícios de riso que ainda restavam em sua voz, para só então se recompor e dizer, vendo Emmett ainda sorrir bobamente pelo momento anterior. 

—Tudo bem, agora é sério. Se isso é o que te fará mais feliz, vou ficar bem. Mesmo. Eu aguento. - Rosalie assegurou e brincou, franzindo o cenho e toda a expressão numa careta de quem queria dizer que era forte. McCarty entendeu e riu na mesma hora, se divertindo com ela. 

—Afinal, - ela continuou, sorrindo levemente - no começo você ainda poderá voltar pra algumas visitas, não é?

—Sim, no primeiro trimestre, provavelmente. - ele assentiu com a cabeça, olhando dos olhos dela para os outros traços de seu rosto perfeito, e de volta aos olhos enfim. 

—Então, nós podemos fazer isso valer. E depois, nós temos telefones e sabemos mandar cartas, só precisamos lembrar. - ela deu de ombros, numa tentativa mais otimista do que realmente lhe soava. 

—Eu com certeza irei. - Emmett assentiu, sorrindo de volta no mesmo tom, e ergueu as sobrancelhas para fazê-la reafirmar, entusiasmado - E você vai ter que continuar me contando tudo sobre os seus dias, certo? Como quer que seja. Não quero perder nada. Quero continuar sentindo como se estivesse perto. Sobre o trabalho, a rotina com Mercedes pela casa, e as briguinhas entre você e Edward. - ele sorriu sem discrição na última parte, com divertimento. 

—Tudo bem, eu prometo contar tudo. - Rosalie assegurou, acenando com a cabeça, e quando Emmett sorriu satisfeito, ela continuou, desviando o olhar para o espaço entre eles - Mas, sabe, talvez não hajam tantas discussões com Edward para contar... 

Com isso, Emmett franziu o cenho, confuso sobre o que ela queria dizer, e inclinou a cabeça, esperando que ela completasse a frase. Rosalie umedeceu os lábios sob o olhar inquisitivo dele e prosseguiu. 

—Eu estava pensando, agora que você estará longe, em seguir com a ideia daquela pequena viagem para espairecer, que pensei em fazer quando dei entrada nos papéis de divórcio de Royce, antes que ele morresse, de fato. - ela gesticulou brevemente, se afastando do corpo dele, rumo a outro canto da sala e olhando a paisagem além da figura do ex-soldado, que manteve os olhos em seu rosto enquanto a ouvia falar. - Eu não sei exatamente quando, mas, de toda forma, não é longe daqui, eu vou continuar escrevendo e ligando. Seriam só alguns dias diferentes e que podem ser úteis pra amenizar esse tempo distante também. - e então encolheu os ombros, como se diminuísse o possível peso da ideia. 

—Eu acho uma ótima ideia. - Emmett disse, enfim, se levantando de onde estava e passou por ela, se sentando casualmente no tapete ladeado por duas poltronas. 

Rosalie não disse nada, e o momento em que ele se ajeitava sobre o tecido coincidiu com o encontro dos olhares dos dois: quando Emmett percebeu a sobrancelha arqueada da loira e seus lábios contraídos num sorriso reprimido. 

—O que? - ele quis saber, franzindo o cenho com inocência.

—Você é inacreditável! - Hale respondeu, rindo e negando com a cabeça. Então, deu um passo à frente enquanto Emmett ria também, apenas por consequência - Levante daí, você já provou sua teoria. 

Então, ele entendeu. 

—Se quer saber, eu não estava nem tentando provar nada. Mas, é bom te ouvir admitir. - e se gabou, sorrindo e descansando as costas largas à beira de uma poltrona. De pernas cruzadas e mãos deslizando despretensiosamente pelo tapete, ele viu Rosalie estreitar os olhos em descaso - Você quem devia vir sentar aqui. - e bateu de leve no espaço vazio ao seu lado. 

