Cold Coffee escrita por Moon Melon


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Obrigada por lerem :)



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Era uma noite tranquila de sexta feira. Francis Bonnefoy, um imigrante francês de cabelos longos e loiros, olhos violetas e um nariz que alguns diriam ser grande demais, outros, empinado demais, mas para seus dois companheiros de bar, Antonio Fernandez Carriedo, espanhol, e Gilbert Beilschmidt, alemão, ambas as descrições condiziam com a verdade. Estavam aproveitando a “noite do trio”, como sempre faziam todas as sextas, tomando vinho, para os latinos, e cerveja, para o germânico.

Dez horas, meia noite, duas da manhã. Gilbert e Antonio decidiram ir embora, afinal, os dois trabalhavam aos sábados, então deveriam estar dispostos às oito horas do dia seguinte. O franco se despediu com um desajeitado acenar de mão e, já com a voz embriagada, prometeu-lhes que aquela seria sua “saideira”.

A noite, em especial, era mais complicada para Bonnefoy do que para seus amigos. Isso porque recebera, pela manhã, uma mensagem de seu amigo, Arthur Kirkland, que contava do noivado deste com um jovem rapaz norte-americano, Alfred Jones. Kirkland, um inglês de olhos verdes, pálido, magro, baixo e reservado não tinha muito talento com romance, por conta disso, passou por cima de seu orgulho ao pedir ajuda ao francês, do qual parecia desgostar bastante.

Francis, o qual não estava interessado em ajudar o britânico, pensou bem e decidiu que, em nome do amor, do romance, e do gosto da vitória ao ver seu rival finalmente admitindo ser pior no quesito flerte, ajudá-lo-ia. Então foram meses de dedicação até que o coração do americano pudesse ser conquistado. Durante esses meses, mesmo com brigas dignas de guerras, Bonnefoy e Kirkland tornaram-se próximos. Talvez próximos demais, pensou, ao se lembrar da última conversa, nada agradável, entre os dois:

O de olhos violetas estava sorridente, nervoso, mas sem querer admitir. Comprara uma rosa no caminho da casa de Arthur. Depois de uma longa conversa com Carriedo sobre o amor e suas implicações, além, é claro, de algumas taças de vinho, estava decidido a revelar seus sentimentos. Era claro que o de olhos verdes e Alfred não formavam um bom par, ou pelo menos, não tão bom quanto Francis e Kirkland poderiam ser, pensou.

Chegando lá, foi recebido com o mesmo formalismo antipático de sempre, mas aprendera a não se importar. Na verdade, com o tempo, aquilo pareceu atrativo, como se fosse um charme. Disse que tinha novidades, mas o Arthur também tinha e, por educação e sorte, deixou-o falar primeiro:

— Francis, deu certo! Eu e Alfred nos beijamos hoje, e foi ótimo. Tivemos uma tarde maravilhosa, e tudo pela sua ajuda. Sabe? Pensei que não fosse dar certo, mas quem diria, não é mesmo?

Naquele momento, Bonnefoy sentiu um frio subir sua espinha. Chocado, não disse nada, apenas concordou e fingiu um sorriso, mas o amigo sabia que algo estava errado, já que esperava o francês começar a se vangloriar em filas e filas de autoelogios sem fim.

— O que há com você? Comeu queijo demais como naquela vez? Já disse que alguém intolerante à lactose não pode exagerar, aquela coisa fedida e repugnante não vale um desarranjo intestinal. – O de sotaque do Reino Unido provocou, esperando uma resposta explosiva do francês. Não aconteceu.

— Não acho que vá dar certo entre vocês... – respondeu sem olhar nos olhos do outro.

— O quê? – Perguntou, desentendido.

— Se você tivesse outras opções, ainda assim o escolheria?

— Bem, acho que isso é o amor, não é mesmo? É uma escolha.

Amor? Ele mal o conhecia, como poderia amá-lo?

— Não acho que você o ame, mas, de qualquer forma, não vou deixar de te contar o que vim dizer. Isso porquê tenho fé que fará o certo, que escolherá quem de fato pode te fazer feliz.

— Não entendo. O que você está dizendo?

Sem dar uma palavra, Francis entregou a rosa para Arthur, esperando que ele entendesse. Por alguns segundos, o de olhos verdes fitou a flor seriamente, até que a pele pálida deu lugar a um tom rosado, e a expressão calma, a surpresa, depois, a irritada.

— NÃO! VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO COMIGO!

A reação foi tão dramática que o outro recuou por um segundo, calado, ouviu o britânico continuar:

— Eu te conheço desde quando éramos crianças. Você pensa que não me apaixonei por você? É um idiota mesmo. E agora, quando eu finalmente consigo superar, você vem com essa rosa estragar tudo. Que tipo de idiota você pensa que eu sou?! Não, você não vai estragar tudo. É de Alfred que eu gosto. É com ele que eu vou ficar.

Esperando um contra-ataque perturbador, Kirkland ficou na defensiva, preparando respostas, em sua mente, para os xingamentos e provocações que viriam a seguir. Mas, inesperadamente, o francês apenas abaixou a cabeça, deixando alguns fios de cabelo caírem sobre seus olhos, caminhou até a porta, abriu-a e disse:

— Então não tenho nada o que fazer aqui. – Saiu.

 O britânico, confuso, demorou alguns segundos para processar o ocorrido até finalmente sair de casa e correr na rua em direção ao amigo. Ao alcança-lo, segurou seu braço, obrigando-o a se virar. Naquele momento os dois se olharam, mas não trocaram sequer uma palavra. Francis puxou seu braço e saiu andando com passos pesados, não olhou para trás. Sabia que estava errado, mas nunca admitiria.

