Flores de uma esquecida estação escrita por Ana Carol Machado


Capítulo 4
E as estações passaram...


Notas iniciais do capítulo

Oiii. Espero que gostem. Abraços.



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Mark/Caleb

Mark olhou no espelho e viu a cicatriz no seu rosto. Em sua bochecha direita até perto de seu queixo. A cicatriz não  incomodava mesmo, apesar de ser muito aparente. Não o deixava exatamente feio, pelo menos na mente dele, o deixava mais velho e maduro. O que incomodava era o silêncio do amigo de longa data. Ele se incomodava, se culpava pela cicatriz mais do que ele. Suspirou e tentou mais uma vez puxar assunto:

—Caleb, já disse que não lhe culpo. Você é meu melhor amigo. Seu silêncio machuca mais que a cicatriz.

—Você não entende? É como se tivesse uma cicatriz na nossa amizade. Toda vez que eu olhar para seu rosto vou me culpar e além disso tem a questão da minha mãe... Fiz ela sofrer...-disse Caleb lembrando da mãe dele e do olhar triste, quebrado que ela tinha ao ter ido visitar. O inverno era uma época dolorosa para ela e ele ainda cuidou de a tornar mais difícil. Ela estava agora com uma preocupação a mais em seu frágil, frágil coração. Ele tinha tentado tanto a privar de mais sofrimentos. E além disso ainda tinha a questão do seu irmão e suas brincadeiras fora de hora. Ele chegou até mesmo a brincar com o fato de ele ter provocado o acidente por usar o celular.

Como se soubesse que estava pensando nele seu irmão apareceu de surpresa.Abriu a porta e ao notar a cara deles foi logo perguntando com uma intimidade que não tinha. Perguntou como se fosse a coisa mais natural a fazer depois de dias sem ver o irmão:

—Que caras são essas? Vocês brigaram?-ao não obter resposta ele devia ter parado. Devia ter notado a tristeza nos olhos do irmão ou como Mark o encarava como se falasse que aquilo não era da conta dele. Mark não tinha paciência com Karl, o irmão do amigo.

—Foi por causa daquela garota?-perguntou Karl rindo do que pretendia dizer. Lembrou que sua mãe comentou com ele sobre Caleb ter comentado sobre ter sonhado com uma menina de vermelho no banco de trás, também lembrou que uma vez quando chegou Mark e Caleb conversavam sobre como Caleb acreditava que ela havia os ajudado.

—Que garota?-perguntou Caleb sabendo que iria se arrepender de perguntar.

—Aquela de vermelho que segundo o Caleb salvou vocês do acidente. O Mark deve ter ficado com ciúme da garota. Da forma como  você meu irmão fala dela. Querendo a reencontra e tudo. -disse rindo.

—Sabe que não gosto das suas brincadeiras! Mamãe não tinha que ter falado nada dessa menina para você!  -exclamou Caleb sério. Algo nos olhos de seu irmão fez Karl parar com a brincadeira. O que era algo raro. Karl se sentou em silêncio. Refletiu se teria ido longe demais na brincadeira. Pensou que nunca foi próximo do irmão, meio-irmão na verdade.

Karl e Caleb compartilhavam a mesma mãe, mas eram filhos de pais diferentes. O pai de Caleb foi o primeiro marido da mãe deles e o pai de Karl o segundo marido, o padrasto que Caleb tanto detestava. Nesse ponto Karl concordava com o meio-irmão. Lembrou de como o pai as vezes era mal... Melhor não pensar nele... As brincadeiras eram o escudo dele. Tentar relevar tudo era mais simples. As vezes ia longe demais.

—As vezes você parece muito com o seu pai.-disse Mark de repente. Relembrou como Karl sempre fazia  brincadeiras que somente ele ria com o irmão. Estava cansado disso. Ele tinha a mesma idade que Caleb, vinte e cinco anos, mas naquele momento pareceu muito mais velho e cruel. Parecia um juiz falando um veredito.

—O que disse?-perguntou Karl

—O que você ouviu.-disse Mark lhe encarando- Toda vez que vem aqui trata seu irmão mal. Por mim não precisa mais vim aqui.

—Quando tratei o Caleb mal?-perguntou Karl sabendo da resposta, mas não iria admitir isso. Não para Mark. Lembrou logo de quando brincou sobre a cicatriz há uma semana antes:

—Vejo que meu irmão já lhe deu um presente de aniversário. Seu rosto ficou bem melhor assim.

Mark ainda devia está com raiva por causa disso.

—Mark, também não é assim... Ela ainda é o meu irmão.-a voz de Caleb o distraiu de seus pensamentos.

—Não precisa, entendi já. Vou indo.-disse Karl se retirando em silêncio.

Seguiram o resto da tarde em silêncio. Faziam exatamente duas semanas do acidente. Mark sabia que receberia alta logo e pretendia acabar com aquele clima estranho entre ele e o amigo de uma vez por todas. Mas nem tudo saiu como planejado. Depois dessa conversa entre eles e o irmão ainda se falaram algumas vezes naquela noite, poucas palavras. Sobre as medicações, o inverno e o campo de flores. Mas nunca uma conversa com mais de três frases. Caleb sempre cortava qualquer começo de conversa. Se fechou muito dentro dele. Cada pessoa tem uma forma de reagir. Lidar com a dor...

Então uma semana após o diálogo Mark recebeu alta e o amigo continuou internado. Mark até o visitou algumas vezes, mas após uma certa conversa, uma certa palavra que acabou o machucando mais que o acidente e as brincadeiras de Karl, parou de o visitar. Isso foi no inverno ainda. Depois veio a primavera que já estava no fim.

Mark olhou no espelho como fez naquele dia no hospital. A cicatriz realmente não o incomodava. Após um tempo olhando pegou o celular e ligou para a casa de Caleb após tanto tempo. Quem atendeu foi a mãe dele. Quando ela falou que Caleb havia saído ele pegou a chave do carro e decidiu ir atrás dele. Tinha uma ideia de onde ele estaria. Sentia em seu coração que ele estava em um lugar bem conhecido. Um lugar que comentou tantas vezes que voltaria.

Estava na hora de por um fim aquele longo inverno... Pensou enquanto dirigia para lá cuidadosamente. Todo o cuidado era pouco depois do que ocorreu. A primavera estava quase no fim.  Estava na hora de resolver aquela questão uma vez por todas. Quanto mais tempo ainda precisaria passar para que se acertassem? Ou para reverem a tal garota... Que se Caleb tivesse razão estava lá esperando por eles.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Gostaram? Me digam. Abraços e nos vemos nos comentários. Até o próximo capítulo. ♥ ♥



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