Upside Down escrita por S Nostromo


Capítulo 2
Demo, Dog & Frog


Notas iniciais do capítulo

Se gosta de música enquanto lê, recomendo esse mix de instrumentais estilo anos 80 que eu ouvia enquanto escrevia:

https://www.youtube.com/watch?v=QmzpPWceBf8

Boa leitura!



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Havia pânico no acampamento, mas não havia barulho algum além dos grilos. Havia cabanas onde os monitores ficavam, era uma área fechada para o acampamento. As luzes estavam acesas, em uma das cabanas de madeira o ventilador de teto ligado, mas ninguém estava ali. Do lado de fora, algumas cabanas de plástico próprias para acampamento estava destrúidas. Em uma das cabanas amadeiradas, Mike e Dustin carregavam Lucas. Colocaram o amigo em uma cama. Ele sangrava, estava morrendo. Mike encontrou um spray de pimenta no corpo de um dos monitores mortos, e logo após, seguiu porta afora para procurar os outros. Dustin ficou na cabana para chamar a polícia e improvisar barreiras nas janelas e portas.

 

— O que foi? O que você viu?

Mas Eleven não respondeu. Demorou um pouco para assimilar o que tinha visto. Ver tanto sangue nas roupas de Lucas a chocaram um pouco. De fato, estavam no mundo real, mas pareciam tão em perigo quanto ela e Will. Ou parecia?

— Não estão aqui, estão no nosso mundo, em perigo.

Will ameaçou dizer algo, mas desistiu.

— Se isso é mesmo um mapa, então vamos procurar o que significa os baús. Devem ser coisas boas, não é? – perguntou Eleven.

— Espero que sim.

Munidos de tochas e do mapa de Chris, Will e Eleven seguiram mais uma vez pelos labirintícos túneis. Deixaram a fogueira acesa que iluminou alguns bons metros do trajeto que começaram a fazer. Andavam devagar para verificar o mapa e tomar cuidado com o chão irregular. Will desejava correr dali o mais rápido possível, os olhos estavam esbugalhados, buscando qualquer perigo na caverna, enquanto as mãos tremiam. Eleven sabia o quanto Will tinha medo do Mundo Invertido, mas suas reações a deixavam ainda mais assustada. Vez ou outra o menino parava bruscamente de caminhar e olhava para trás, ficando estático por alguns segundos feito uma estátua. Depois dizia ter a impressão de estar sendo seguido. Poderia ser algo da cabeça de Will, ou poderia ser verdade.

Pararam em uma parte onde a caverna se dividia em dois caminhos.

— Esse baú tá mais perto, mas tem uma caveira no meio do caminho – analisou Eleven.

Olharam um para o outro, e em um gesto desesperado, Will fez que não com a cabeça. Não queria saber o que significava a caveira, e quanto mais pudesse evitar, melhor.

— Melhor esse – ele sugeriu – é mais longo, mas não parece ter perigo.

Ouviram grunhidos que vinham do mesmo caminho que fizeram, ou seriam os monstros lá fora? Na superficie? Não esperaram para descobrir, seguiram o mais rápido possível. Era um caminho único, não tinha erro. Pularam cipós mais grossos que estavam pelo chão, tropeçaram algumas vezes também. Não havia noções de horas no Mundo Invertido, mas se perguntaram por quanto mais tempo andariam.

A caverna foi ficando mais larga e espaçosa até terminar em um caminho sem saída. A primeira coisa que viram fora uma espécie de caixa, jogada mais ao canto. Era feita com os cipós que estavam espalhados por todo lugar. Agacharam diante da caixa e viram diversos rolos da mesma linha áspera que Chris guardava em sua mochila. Havia alguns tocos com ponta também. Will puxou o papel misterioso da mochila e viu que havia desenhos desses rolos, não no mapa, mas no verso, entre aqueles desenhos e setas sem sentido algum.

— Deve ser importante, tem desenhos dele no verso do mapa.

— Vamos levar, tem espaço na sua mochila?

Will conseguia carregar todos os rolos de linhas sem problemas. Os tocos de madeira Eleven abraçou. Decidiram levar tudo para a caverna onde estava o esqueleto do Chris. Ouviram um ruído estranho. Permaneceram quietos, olhando para o único caminho da caverna sem saída, a luz das tochas alcançando até certo ponto. Esperaram alguma criatura aparecer. Grãos de terra caiam sobre o ombro de Will. Não vinha da caverna, vinha de cima. Mais e mais terra ia caindo. Saltaram três Demodogs para dentro da caverna. Eleven tentou usar sua habilidade, mas começaram a surgir mais e mais, não daria conta de manter a atenção sob todos eles. Os dois correram. Will ia na frente, em uma mão a tocha, na outra o mapa. Eleven vinha logo atrás, a tocha em uma mão e os tocos embaixo do outro braço. Eram finos, não eram pesados de carregar. Não havia tempo para olhar o mapa e reencontrar a caverna onde descansava o falecido Chris. Apenas correram por suas vidas. Seguiram pelas cavernas sem rumo algum. Apenas queriam sobreviver.

