O Vermelho do Seu Coração escrita por Moon and Stars


Capítulo 7
Capítulo 7 – Orgulho Gelado


Notas iniciais do capítulo

Olá outra vez! Pessoal que acompanha, peço desculpas pela demora. Vocês já devem estar achando que eu desisti da fanfic, e tudo mais, mas na verdade foi apenas um problema técnico. Explico melhor lá embaixo. Boa leitura!



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Os olhos de Billy estavam saltados em genuína surpresa. De fato, ele não esperava ouvir um pedido como aquele.

— Não posso permitir isso — falou, balançando a cabeça em uma firme negativa. — A Eternal é perigosa demais.

— Eu prometo que ela estará em mãos seguras, Billy — Jujuba insistiu, olhando-o diretamente nos olhos, no propósito de transmitir toda sua confiança e boas intenções. — Sem a Eternal, meu povo estará desprotegido.

— O que está dizendo? — perguntou ele, ainda sem se convencer do que ouvia. — Esta chama, sozinha, incitou uma guerra! Eu a escondi num lugar seguro, onde ela jamais possa ter influência destrutiva.

— Que tipo de influência? — Foi Marceline quem perguntou, se voluntariando a participar da conversa.

A vampira raramente se envolvia nos assuntos burocráticos, mas aparentemente a revelação de Billy estimulou sua curiosidade.

— Eternal não é uma chama qualquer. Ela possui algumas... particularidades — ele começou a explicar, atraindo a atenção de todos. — A Chama Eternal é volátil, muito instável e, como qualquer extensão do elemento do fogo, extremamente destrutiva. Ela é uma brasa-viva, que instiga e amplia os sentimentos de quem tenta possuí-la ou controlá-la.

— Qualquer sentimento? — Finn perguntou completamente fascinado. Porém, Jujuba duvidava que ele compreendesse a proporção do que aquilo significava.

Billy assentiu lentamente.

— Qualquer sentimento, sim — disse ele. — Mas se o sentimento for raiva, inveja, ou qualquer coisa do tipo, ela se torna especialmente forte e, por consequência, incontrolável. Por isso ela é tão perigosa.

— Billy, eu entendo seu receio. Mesmo. Mas eu preciso da sua ajuda — Jujuba praticamente suplicou. — Eu realmente necessito dessa Chama. É a única solução para manter meu povo seguro. Nós viajamos no tempo, alteramos o futuro e corremos o risco de banir nossa própria existência por causa disso. Por favor, nos ajude.

Houve um longo silêncio entre eles. Durante um bom tempo, ninguém ousou dizer nenhuma palavra, enquanto o herói provavelmente considerava a petição. Por fim, ele suspirou e deixou os ombros caírem, como se tivesse se rendido.

— Eu realmente espero não me arrepender disso — ele disse finalmente, ao tomar sua decisão. — Vou dizer onde escondi a Eternal.

— Matemático! — Jujuba mal pôde conter seu sorriso vitorioso. Então, ela se lembrou de outra questão de extrema importância. — Mas ainda precisamos resolver o seu problema, é o nosso acordo. Certo?

Não podiam sair dali, arriscando que o futuro seguisse naquele rumo. Precisavam garantir que Billy voltaria à sua carreira de herói e mantivesse a ordem das coisas, exatamente como deviam ser.

Billy encarou cada um dos viajantes do tempo, que o observavam atentamente, e concordou. Pela primeira vez desde que entraram naquela jornada repleta de aventura, as coisas começavam a dar certo. E, para a satisfação da princesa Jujuba, todos pareciam estar felizes com isso.

***

Depois de algum tempo de conversa, Finn e Jake tiveram sua chance de finalmente conversar um pouco com seu herói. Finn, em especial, ficou extremamente emocionado com aquilo, de um jeito que Jake parecia não compreender. O jovem humano contou a Billy sobre os motivos de tê-lo como sua maior motivação e fonte de inspiração. Ao testemunhar isso, Jujuba teve certeza de que aqueles minutos de franqueza e conexão entre os dois foram os maiores responsáveis para que Billy resolvesse voltar atrás em sua decisão.

