Flores de uma esquecida estação escrita por Ana Carol Machado


Capítulo 11
Já se passou um certo tempo


Notas iniciais do capítulo

Oiii. Espero que gostem. Boa leitura. Abraços ♥



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Alguns anos antes...

Ryan

Sentia o seu coração apertado por causa de tudo. Estava cansado. Naquele dia não foi para sua casa, pois sabia que quando o pai soubesse das recentes agressões iria o chamar de fraco como das outras vezes. Pegou um ônibus para um lugar longe. Ficou na janela vendo as outras pessoas descendo em suas paradas, algumas eram esperadas por filhos, amigos ou pais amorosos. Ficou imaginando, se iludindo, que estava indo para a sua casa também, mas um lar em que estavam lhe esperando com abraços quentinhos e um copo de achocolatado. Estava sentindo frio demais e dor no estômago. Ao tocar no local choramingou. O chute que havia levado havia sido realmente forte, não tinha conseguido comer nada desde então. Algumas pessoas olhavam para ele de um modo preocupado, mas ninguém se preocupou em realmente ajudá-lo, estavam ocupados demais.

Desceu em uma parada conhecida. Sua testa ainda doía, mas ignorava, assim como a dor na barriga. A mochila estava muito pesada também, mas não tanto como o seu coração. E o frio aumentava ainda mais e estava acompanhado de uma forte sonolência. O vento batia em seu rosto e o cheiro de flores o fez saber que estava perto. O adocicado do ar lhe lembrou de doces momentos que passou perto dos únicos amigos que tinha: os insetos.

Uns passos depois viu o lindo campo de flores que ficava na beira da estrada, perto de um gramado verdinho e de uma floresta que ficava muito bonita no inverno. Ele ia lá ás vezes para coletar insetos, desenhar ou escrever. Não era o único que ia até lá, muitos turistas iam também e pessoas que como ele se sentiam acolhidas na natureza. Preferia ir quando não tinham muitas pessoas. Iria até lá para descansar um pouco pois era onde se sentia amado, não queria voltar para a escola ou para a sua casa tão cedo.Sentia que havia algo de errado com o seu corpo, precisava dormir. Sangue começou a escorrer pelo seu nariz apenas confirmando isso. Desmaiou em cima da grama que pareceu o envolver em um abraço quentinho. Tudo que ele precisava.

Quando abriu os olhos notou que não estava sozinho. Duas idosas estavam ao seu lado, uma era muito bonita e gentil, já a outra tinha um olho esbranquiçado e era cheia de cicatrizes no rosto.

—Quem são vocês? Onde eu estou?- perguntou meio assustado pelas presenças, mas não sentia exatamente medo.

—Calma, criança, você está seguro agora. O que fazia sozinho uma hora dessas? – a idosa bonita disse com uma voz gentil. Ela havia aberto a sua mochila e segurava em uma mão o seu pote de coletar insetos e na outra uns papeis em que Ryan costumava escrever sobre seus sentimentos em relação aos colegas. - E mais importante porque tanto rancor dentro do seu coraçãozinho?

—Do que a senhora está falando?

—Veja criança, encare o rancor que saiu de seu coraçãozinho.- Ryan não entendeu nada até que viu e não conteve o grito. Perto dele estava um monstro com longas garras afiadas. Os olhos eram espelhos e nele viu tudo, desde a primeira agressão, até quando o valentão bateu a sua cabeça no espelho. Viu bem mais que isso, viu a professora que mesmo vendo quebrarem o seu nariz não fez nada. Era o retrato da indiferença, não apenas ela, mais também alguns colegas e até as pessoas do ônibus que não fizeram nada. Tudo que viu lhe irritou. O monstro pareceu sorrir de uma forma tão intensa que ele recuou, não por medo, mas por ver a intensidade do sentimento que guardava dentro de si.

—Não tenha medo, criança. Ele não vai lhe ferir, afinal ele faz parte de você.-disse a idosa aparentemente achando que ele estava assustado.

—Não estou com medo.- disse e realmente não estava, o medo estava sendo substituído por outra coisa. Fazia um tempo que queria punir os culpados pelo que sofreu. - Mas como isso é possível?

—Esse lugar é mágico digamos assim, com o tempo entenderá isso.


—Porque não vi nada das últimas vezes que vim aqui?- pensou, se tivesse visto esse ser antes poderia ter evitado a testa quebrada e poderia ter dado um jeito em uma certa pessoa, ou melhor, em várias. A lista apenas aumentava.

—É uma longa história, mas lhe vi desde a primeira vez que veio aqui catar insetos e escrever , mas não tinha força suficiente ainda para intervim. Posso lhe ajudar a colecionar outras coisas, Ryan?- disse libertando na grama os poucos insetos que estavam no pote, que de alguma forma saíram voando.- Compreendo o seu rancor, me dê a sua mão e nós três vamos encher esse pote logo logo.-não precisou dizer do que, pois Ryan sabia melhor do que ninguém. A idosa de um olho só derramou uma única lágrima.

Karl

—Quando eu era garoto e desmaiei aqui eu vi  duas idosas. Uma gentil e outra com um olho esbranquiçado. A idosa aparentemente gentil fez uma proposta aparentemente irrecusável, mas eu recusei e por isso acordei. no hospital.- disse Ryan depois de algum tempo chorando. Karl havia se acalmado um pouco, pois viu que se ele se irritasse iria piorar ainda mais as coisas e o garoto não falaria nada. Mas não desistiria de saber o grau de culpa dele.

—O Caleb cita no caderno dele essas duas idosas. E pelo que entendi ele foi com a  que tinha uma aparência meio assustadora.

—Com toda certeza ele foi com ela, pois se tivesse aceitado a proposta da gentil não teria acordado. Não foi um caso isolado. As pessoas que aceitam as propostas dela não acordam mais.-Ryan pareceu a ponto de chorar por um momento- Andei pesquisando algumas coisas, digamos, depois que passei aquele tempo no hospital. E pelo que ouvir dos viajantes que acordaram é um antigo jogo delas. E acho que os dois... Não entendo o que ocorreu com eles, pois mesmo as pessoas que não acordaram foram achadas, nenhuma sumiu como eles sumiram. Tem certeza que foi aqui?

—Sim, como disse acharam um casaco ensopado do sangue do Caleb. Reviramos toda a floresta e proximidade e não achamos nada deles.

—Talvez esse lugar seja ainda mais misterioso e perigoso do que a gente pensa.- voltou a escorrer algumas lágrimas- O que estou tentando dizer é que já fazem seis meses, se eles estivessem bem já teriam aparecido. Seja lá o que tem aqui, além delas, não gosta muito de gente de fora. Sinto isso.

Mark

Os gritos de Caleb iam ficando cada vez mais distantes. Porque estavam os levando de forma separada? O que planejavam fazer com eles? Tentava lutar, mas eles eram mais fortes. Que tipo de criaturas eram essas? Eram semelhantes aos humanos, mas ao mesmo tempo diferentes. Eles eram soldados musculosos, mas os olhos eram diferentes dos humanos. Havia um certo vazio neles, sem falar na cor diferente. Pensava nisso quando de repente os gritos do seu amigo pararam. Se ouvir os gritos de Caleb era angustiante deixar de os ouvir era muito pior.

—O que vocês fizeram com o Caleb?

—Esses seres são muito barulhentos.- reclamou o soldado que o segurava pelo braço direito- E o que ser Caleb?

—É o meu amigo.

—Não estava dirigindo a palavra para você.- disse o soldado antes de lhe golpear com algo na cabeça.

 


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Gostaram? Abraços e agradeço a todos que leram ♥



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