Plutão já foi Planeta escrita por ThaIspetacular


Capítulo 1
A Terra é plana e Earth também


Notas iniciais do capítulo

Quero agradecer a todo o pessoal do grupo Nyah!Fanfiction. Eu sempre fui uma pessoa que gosta e é feita de histórias de mistérios, terror e horror. Mas, vocês me fizeram sair da minha zona de conforto e isso está sendo maravilhoso. Espero que gostem da história tanto quanto estou gostando de escrevê-la!
Desejo um feliz natal para todos e um ano novo ainda melhor! Que a ceia de vocês seja sempre farta e feliz (mesmo com a piadinha do pavê ??” admita que você a ama!), desejo as melhores resoluções para vocês!

Beijos sabor batata-frita!

XOXO, ThaIspetacular.



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Enquanto minha mente se dissipa em sonhos, minha galáxia interior se dissipa em eras...” — Camilla Koscky.

 

Havia um esquilo saltitando pelo quarto.

 Não se sabia como o pequeno animalzinho havia conseguido chegar ao último dos sete andares, entretanto, era incontestável a sua presença. O pequenino roedor de pelo multicolor movia-se entre pequenos e rápidos saltites, enquanto farejava pelo chão algum resquício de alimento.

 Earth Rowbotham apenas achava que o animalzinho era azarado demais para aparecer justamente enquanto ela fazia seu xixi meio apressado, enquanto poderia ter aparecido na noite anterior quando o dormitório estava consumido por uma confusão de cobertores, revistas e pacotes de salgadinho. Ele não encontraria nada de proveitoso ali.

— Vamos, saía! — resmungou para o esquilo. Entretanto, o animal a ignorou de forma habilidosa.

 A jovem adolescente revirou os olhos enquanto sentia o líquido sair de suas partes íntimas e lhe dando uma sensação de alívio. Ela deveria, neste momento, estar no ginásio, aquecendo-se para mais um treino do time de basquete. Porém, a menina ficara tão concentrada no dever de física (e nos memes do Twitter) que perdera a hora, o que resultou em escovar os dentes enquanto tomava banho, colocar o uniforme enquanto arrumava a bolsa e fazer xixi enquanto prendia o cabelo em um rabo de cavalo. Ela sabia que se atrasaria ainda mais, pois ainda tinha que descer a enorme escadaria que levava para o térreo do colégio. Usar o elevador estava fora de questão: era estritamente proibido para as estudantes que não possuíssem nenhuma deficiência.

 Earth olhou-se por uma última vez no espelho, certificando-se que não estava esquecendo-se de nada. Os fios tingidos de azul estavam presos em um rabo de cavalo firme que ia até abaixo dos ombros. Vestia o uniforme exclusivo para os treinos: a camiseta branca com as mangas roxas, o short azul escuro de malha, o tênis de corrida branco e a grande bolsa de lona azul com estrelas prateadas e uma enorme bola amarela abraçada por bolas menores e coloridas, que representavam os planetas do nosso Sistema Solar. Estava pronta para mais um exaustivo treino que as levaria para a vitória do campeonato regional.

— É bom que você já tenha saído Alvin, porque se a cabeça de fogo te encontrar aqui, ela vai pirar. — resmungou olhando o quarto a procura do esquilo, entretanto nada do animal.

 Desconfiada, Earth se abaixou ao lado das camas em busca do recém nomeado Alvin, entretanto, tudo que encontrara fora sapatos, recortes de revistas e um pedaço de bolo bolorento.

— Vamos, amiguinho, eu não tenho muito tempo...

Como se o animal entendesse o que a azulada dizia, Alvin dera um pequeno guincho vindo de uma das camas. Enrolado no meio de uma das cobertas, enquanto devorava um salgadinho acebolado estava o esquilo.
 Earth o pegara com delicadeza, apertando com cuidado o seu corpinho gorducho enquanto se aproximava da janela. Pressentindo o que viria a acontecer, o esquilo começara a se contorcer e tentar morder um dos dedos de seu algoz, enquanto proferia guinchos estridentes — na mente criativa de Earth, palavrões esquiléticos.
 Gritando de desespero, Earth começara a pular descontroladamente pelo quarto enquanto sacudia o bichinho em suas mãos, e a cada momento ambos se desesperavam mais. Em um ímpeto de desespero, a adolescente de cabelos azuis sacudira a mão em direção a janela, como se pedisse socorro. O único problema era que era a mão em que o esquilo se encontrava.

— Merda... — inclinou-se na janela para vislumbrar aonde o animal poderia ter caído. Não havia sinal do esquilo.

Não poderia ficar pior, ela pensou. Mas podia sim. Fora quando a menina olhara para o relógio que percebera que aquele não era o seu dia: trinta minutos atrasada.
  Aproveitando-se de seus dotes esportivos, a jovem Rowbotham saíra correndo de seu dormitório em direção às escadarias, sabia que chegaria quase no fim do treino e que provavelmente ficaria no banco no próximo jogo. Entretanto, era bem melhor do que mentir estar doente, se complicar na próxima mentira e ser expulsa do time.  