Para selar isso, Marceline foi capaz de usar um de seus poderes de vampira e coagir Billy a fazer um juramento sobre o Enchiridion, o livro dos heróis, para que jamais abandonaria sua jornada. Foi mais fácil, de acordo com ela, agora que havia uma real predisposição e não apenas sua coação. Este juramento impedia que Billy abandonasse sua carreira outra vez. Se, por alguma razão, ele quebrasse aquela promessa, ele seria atingido por um profundo vazio no peito e sua vida perderia completamente o sentido, até que ele encontrasse seu caminho de volta, até o dia de sua morte.

Tendo eles cumprido sua parte do acordo, Billy cumpriu a dele e lhes deu a localização da Eternal. Para a surpresa de todos, ele a havia guardado em uma câmara extremamente secreta, nas profundezas obscuras do Reino Gelado. Aquele era o último lugar que eles esperavam que a Chama pudesse estar e, quando questionaram a respeito disso, Billy explicou.

— A Eternal se mantém controlada quando não há qualquer contato com emoções ou sentimentos. O Reino Gelado é isolado e seguro.

— Mas o lugar é habitado por criaturas de gelo, pinguins e pelo louco do Rei Gelado! — Finn argumentou.

Billy negou com a cabeça num gesto solene.

— As criaturas de gelo são estúpidas, inofensivas — apontou. — O Rei Gelado é um louco, lunático. As chances de ele encontrar a Chama Eternal são tão baixas quanto de provocar sobre ela algum tipo de reação — explicou com absoluta paciência. — Quanto aos pinguins... A Eternal só é afetada por criaturas que possuem alma. — Ele deu de ombros. — Eles não serão uma ameaça.

Aquilo pareceu bastar para tranquilizá-los quanto à segurança da Eternal no Reino Gelado. Ainda assim, lá era o último lugar que eles queriam visitar – exceto por Marceline, talvez. Jujuba bem sabia que a vampira prestava visitas regulares ao Rei Gelado, por alguma razão pessoal. Ela tinha conhecimento de que a vampira tinha um longo histórico com o Rei Gelado, antes de ele sucumbir completamente à loucura, mas a amiga quase nunca falava sobre o assunto e ela tampouco se sentia à vontade para questionar.

***

Por fim, os viajantes do tempo fizeram seu caminho até a maior e mais imponente montanha do Reino Gelado. No topo, ficava a casa do Rei Gelado e, por conta disso, optaram por evitar todas as passagens principais, as quais eram bem guardadas pelas criaturas do reino que o serviam – em sua maioria, criados pelos poderes da coroa especificamente para esta finalidade.

Precisaram ser extremamente discretos para conseguirem adentrar a montanha sem serem vistos, através de passagens secretas. Finn e Jake alegavam conhecer algumas daquelas passagens, mas em alguns trechos tiveram que seguir à risca as instruções de Billy, que, infelizmente, não os acompanhara durante a missão.

Ele havia se oferecido, inclusive, mas Jujuba determinou que, uma vez que o futuro estava reparado, não seria uma boa ideia arriscar bagunçar tudo outra vez. Portanto, ordenou que Billy não se envolvesse diretamente. Houve alguma objeção por parte dos amigos que o tinham como ídolo, o que já era de se esperar, mas no fim das contas, todos concordaram que esse era o melhor a ser feito.

O caminho se formava através de cavernas e túneis extensos, tão escuros que era praticamente impossível enxergar, mesmo com o auxílio dos apetrechos especiais que a princesa trouxera – os quais não estavam fazendo um trabalho tão bom quanto ela gostaria. Após alguns minutos de caminhada, os amigos entraram em um destes túneis, que se assemelhava muito a um gigantesco buraco de minhoca cavado no gelo maciço, provavelmente feito por alguma criatura monstruosa que habitava por lá.

