03:35 A.M         14.jun.2017

Francamente quando se tem 16 anos o esperado é que seu maior problema seja uma nota ruim na escola,não estar perdida em plena madrugada em alguma rua mal iluminada de uma cidade abandonada por Deus esperando que por um milagre sua amiga que não vê a 2 anos responda sua mensagem.

"Eu realmente preciso de uma carona..."

Vocês já param para notar o quanto as ruas parecem iguais quando você não sabe onde esta?É como se sua mente quisesse que você não achasse o caminho de volta, mas você insiste em tentar até que uma pequena onda de esperança vem e você finalmente nota que não,aquela casa azul no fim da rua não era a vermelha que você acabou de passar. 

E então o ciclo se reinicia, só que dessa vez as ruas não são iguais...Elas simplesmente parecem partes de um quebra cabeças com algumas peças faltando, que nunca serão achadas.E eu vou ficar aqui, sendo provavelmente um dos muitos corpos sem nome achados em uma vala qualquer.

Tentei novamente ligar para Carol mas ela não atendia.

Afinal de contas que rua é essa?...

Cada prédio ao meu redor parecia velho, casas aparentemente antigas e que se estivesses em 1864 provavelmente seriam de algum senhor de escravos. Uma coisa estranha de se ver em uma cidade "metropolitana " e que com certeza não combinava nada com o asfaltamento e o semáforo a frente.

Continue vagando,imaginando aos poucos as carroças e cavalos que passando pelo rua com um carregamento para os ricos da época talvez açúcar ou uma roupa vermelha. 

O ser humano é realmente bem engraçado,há alguns anos açúcar era ouro branco e hoje não passa de algo que vai lhe dar uma morte por diabetes. O tempo passa e tudo vai mudando de uma forma que nos só podemos aceitar, seja em 200 anos ou ate 2 dias. 

Mas no final não é relevante.Corpos tornam-se pó, dinheiro desaparece e a natureza segue seu curso.

Eu realmente tenho que me concentrar...

Por mais que a ideia de simplesmente vagar o resto da noite me atraísse  eu sabia que tinha que voltar para casa, tinha que voltar a realidade .

Onde nada pode ser mudado além de eu mesma .

Finalmente consegui avistar ao longe um algo semelhante a uma placa, porém bem mais velha e meio torta com algo pichado no centro.Parece que que nem aqui as coisas estão a salvo de uma noite de adrenalina adolescente

Meu momento de triunfo foi interrompido por uma vibração constante no meu bolso da calça. 

Carolina?

"Alô?" - Enquanto atendia a chamada me aproximei da placa meio pichada tentando identificar onde estava.

"São três horas da manhã Rebeca."-Senti um leve tom de aborrecimento e algo que não pude identificar em seu tom de voz.

Engraçado, picharam a America é um lixo na placa.

"Eu sei."-Que tem embaixo disso ?...A pichação esta cobrindo boa parte do que antes era o nome do local.

"O que você quer então ?"-Ela parecia cada vez mais irritada... Isso é um 'S' ou um 'Z'?

"Você pode me dar uma carona ?"-Acho que é um s mesmo...

"Carona?!"—O tom agudo de sua voz não deixa duvida que ela esta tentando não gritar em plena indignação.

Tinha me esquecido o quanto ela é dramática.

"Sim sabe? Trazer seu carro caro e ajudar uma velha amiga".-Ela suspirou e depois tudo ficou mudo.

Eu até posso imaginar a cena agora, a grande Carolina Matias em todo a sua gloria de pijama com um provável rosto surpreso tenda imaginar os prós e contras de roubar o carro do seu pai e talvez ser presa no processo de tentar ajudar uma garota que ela conhece a 6 anos mas não viu nos últimos 2.

"Onde você esta ?"—Sorri com vitória . Continua a mesma de sempre

"Algum lugar chamado ''Salas Belas ''- Respondi tentando entender as letras meio apagadas.

"Você quis dizer 'Salão Nerles'?"- Seu tom estava mais descontraído .

"Obvio "-Então aquilo é um 'R' ?

"Vou indo,me espera ai "-

"Claro...-"Ela desligou

Parece que vou rever alguém hoje...