Through The Veil escrita por Elizabeth Potter


Capítulo 1
Without Life


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi :)
Eu terminei essa one hoje de madrugada e fui dormir só às duas fucking horas e meia da manhã.
Bom, rs, valeu a pena.
Essa fic é cheia de sofrimento e nostalgia, então é melhor que vocês estejam psicologicamente e emocionalmente preparados (rs).

Enjoy! ♥



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Lily não sabia muito sobre a morte. Ouvia falar dela desde pequena, mas por ser muito nova, não compreendia bem o que aquilo significava. Não assimilava verdadeiramente o que era morrer. Não entendia as feições angustiadas e muito menos o clima pesado o qual provocava-lhe tenebrosos arrepios e sentia pairando no ar, como uma nuvem cinzenta que antecede uma tempestade.

Os anos passaram-se, mas a morte continuava a rodear a tudo e a todos, ceifando a vida de um ou outro e deixando os que permaneciam no mundo terreno desolados. Os anos passaram-se, mas Lily continuou a não compreender por completo o que era morrer.

Próximo aos onze anos de idade, ela descobriu-se bruxa e compreendeu o porquê de realizar algumas ações involuntárias e incomuns. Próximo aos onze anos, Lily ainda tinha a morte rodeando-a, mas ela ainda não a compreendia.

Quando retornava para casa durante as férias de verão, a Evans ouvia sua irmã mais velha proferir para ela palavras desagradáveis e que a feriam dolorosa e profundamente, mas a mais pungente de todas havia sido durante o recesso de verão de 1974, quando Petunia disse-lhe, enquanto balançava a cabeça levemente e mirava-a com uma expressão que mesclava-se entre nojo e decepção, “Você não é minha irmã. Você morreu pra mim”.

Então isso é morrer, Lily chegou a pensar horas depois em meio às lágrimas que pareciam brasa quente tocando sua pele e aos soluços que escapavam de seus lábios de maneira involuntária com o rosto mergulhado entre os travesseiros. Ela podia escutar seus pais brigaram sonoramente com sua irmã mais velha pelo o que a mesma havia lhe dito mesmo do primeiro andar, onde se encontrava seu quarto. Ela podia sentir dias depois o clima pesado que tinha se instaurada depois das palavras ferinas da irmã. O ar melancólico e doloroso quase palpável era o mesmo que a Evans mais nova sentia quando alguém deixava o mundo terreno.

Então, eu realmente morri para minha irmã, Lily presumiu ao dar as costas à família para embarcar no trem que a levaria de volta a Hogwarts e ao não ouvir as despedidas de Petunia. Aquilo doía, e doía de tal forma, que não houve um mísero instante em que ela não sentiu seu coração apertar-se cada vez mais que distanciava-se da estação de trem e seus olhos arderem como se estivessem em chamas.

A dor da perda era sufocante — não importando o quão longe da multidão estivesse ou o quão fundo respirasse, ela era sempre insuportável. Seus pulmões se contraíam e sua respiração tornava-se difícil, tornando tudo apenas questão tempo para a Evans deixar suas emoções fluírem livremente e a mesma sentir-se capaz de explodir.

No ano seguinte, quando Lily ainda buscava superar as palavras duras, quase desumanas, da irmã, ela recebeu outra facada pelas costas. Seu antigo amigo Snape, alguém no qual ela confiou cegamente por algum tempo — tempo demais, talvez — chamou-a de um dos nomes mais intratáveis para quem era um muggle-born como ela — mudblood.

Naquela ocasião marcante, porém, Evans não morreu para seu amigo. Ele morreu para ela. O fato dela excluir alguém de sua vida não tornou tudo menos doloroso, no entanto. Era revoltante, era inesquecível. Não havia um único dia desde aquela tarde fatídica próxima ao lago, em que ela não se recordasse de tal vocábulo proferido com tamanho nojo e repulsão por seu antigo amigo.

Os meses após o ocorrido se passaram, mas a dor persistia incrustada em seu peito e a morte continuava a rondá-la, cada vez mais perto.

Em 1977, quando a tensão da guerra era quase palpável e o ar pesado pairava sobre todos, ameaçando sufocar a maioria, uma coruja parda cortou o céu noturno e atravessou a janela do Communal Hall da Gryffindor, pousando próxima a Lily, em seguida, e fazendo os sentidos da garota imediatamente entraram em estado de alerta.

Com os batimentos cardíacos acelerados, a Evans desfez o nó que prendia o pergaminho à pata da coruja e leu a carta, sentindo seus lábios ressecados e o oxigênio cada vez mais raro e inexistente em seus pulmões.