Jujuba andou a passos suaves, pois o gelo sob seus pés parecia poder ceder a qualquer momento se ela não prestasse atenção. Um pouco mais à frente, chegaram a uma espécie de câmara, como Billy havia descrito, e ela sorriu aliviada por estarem no caminho certo.

— Acho melhor eu ir na frente, princesa — disse Marceline, quebrando o silêncio de repente. Mesmo falando em praticamente um sussurro, sua voz ecoou pelo túnel de um jeito assustador.

Jujuba olhou para a vampira, os grandes e vibrantes olhos vermelhos acesos na escuridão como lanternas a encaravam de volta. Ao contrário de flutuar por aí, como ela habitualmente fazia, Marceline caminhou lado a lado com ela durante todo o trajeto. Apesar de a oferta parecer pacífica e altruísta, a princesa não gostou muito da ideia e franziu o cenho.

— Esta é a minha missão, Marceline. Minha responsabilidade — constatou, como se isso tivesse sido questionado. No fundo, ela sabia que não era este o motivo para o qual a vampira se oferecera, mas por alguma razão ela não queria ceder.

As presas brancas da vampira cintilaram sob a luz fraca e pálida que Jujuba carregava consigo para iluminar o caminho quando ela sorriu em descrença.

— Bonnie, vai começar com isso agora? — questionou, como se o que acabara de ouvir fosse uma piada absurda. — Nada disso aqui me interessa, não quero liderar sua missão estúpida. — Pronunciou cada palavra como se estivesse constatando o óbvio. — Eu tenho visão noturna, este lugar não é seguro e não conhecemos estes túneis.

O jeito como a vampira falava com ela, como se suas decisões fossem infantis e egoístas, apenas fazia com que Jujuba ficasse ainda mais irritada. Ela odiava ser questionada, e isso ganhava o dobro da proporção quando vinha de Marceline.

A verdade era que a princesa não queria que Marceline fosse à frente e se expusesse aos perigos que poderiam encontrar adiante. Por mais ilógico que isso pudesse ser, uma vez que a vampira provavelmente era a pessoa mais poderosa do grupo, e também a mais capaz de protegê-los, a princesa não gostava desta ideia. Ela queria assumir a responsabilidade – sua responsabilidade.

As coisas haviam tomado um rumo bem diferente do que havia esperado naquela viagem, e ela se sentia responsável pelos contratempos que tiveram que enfrentar. Sentia-se responsável pela segurança e bem-estar de todos. Assim era ela, como governante, como amiga. Mas tudo isso era algo que não queria admitir. Não queria parecer vulnerável. Deixar que Marceline os liderasse seria admitir que ela não estava apta a protegê-los e esta era a sua obrigação.

Jujuba simplesmente a encarou durante alguns segundos, sem responder. Mas o olhar da princesa deixou claro que ela não estava sequer considerando aquilo. Sua vontade era absoluta. Com isso, apenas deu as costas para a vampira e seguiu em frente, irrefutável.

A tensão que cresceu entre ela e Marceline foi palpável naquele momento, mas ela não se importava. Claramente, a vampira não compreendia o seu jeito de ser e provavelmente jamais compreenderia. Ela jamais seria capaz de enxergar o mundo através dos olhos de Jujuba e todo o peso que ela se obrigava a carregar, sempre colocando tudo e todos que amava acima de suas próprias necessidades. No fundo, aquilo a machucava.

Jujuba sentiu um nó se formar em sua garganta e piscou para afastar as lágrimas que começavam a marejar em seus olhos. Estar perto de Marceline sempre despertava nela aqueles tipos de emoções e só tornava tudo muito mais difícil. Inspirou profundamente o ar gélido, que invadiu seus pulmões de um jeito que a fez estremecer por inteiro, e o soltou pela boca lentamente, o vapor embaçando sua visão por um breve momento.

Um momento que bastou para que ela se descuidasse.

— Princesa, cuidado! — Ouviu a voz alarmada de Finn através do eco no túnel quando o chão cedeu.

