Antes Que As Cortinas Se Abram escrita por The Thief


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Foi difícil e propositalmente curto. Eu queria emanar uma profundidade dessa história e deixar nas entrelinhas que muito mais aconteceu do que o que eu mostrei. A ideia original era postar uma fic de mitologia grega, mas fiquei intimidado porque senti que precisaria estudar MUITO mais pra te dar esse presente. Como eu conhecia, mesmo que parcialmente, Glee, decidi por essa história que acabou por me agradar demais :v
Espero que goste e até o próximo AS



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Antes que as cortinas se abram

Imersa na penumbra, Rachel caminha lentamente das coxias para ficar no centro do palco. Posiciona-se de olhos fechados, com o número de passos até a posição exata decorada, dado os ensaios até a exaustão. Com as cortinas ainda cerradas, ela ouve o sussurro do público do outro lado, engole a própria saliva, a respiração vacila. Lembra então do que aconteceu há dez minutos e um sorriso lhe invade a face de imediato.

O beijo que minou suas dúvidas e a encheu de coragem.

As cortinas se abriram para o espetáculo de estreia de Rachel Berry.

(Quinze minutos antes...)

 

A área do camarim era opressiva. Os atores secundários e figurantes se reuniam em uma área coletiva para trocar as roupas e fazer a maquiagem. A protagonista, por sua vez, tinha uma área privada, regada a frutas frescas e água de marca cara. Tal regalia se provou uma dor de cabeça a meros instantes do início da peça.

— Abre essa porta, Rachel! Não é o momento pra uma crise de estrelismo, a sua peça começa em menos de vinte minutos. — Com o crachá de Staff, Kurt Hummel tentava, a todo custo, tirar sua amiga (e protagonista do espetáculo) de dentro do camarim. — Se continuar com isso eu juro que pego a roupa reserva e faço eu a droga do espetáculo!

Revoltou-se. Kurt queria tanto uma oportunidade daquelas que tinha até inveja, aquela era uma escada para a Broadway e ela desperdiçaria. Isso era inaceitável para ele. Quando todos achavam que ele atacaria a porta do camarim com ainda mais ódio, foram surpreendidos. Sacou o celular e fez uma ligação.

— Você já chegou no teatro, certo? — Aguardou a resposta. — Ótimo. Pode vir aqui nos bastidores, deixarei a segurança ciente da sua entrada.

— Quem era? — indagou o maquiador, trabalhando em um dos secundários.

— Minha arma secreta... pra conseguir driblar momentos como esse.

A despeito de toda a barulheira de seu melhor amigo, Rachel permanecia em um estado quase hipnótico. Encarava o vazio com uma expressão distante. Tinha orgulho e confiança em seu talento, tanto era que alguns até as vezes a achavam arrogante. Sendo isso verdade ou não, ela era extremamente talentosa e provavelmente transformaria seu sonho de alcançar a Broadway realidade naquela noite. De repente sua maior aspiração tornara-se palpável, real.

Real demais.

Ela tremia diante do peso que sentia nos ombros. A partir dali, não haveria mais volta e o medo do desconhecido, algo instintivo e humano, a acometeu com tudo. Rachel havia quebrado e nem mesmo ela tinha ideia de como voltaria a si. Estar em sua zona de conforto de repente pareceu certo. Afinal de contas, por que ela almejava algo tão grande?

E quando essa linha de pensamento começava a ficar perigosa demais e sua mente começava a fantasiar cenários ideais de uma vida padrão em situações corriqueiras, onde tudo funcionava e era maravilhoso...

... Quando esses pensamentos a dragavam, uma voz familiar a tirou de seu transe.

— Rachel, abra essa porta, por favor.

Era Quinn Fabray.

Pela primeira vez desde a hora em que ela se trancou, Kurt conseguia ouvir algum barulho naquele camarim que não fosse causado por ele mesmo. A porta destrancou e o amigo fez menção de entrar, mas fora detido por Quinn.

— Me deixe falar com ela antes, se ela subir naquele palco assim, isso vai ser um desastre.

Caminhou quase que desfilando, o som do salto alto contra o chão de madeira ecoando, abriu a porta e fechou detrás de si.

Assustou-se ao ver a garota sentada no chão, abraçando uma das pernas, encostada com a testa no joelho. Pensou em mil maneiras de iniciar aquela conversa: ser mais gentil, já que ela estava em um momento de indecisão; ser incisiva para não causar problemas para a organização do espetáculo.