—Fique quieto. - ela segurou um sorriso e negou de novo, cruzando os braços, embora se divertisse apreciando a vista adorável do corpo grande dele sobre o tapete, o rosto, em contraponto, contente como o de uma criança, e cada vez mais conforme o sorriso alongava, fazendo as covinhas dançarem em suas bochechas. 

Antes que Rosalie pudesse se aproximar, no entanto, ou mesmo apreciar por mais tempo, uma batida leve na porta captou a atenção de ambos. Eles se entreolharam com rapidez e Emmett já estava de pé quando Rosalie girou a maçaneta, recebendo quem quer que fosse.

—Joanne. - a loira constatou, dando espaço para que a secretária adentrasse - Entre.

—Ah, obrigada, Srta. Cullen, mas só vim dar um recado. - Joanne disse, segurando as mãos atrás do corpo e olhando de relance para a sala, onde Emmett estava parado - O Sr. Cullen pediu para que te lembrasse de sair para o almoço com a Sra. Cullen, quando você já tiver terminado seus afazeres, é claro, já que ele irá ficar por aqui hoje.

—Ah, sim! - Rosalie exclamou com ar de quem realmente havia se esquecido, e então sorriu brevemente - Obrigada, Joanne, eu irei em alguns minutos. - ela agradeceu e Joanne apenas acenou com a cabeça. Rosalie estava fechando a porta quando Emmett interrompeu. 

—Joanne, você sabe se ele, por acaso, estará ocupado em alguns minutos? - ele quis saber, e viu a moça checar o relógio em pulso e a agenda em suas mãos. 

—Segundo os horários que ele me passou, não, Sr. McCarty. Até as três da tarde ao menos, quando ele sairá para fazer uma visita médica. 

—Certo, ótimo. Eu estarei na sala dele em alguns minutos. - Emmett disse, e Rosalie o encarou com um olhar inquisitivo que ele devolveu com a serenidade de quem explicaria depois - Obrigado, Joanne. 

—Não foi nada. - ela respondeu outra vez, sorrindo como quando estivera prestes a sair, e dessa vez o fez, acenando com a cabeça para eles antes de desaparecer de suas vistas. 

O ex-soldado, no momento seguinte, explicou brevemente a Hale que queria falar todas aquelas coisas, que acabara de dizer pra ela, para Carlisle. Na verdade, contar a ele o quanto estava interessado pela Aeronáutica, o que provavelmente já soaria como uma novidade, e então sim, emendar as coisas que já sabia a esse respeito, também pedindo sua opinião, como havia pedido a dela. 

Afinal, não só importava muito o que ele achasse disso, mas Carlisle era, sem dúvidas, - pelos motivos que dissera à Rosalie - uma das pessoas à qual sentia dever mais satisfações, juntamente à Esme, sobretudo quando dizia respeito a uma grande mudança como aquela. 

Além disso, era, ainda mais, sobre o que significava muito, quando em respeito ao único que deixava-lhe vir à mente à menção da palavra "pai", e à mulher que era uma segunda mãe mais extraordinária do que poderia ter pedido, sobretudo em falta da sua: orientação e apoio.

Assim, Emmett se despediu de Rosalie brevemente e rumou à sala de Carlisle, pedindo licença com uma batida leve na porta, à qual ele respondeu em aceitação quase imediatamente. 

—Ei, garoto. - o mais velho disse com um sorriso, se levantando para cumprimentar o ex-soldado com um abraço. 

—Como estão indo as coisas? - o mais novo perguntou em meio ao cumprimento, sorrindo também quando se afastaram, e o loiro indicou a cadeira à frente de sua mesa para que ele sentasse. 

—Ah, o de sempre. Alguns processos para encaminhar, que planejo terminar antes de sair para uma consulta. - Carlisle explicou serenamente, e então disse com um sorriso - Com sorte, quem sabe tenha mais algumas em seguida, pra encerrar a semana. 

—Vou torcer pra que sim, então. - Emmett sorriu de volta sinceramente, se ajeitando na cadeira quando o mais velho assentiu, sorrindo - Você realmente gosta disso, não é? Mais do que gosta daqui. 