— E aí, Terra! — acenou Lua agarrada aos livros de astronomia, uma conhecida do terceiro ano. Lua, ao contrário das outras garotas do último ano, não se achava por ter mais tempo de colégio, pelo contrário, era extremamente acolhedora e aconselhava as mais novas.

Desde seus onze anos Earth era uma estudante do renomado colégio Galaxy Edge, um reduto exclusivo para garotas prodígios do Ensino Fundamental II até o Ensino Médio. Apenas as melhores alunas poderiam ingressar em uma das escolas mais prestigiadas do globo terrestre. O ingresso no colégio consistia em uma prova de cento e quarenta questões, englobando todas as matérias, além de conhecimentos gerais, entrevistas com o diretor e um representante da escola (geralmente as garotas com as melhores notas do último ano) e uma análise detalhada do histórico escolar. Mesmo que alguma das estudantes conseguisse comprar sua vaga, era praticamente impossível alguém sem interesse resistir às árduas aulas, trabalhos e atividades dadas pelos professores da instituição. O colégio Galaxy prezava o talento.
 Com uma estrutura moldada aos padrões das construções monumentais da Inglaterra gótica e vitoriana, o colégio era um grande castelo envolto por uma extensa área verde onde as estudantes costumam se bronzear nos finais de semana. Cheio de escadarias e salas estonteantes, o GE (como as alunas batizaram o colégio) era um tanto propício a se perder, entretanto, todos os dias poderiam ser descobertas salas nunca vistas. Cheio de pinturas de suas mais celebres estudantes, o colégio fazia suas alunas terem o poder de escolher qual universidade da Liga Ivy gostariam de estudar.

Apenas quando pode avistar as portas azuis do ginásio, Earth se permitiu deixar de correr. A menina se encontrava em estado de exaustão. Enquanto caminhava, a azulada teve um lampejo filo-sociológico: os próprios baixinhos causavam as suas infames piadas. Se o esquilo gorducho não saltasse de um lado para o outro, ninguém caçoaria de que ele mal saía do chão. Se Napoleão não fosse tão estressadinho, ninguém faria piadas de baixinhos nervosos e folgados. Os baixinhos precisavam dar um jeito em suas vidas.

Earth caminhou de forma serena até o meio da quadra, observando a forte movimentação de garotas: um grupo de seis garotas corria ao redor da quadra, outras três faziam polichinelos, duas faziam abdominais e outras cinco esticavam seus braços até a ponta de seus tênis, sem dobrar os joelhos. O treinador ainda não se encontrava no local, para a sorte de Earth, mas ela ainda se perguntava como ele tinha coragem de deixar um bando de garotas nada normais sem nenhum responsável.
 Foi quando, com um enorme sorriso, Earth percebeu a garota de tamanho digno de uma criança de doze anos que se encontrava sentada esticando suas serelepes e curtas pernas ao seu lado. Mesmo a cinco passos de distância, a recém chegada podia ouvir a voz rouca que emanava do headphone vermelho. A voz do cantor parecia a de um eterno enamorado que acabara de se levantar em um sábado preguiçoso apenas para cantar e observar sua amada dormindo ao seu lado. A Rowbotham tinha que admitir: Plutão tinha um gosto fantástico quanto às músicas.

— Vai ficar surda desse jeito. — opinou ironicamente.

— Não vejo problema quanto isso. Estarei surda, mas terei What Once Was para sempre na minha memória. — retrucou a outra com um sorriso de canto, porém, retirando os fones e esticando-os para a amiga.

 Earth os colocou nas próprias orelhas, enquanto observava Plutão abaixar o volume pelo celular. Plutão amava ouvir música no volume mais alto possível, não importava onde, no carro, no rádio, na TV, ou neste caso, em seus headphones. Já Earth, por outro lado, preferia escutar músicas como se fosse um ronronar: baixas e suaves.

— Consegui baixar aquela música do Catfish and The Bottlemen que você gostou quando jogamos Fifa. — resmungou Plutão, enquanto a amiga roubava seus headphones. Earth sabia que “baixar” significava ter ficado um dia inteiro à procura da bendita música e vários vírus que teria que limpar no computador e no celular da amiga mais tarde.

Earth Rowbotham se lembrava perfeitamente do dia em que se conheceram. Ao contrário das outras estudantes, Earth e Plutão já chegaram amigas no internato. Conheceram-se duas semanas antes de irem ao internato, ambas fazendo compras para o ano letivo: Plutão, escolhendo os melhores e mais altos sapatos; Earth, a procura das mais belas jaquetas. As duas provavelmente se ignorariam, entretanto o destino fez questão de uni-las quando Plutão tentara surrupiar um salto plataforma da Saks. Não fora uma atitude que demonstrasse boa índole, porém, Earth não podia deixar de se compadecer com a menina desesperada por alguns centímetros a mais. Está bem, talvez Earth tivesse achado a garota linda e estivesse com segundas e terceiras intenções ao obrigar o pai a se passar por policial para limpar a barra de Plutão, entretanto, quando Plutão se mostrara hétero, Earth percebeu que eram imbatíveis como amigas. E icônicas como irmãs.
 Earth passou os olhos pela quadra poliesportiva em busca do treinador, entretanto, sua atenção foi presa pelas risadinhas que vinham atrás de si.

