Quando ele menos esperava, ele se viu acordado.

Piscou duas vezes ao cair no chão olhando atentamente ao redor. A casca do “fruto” onde antes estava jazia rasgada por completo ao seu redor. O ambiente ao seu entorno era puro caos, destruição e pessoas tão perdidas quanto ele.

Então aquilo queria dizer que tudo antes era um genjutsu.

Ele suspirou, não sabia se estava pronto para encarar a realidade, mas era necessário. Pegou do bolso do colete o isqueiro de prata que antes pertencia ao seu sensei. O girou e viu a chama acender tentando organizar seus pensamentos.

Em seus sonhos, Asuma estava vivo cuidando da pequenina Mirai. Kurenai parecia mais feliz como nunca e ver seu professor tão cheio de amor por um ser tão pequeno o enchia de felicidade. Apagou o fogo, segurando o choro ao perceber que aquilo nunca aconteceria.

Acendeu o fogo novamente pensando em seu velho.

Esse foi o pior choque de realidade após seu sonho. Shikamaru não pode conter as lágrimas dessa vez, a realidade da morte do seu pai não o havia atingido até então, ele não tivera tempo, toda a movimentação da guerra não o permitira, porém, ver uma típica discussão entre seus pais, apenas fazia o doloroso buraco em seu peito doer mais.

O vento apagou a chama.

Respirou fundo mais uma vez. Olhou para a direita vendo um Chouji completamente confuso e a cabeleira loira de Ino desarrumada debruçada sobre seus joelhos, com toda certeza chorando a morte de Inoichi. Será que Ino também havia visto seu pai em seu sonho? Aquilo só o entristecia mais, pensar que quase todo o antigo trio Ino-Shika-Chou não estava mais naquele plano só fez seus olhos umedecerem de novo. Contudo ele tinha que descobrir o que estava acontecendo, não podia ficar simplesmente parado chorando como um bebê.

“Bebê chorão”, ecoou a voz feminina grave em sua cabeça.

Abriu o isqueiro de novo refletindo sobre o terceiro elemento de seu sonho: Temari. Isso era problemático.

Quando mais novo, Shikamaru jurou a si mesmo que se casaria com uma mulher nem tão bonita e nem tão feia, que teria uma vida mediana e seria um ninja mediano. E então, ele promete ser conselheiro do Hokage quando este for Naruto e a loira de Suna aparece em seu Tsukiomyo. Problemático. Não era daquele dia que ele nutria sentimentos por Temari, ele já estava em dúvida a algum tempo, mas a aparição dela em seu sonho só o fez confirmar. E Temari era tudo aquilo que ele sempre fugira! Bonita demais, inteligente demais, habilidosa demais, problemática demais…

Mas o genjutsu apenas o mostrava o que ele mais queria: Asuma com sua família, seus pais juntos e… Ela.

Fechou a tampa prateada se sentindo ridículo. Eles estavam no meio de uma guerra! Ele não fazia ideia do que estava acontecendo ao redor, mas parecia que todos se encontravam na mesma situação. Seus dois melhores amigos estavam vivos, mas e o restante? Quantas pessoas haviam morrido no meio de toda aquela confusão? Será que Temari… Um frio lhe percorreu a espinha e sentiu a vontade de chorar de novo.

Se levantou e foi até seus amigos. Chouji estava confuso, mas apoiava sua mão esquerda no ombro de Ino que ainda chorava. Shikamaru sentou-se ao lado dela afagando os cabelos volumosos.

Ela acordou sem saber o que estava acontecendo. Uma hora ela estava em Suna junto aos seus irmãos, dando ideias para Kankuro melhorar suas marionetes e ajudando Gaara com a papelada, na outra ela estava no meio do campo de guerra com cascas ao seu redor.

O vento gelado a atingiu em cheio, clareando seus pensamentos. O seu tempo em Suna não tinha sido real, concluiu, Kankuro era muito orgulhoso para pedir a ela opiniões sobre suas marionetes e Gaara até poderia pedir a sua ajuda, mas não daquela forma.

Era tudo um sonho, ela ainda estava no meio da guerra, mas se estava livre, significava que Kaguya havia sido derrotada, mas o que havia acontecido nesse meio tempo? Ela se sentia zonza se questionando o que poderia ter acontecido. E mais importante, onde estavam seus irmãos? Quem havia derrotado a deusa?

Ela se levantou, achar Gaara e Kankuro era sua prioridade. O desespero bateu quando olhou ao redor e não encontrou nenhum dos dois a vista. Os pelos do seu corpo se arrepiaram e ela não sabia distinguir se era por conta de mais uma rajada de vento ou se era medo.

Andou por alguns minutos até avistar de longe a figura imponente do Raikage. Gaara devia estar por ali, junto aos outros kages. Correu e sentiu seu coração se acalmar quando avistou a figura baixa e ruiva do seu irmão mais novo.

Se aproximou, teve o impulso de abraçá-lo, mas não o fez. Primeiro porque ela não era de demonstrar esse nível de afeto na frente dos outros, segundo que Gaara era uma figura importante de sua vila, não queria o diminuir na frente dos outros kages e terceiro, pegar Gaara de surpresa podia ser perigoso num momento como esse.

—Gaara? -o chamou de longe e viu parte da preocupação se esvair nos olhos verde água.

O Kazekage se aproximou e ela percebeu que ele estava confuso. Temari se questionou sobre o que poderia ter aparecido nos sonhos do irmão, mas não questionou.

