Fear the Monster escrita por Lady Z


Capítulo 16
XVI


Notas iniciais do capítulo

"You know I want you.
It's not a secret
I try to hide."

(https://www.youtube.com/watch?v=5MrmIJ28hvk)

(~boa leitura ;3)



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Estava em frente ao espelho, arrumando-se. A nave iniciara os procedimentos de pouso, e soldados já se dirigiam à saída, para fazerem a segurança da nave. Em breve, Hux iria procurá-lo para que os procedimentos a serem feitos se iniciassem. Toda a frota seria reabastecida, encontrariam-se com aliados, e no dia seguinte, iriam a tão falada negociação das armas, e logo após já voltariam para o espaço.

Pela visão periférica, podia vê-la deitada na cama, encolhida embaixo das cobertas, olhando-o.

Aquele olhar derretia seu bruto coração.

Andou lentamente até ela, ajoelhando ao lado da cama, mantendo seus olhos à altura dos dela. Havia um brilho diferente neles, que ele não sabia decifrar. Com a mão ainda nua, tocou aquela pele macia suavemente, vendo-a fechar os olhos e colocar sua mão junto à dele.

— Por que eu sinto algo ruim vindo de você...?

— Me diga você...

— Não sinto exatamente. – era difícil, mas cada vez mais conseguia se abrir com ela. – É como um pressentimento. – ela abriu os olhos novamente, olhando profundamente nos dele. – Algo me diz que quando eu sair por aquela porta, algo ruim vai acontecer.

Ela só conseguia olhar, sem responder. Seu coração estava cada vez mais despedaçado: já havia decidido que naquele dia fugiria da Primeira Ordem, porém isso não impedia que gritasse por dentro e se machucasse por estar deixando-o, mesmo que não pudesse transparecer isso a ele.

Ele, no fundo, sabia que ela poderia tentar sua fuga. Estavam em terra firme, muito mais fácil para ela partir. Isso fazia seu medo de perdê-la crescer. Não conseguia pensar em nada além disso, e não sabia o que mais fazer para convencê-la a ficar ao seu lado ali.

Lentamente, encostou seus lábios no dela.

Enquanto a beijava, lembranças da noite anterior percorriam sua mente, repassando aquela frase, aquelas palavras que ela havia lhe dito com tanto sentimento e carinho. De alguma forma, queria respondê-las, mas sua fala estava atravessada na garganta, sufocando-o, juntamente com seu medo e o conflito dentro de si.

— Eu tenho que ir... – disse, levantando e vestindo suas luvas.

Ela apenas olhava, consentindo.

Viu-o dirigir-se à porta, e voltar seu olhar para ela, como se aquilo fosse uma despedida.

Saiu, fechando a porta atrás de si.

Esperou ele se afastar, ouvindo seus passos pelo corredor, e sentou-se na cama, descobrindo-se. Seu coração batia forte no peito. Levantou-se e foi até a janela, de onde conseguia observar o planeta em que estavam: o solo era concreto, e ao redor haviam grandes prédios e gloriosas construções. Seja lá quem fosse o dono daquelas terras, era riquíssimo. No céu, o sol estava coberto por enormes nuvens cinzentas, densas, esperando sua hora de desabar sobre o chão. O céu era de um tom entre o azul e o roxo, o que trazia um enorme sentimento de melancolia ao local. Alguns instantes depois, pôde vê-lo saindo da nave, com sabre em punho, acompanhado de um grupo de 7 ou 8 soldados, e Hux parado, olhando-o ir. Longe, em um dos prédios, havia um homem parado, esperando para recepcioná-los. Estava acompanhado de dois homens armados.

Por uma fração de segundos, ele voltou seu olhar para a janela da nave, vendo-a ali, timidamente, observando-o. Apesar de sua expressão fechada, podia ver cumplicidade em seu olhar.

Assim que ele saiu de vista, afastou-se da janela. Precisava botar seu plano em prática. Arriscou ir até a porta, abriu-a e observou: havia um pouco mais de movimento do que de costume. Decidiu que esperaria os corredores se esvaziarem.

