Fear the Monster escrita por Lady Z


Capítulo 14
XIV


Notas iniciais do capítulo

boa leitura :3



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Abriu seus olhos.

Ela ainda estava ali.

As cenas de poucos instantes atrás rodavam em sua mente. Algo em si mudara depois disso, ele só não sabia o que.

Não conseguia tirar seu olhar dela, que dormia feito um anjo, já devidamente vestida. Sentia uma paz interior enorme emanando tanto dela quanto de si mesmo, e podia até fingir que não havia nada lá fora para se preocupar. Ela estava ali, com ele, e com uma chuva de sentimentos bons, o que mais ele poderia querer?

Interrompeu seus pensamentos.

Lembrou de seu avô, de Luke. Lembrou de todos aqueles rostos lhe dizendo as mesmas coisas, lhe pedindo as mesmas atitudes, e então lá estava ele, olhando para aquela que, diziam, o levaria para a luz. Se Snoke tivesse vivo, certamente o tentaria a matá-la naquele doce momento de indefesa.

Ergueu a mão, sutilmente deslizando uma mecha de cabelo que caíra sobre aqueles olhos angelicais, colocando-a atrás da orelha. Atreveu-se a sorrir.

Sentou-se na cama, e olhou para o relógio. Ainda havia tempo para dormir, porém não tinha sono. Encostou suas costas nos travesseiros e ficou encarando a parede, enquanto pensava.

Uma dor estalou em seu peito.

Estava confuso e atormentado. Algo dentro de si começara a pedir que parasse de perseguir a Resistência, que só aceitasse ficar ao lado de Rey. Não tinha entendido de completo o que sentia por ela mas havia tido certeza absoluta de que era bom, e de que nunca antes sentira algo tão puro por alguém, algo que fosse diferente de ódio. Tinha certeza da reciprocidade, já que haviam tido acesso um a mente do outro, e pode não só sentir na pele, mas como na alma, o que ela sentia por ele.

Olhou para aquela figura deitada ao seu lado.

Havia tanta tristeza dentro de si. Que vida miserável que levara. Chegava a ser irônico: ele, que nascera em berço de ouro, que logo no primeiro instante de vida já tinha que carregar sobre os ombros o peso do sobrenome, que tinha como pais duas das figuras mais lendárias de toda a galáxia, aqueles que as pessoas paravam para olhar quando passavam, estar do lado de uma garotinha que não pode sequer experimentar o prazer, ou desprazer, de se ter pais, quanto mais o de ter pais conhecidos, que não tinha sobrenome, não tinha linhagem, não tinha nada além de suas roupas, seu bastão e algumas sucatas que trocava por comida no meio de um deserto tão esquecido na galáxia quanto ela por seus genitores. Tão diferentes, mas tão iguais. Ambos tinham suas mágoas, seus medos, seus conflitos, seus dilemas, a Força fluindo dentro de suas almas, unindo-os de forma misteriosa, e o fardo do poder para carregarem: ela, Jedi, ele, Sith.

Sua mente começou a lembrar-lhe de cada olhar que ela lhe lançara até chegarem até aonde estavam. Aquele poder furioso e indomado emanando do brilho furioso de seu olhar chegava até a lhe fazer falta, pois era maravilhosa a sensação de sentir o ódio crescendo dentro dela quando ela o olhava. Agora, seus olhares eram puros, calmos, e muito, mas muito prazerosos. Sentir que aquela expressão doce e de uma bondade gigantesca era voltada para si era melhor do que qualquer outra coisa que pudesse sentir na galáxia toda.

— Ben...? – deuses, nunca se cansaria daquele chamado.

— Olá.. – disse, virando seu olhar para ela, que ainda estava sonolenta. – Como você está..?

— Não sei... – conforme despertava, seu rosto foi corando.

Aos poucos, sentou-se ao lado dele, apoiando seu rosto em seus braços e os mesmos em seus joelhos. Lançou-lhe um olhar quando sua mão pesada tocou seu ombro.

— Sobre.. o que houve... – a timidez dela seria muito mais cômica se ele não sentisse o mesmo.

— Você não precisa dizer nada. Melhor não dizermos nada.

Os dois passaram a olhar a parede à frente da cama, em silêncio. Ele sentia uma vontade enorme de beijá-la de novo, mas sabia que era melhor não. Ele estava acostumado com a sensação de dominância, mesmo que nunca em experiências feito essas, enquanto ela sempre fora tão sozinha e carente de afeto, que desejos tão profundos, e carnais ao mesmo tempo, certamente a deixavam confusa.

Depois de alguns minutos, cortou o silêncio:

— Rey, posso perguntar uma coisa?

— Sim.

— O que foi aquilo que eu vi? – ela o olhou meio confusa. – Quando... Após Anakin... – até mesmo pronunciar aquele nome o fazia sentir intimidado - ...Eu toquei você...

— Ah... – ela sorriu timidamente. – Você sabe o que é, Ben.

— Se soubesse não lhe perguntaria.

— Vou responder com outra pergunta então. – seu olhar era desafiador. – Você é Ben Solo?

— Mas que bes.. – interrompeu a si mesmo. Olhou-a, meio incrédulo. – O que?

— Desde aquele dia, instantes antes de você matar Snoke... Eu sinto Ben Solo em você, e você atende quando eu o chamo. Você é ou não é Ben Solo?