—Acho que deixo muito óbvio, hum? - o loiro brincou, segurando um sorriso nos lábios e dando um suspiro breve, quando relaxou o corpo na cadeira - É verdade, eu gosto muito mais. É o que realmente gosto de fazer. A medicina e a forma como ela pode ajudar as pessoas, e de perto. - e sorriu de novo, olhando ao redor - Mas, não é como se não gostasse daqui. De toda forma, meu pai me deixou isso tudo. Eu não simplesmente deixaria tudo para trás. - ele negou com a cabeça, dando de ombros. 

—Bom, agora você tem todos os seus filhos trabalhando aqui, certo? - McCarty pontuou, e a expressão do outro suavizou conforme ele seguia o raciocínio - Não é como se você fosse estar abandonando tudo, e com qualquer pessoa. 

—É, você provavelmente tem razão. E eu deveria pensar sobre isso. - Carlisle considerou, arqueando ambas as sobrancelhas e alongando os lábios num sorriso leve. O mais novo o observou, acenando com a cabeça em incentivo, quando ele disse, cruzando os braços e dedicando-lhe um olhar sereno, mas categórico - Mas, você não veio aqui pra falarmos sobre mim, não é? 

E então sim, Emmett discorreu sobre todas as coisas da Aeronáutica e seus impasses a respeito disso: desde a forma como havia pego a si mesmo surpreendentemente interessado pela possibilidade, passando pela ida para conhecer a base e tirar todas as informações que tinha agora, até sua angústia pela ideia de parecer súbito e egoísta, deixando tantas coisas para trás - ao menos temporariamente. 

Quando terminou - o que levou pouco menos de uma hora -, Emmett ficou em silêncio ao, por fim, encarar Carlisle, que parecia muito despreocupado e contente. 

—Eu acho que isso é ótimo, garoto. - ele disse, enfim, de braços apoiados na mesa e um sorriso nos lábios - Fico mesmo feliz por você, e acho ainda melhor que já tenha procurado saber de todas as coisas a respeito do assunto. - ele acenou com a cabeça em reafirmação, enquanto Emmett suspirava discretamente, em alguma forma de alívio, e sorria de volta. Houve uma pausa breve, para a qual o mais velho ergueu as sobrancelhas em observação. 

—Eu já havia percebido que as conversas com Garrett e Peter no casamento haviam causado algum efeito sobre você e, desde o início, eu te dei esse trabalho pensando naquela conversa que tivemos alguns meses depois que você chegou, sobre ocupar sua cabeça outra vez, e se sentir produtivo. E desde então você poderia fazer o que quisesse disso, inclusive sair. - ele deu de ombros, sinceramente - Eu nunca ficaria chateado e muito menos reprovaria a sua escolha, filho. - e sorriu, sem deixar de olhá-lo, quando um riso suave subiu-lhe à garganta - Como eu poderia fazer isso, afinal? 

Lembrando do começo daquela conversa, pouco depois que chegara àquela sala na mesma tarde, Emmett entendeu logo ao que Carlisle estava se referindo - e por isso sorriu de volta, achando graça como o loiro parecia achar também, antes de admitir um tom tranquilo de conclusão. 

—Sobre isso aqui - ele gesticulou para o ambiente -, não se preocupe. Rosalie pode assumir suas tarefas agora, com um pouco de ajuda ela logo irá pegar o jeito. O seu lugar sempre estará aqui, de toda forma, e se precisar de mim para qualquer coisa nesse novo caminho, não hesite. Eu sempre estarei por perto e, contanto que você esteja feliz, estarei feliz também. - ele afirmou, por fim, sorrindo sinceramente e se levantando ao mesmo passo que Emmett.

Os dois se encontraram no meio caminho entre a mesa e a poltrona, num abraço honesto e caloroso entre sorrisos - dentro do qual, além do afeto, Emmett sentiu como se todos os pesos acerca de sua decisão tivessem sido súbita e agradavelmente tirados de seus ombros - ao passo que, em contrapartida, esta tomava forma cada vez mais na densa e responsável certeza que deveria ser.