Enquanto esperava, andou pelo quarto, repassando cada passo, pois só haveria uma chance. A imagem de Ben piscava em sua mente, o que logo a fez cair no chão, chorando. Não sabia explicar como, mas sentia a mesma necessidade dele, que ele sentia por ela. Era algo sufocante, pesado, que tornava aquela separação muito mais dolorosa do que deveria ser.

Nunca sentira nada em sua vida além de uma esperança despedaçada de que seus pais voltariam para lhe buscar, porém agora sentia aquele fogo intenso dentro de si que clamava por ele, por aquele olhar, aquele toque, aquela presença. Ele era o último lugar que esperava depositar suas fraquezas e receber força de volta. Era a última pessoa que esperava que a beijasse com tanta paixão que a fizesse sentir prazer em estar viva. Era o último olhar que esperava olhar e encontrar amor.

Caída no chão, de joelhos, com a cabeça encostada nas placas de metal, chorava copiosamente, soluçando. Aquilo era mais do que imaginou sentir por uma única pessoa em toda sua vida, e não sabia como lidar. Se pudesse, o empurraria a força para dentro daquela nave e sairiam dali juntos.

Mas precisava ir. Com ou sem ele.

Sentou-se, limpando o rosto com as mãos, e respirando fundo, buscando se acalmar. Precisava ser fria, e se pensasse demais, poderia acabar fracassando.

Alguns minutos depois, decidiu observar a porta de novo. Já não haviam mais soldados passando, e poderia sair em segurança.

Respirou fundo, e deu seus primeiros passos em direção ao corredor.

Conforme passava, via que tudo estava estranhamente vazio. Não haviam soldados em nenhum dos andares ou salas. Algo estava acontecendo. E pôde comprovar isso, chegando próxima ao hangar.

Lá estavam todos os soldados, enfileirados.

Escondeu-se atrás de um pilar, para que pudesse ouvir o que estava acontecendo sem ser percebida.

Olhou para baixo, tomando cuidado para não ser notada. Lá estava General Hux e mais alguns militares de patentes mais altas. Um lugar estava vago: Phasma.

Logo, o ruivo começou a falar, imponente.

— Reuni todos vocês aqui hoje para decidirmos o futuro da Primeira Ordem. – Fez uma pequena pausa para que todos digerissem a frase. – Pouco a pouco, a Primeira Ordem iniciou seu processo de dominação da galáxia, extinguindo a desonrosa República do mapa, graças a Base Starkiller, que vocês todos ajudaram a construir. Mas, como vocês sabem, ela foi destruída pelos rebeldes, pela Resistência. Tivemos enormes perdas, tanto materiais quanto em tripulação, mas mesmo assim saímos na frente para as próximas batalhas. Porém, dois grandes contratempos fizeram com que tivéssemos de diminuir o ritmo de nosso progresso. – fez outra pausa, para respirar. – Uma nave rebelde entrou em hiperespaço em direção à nossa frota, destruindo um dos destroiers, ocasionando mais perdas, dentre elas, a Capitã Phasma. – todos olharam para o lugar vago no palanque improvisado. – E também tivemos a morte do nosso estimado e poderoso Líder Snoke por uma rebelde. A mesma rebelde que está, agora, nos aposentos do nosso atual Líder Supremo, Kylo Ren. – sentiu um calafrio. – E é justamente aqui que entramos. Kylo Ren assumiu o papel de Líder Supremo, e pensamos que com isso continuaríamos trilhando nosso caminho rumo à supremacia. – deu um sorriso sarcástico. – Mas não! Não foi isso que aconteceu, nem que vem acontecendo. – fez uma pausa dramática. – Todas as nossas batalhas, desde que Kylo Ren assumiu, com o objetivo de dizimar de uma vez a Resistência, esse mosquito chato que insiste em nos infernizar, fracassamos impiedosamente. – ele fazia pausas demais. – Acho que não é preciso dizer muito sobre isso, já que está fresco na memória de vocês o último ato em batalha de nosso grandioso líder, quando ele segurou os tiros de nossos canhões, permitindo que a escória rebelde fugisse de uma vez, além de trazer a rebelde assassina de Snoke para dentro de nossa base. – alguns passaram a olhar-se entre si, concordando. – Espero não ser o único, mas creio que Kylo Ren não tem maturidade e capacidade o suficiente para assumir uma força tão poderosa quanto a Primeira Ordem, podendo nos levar ao fracasso. – respirou fundo, e intensificou sua voz – Por isso, proponho a retirada de Kylo Ren do poder, fazendo com que, pela hierarquia, eu assuma seu posto. – Rey arrepiou-se. Havia um sorriso malicioso naquele rosto pálido e cretino. – Está mais do que na hora de voltarmos a agir com os motores a todo vapor. Devemos matar essa doença que só nos trouxe fracasso até agora. – a doença era Kylo. Ou melhor, Ben. – Quem está comigo, por favor, levantem suas mãos.