Ela definitivamente tem os maiores. — sussurrou nada cautelosa a voz feminina.

Earth conhecia aquela voz como ninguém. Saturno Caravaggio era, definitivamente, em todos os sentidos, a garota mais descolada do segundo ano — e a mais chata também, segundo Earth. Turno, como os íntimos chamavam, era a garota que vivia cheia de brincos, argolas, pulseiras e anéis (fora a primeira menina a colocar alargador na orelha em todo colégio). A garota não poupava comentários desagradáveis e insistia em se achar a “gata perigosa e má” do pedaço, entretanto, no mínimo sinal de enrascada voltava para o papel de boa moça. Além disso, Saturno amava exibir para qualquer um que cruzasse o seu caminho, o anel de compromisso que seu namorado finlandês havia comprado para ela. A adolescente jurava de pé junto que era um diamante.

— Pena que algumas não podem dizer o mesmo... — retomou venenosa. Netuno, que passava por ali rezando — ou cantando, ninguém nunca saberia — alguma coisa em latim, enviou um olhar glacial à Caravaggio, e assim como surgiu, sumiu mais no completo breu de silêncio.

— Algum problema, cara de cavalo? — ironizou Earth, enquanto enrolava uma mecha azul de seu cabelo entre o dedo indicador.

Saturno revirou seus olhos cor de mel. — Nenhum problema, Rowbotham. Estava apenas comentando com Júpiter sobre um conceito muito interessante que o professor Apolo nos ensinou semana passada.

 Uma expressão de dúvida brotou no rosto de Júpiter, que mantinha os braços cruzados abaixo de seus enormes seios.

Cara de pau. Cara de cavalo de pau, Earth pensou.

O professor Apolo, ao contrário do que o nome remete, não era um raio de sol de corpo esculpido digno de um Deus. Na verdade, era um senhor na casa dos sessenta e cinco anos, extremamente competente e com uma coleção de PhDs em diversas áreas da física e da biologia. E Earth sabia muito bem qual era o assunto que o professor estava ensinando naquele bimestre...

— Há teorias de que a Terra é plana, sabia? Pensei que combinava perfeitamente com alguém, mas havia me esquecido o nome... Ah, olhe só! Era você! — Saturno bateu palminhas de forma condescendente.

Earth sentiu seu rosto esquentar, mas não de vergonha, de fúria. Saturno implicava com os seus seios pequenos desde os onze anos, quando a maioria das meninas estava tendo sua menarca, corpos evoluindo e hormônios à flor da pele. Earth, porém, enquanto via Plutão se desesperar porque seus sutiãs estavam ficando pequenos rápido demais, ficava desesperada porque seus sutiãs infantis continuavam confortáveis e proporcionais aos seus seios.
 Entretanto, comentários como esses já a irritaram muito mais no passado. No estado atual, Plutão fazer uma piada sobre seus seios não a irritava. Na verdade era até cômico, pois no segundo seguinte a amiga estaria se lamentando por seus seios avantajados. Mas quando era Saturno, era outra história. A garota fazia isso para diminuí-la na frente das amigas. E o pior: ela conseguia.

 De repente tudo se tornou muito incomodo. A ausência de luz solar a fazia se sentir como se o mundo fosse um mar de raiva e podridão. E Plutão, ao que parecia, havia ido para qualquer lugar, mas não ao seu lado.

Parecia que um vulcão existia dentro de suas entranhas e estava prestes a explodir. E ia explodir mesmo, bem na cara de Saturno. Ia, se não fosse impedida por Júpiter.

— Aquela ali dando o dedo do meio pro treinador não é a Plutão? — questionou confusa.

— Mas o que...? — Earth indagou para o nada, entretanto sem retirar os olhos da garota baixinha possuída pela raiva. Ela rezava internamente que tudo estivesse bem. Embora claramente não estivesse.

Desde que minuto Plutão havia saído do lado dela? E desde quando o treinador havia chegado? Como ela não havia reparado em nada? Então ela amaldiçoou Saturno. Pois se Saturno não a irritasse tanto, teria percebido tais coisas antes. Saturno não era uma pedra, era uma cratera inteira no seu sapato.

 Plutão vinha pisando duro. Os cabelos negros na altura da nuca contrastavam com os olhos marcados pelo lápis azul anil. O corpo pequenino digno de uma fada estava todo embebido por uma áurea de ódio. A garota parecia capaz de causar a Terceira Guerra Mundial.

— Plu... O que aconteceu? — disparou Earth. Os olhos verdes da menina demonstravam grande preocupação.

— Ao que tudo indica, o mundo do basquete é grande demais. Principalmente pra mim. — disse duramente. Com agilidade meteórica, Plutão se esquivara das mãos preocupadas e macias da amiga.

É, nada estava bem. Mesmo.


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