Fear the Monster escrita por Lady Z


Capítulo 4
IV


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :33



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Não podia crer em seus olhos.

A ponte entre ambos continuava ali.

Seu coração queria saltar para fora do peito.

Voltou a si e se pôs de pé, indo até ela:

— Você também me vê?!

— E você me vê...

— Como você conseguiu? Ou quem está fazendo isso?

— E-eu não sei... Já é a segunda ou terceira vez que isso acontece hoje, mas só agora consigo te ver. – ela estava tão confusa quanto ele.

Então aquilo era real. Realmente era a Força conectando-os. Por uma fração de segundos, se perdeu em seus pensamentos, pensando que novamente teria contato com ela. Na verdade, não tinha certeza, então precisava aproveitar esse momento.

— O que aconteceu hoje mais cedo? – seus pensamentos foram interrompidos. Aqueles olhos castanhos tinham uma opacidade incomoda.

— O-o que..?

— Hoje, mais cedo... De alguma forma, eu conseguia te ouvir, mas não ver... E ouvi gritos.

Engoliu seco.

 - Nada. – sua voz estava falsamente fria.

Ela olhava fundo em seus olhos. Ele sentia a frieza naquele olhar que já fora tão acolhedor e expressivo. Ele não sabia como reagir. Estava confuso. Não sabia se falava algo, se não falava, se chegava mais perto ou se afastava.

— Rey...

— Hm?

Sentia-se envergonhado na presença dela.

— Aonde você está? – Excelente Kylo Ren, Excelente.

—  O que?

Sua expressão havia mudado. Aquele olhar.

Aquele olhar de novo não.

— Você esqueceu o que aconteceu a alguns dias atrás ou você acha que eu sou uma idiota qualquer?

— Você não é qualquer uma, não para mim. – as palavras cortavam sua garganta igual da primeira vez.

— Eu não confio mais em você. Você me enganou. Você nunca vai mudar. Você vai continuar sendo essa criatura nojenta. Você é a própria cria do Snoke. – a raiva em sua fala aumentava a cada palavra. – Eu tenho ódio de você, Kylo Ren. – O choque da troca de nomes foi semelhante a uma faca cravada em seu peito.

Ela o olhava com fúria. Seus punhos estavam cerrados e suas sobrancelhas tencionadas.

E então, como se dependesse de sua vontade, ela começou a caminhar para longe dele, com passos furiosos.

— Rey, não! – ele gritou, indo atrás da garota.

— Com quem está falando, Rey? - alguém veio de encontro à garota. Não sabia quem, não reconhecera a voz, só ouvira.

E então, tudo aconteceu em fração de segundos.

Rey freou abruptamente, e Kylo veio em sua direção, colocando suas mãos nos ombros da garota, segurando-a.

— Com ninguém. – sua voz saiu naturalmente. Poderia ter se convencido facilmente que ela não sentira nada, porém conseguia sentir a pele arrepiada e fria em contato com a palma de suas mãos.

— Mas.. Eu jurava que ouvi você falar com alguém. – a voz insistia.

— Eu estava apenas pensando alto.. Devo ter pensado alto demais. – soltou um riso falso.

Enquanto isso, ele continuava ali, em contato com ela. Conseguia sentir mais do que seu corpo lhe mostrava. Conseguia sentir sua mente, sua alma. Estava nervosa, muito nervosa. Procurou por todos os lugares, mas não achou o ódio que ela havia afirmado sentir a pouco. Sentia mágoa, medo, mas alegria e conforto, coisas que não estavam relacionadas a ele. Em relação a ele só havia um sentimento: a sensação de ter sido traída.

Precisava se soltar dela, o que via na mente dela só alimentava sua perturbação, mas seu corpo não respondia, a ponto de não perceber quando a pessoa finalmente havia ido embora.

Um silêncio perturbador ocupada o cômodo.

Sua respiração estava acelerada. A dela também.

— Tire suas mãos de mim. – sua voz era trêmula. Foi então que olhou novamente para sua mente. E não havia nada ali sobre querer que ele a soltasse.

Mas tirou mesmo assim.

Ela virou-se para ele. Seu olhar já não era mais o mesmo de instantes atrás. Sentia-se mais confortável em olha-la assim.

— Quando isso vai acabar? – ela perguntou.

— Isso o que?

— Essas pontes. Quando isso vai parar de acontecer?

— Você.. quer que parem?

— Você não pode ficar aparecendo para mim assim. Não posso parar meu dia porque você está ali.

— Então não pare.

— Não consigo, Ben. – ela colocou a mão na boca. O nome havia escapado. – N-não consigo ignorar sua presença.

Um silêncio começou a se instaurar, quando alguém bateu à porta.

— Você, fique ai. – disse a Rey.

Abriu somente uma fresta:

— O que houve? – conseguiu mascarar com facilidade suas emoções, tornando sua voz forte e imponente.

— Estamos iniciando procedimento de pouso, e nossos radares já detectam a presença de naves, possivelmente rebeldes. General Hux pediu para que o avisasse.

— Fez bem. Me chamem quando tiverem alguma novidade. – e fechou a porta.

Quando se virou, Rey estava em lágrimas.

— Monstro.

O ar lhe faltou. Do que ela havia lhe chamado?!

— Monstro.

— O-o que?

— Monstro!

— Eu não sou um monstro.

— Monstro!! Você só sabe mentir pra mim!