E como se tivesse sido ensaiado, todos ergueram suas mãos, não dizendo nenhuma palavra. O silêncio era mortal e afiado como uma faca. Sentiu seu coração gritar histérico em seu peito: iam matá-lo. Podia não ser literalmente, mas iriam livrar-se dele, nem que fosse deixando-o em um lugar isolado da galáxia, sem ninguém, sem nada. Não sabia como o fariam, já que conhecia bem seu poder, mas era um perigo real: um homem contra um exército todo.

— Vamos acabar com essa palhaçada. – pôde ouvir Hux falando em tom mais baixo, e logo o silêncio veio abaixo, com todos vibrando e aplaudindo.

Decidiu que não partiria agora. Precisava avisar Ben, ele corria perigo.

 

 

Andando pelos corredores, refletia sobre o quanto o dia havia sido produtivo. Quem sabe com os resultados obtidos, e também dependendo do dia de amanhã, aquele ruivo maldito parasse de lhe importunar.

Entrou no quarto, fechando a porta logo em seguida. Quando voltou-se para trás, seu olhar encontrou uma garota pálida, com um olhar assustado, sentada em sua cama, tremendo.

— Rey?! – correu em sua direção, preocupado. – Rey, o que houve?! – tirou suas luvas rapidamente, sentando-se ao lado dela e colocando suas mãos em seus ombros. – Você está fria. E pálida. O que houve?!

Aquele olhar temeroso virou-se lentamente, em sua direção, permitindo que presenciasse o exato segundo em que lágrimas passaram a escorrer em seu rosto.

— Eles vão te matar.

— O que?! - Seu coração pareceu parar no peito.

— Hux... Eu o ouvi falando para a tropa... – ela soluçava, liberando suas emoções. – Eles vão depor você... Ele falou sobre matar a doença da Primeira Ordem...

— Calma. Isso é impossível.

— Como assim?! Eu ouvi com os meus próprios ouvidos!

— Hux, não é páreo para mim. Quero ver ele tentar fazer alguma coisa. – as palavras saltavam de sua boca demonstrando incredulidade, mas um minúsculo pânico começara a crescer dentro de si assustadoramente rápido.

— Eu não sei como, mas ele vai! Estavam todos aqueles soldados parados no hangar, ouvindo-o, e concordando com ele! Por favor, Ben, acredite em mim! – ela implorava.

— Espera. O que você estava fazendo no hangar?

Ficou muda, olhando-o com o olhar de um infrator pego no flagra. Não podia dizer, apesar de que ele já imaginava a resposta.

Ele abaixou a cabeça, colocando uma das mãos no rosto.

— Eu estava certo em sentir medo hoje cedo.

— Medo? – sua voz mal saía da garganta.

— Eu estava com medo... De que você fosse. Que eu fosse te perder de vez. – estranhamente sua voz era mansa. – E aparentemente se não fosse Hux resolver dar piti para meia dúzia de soldados, você não estaria mais aqui.

— Você não acredita em mim?! Eu também tenho medo! – voltou a chorar. – Você acha que não?! Por que você acha então que eu fiquei?! Foi para te avisar, para te alertar! – colocou suas mãos frias em seu rosto, erguendo-o em sua direção. – Eu também tenho medo de te perder! Muito medo! E se eu for, você não vai me perder para sempre. – olhou fundo nos olhos dele. – Mas... Se você morrer... – não conseguiu terminar sua fala, as lágrimas a tomaram por inteira.

