Uma dose de amor escrita por LadyB


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Lollallyn, juro que vou tentar me remediar. ♥

Boa leitura.



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O café derramava pelo chão da lanchonete em um som ritmada, fazendo o dono me olhar de modo repreensivo. Baixei minha cabeça, envergonhado, enquanto tentava limpar com um guardanapo a mesa de doces.

— Sua coordenação é péssima para um patinador, Otabeck — Yurio debochou com um sorriso de escárnio; eu sabia disso mesmo sem precisar olhar.

Senti minhas mãos fecharem em punho. Ele estava testando minha paciência há dias e aparentava sentir um prazer perverso toda vez que eu elevava minha voz. Em qualquer outra ocasião, eu debocharia junto com ele do meu dia à La lei de Murphy.

Eu não iria cair no seu joginho outra vez, então tomei uma respiração profunda e sorri — eu esperava que parecesse natural.

— Eu estou um pouco... impaciente esta semana — eu respondi, largando o guardanapo e desejando esfregar a cara dele na pequena caixa de areia para gatos cheia de dejetos do lado de fora.

A jovem mulher de aparência alegre trazia uma bandeja cheia de doces e salgados para nossa mesa e parecia ter um pouco de dificuldade para equilibrar os vários copos e pratos. Pronto para fazer minha boa ação do dia, eu me prontifiquei a ajudá-la.

— Ah, o meu Otabeck é um verdadeiro galã de novela, senhorita — disse Yurio, assim que ela me agradeceu pela ajuda. — Foi assim que ele conquistou meu coração... — suspirou com fingimento. — Ele até mesmo me deixa burlar as ordens médicas só para me ver sorrir. Um verdadeiro lord,viu? Espero que consiga um também, uma pena que ele não tenha nenhum parente próximo. — Piscou.

A mulher sorriu com encantamento, enquanto eu entendia o porquê de toda aquela educação tão atípica.

A pequena garrafa cheia de licor com base de vodka capturou minha atenção no instante que ele encheu uma dose exagerada dela no copo.

— Me dá isso aqui. — Tentei puxar o copo e a garrafa de perto dele assim que a mulher saiu. — Você não pode beber nada alcoólico, sua peste — falei com exasperação, pois ele tomou todo o conteúdo em três goles.

Yurio fez um “clap” com a língua.

— De acordo com a lei da maioria dos países, eu posso tomar quantas garrafas de licor ou de qualquer merda que eu quiser.

Pessoas de dezoito anos são chatas e problemáticas, eu sei bem; mas ele fazia essas palavras parecerem o mais alto grau de honra, se comparando com seu comportamento birrento e impertinente. Eu fui um cara de dezoito anos marrento e chato, só que não nessas proporções. Sempre zelei pela minha saúde. Acho que deve ser coisa de russo.

— Seu avô deveria ser canonizado por te aguentar todos esses anos — proclamei com azedume.

— Ah, que nada. Ele não teria feito aquele escândalo se não gostasse.

Yurio se referia ao episódio que contamos ao Sr Plisetsky que iríamos morar juntos assim que ele começasse a universidade. Achei que eu fosse sair da casa dele sem a cabeça e empalado.

— Você... seu merdinha. È tão bom assim ser do contra? — Talvez meu desespero vigente o amaciasse.

— Que porra, Otabeck, você vai fica me aporrinhando por tudo que eu faço agora? — Suas bochechas adquiriram um tom vermelho e seus olhos faiscavam.

— Você não ouviu o médico falando? Não. Pode. Ingerir. Bebida. Alcoólica. Enquanto. Estiver. Tomando. O. Remédio — eu disse pausadamente. Talvez ele entendesse desse jeito.

Fazia um mês e meio que eu repetia isso mais vezes do que respirava. Eu parecia ter saído do posto de namorado para o de mãe.

— Eu só luxei uma perna. Não é como se eu tivesse problemas no fígado ou coisa parecida.  E pare de falar comigo com se eu tivesse cinco anos, eu odeio isso.

Ah, jura? Por que você acha que eu fiz? Tive a leve impressão que a infantilidade dele estava me contagiando.

Eu contive um suspiro irritado.

— Mas isso atrapalha a eficácia do remédio.

— Eu estou doente, Otabeck. Tu deveria estar me paparicando e me dando comidinha na boca.  — Assim que ele pronunciou a ultima parte, seus olhos se arregalaram ao perceber o que dissera e toda a extensão do seu rosto e colo ficaram vermelhos, agora de vergonha.

Ele já estava alterado apenas pelo ato de saber que estava bebendo?

