Estilhaços escrita por Indignado Secreto de Natal


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

à minha amiga nada secreta e meu nene, Yasmin.
espero que tenha atendido suas expectativas



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O Natal desse ano seria algo estranho. Sirius e Remus estavam apreensivos sobre essa festa, mas achavam algo necessário para James. Os Marotos precisavam estar juntos nesse momento. Pelo menos três deles.

Grimmauld Place, local escolhido para a comemoração, estava um pouco menos sombria na ocasião, uma vez que Sirius fez os elfos domésticos passarem uma semana limpando a mansão e retirando todos os artefatos das trevas que sua família mantivera por gerações. Mesmo tento herdado o casarão após a morte dos pais (algo que causou indignação dos primos mais tradicionais dele), Sirius não passava muito tempo lá já que passava todo o tempo viajando o mundo com Remus a procura de uma cura para a licantropia.

Já era quase 8pm do dia vinte e quatro quando James saiu da lareira, acompanhado dos filhos, os três meio empoeirados de pó de flu. Remus terminava de acender um castiçal na sala quando os avistou, abrindo um sorriso enorme ao ver o velho amigo. Um pouco mais magro do que imaginava, mas bem.

 – Ora ora, Pontas, isso que está na sua cabeça são cabelos brancos? – brincou, apesar de tudo preocupado com o amigo.

— Com certeza não mais do que eu vejo na sua, Aluado – James respondeu, abraçando o outro e dando alguns tapinhas nas costas dele.

— TIO ALMOFADINHAS – Harry e Violet gritaram ao avistar Sirius parado na porta da sala, o sorriso maior do que qualquer um que Remus tenha visto em seu rosto nos últimos anos.

— Parece que eu nem existo – o lobisomem reclamou para James.

— Oi, pestinhas – o Black abraçou os dois de vez. Largou os sobrinhos e voltou os olhos a Pontas. Percebeu mais do que nunca as olheiras embaixo dos olhos do amigo, a expressão cansada, a magreza e o ar de desesperança. Esse não é o Pontas.

Após todos estarem devidamente cumprimentados, Sirius os guiou para a sala de jantar, onde a ceia os esperava. James observou a decoração natalina, a qual seus amigos tinham se esforçado para organizar. Sabia que para os outros dois Marotos o Natal sempre tivera um sabor agridoce, para Sirius porque comemorava com a família e para Remus pelo motivo contrário. Os dois estavam fazendo aquilo unicamente por ele. Forçou-se a melhorar a sua expressão, ainda que sentindo um buraco no peito pela ausência de um determinado perfume floral.

A refeição em si foi maravilhosa, James apostaria todos os galeões de seu cofre que Remus cozinhara, que Sirius não o ouvisse. Os três homens já se encontravam um pouco menos sóbrios depois das taças de vinho e encaminharam as crianças para a pilha de presentes embaixo da árvore. Exagerados, o Potter pensou ao ver tantos presentes.

Harry ganhara mais uma vassoura de brinquedo, dessa vez ajustável para seu tamanho à medida que fosse crescendo. Ganhou também vários chocolates e doces de Remus, além de diversos itens da Zonko’s por oferecimento de Sirius. Já Violet ganhou um tabuleiro de damas (Aluado disse que era uma preparação para ganhar o de xadrez no próximo ano), snaps explosivos e os patins trouxas que ela pediu para Almofadinhas. Quando James puxou o pacote do presente que daria para os filhos, uma expressão saudosa se instalou no rosto dos Marotos.

— Harry, Violet, esse presente aqui você terão que dividir entre vocês dois – a garota já se preparava para reclamar, odiava dividir as coisas com o bagunceiro do irmão – é algo muito especial ok?

Violet então reparou no olhar do pai. Parecia estar prestes a entregá-los a própria varinha de Merlin. Segurou sua reclamação. Há algum tempo que seu pai não fazia nada especial para ela e Harry. Na verdade, nos últimos meses ele parecia evitar a companhia dos dois o máximo possível. Por mais que tivesse apenas nove anos, Violet puxara toda a inteligência e maturidade de Lily e tinha percepção o suficiente para saber que desde a morte de sua mãe, James não era mais o mesmo. Não que alguém falasse sobre isso. Ela sabia o que o pai via quando a olhava; o mesmo rosto, os mesmos olhos da falecida esposa, a única diferença sendo os cabelos pretos que herdara dos Potter. E Harry, mesmo que fosse uma miniatura do pai, tinha os olhos de Lily e toda a sua personalidade.

— Um tecido roxo? – Harry perguntou, confuso, após os dois terminarem de rasgar a embalagem.

— Esse tecido roxo é, nada mais nada menos, que o segredo do nosso sucesso em Hogwarts, Pontas Jr – Sirius exibia um sorriso enorme, os olhos um pouco marejados ao relembrar tudo que viveram com aquela capa.

— Esta é a capa de invisibilidade da nossa família – James explicou – achei justo passá-las para vocês agora que estão quase indo para Hogwarts, a capa pode ser bem útil.

Remus deu uma piscadinha para os dois e retirou uma caixinha do bolso.