Despedaçado por dentro, puxou-a para si, acolhendo-a em um abraço. Deixou que chorasse em seu peito, enquanto aquelas palavras rodavam em sua mente. Não podia demonstrar, seria pior se o fizesse, mas estava surtando por dentro. Suas pupilas estavam contraídas, expressando o medo que o consumia como um todo. Era definitivo que não era mais bem visto dentro da Primeira Ordem, e que iriam oficialmente tirá-lo dela. A morte nunca lhe pareceu tão aterrorizante, mas não porque zelava por sua vida, mas sim porque morrer era uma maneira de perder Rey.

Apertou seus braços ao redor dela, quase grudando seus corpos.

— Isso dói tanto... – ela dizia, com a voz abafada em seu peito. – Eu te amo, mas isso dói tanto... – fechou os olhos, permitindo que algumas lágrimas rolassem. – Por favor, vem comigo... Você vai ficar seguro, você vai estar comigo... Para sempre... – suas pequenas mãos apertavam o couro preto sobre sua pele. – Por favor, Ben...

Sem responder, colocou-a sobre seu colo, e segurou seu rosto em suas mãos. Olhou profundamente em seus olhos antes de beijá-la. Aos poucos, sentia o desespero daquela pobre alma se esvaindo, entregando-se aos poucos. Como queria largar tudo aquilo e ir com ela, mas simplesmente não podia. Se o que ela havia dito era verdade, esse era o pior momento para largar tudo no ar e fugir. Precisava encará-los de frente.

Beijava-a com desejo, suprimindo seus sentimentos e concentrando-se em acalmar os dela. Cada segundo com ela era único, e não queria que isso nunca acabasse.

Ela desvencilhou-se de seus lábios, e voltou a encostar sua cabeça em seu peito quente, confortando-se. Passou a mão sobre seu cabelo, acariciando-o.

Respirou fundo.

— Rey...

Ela ergueu o rosto para o dele. As palavras continuavam atravessadas em sua garganta, como a muito tempo, mas já estava na hora de cuspi-las.

— Eu... – segurou o ar. Precisava ter cuidado para não soltar todos seus sentimentos descontroladamente.

Alguém bateu à porta.

Ele fechou os olhos, engolindo as palavras de volta, e deixando que mais lágrimas surgissem.

Soltou-a e foi até a porta, abrindo-a somente o suficiente para ver quem estava do outro lado.

— Senhor, General Hux o aguarda para o jantar.

— Sim. Diga que já vou.

Fechou.

Ela o olhava sem entender.

— Vamos jantar com um aliado... – não podia dar muitos detalhes. – Eu tenho que ir.

Andou lentamente até ela, que ainda esperava pelo resto da frase. Segurou seu queixo com uma das mãos, enquanto seu rosto se inundava, e seus lábios de contorciam, ansiosos para soltarem o que ficara preso por tanto tempo.

— Eu também amo você...

Ela ergueu seu olhar.

Seu corpo estremeceu com aquelas palavras.

Acariciou seu rosto pálido carinhosamente, passando o polegar por sua cicatriz, que ironicamente fora ela quem a pusera ali.

— Você é minha luz... – disse, depositando, em seguida, um beijo em sua testa. – Não suma da minha vida... Por favor...

Levantou-se, indo em direção à saída sem olhar para trás.

Recusava-se a deixá-la, especialmente tendo absoluta certeza que ela fugiria dali. Mas algo dentro de si dizia que era o certo, e que voltariam a se ver. Agora, seu foco precisava ser em Hux. Desconfiaria de toda e qualquer atitude que ele tomasse.

Precisava estar vivo para encontrá-la novamente.

Com uma postura fria e extremamente instável, seguiu seu caminho com o coração esfarelado.


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Notas finais do capítulo

"But you're here in my heart,
so who can stop me if I decide
that you're my destiny?"