— Eu não sou um monstro, Rey. Eu não sou um monstro. – os ânimos começaram a se alterar.

— Monstro!! Cobra nojenta!! – seu choro se intensificava – Você nunca vai sair de trás de mim. Você vai sempre perseguir a mim e a todos que eu amo.

— Rey, por favor, eu não sou um monstro. – ele se aproximava lentamente dela.

— MONSTRO! – ela gritou, a plenos pulmões.

— SE EU SOU UM MONSTRO EU DEVERIA ENTÃO AGIR COMO UM, NÃO ACHA?! – ele a agarrou pelos braços e despejou sua fúria nela.

Foi então que percebeu o que havia feito. Ela chorava feito um filhote, buscando se encolher para esconder-se da monstruosidade que a segurava. Ela estava com medo. Ele sentia isso.

Foi então que a ponte foi desfeita.

Lá estava ele, sozinho, com as mãos firmadas no ar. Seu rosto estava perplexo, e as lágrimas eram totalmente involuntárias. Não conseguia acreditar no que tinha feito.     

O que era isso?

Seu peito doía. Muito. Como se tivesse tomado um tiro.

Caiu de joelhos.

Seria isso arrependimento?

Colocou as mãos no chão para se apoiar. O choro se intensificou, e sua mente ficou rodando, colocando e tirando Rey de sua mente, mas sua voz continuava ali, dizendo-lhe o que realmente era.

Começou a gritar, mas quanto mais gritava, mais sua mente o castigava, consequentemente mais a dor em seu peito aumentava, e seus gritos se intensificavam, gerando um ciclo de sofrimento e dor que ele não sabia como parar.

Ao seu redor tudo começou a tremer, e o chão estava deformado com o formato de suas mãos cravadas nas placas de metal. Objetos começaram a cair de seus postos e a quebrar. Um soldado abriu a porta para verificar o que estava acontecendo, e caiu ao chão, colocando a mão nos ouvidos, não suportando o impacto sofrido.

De repente Hux apareceu, gritando Kylo para que parasse, mas esse não o ouvia, não ouvia a ninguém.

— LÍDER SUPREMO!! – Hux gritava da porta. Não tinha coragem nenhuma de entrar ali.

De repente, tudo parou. As coisas aos poucos pararam de se mexer, e o silêncio foi tomando seu lugar. Levou alguns segundos para que ele se recompusesse. Estava ofegante, mas continuava em sua posição.

— Os rebeldes, senhor. Eles aterrissaram no planeta. Estão abastecendo. Enviei tropas até lá.

Era a chance. Sua chance.

— Dê um jeito de rastreá-los a partir daqui. – foi o que conseguiu dizer.

— S-sim senhor. – consentiu Hux, saindo e levando consigo o soldado. – Não pergunte nada, só saia daqui. – foram suas ordens do lado de fora do cômodo para o pobre coitado.

Era o momento que precisava. Sair, ir até lá, matar alguns rebeldes e tirá-la dali. Dizimaria a Resistência e ainda a teria a seu lado. Mas algo dentro de si não lhe permitia isso. Sabia o que havia feito, e ela nunca mais aceitaria ficar ao seu lado.

Caiu deitado no chão e ali ficou.

Foi então que a vergonha terminou de dominar seu corpo, e se pôs a chorar.

 

Horas depois, acordou. Atordoado, tentou levantar, mas não tinha consciência o suficiente para se sustentar. O cansaço e o despertar faziam cabo de guerra com sua mente, brigando para exercer domínio. Quando o despertar venceu, pôde ver tudo mais nítido ao seu redor. O cômodo estava todo bagunçado, cheio de cacos de coisas quebradas e objetos jogados. As marcas de suas mãos no chão continuavam ali. E além delas, havia um vulto no chão.

Rey??!!

A ponte havia sido feita novamente.

Ela dormia feito um anjo.

Ele se arrastou, aproximando-se lentamente para não acordá-la. Chegando mais perto, conseguiu ver seus olhos inchados de chorar, e marcas roxas em seus braços. Só pensava no ser horrível que era. As palavras que ela lhe proferiu mais cedo voltaram à mente, mas dessa vez ele concordava com elas. Era um traidor, uma cobra peçonhenta. Um monstro.

Seu primeiro impulso foi passar a mão sobre seus machucados, como se de alguma forma aquilo fosse curá-los. Com a mão já estendida, a poucos milímetros, parou. Recuou. Não queria mais tocar nela. Não queria mais fazê-la sofrer. Sua decisão então foi só ficar deitado ali, olhando-a dormir, mesmo que ela não tivesse ciência de sua presença.            

Sua mente estava estranhamente calma. Nenhum gatilho, nenhuma tempestade, nenhuma tortura. Só dor e sentimentos ruins, mas nada que não pudesse aguentar. Tentava adivinhar, através daquelas expressões serenas e involuntárias: com o que Rey sonhava? Estranhamente queria que fosse consigo.

Espero que um dia eu possa me redimir com você.

Então tudo ficou claro em sua mente, como se uma lâmpada fosse acesa.

Sentiu uma pontada na cabeça.

Aquela dor, aqueles sentimentos, tudo era tão óbvio.

Alguém estava vencendo o conflito existente dentro de si.

E esse alguém certamente não era Kylo Ren.

Não..

 

Antes que pudesse entrar em colapso, o cansaço se derramou sobre ele.


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