Alguns dias haviam se passado.

Ainda era de se estranhar, mas aos poucos todos começaram a se acostumar com a presença dele ali. Não questionava, não conversava, só passava seus dias andando pelos arredores. Apesar de estar dentro dela, ele não pertencia à Resistência. Pertencia a algo além disso, e estava ali somente por duas razões: Leia e Rey.

A General ainda não continha a alegria de ver o filho junto a si. O abraçava sempre que podia e aos poucos ele se abria consigo. Sempre que conseguia, falava sobre Rey em sua presença, somente para vê-lo sorrir timidamente. Apesar de todo o mal que ele provocara não só para si, mas para toda a galáxia, vê-lo aos poucos redimindo-se e voltando a ser o Ben Solo que deixou a casa dos pais para ir treinar com o tio, e só retornara depois de anos, lhe aquecia enormemente o coração. As coisas não seriam mais as mesmas dali para frente, mas lentamente tudo iria se adaptar.

Já Rey, por sua vez, aos poucos guiava-o de volta à luz. Lhe trazia uma paz imensa sentir aquele coração antes tão afligido pelo ódio e pelo medo cada vez mais tranquilo e calmo. Seu olhar mudara, e seus sentimentos por ele só cresciam.

Era de madrugada quando alguém bateu à sua porta.

— Ben...? – disse, sonolenta – O que foi...?

— Eu quero te levar a um lugar. – e estendeu-lhe a mão. – Coloque seus sapatos.

Andaram por cerca de dez minutos. Ela não sabia aonde iriam chegar, mas ele seguia empolgado.

— As pessoas dormem de noite, sabia?

— Vai valer a pena.

Após mais alguns minutos de caminhadas, chegaram a uma praia. A luz das duas luas do planeta era refletida pela água do mar, e as estrelas cintilavam no céu, tornando a vista um estupendo espetáculo.

Sentou-se na areia, a alguns metros longe do mar, e a puxou para sentar do seu lado. Ela olhava maravilhada a cena.

— O que estamos fazendo aqui?

— É lindo, não é?

— Sim, mas...

— Eu te trouxe aqui porque queria ficar com você, sozinho. – ele foi com sua mão de encontro à dela, entrelaçando seus dedos.

Deixou que sua cabeça caísse no ombro dele, fechando os olhos e sentindo a brisa em seu rosto. Estava com sono, mas estava bem com ele ali.

A muito tempo não se sentia tão bem. Tudo ainda era muito confuso, mas tê-la por perto facilitava tudo. Não tinha obrigações nem metas a cumprir, e por isso passava seus dias meditando e refletindo. Seu avô aparecera mais uma vez, mas dessa vez sorria, fazendo com que sentisse que fora a decisão mais certa que tomara em sua vida. O lado negro ainda existia dentro de si, mas era manso feito um cão adestrado. Seus sentimentos mais impuros, seus medos e seu ódio por tudo aos poucos eram substituídos por culpa e arrependimento, juntamente com a sensação de que deveria consertar seus erros, pelo menos os que fossem possíveis.

Olhou para o lado: ela era tudo que ele sempre desejou para si, mesmo que inconscientemente. Ela era seu lar, a luz da sua vida, o motivo pelo qual sentia prazer em estar vivo e era o combustível da sua coragem para encarar as consequências de seus atos de frente. A cada dia a amava mais, e a cada dia fazia questão de demonstrar mais, fosse com um olhar, um toque, ou um beijo escondido, apesar que todos já desconfiavam de seu envolvimento com a cavaleira.

Ela abriu os olhos, percebendo o que ele havia feito. Conseguia ver dentro de sua mente. Ele falava com ela.

— Aquele dia, quando nos tocamos pela primeira vez, eu não esperava que fosse estar aqui no final das contas, mas mais adiante, quando nos tocamos novamente, já dentro da Primeira Ordem, eu pude ver isso, esse momento. Em minhas mãos, as suas mãos, e em meu peito, o seu coração. Eu esperei ansioso e nervoso para que isso se concretizasse, pois senti que quando isso acontecesse eu estaria plenamente feliz. A minha alma está selada, e talvez eu nunca volte a ser bom o suficiente, mas você me fez abandonar Kylo Ren. Eu não sei em que momento isso aconteceu, mas você mexeu comigo, você me tornou, aos poucos, humano. Eu não quero nunca mais te perder, garota, e vou lutar até meu último suspiro de vida pela sua. Eu amo você, e eu me rendo a você.

Chorando, ela apertou seu braço contra seu peito, soluçando. Sentia a Força fluir entre eles, no mais puro e perfeito equilíbrio. Seus corações eram um só e seus sentimentos eram os mais sinceros possíveis.

A partir dali, tudo se tornaria paz, e poderiam espalhar ela pela galáxia se assim desejassem. Não havia mais ataques e investidas da Primeira Ordem a muito tempo, mas ninguém ousava questionar-se do porquê. Os dois usuários da Força imaginavam o motivo, e sabiam que o grande Império cairia degolado ao chão, dando vez para que pequenos focos da República voltassem a surgir.

Os dois deitaram-se na areia, ela se aninhando nos braços dele, e ali adormeceram, ninados pelo barulho do mar e acolhidos pela brisa do amanhecer.

O sol já começava a surgir no horizonte, assim como Ben Solo surgia de volta à luz.

O príncipe que temia o monstro, agora reinava em paz.