Uma bolinha de papel voou até a cesta de lixo, batendo nas demais que quase transbordavam da lixeira, e caiu no chão levando outras bolas consigo. Amontoando mais ainda o piso cheio de roupas e outros objetos.

Cada bolinha continha uma partitura diferente, mas todas queriam demonstrar carinho e amor através de uma bela melodia. A dona de cada nota escrita nos papéis já estava batendo a cabeça desde manhã.

Marceline tinha uma facilidade para escrever músicas, mas nunca pensou que uma música de am–, digo, uma música para uma pessoa especial seria algo tão complicado… Era difícil e frustrante!

Às vezes ela quase pulava da cadeira pensando ter conseguido alcançar um bom trabalho, mas, quando relia pela quinta vez, amassava a folha e começava de novo, resmungando muito no processo. Noutras vezes ela apoiava a cabeça na mesa e lamentava para a pessoa especial, alegando que ela não receberia uma música tão boa.

O caso agora era esse mesmo. Marceline estava com a cabeça deitada na sua mesa fazia um bom tempo. Pensando em qual música seria perfeita o suficiente para o gosto tão…

— Fresco e cordial… — um breve suspiro. — Nada assim vai sair de mim…

Marcy levantou a cabeça, apoiando o cotovelo na mesa e a cabeça em sua mão. Encarou o papel. Batucou com o lápis algumas vezes e aceitou que seria impossível fazer algo tão perfeito quanto as invenções daquela princesa.

Enquanto o tempo passava ela imaginou a silhueta da princesa, o lábio puxando para o lado. Murmurou algumas notas com os lábios. Ah, sim. Aquela princesa era perfeita. Tão perfeita quanto as coisas que fazia e, ainda assim, tinha defeitos como qualquer um.

Marceline sabia como ninguém.

A vampira abriu os olhos e se ajeitou na cadeira de supetão. Como fora lerda o dia inteiro!

Segurou o lápis bem firme e começou a escrever as notas, tocando-as no baixo-machado para verificar a melodia e ajeitando o que fosse necessário.

Julgou que poderia ficar pronto até o anoitecer, assim teria tempo de mostrar para a princesa.

Depois do breve insight, as notas pareciam fluir tão bem de acordo com que os dedos de Marcy trabalhavam. A resposta era tão fácil, mas fazer uma confusão em copo d’água era tão comum que nem notara quando começou a confundir tudo.

Jujuba com certeza riria disso tudo se soubesse.

Ainda faltava uma frase para a música, mas ela não poderia se atrasar mais, teria que improvisar na hora.

Saiu de casa apressada, ansiosa e nervosa. Tentou escrever o último verso, mas seu nervosismo já tinha atrapalhado as coisas de novo, nem ousou ler a letra novamente.

Apenas voou e voou até o Reino Doce.

Passou pelos guardas com tranquilidade e se dirigiu até a janela da princesa, torcia para que ela estivesse lá, se não teria que esperar mais ainda. Ela não aguentaria e leria a letra de novo.

Por Glob ela estava lá! Ajeitando-se para dormir, mas estava lá.

— Ei, PB! — a Princesa levou um breve susto e virou para a janela.

— Marceline! Sabe que horas são?!

Os lábios da vampira se contraíram para evitar uma piada de mau gosto.

— Desculpe, vossa majestade, mas eu precisava te mostrar algo. Não vai demorar.

— Pode ser amanhã? Tive um dia cheio hoje.

— É… eu também. E, não. Não pode ser amanhã.

A princesa suspirou, uma cara emburrada. Sentou-se na cama e gesticulou para que Marcy fosse rápida.

Marceline limpou a garganta e passou a tocar seu baixo.

Iniciou-se uma melodia calma e suave, as notas graves que o baixo fazia acentuavam um ar melancólico, mas romântico num nível bem Marcy. Quando ela começou a cantar os versos, aos poucos a cara emburrada da Princesa Jujuba ia se desfazendo, dando espaço para um rosto intrigado e fascinado.

Não era uma música longa, muito menos rebuscada e filosófica. Era apenas uma música para a Princesa Jujuba. Algo íntimo, cheio de sentimentos. Nada que fosse necessário ser exposto para qualquer um, era uma música para a princesa e pronto.

Marceline tremia um pouco, mas não deixava isso abater ela. Por outro lado, Princesa Jujuba apenas admirava cada detalhe, não deixando de sorrir, até os erros que ela soltava enquanto cantava eram adoráveis. Queria poder agradecê-la de imediato, mas isso atrapalharia sua pequena performance, não queria estragar isso.

— Os efeitos que você causa em mim são iguais à você doce, tão doce que os defeitos perdem o efeito — Marceline conseguiu improvisar o último verso.

Depois de umas últimas notas, Marcy finalizou a música. Respirou fundo e esperou a resposta da princesa.

— Obrigada, Marceline. Não estava esperando por isso. A canção ficou muito… bonita.

— Gostou mesmo?

— Aham… Eu poderia pedir um bis?

— Você não ia dormir, PB?

— Se não quer cantar de novo, é só ir embora.

Marceline riu e começou a cantar de novo, mais tranquila. Nem estava acreditando que conseguiu agradá-la. Foi uma música tão boba e simples Marcy pensava.

Jujuba achava Marceline boba às vezes, e sentia vontade de ser tão simples como ela, mas isso não a impedia de nutrir um sentimento forte por ela. Uma música feita por essa pessoal especial não seria menos que amada.

Marceline só não sabia disso.