Todavia optou pela opção mais honesta.

— Se não quiser, não faça. — A protagonista do show logo encarou Quinn, surpreendida pela afirmativa. — Sei que todos tentarão te convencer com coisas como “Todo o trabalho de preparação foi em vão?” ou “E todo o dinheiro gasto com a produção dessa peça”. Mas a verdade é que tudo isso só é inútil se você quiser muito alavancar a sua carreira e falhar. Se decidir por parar antes mesmo de subir no palco você não perdeu nada... apenas não ganhou também.

Mantinha postura e feição severa, como se estivesse dando um sermão.

— Por que está falando isso? Pensei que tinha vindo me convencer a continuar. Por qual outro motivo o Kurt se daria ao trabalho de ligar pra minha namorada?

— Eu não vim te convencer a nada... — Fechou os olhos e cruzou os braços. — Só vim deixar a pergunta: você quer desistir? Se quiser eu logicamente te apoiarei.

— Mas não concordará com isso.

— Claro que não! — Surpreendeu novamente com a honestidade. — Quando nos conhecemos eu era uma líder de torcida católica que nunca tomou uma decisão que não fosse em prol dos meus pais e você era a cantora irrelevante e patética. Em um ano você roubou meu homem e transformou a mim em uma cantora irrelevante e patética também. Eu queria te vencer, te odiava, te invejava... e invejava o Finn também — hesitou.

— Invejava... o Finn? — Olhou a garota, com lágrimas nos olhos. Desde que as duas engataram em um relacionamento, Rachel jamais ouvira quaisquer menções ao Finn — ex-namorado de ambas — ainda mais uma afirmação como essa.

— Na época eu ainda me convencia de que eu queria alguém igual a você comigo. Determinada, convencida... ou melhor, confiante. Eu queria alguém com tanta ambição perto de mim, já que achava que tendo essa pessoa do meu lado, eu conseguiria ser mais do que eu era.

Sorriu. Se lembrou do momento em que, ao descobrir sobre o término dela com o Finn, passou a interagir mais com ela, se aproximar mais, até que enfim reuniu a coragem que precisava para se assumir e pedir para sair com Rachel.

— De repente a certeza que tinha de seu talento, de suas possibilidades me encheu de confiança também. Ainda enche, cada vez que acordo e você está do meu lado, a cada mensagem que me manda no celular.

— O que isso tem a ver com a peça? — Levantou-se do chão e secou as lágrimas antes que borrassem a maquiagem.

— Tem tudo a ver. Se quiser desistir, ótimo! Mas eu não acredito que a Rachel Berry pela qual me apaixonei, que já admirava até mesmo antes disso teria medo do desconhecido ao ponto de jogar tudo para o alto em um momento derradeiro como esse.

O coração de Rachel palpitou. As memórias de todas as decisões tomadas, sendo elas certas ou erradas, vieram todas de uma só vez. De repente todos os seus sonhos de vida comum e sem risco pareciam ridículos, vazios.

— Você... tem razão. — Olhou para as próprias mãos, ainda tremiam, entretanto sua mente já pensava diferente. Era impressionante como a voz da Quinn sozinha já era capaz de acalmar seu mundo interior. Respirou fundo e abriu um sorriso. — Desculpa por te obrigar a me ver assim. Eu farei uma estreia incrível.

A interlocutora fitou-a admirada.

— Uma última coisa pra te motivar pro caso de você pensar nessas coisas idiotas de novo.

Rachel foi pega pela mão e puxada contra o corpo de Quinn. O beijo foi carinhoso, suave. Era como se elas estivessem em um ambiente particular, aconchegante e eterno: mesmo em um gesto tão singelo como esse beijo, a ex-lider de torcida passava sua força e determinação. Quando se separaram, Rachel ameaçava começar a chorar.

— Não faça isso! — exclamou Quinn. — Graças a toda essa situação os maquiadores não vão ter tempo de retocar nada. Suba naquele palco agora e impressione a todos sendo a cantora e atriz maravilhosa que você é.

— Certo! Me assista brilhar... — Abriu a porta e pegou o casaco que fazia parte de seu primeiro figurino.

— Mal posso esperar. — Arqueou um sorriso, em uma resposta sussurrada mais para si mesmo que para Rachel.

Caminhou para a plateia novamente, sentou-se em seu lugar na primeira fileira.

As cortinas se abriram, os holofotes foram acesos.

O espetáculo de estreia de Rachel Berry havia começado.


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