Em menos de cinco segundos, as vozes se tornaram distantes conforme ela caía em direção à escuridão. Jujuba sequer teve tempo de gritar. Balançou os braços, batendo-os contra o vazio à sua volta, na tentativa vã de se agarrar em alguma coisa – qualquer coisa —, mas não havia nada ao seu alcance.

Fechou os olhos com força, pressentindo o fim de sua queda, quando sentiu um abraço firme ao redor de si. Quando tomou coragem e tornou a abrir os olhos, viu a figura de um enorme morcego que a puxava para cima.

No instante em que seus pés se firmaram sobre o gelo sólido novamente, numa parte segura, Marceline voltou à sua forma original e a encarou com uma expressão firme e um olhar que transparecia a confusão de sentimentos que atravessavam em seu interior. Jujuba viu através dos olhos vermelhos da vampira a adrenalina, o medo, a mágoa, o alívio. Tudo de uma vez.

Não soube como reagir, seu corpo inteiro tremia, não por causa do frio, mas porque as emoções dentro dela estavam completamente confusas e turbulentas. Por um instante, Jujuba achou que desataria a chorar, mas felizmente isso não aconteceu.

— Princesa, está tudo bem? — Finn perguntou, a preocupação evidente em sua voz quando ele se aproximou, sendo trazido por Jake, que os esticou por sobre o enorme buraco que se formara no chão até o ponto seguro onde as outras duas amigas estavam, checando-a de cima a baixo.

— Sim — garantiu, tentando soar firme , mas sua voz falhou miseravelmente, o que não foi nada convincente. Ela pigarreou e tentou colocar um sorriso apaziguador nos lábios. — Eu estou bem, meninos, obrigada.

Olhando para trás, viu outra vez o enorme buraco no qual caíra, uma parte do gelo que era extremamente fina e frágil. Não fosse suas emoções afloradas, ela teria percebido, teria sentido. Ela atribuía isso à presença de Marceline e quando tornou a encarar a vampira, que ainda a observava em silêncio, seu olhar estava cheio de ressentimento... Mas também de gratidão. Não fosse por ela, Jujuba provavelmente teria encontrado a morte.

— Obrigada — disse a princesa, por fim, com sinceridade.

Marceline não respondeu de imediato, limitando-se apenas a dar um singelo aceno de cabeça.

— Fico feliz que esteja tudo bem agora — Finn tornou a dizer, parecendo realmente tranquilo agora que a princesa estava segura. Sua expressão se iluminou com uma facilidade invejável. — Podemos seguir em frente?

— Sim, claro — respondeu ela, com mais convicção desta vez.

Engolindo em seco, Jujuba deu mais uma olhada de soslaio na direção de Marceline, que permaneceu cerca de dois passos atrás, respeitando a decisão inicial que a princesa determinara. Mas quando seus olhares se encontraram, a mensagem era clara. Jujuba quase podia ouvir a voz da vampira ecoando em sua mente: “Você tinha que ser tão orgulhosa, Bonnie?”


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Notas finais do capítulo

E aí, mereço um feedback? O que acham dessa situação toda e do rumo da história? Eu adoraria saber a opinião de vocês. Sério, gente, ajuda muito. Agora, acho que devo a vocês uma satisfação sobre a demora. Vamos lá. A verdade é que minha beta demorou muito, mas não estou tentando passar a bola pra ela. Tentei entrar em contato e ela rompeu o acordo comigo. Infelizmente, essas coisas acontecem, a nossa vida pessoal às vezes impede a gente de fazer certas coisas, mesmo que gostemos muito. Este capítulo está devidamente betado, mas os próximos, talvez, não estejam. Espero que compreendam, caso encontrem errinhos aqui e ali, porque eu realmente não tenho tempo para ficar revisando. Quem sabe um dia eu não consiga parar só pra fazer isso, com calma, e tudo mais. Mas por ora é isso, gente. Até o próximo! Beijos da Moon :*



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