— Eu tenho um último presente para a Violet – anunciou ao puxar uma corrente prateada da caixinha. O clima na sala de repente ficou tenso. James ficou pálido, a expressão variando entre profundo sofrimento e raiva – sua mãe pediu para eu te entregar isso, era muito importante para ela.

O lobisomem chegou mais próximo da sobrinha e fez o movimento para prender o colar no pescoço dela, mas foi interrompido pelo Potter no caminho.

— Você não tem o direito – ele sibilou, uma veia pulsando em sua testa.

— Pontas, Lily me pediu para fazer isso.

O homem dirigiu um olhar furioso para o amigo e se retirou da sala. Remus olhou com preocupação para a porta por onde o amigo saiu, no entanto pendurou o colar no pescoço de Violet do mesmo jeito.

Era um objeto simbólico para o casal. O Potter havia dado de presente para Lily quando a pediu em casamento, achando que a corrente de prata e o pingente de lírio seria algo perfeito para a mulher. Foi o último objeto pessoal de Lily que sobrara e ela quis que fosse entregue a filha, todo o resto que possuía fora doado para a caridade. James procurou esse colar por semanas até se convencer que tinha sido perdido no meio da doação. Os Marotos não podiam julgá-lo pela reação.

Ele subiu até o segundo andar da mansão dos Black, se dirigindo ao mesmo quarto em que ficava quando dormia ali. Aproximou-se do espelho de corpo inteiro e encarou fixamente sua imagem, perguntando se tinha feito algo de errado em sua vida para ter perdido a mulher que amava. Ainda mais da forma como aconteceu. Tão repentino. E ainda com a traição de Rabicho.

Há pouco mais de um ano, Lily adoeceu gravemente. Nem a medicina trouxa nem a bruxa conseguiu reverter o estado dela. Sentia dores todo o tempo e às vezes tinha convulsões. Os curandeiros advertiram James que o pior só poderia ser adiado. Rabicho, que surpreendentemente se formara e virou enfermeiro do St. Mungus, acompanhava o caso da amiga de perto, sempre cuidando para que ela recebesse as poções e os cuidados necessários. Mas também foi ele que ajudou Lily a acabar com a própria vida, algo que não a perdoava por tê-lo forçado a fazer. Uma pequena mudança na dose da poção. A administração do hospital estava ciente. Houve um acordo de responsabilidade assinado pela própria Lily, tudo dentro da lei. James não odiava Peter, mas não conseguia mais olhá-lo sabendo que ele ajudou na morte de sua esposa.

Voltou o olhar para seu reflexo no espelho, começando a ficar tonto com o rumo dos seus pensamentos. Reparou que ele não costumava ficar ali, talvez uma mudança da reforma de Sirius. Porém, havia algo de estranho nesse objeto, algo na forma como o reflexo tremulava nas bordas. James o encarou fixamente e de repente seu cérebro esticou e estalou como um chicote.

Cronologicamente, foi algo muito rápido. Diversas imagens passando pela sua cabeça, mas ele de alguma forma conseguiu absorver tudo. Foi quase como se visse a sua vida, mas não era a sua vida. Era ele e seus amigos, sua família, mas nunca viveu nada daquilo que estava vendo.

Surgiu um bruxo de aparência ofídica e com ele uma sensação de desespero tomou seu corpo. Viu ele e os Marotos crescendo em Hogwarts e, fora dos muros da escola, havia guerra. Viu Rabicho aliar-se a bruxos das trevas, viu seu casamento com Lily e a gravidez de Harry. Uma profecia e Snape a entregando para o bruxo ofídico. Harry sendo escolhido como o alvo da profecia e precisando de proteção e Rabicho sendo o fiel do segredo e os traindo posteriormente. Viu o bruxo invadir sua casa e matar ele e Lily, não conseguindo matar Harry por algum motivo além da compreensão de James. O futuro de seu filho passou mais rapidamente ainda. Orfão, na casa dos Dursley, sem nenhum conhecimento sobre magia, sendo levado para Hogwarts por Hagrid e ano após ano passando por desafios avançados demais para sua idade. Tudo isso para prepará-lo para uma guerra.

James forçou seus aprendizados de Oclumência e puxou-se para fora daquela visão. Segurou-se na moldura de madeira do espelho, o coração e a respiração acelerados como se tivesse corrido uma maratona. E então, entendeu. Aquele era o futuro que aconteceria se algo no passado tivesse ido de outra forma. Lembrou-se que sua mãe sempre o dizia que a vida é feita de escolhas. Lily havia feito a escolha dela e ele não podia julgá-la. Rabicho havia feito a escolha de ajudar uma amiga em sofrimento. James agora entendia.

O futuro de seus filhos podia ser tão infeliz quanto o daquele Harry se ele se tornasse um pai emocionalmente ausente. Orfãos de um pai vivo.

Não podia, porém, simplesmente curar o buraco que havia em sua alma após a morte de Lily. Mas podia ignorá-lo. Pelo bem dos seus filhos. Custaria sua alma, mas fingiria que não estava estilhaçado. Não como se estivesse realmente tentando se consertar nesse último ano. Estava apenas revirando nos seus próprios estilhaços, se ferindo e sangrando mais no processo e machucando todos ao seu redor.

Se era para ser estilhaçado, ninguém precisaria ver suas marcas.


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Notas finais do capítulo

eh isto



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