—Fico feliz que esteja bem. - Gaara falou calmamente, mas não se aproximou. -Alguma notícia de Kankuro? - ela negou com a cabeça e pode ver a preocupação nos olhos dele. -Eu e os outros kages iremos tentar descobrir o que de fato aconteceu, achamos que Naruto e o resto do time 7 que conseguiram derrotar Kaguya, mas não os encontramos. - ele fez uma pausa. -Acho que vou deixar um pouco da minha Areia com você, caso você encont…

—Temari, Gaara! Ainda bem que encontrei vocês. - os dois se viraram para trás dando de cara com o terceiro Sabaku.

O alívio no rosto dos três era nítido e eles não conseguiram se controlar, se abraçando os três ao mesmo tempo. Ao se separarem, Gaara repetiu para Kankuro o que faria e se juntou aos outros quatro kages.

Temari olhou para seu irmão sem saber o que fazer em seguida. As coisas estavam calmas, ele e Gaara estavam bem, parecia que a guerra havia se resolvido, ainda assim, ela pensava estar esquecendo de alguma coisa.

—Fiquei preocupado. - Kankuro admitiu sincero, ele ainda estava um pouco abalado, ou seria somente o frio? - Tivemos uma quantidade grande de baixas, até mesmo nosso quartel general. Acordar e não encontrar nenhum dos dois por perto foi problemático. - Temari o abraçou novamente, e, de repente, deu um estalo em sua cabeça.

Quartel general, problemático… Onde estava Shikamaru?

Refletiu por um segundo tentando entender o porquê estar tão preocupada. Ele não era sua família, ele nem era da sua vila! Mas nessa guerra não existiam vilas, apenas a Aliança Shinobi. Além disso, ele era seu amigo, um dos poucos que tivera ao longo da sua vida.

É, ela podia se preocupar com um amigo, por mais que isso fosse novo. Primeiro ela aprendera a se preocupar somente consigo mesma e sua sobrevivência, depois, a se preocupar com os irmãos, e desde o início da guerra, parecia que Shikamaru entrava no seu grupo de preocupações.

—Kankuro. - eles se separaram, nenhum dos dois gostava muito de contato físico, mas o momento pedia. -Precisamos encontrar Shikamaru.

—Preocupada com seu namorado? - ele zombou, isso lá era hora para fazer brincadeiras?

—Cale a boca. - Temari se zangou, era um absurdo Kankuro vir falar uma coisa dessas, eles eram somente amigos! -Estou preocupada com o que está acontecendo, saímos do Tsukimyo, não sabemos como nem porquê, mas se precisarmos de um plano, Shikamaru é a pessoa mais capacitada de toda a Aliança.

—Certo, vamos lá ver seu namorado. - falou debochado, recebendo um tapa da irmã.

Kankuro e Temari andaram juntos pelos destroços da guerra. Viram uma Hinata abraçada ao pai chorando a morte de Neji. Viram Tenten inconsolável pela morte do mesmo. Passaram por Matsuri e Yukata, ambos os cumprimentaram mas não com a animação de sempre. Todo mundo ao redor parecia abatido, triste e preocupado ao mesmo tempo.

E depois de dez minutos de caminhada, viram o time 10. Temari nunca pensou que veria Ino chorando, mas ali estava ela com o rosto entre as pernas com Shikamaru e Chouji ao seu lado. Olhou para seu irmão e fez uma pequena oração agradecendo por ele ainda estar ali.

Temari o encarou até que ele ergueu os olhos. Estavam inchados e de longe mal dava para reparar que ao redor do castanho, estava vermelho.

—Ele precisa de você. - Kankuro murmurou colocando a mão no ombro da loira. -Eu estarei por perto. - dizendo isso, se afastou.

Shikamaru ergueu os olhos e se deparou com o par de orbes verdes o encarando de uma maneira que ele nunca vira antes. Sentiu-se nervoso, o que significa aquele olhar? Sentiu a mão pesada de Chouji em suas costas, influenciando-o a levantar, e assim ele o fez.

Ela encarou aqueles olhos de coloração chocolate de perto. Ele estava quebrado, perdera seu pai e Inoichi, era o preço que se pagava por uma guerra.

Ela também não estava nada bem e ele pode perceber. Mesmo que os irmãos estivessem vivos, ela tinha visto as mesmas coisas que ele, também vira centenas de morte, conhecidos voltarem no Edo Tensei.

Se aproximaram e quando ela menos esperava, Shikamaru se jogou em seus braços e começou a chorar.

—Me chame de bebê chorão o quanto quiser. - ele sussurrou enquanto ela retornava o abraço, surpresa - Mas fico feliz que esteja viva.

Isso aqueceu o coração de Temari de uma maneira completamente diferente do que ela já sentira. O vento que antes corria gelado parecia não a afetar, porém seu estômago parecia dar cambalhotas enquanto ela mantinha o abraço. O que era aquilo afinal?

—Também estou feliz que esteja vivo. - ela comentou levando a mão ao cabelo do rapaz. -Iria ser problemático se eu te perdesse.

Ele sentiu os dedos dele lhe afagando o couro cabeludo. Ela podia não saber, mas ele a amava. Tudo estava ruim ao redor dele, isso não mudaria, contudo, Temari o acalmava e naquele momento, isso era o suficiente para mantê-lo de pé.