Eu não cosegui conter o sorriso, muito menos a risada alta, que só serviu para deixá-lo mais desconfortável ainda.

— Se você estava tão irritadiço porque queria que fizesse isso, era só ter falado. — Tentei pegar sua mão, mas ele a puxou para seu colo.

— Seu babaca. — Yurio resmungou mais alguma coisa em russo — eu preciso aprender russo! — e derramou boa parte do café no colo.

Eu não deveria rir. Eu não deveria rir. Eu não...

— Pare de rir! — Ele se estressou.

Assim que percebi que ele estava a ponto de chorar, quase me arrependi. Eu disse quase. Se isso fosse no começo do nosso relacionamento, eu teria me ajoelhado ante ele e pedido perdão por dias seguidos, mas o tempo é um bom professor, assim como ele é um bom ator.

— O nome disto é karma. Você ficou falando coisas para fazer eu me exaltar desde de manhã. Ta aí o resultado. — Gesticulei para sua calça branca, que tinha uma enorme mancha marrom por toda perna direita.

— Eu só fiz isso porque normalmente você me trata como uma criança, que eu não sou mais, aliás.  — Sua carranca poderia me queimar vivo.

— Você tá desviando do foco aqui. O que uma coisa tem a ver com a outra?

— Nada! — gritou, chamando à atenção dos outros clientes.

— Não, eu quero saber. — Peguei um mouse de chocolate e levei até ele. — Prove.

Por mais que ele estivesse sendo um saco, eu sabia que ter que abandonar o campeonato no meio, justo quando Victor anunciou aposentadoria, estava sendo duro para ele. E eu sou um puta namorado, todo compreensivo e tals.

Yurio tentou empurrar minha mão, mas eu insisti:

— Por favor, prove.

— Você é meu namorado, não minha mãe.

Eu peguei o morango do meu prato e coloquei na colher, junto com o mouse.

— Eu sou um ótimo namorado, que deve paparicar o namorado neste momento tão difícil. E se você for um bom menino, eu posso pensar em levar um pouco de chantilly pra casa para usar para outros...fins.

Outra coisa sobre adolescentes: eles pensam com os hormônios, não com o cérebro. Embora eu esteja sendo hipócrita, já que eu mesmo não sou tão diferente. Uma olhada na pele pálida dele fazia todo meu corpo cantarolar de desejo.

Yurio me olhou com dúvida.

— Você está tentando me comprar com sexo? — questionou, já com um sorrisinho malandro.

— Talvez...

Ele se inclinou até chegar bem perto da minha boca. Escutei alguém arfar.

— Ainda bem que você me conhece.

— Qual a probabilidade daquele senhor desmaiar se eu te beijar agora? — sussurrei, passando minha mão pelos seus fios suaves.

Ele riu.

— Acho que é pagar pra ver.

Yurio tomou a iniciativa e me beijou com ternura e um pouco de urgência. Menino atrevido.

Ultimamente, ele vivia tomando a iniciativa. Seu pudor desapareceu por completo e ele tinha descoberto um recente gosto pelo perigo, ou seria pela exposição?

Por mais que eu já tivesse o beijado milhares de vezes, sempre ficava melhor. Sempre ficava mais quente e meu corpo parecia mais desejoso ao saber todos os jeitos que ele gostava de ser beijado e tocado. Eu queria fazer todos até deixá-lo a ponto de implorar.

— Estou perdoado? — sussurrei sem fôlego.

— Talvez. — Meditou. — Eu posso beber?

Inacreditável. Mas é aquela coisa, né? Vamos fazer o que? Cansei de brigar, e eu prometi uma coisa quando eu chegar em casa, não posso descumprir.

— Bebe logo toda essa merda. — Bati a cabeça na mesa, inconformado. — E aí de você se não sair daqui bêbado.

Pedi uma bebida de verdade — licor não é, vamos combinar — e coloquei três doses de uma vez.

— Vamos ver quem bebe mais.

— E quem vai me carregar? — Ergueu as sobrancelhas enquanto colocava um canudo no copo de cerveja. Bizarro.

— A única coisa que vai me embriagar aqui é seu corpo. — Lancei-lhe uma piscadela. Truque barato e vergonhoso, eu sei.

— Quando a gente chegar em casa vai ter mesmo...

— Acrescente morango e champanhe. Vou te mostrar que uma perna não é páreo para meu conhecimento do Kama sutra e muito menos para as minhas habilidades.

Ele corou, mas sua mão acariciou minha perna durante todo tempo que levamos para comer e beber.

Com um sorriso no rosto, eu pedi:

— A conta, por favor.


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Notas finais do capítulo

Estou rindo, mas é de desespero.



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