De volta ao bar, sua consciência só era suficiente para pedir mais algumas taças de vinho, até que, enfim, desmaiou sobre a mesa redonda e, solitário, permaneceu lá até que alguém o percebesse.

Acordou, de manhã, com o cheiro de café que entrava no quarto. Os raios de Sol entravam por uma fresta entre as cortinas. No cômodo, um criado mudo com um livro de Shakespeare e vaso com flores de lavanda. Levantou-se curioso, porém não assustado, pois não era a primeira vez que acordara no quarto de “estranhos” depois de beber numa sexta feira a noite. Seus olhos passeavam por cada detalhe, até que...

— Oh não.

Avistou um quadro com uma foto de Alfred. Sabia exatamente onde estava: era o quarto de Arthur. A maçaneta girou e este entrou tranquilamente com uma caneca de café na mão.

— Sei que você odeia minha comida, mas, aqui, para curar a sua ressaca.

Desconfiado e sem entender direito o que acontecia, Bonnefoy tomou a bebida, que estava aguada e muito doce. Enquanto isso, observava o mais magro sair, voltar com uma típica xícara de chá e sentar-se à beira da cama. Esperou ansiosamente por uma explicação, enquanto, de maneira calma e irritante, Arthur tomava algumas goladas. Até que parou, para finalmente esclarecer:

— Sorte a sua que eu passo pelo seu bar favorito toda vez que volto para casa do trabalho. O barman, o qual sabe que somos amigos, entregou-me seu corpo adormecido, coberto de... – largou o chá, como se tivesse perdido o apetite. – Vômito e outras coisas de aparência desconhecida. Coloquei você no meu carro, dei uma camisa limpa e agora estamos aqui. Só sei que terei de lavar toda a minha roupa de cama quando você sair.

Francis engoliu o café rapidamente, num susto, levando-o a um desconforto, pois estava quente demais. Mas não era mais desconfortável que a vergonha a qual estava sentindo. Olho para a caneca e, depois, para o retrato do americano. Kirkland percebeu e virou-se em direção à mesma fotografia, soltando um suspiro triste. O franco percebeu.

— Qual o problema?

— Eu voltei para casa um dia e ele estava com uma amiga, Sakura. Eles estavam... bem... ele me traiu.

— Oh, mon Dieu. – Disse Bonnefoy com ar de piedade, pois, pior que ver Arthur se casando com outra pessoa, era vê-lo infeliz.

— Mas eu o perdoei. É o que eu te disse: o amor é uma escolha. Eu o escolhi, então...

— Como assim?! – disse revoltado. – Como você pode amar ele mesmo depois disso? É uma escolha, eu sei, mas tem que haver confiança. Você confia nele? – o britânico assustou-se com a pergunta, desviou o olhar, procurando o que responder, mas a resposta já estava clara. – Por que não fica comigo? Droga, Arthur, eu nunca te trairia!

— Nunca? – ele disse, rindo com desdém. – Eu te amava, Francis. Cuidava de ti. Quando implicava contigo, era porque queria o teu bem, mas você sempre respondia com tanta aspereza. Além disso, era dolorido pensar que eu poderia ser só mais uma de suas conquistas. – Seus olhos ficaram rasos d’água.

— Se você pelo menos tivesse me contado...

— E aí o quê? Seria só mais um... eu SOU só mais um.

— Claro que não.

— Claro que sim! Não venha me dizer que não é verdade, pois foi nisso que eu me prendi todos esses anos. Foi assim que encontrei forças para seguir em frente. O que tenho com Alfred não é perfeito, mas pelo menos é real.

O francês segurou sua mão, aproximou-se, seus lábios estavam a centímetros dos do outro.

— Fique comigo. Fique comigo para sempre.

— Não. – As lágrimas escorriam dos olhos de esmeralda.

— Então fique comigo por enquanto. – Chegou mais perto, e o beijou delicadamente.

— N-não. – Sussurrou.

— Arthur, por favor! – afastou-se. – Diga-me o que eu tenho que fazer. Diga-me como me apaixonar da maneira que você quer.

— O dia está chamando lá fora, Francis. Eu tenho que ir trabalhar. – Levantou-se.

— Mas não tem que ser assim, por favor, volte aqui.

Kirkland vestiu seu casaco, deixou a xícara no criado mudo, pegou a maleta e as chaves. Andou até a porta, virou-se e advertiu- Você deve ir. Já está bem o suficiente para voltar a sua casa. – Fechou a porta do quarto.

O franco viu-se novamente sozinho. Depois de alguns minutos lá, sentado, com sensação de perda, levantou-se correndo. Abriu a porta, olhou em volta e, ao avistar o de olhos verdes, foi rapidamente em sua direção, segurou seu braço, obrigando-o a virar. Déjà vu. Ambos ficaram lá, parados no meio da calçada, olhos nos olhos, até o francês quebrar o silêncio.

— Eu te amo.

Com a face angustiada, Arthur respondeu:

— Também te amo. Sempre amei e sempre vou amar. Mas agora... – soltou-se. – Agora é tarde demais. – Virou-se e caminhou pela rua, dobrou a esquina e sumiu de vista, para sempre.


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Notas finais do capítulo

A fic foi inspirada na música Cold Coffee, do Ed Sheeran. Segue o link:

https://www.youtube.com/watch?v=dyl3HS1xHlo



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