Aquela pergunta instigara todos os aspectos de si em que nunca pensara. Quem realmente era?

— Cale a boca. – encerrou o assunto.

Ela deixou-se cair sobre os travesseiros, e passou a encarar o teto. Em instantes, voltou a dormir. Mas, ele...

...Ele não conseguia deixar de pensar em uma resposta para aquela pergunta.

 

 

— Muito bom dia, Líder Supremo! – dizia o ruivo sorridente para a figura negra que vinha em sua direção. – Fico muito feliz em dizer-lhe que temos novas informações!

— Vá em frente. – aquilo lhe soava interessante.

Com muito deleite e orgulho, General Hux contou sobre novos protótipos de armas que haviam sido oferecidos à Primeira Ordem, e que poderia testá-las e retirá-las na próxima parada que a frota faria, em dois dias.

— Sugiro que o senhor mesmo vá até lá, assim as coisas podem sair do seu agrado.

— Boa sugestão. Continue.

Então, desatou a falar sobre como haviam recebido vários sinais de onde poderia estar a Resistência. Apontou-lhe três planetas num mapa holográfico, todos os três com bases desativadas e que eram possíveis localizações dos rebeldes, a considerar que aliados os viram naqueles arredores.

— Consideramos esse daqui, senhor, como o de maior probabilidade, por possuir uma vegetação mais densa, que dificulta um ataque aéreo.

— Interessante. E os outros?

— Um é um planeta-anão de gelo, e o outro um planeta de planícies, porém com solo extremamente instável, suscetível a terremotos.

— Realmente. Como podemos ter certeza?

— Pedi auxílio de espiões aliados para se infiltrarem em cada um dos planetas. Caso não haja nada em nenhum dos três, recomeçaremos as buscas.

— Tudo bem.

Despediu-se do general, satisfeito com o que havia ouvido.

Iria acompanhar mais um treinamento de soldados.

 

 

Sentada na cama, cenas da noite anterior ainda rodavam em sua mente. Não sabia o que pensar, ou como agir quanto a isso. Nunca havia tido uma relação com alguém que chegasse a tal ponto. Muito menos achou que seria com ele.

Lembrou-se de tudo que sentiu, tanto sobre si mesma, quanto sobre ele. Cada toque, cada olhar, cada suspiro lhe tiravam o ar. Era tudo novo e maravilhoso, por mais que sentisse uma estranha vergonha em estarem naquela situação. Sentia-se como nunca antes: amada, desejada. Ninguém nunca lhe ensinara sobre essas coisas, mas era incrível como seu corpo sabia o que fazer.

Sorriu.

Lembrou do toque dele em sua pele. Nunca pensou que um ser de tamanha maldade e fúria poderia ser tão doce e carinhoso. Nunca, nem mesmo com toda a luz que enxergava dentro dele, poderia imaginar o quão bem ele poderia lhe fazer. Ainda era muito estranho a forma com que tudo acontecera, desde a primeira vez que viu aquele monstro negro perseguindo-a com um sabre-de-luz vermelho ardente nas mãos, onde sentiu medo e ódio, até agora, aonde estava deitada em sua cama, e a pouco recebera amor do coração mais inusitado. Se pudesse, nunca mais o deixaria.

Sentiu uma onda de tristeza tomar conta de si ao pensar nisso. Não sabia como reagiriam, tanto ela quanto ele, à sua partida. Mas era necessário, ali não era seu lugar. E algo dentro de si dizia que quando chegasse a hora, ele também partiria.

Decidiu aproveitar o momento para voltar para seus objetivos. Sabia que por algumas horas ele não retornaria ao quarto, e teria paz para se focar, já que da última vez ele aparecera. Estava buscando a presença daquela que sempre estava com a Resistência: Leia.

Decidira que partiria assim que descobrisse sua localização, podendo ir de encontro a seus amigos sem maiores transtornos.

Ajeitou-se na cama, fechou os olhos e concentrou-se, imergindo em sua própria mente. Sentia a Força lhe conduzindo por vários caminhos, e podia sentir várias energias diferentes ao seu redor. Quanto mais longe a Força lhe levava, mais sentia seu corpo doer. Era difícil se concentrar por completo depois de um tempo. Havia muita vida ao redor, e podia sentir a presença de todas.

Abriu os olhos, ofegante. Precisava de mais foco.

Respirou o suficiente para recuperar o fôlego, arrumou sua postura e tentou de novo. Fixou a imagem de Leia em sua mente e passou a ignorar energias que não fossem a dela.

Estava em um lugar, não sabia qual. Sentia uma energia conhecida, muito conhecida, ainda que não fosse a de Leia. Forçou-se um pouco mais, e enxergou um rosto.

Finn?!

Era ele, seu amigo tão querido.

A porta do quarto abriu, quebrando sua paz. Abrindo os olhos novamente, viu um pequeno droid a encarando, segurando uma bandeja. Ele a colocou sobre a mesa e saiu.

Pôs suas mãos sobre seu rosto. Não havia conseguido ver aonde Finn estava, somente a ele. Mesmo assim, isso já era algo, e ir até ele também significava ir até a Resistência. Tentaria de novo mais tarde.

Agora, mesmo que levemente frustrada, iria comer.


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Notas finais do capítulo

o que acharam? digam nos comentários :3
até o proximo :3