 

Dustin colocou a mão na testa de Lucas. Estava gelado, mas vivo. Enfaixou a barriga do amigo como pôde. Esperava que ajudasse a conter o sangramento. Trancou todas as portas possíveis, sobrando apenas o quarto do Lucas, a pequena sala de entrada e um corredor que ligava o lugar com a cozinha. Encontrou uma faca na gaveta, ao lado do fogão. Não sabia se conseguiria rasgar a carne de alguém com aquilo, não sabia até onde sua coragem ia, mas indefeso é que não ficaria. Através da janela viu uma espécie de dispensa. Destrancou a porta da cozinha e correu até lá. O acampamento estava quieto, um grilo ou outro cantarolava, e só. Mike havia partido em busca dos amigos, esperava que ele voltasse logo. Percebeu que a dispensa era para materiais de construçao e manutenção e não alimentos. Havia sacos de areia e outras coisas ali. Dustin amontoou madeiras e pregos em um carrinho de mão e os levou para dentro da casa de guarda para selar melhor as portas e janelas. Investiu energia e tempo nisso. Levaria tudo para dentro da casa e depois pregaria as entradas. Se fosse para fazer barulho com madeiras e martelos, que fosse quando tivesse certeza que não precisaria mais sair da casa de madeira. Era óbvio que o barulho todo ia atrair... Não sabia exatamente, mas era mal. Em umas das viagens, enquanto estava dentro da dispensa, ele ouviu alguém do lado de fora. Passos pisando na grama. Puxou a faca do bolso de trás da calça e escondeu-se atrás de alguns sacos de cimento. Não ia conseguir matar ninguém, mas também não deixaria que o matassem facilmente.

 

O medo tira alguns sentidos humanos. Eleven não conseguiu parar a tempo e bateu contra as costas de Will. Estavam em um ponto onde a caverna tinha teto baixo, mas era larga. Cinco carros poderiam passar ali, um ao lado do outro. O chão estava molhado, gotejava também. Poderia ter perguntado porque ele havia parado tão de repente, mas ou olhar por cima do ombro do menino, viu uma criatura parada. Era diferente de todas as outras. Parecia um sapo de um metro de altura, meio esverdeado, marrom. Tinha barriga arredondada, mas todo o resto do corpo era esquelético. As patas eram enormes e com membranas entre os dedos. Havia cabeça, mas sem olhos, apenas uma boca. Aquela boca caracteristíca. A cabeça virou para eles, a boca abriu em cinco partes, como uma flor, revelando dentes afiados. Não importava o que era, aquela versão asquerosa de Demogorgon com sapo ao abrir sua boca, soltou um grunhido alto. O chão estremeceu sutilmente. Um liquído viscoso e acinzentado começou a escorrer do teto. Um tentáculo gigante veio por trás de ambos, fazendo o mesmo caminho que haviam feito, trazendo consigo mais daquela substância pegajosa. Will e Eleven gritaram, passaram ao lado do sapo e correram. A caverna foi se tornando estreita novamente. Subitamente ela sumiu, dando lugar a um ar gélido e árvores. Estavam de volta a floresta. Algo veio pela lateral, esbarrou em Will e ambos foram de encontro ao chão. Eleven patinou nos próprios passos, mas foi rápida e levitou a criatura pelo pescoço usando sua habilidade. Mas não era nenhuma variação Dog ou Frog de um Demogorgon. Por um instante, não soube o que fazer. Era um humano! Engasgava nas próprias palavras, as mãos tentando tirar algo do próprio pescoço. Eleven o soltou.

— Pessoal! – alertou Will.

Entre as árvores era possível ver que estavam próximos do lago. Uma criatura começou a emergir da água. Ela soltou um rugido tão alto que galhos tremeram. O monstro levantava-se lentamente, como se fosse acordado de um sono profundo. Cascatas de água iam escorrendo de seu corpo, aos poucos dando forma do que era o ser que habitava as profundezas do lago. Havia tentáculos longos, o corpor parecia ter escamas e gigantescas barbatanas. Emergia das águas cada vez mais e mais, aos poucos. Parecia não ter fim. Felizmente (ou infelizmente) as árvores e galhos impediam que pudessem ver com nitidez o que era.

— Ei! – gritou Eleven.

Will estava paralisado, era impossível não lembrar do Devorador de Mentes, mas não era ele. Aquilo era aquático e diferente. Era palpável, vivo como os Demodogs, ou frogs. Tentava enxergar o monstro que emergia das águas negras, mas também foi o primeiro a se ligar ao chamado de Eleven. O sujeito desconheido, que devia ter uns 20 anos, a barba por fazer dando tons acinzentados a pele, permaneceu imóvel com uma expressão de pânico no rosto. Will o agarrou pela mão e o puxou. Seguiu Eleven que adentrou na caverna, em outra entrada, a alguns metros dali. Seria impossível voltar para a caverna de onde vieram já que tentáculo gigante ainda os seguia. Eleven queria continuar buscando os baús de Chris. Seja lá o que fosse, poderiam salvar suas vidas. Chris parecia saber muitas coisas sobre o Mundo Invertido.


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