Ela releu o pergaminho diversas vezes, e em todas com as mãos trêmulas e os olhos ardendo como se estivesse em chamas, mas a realidade não parecia atingi-la. Ela não acreditava. Ela simplesmente não acreditava que seus pais haviam morrido.

Em um ataque de Death Eaters, Lily pensou com os olhos fechados, apertando a carta entre seus dedos sem rasgá-la e a raiva dominando-a, em um maldito ataque de malditos Death Eaters.

Ela quis gritar, ela quis chorar, mas ela não conseguia. As palavras não saíam de forma alguma e as lágrimas não escapavam dos seus olhos.

O oxigênio que adentrava em seus pulmões parecia ser tóxico, ferindo-a ao entrar no seu sistema respiratório como se o mesmo possuísse feridas abertas ou recém-curadas, e as batidas do seu coração pareciam machucá-la de dentro para fora, sem piedade.

Ela estava completamente sem chão.

O vazio a preenchia a cada segundo, e ela pôde comprovar com toda a certeza que ainda possuía, que o vazio ocupava um espaço imenso.

E doía. Aquilo tudo doía. Doía muito.

Lily ouvia vozes chamando-a, tentando fazê-la retornar à realidade e explicar-lhes o que havia acontecido. Ela entreabriu os lábios, buscando proferir algo, mas ainda não conseguia. Ela queria ficar sozinha, longe de tudo e todos.

Quando ela estava prestes a erguer-se da poltrona e ir em direção a Astronomy Tower, sentiu o pergaminho sendo retirado de sua posse, e, em seguida, braços fortes e quentes envolvendo-a num abraço apertado e compreensivo e levantando-a da poltrona para que o contato não fosse desconfortável.

E, então, quando James a abraçou, ela finalmente deixou as lágrimas acumuladas caírem livremente, molhando a camisa do Potter. Ele não se importava com a peça de roupa, estava ocupado demais preocupando-se com Lily e questionando-se mentalmente como diminuir sua dor. Fazê-la se sentir pelo menos um pouco melhor, distrai-la de todas as maneiras possíveis, embora soubesse muitíssimo bem que nada afastaria o enorme sentimento de perda e ausência de chão que a Evans carregava.

“Eu sinto muito, Lily.” James sussurrou, aproximando-a mais dele.

“Eu sei.” Ela murmurou, fraca, em resposta. “Dói tanto. Tanto, James.”

“Eu sei que dói, Lily, eu sei.”

Eles teriam permanecido abraçados pelo resto da noite se os instintos protetores de Marlene não falassem mais alto e ela não quisesse saber o que tinha acontecido para deixar a Evans tão destruída. Ao saber do ocorrido, a McKinnon arregalou os olhos e cobriu os lábios com a boca antes de deixar a expressão assustada de lado e abraçar a melhor amiga fortemente, querendo tanto quanto James protegê-la de tudo o que lhe fizesse mal de algum modo.

As horas passaram, os dias passaram, e durante eles Lily ouvira muitos pêsames e lamentações, mas nada foi capaz de diminuir a dor dilacerante que tomava conta do seu ser sempre que recordava-se de momentos com seus pais.

Os anos sucederem-se e a morte tornou-se uma companheira inconvenientemente comum para todos, mas Lily sempre teve a impressão de que ela estava mais próxima de si do que dos demais.

Aos vinte e um anos, ela teve a confirmação da sua hipótese. Possuía plena consciência de que a sua velha conhecida atingia a todos ao seu redor de modo impiedoso, mas naquele Halloween de 1981, ela sentiu que a morte estava mais próxima de si. Assustadoramente mais próxima.

E estava.

Quando Lily ouviu a maldição da morte sendo proferida no andar de baixo por Voldemort e escutou o baque surdo do corpo de James contra o chão, ela gritou.

Ela gritou porque havia perdido o homem que amava, porque a sua luz na escuridão havia apagado-se e ela não pôde fazer nada. Ela não pôde fazer nada para impedir sem que pusesse a vida de Harry e a própria em um perigo desnecessário e desagradável.

A dor tornou a dominá-la, a rasgá-la por dentro. A morte havia retirado outra pessoa que amava de si, e ela sentiu raiva disto.

Raiva. Impotência. Dor.

Ela sentiu tudo isso com intensidade até não sentir mais nada. A maldição da morte a atingiu e a morte disse-lhe olá.

Lily implorou por piedade, implorou para Voldemort poupar a vida do seu inocente filho, mas em vez disso, ele simplesmente apontou-lhe a varinha e disse “Avada Kedavra”.

Sem compaixão. Impassível.

Após ter perdido tantas pessoas com o decorrer do tempo, Lily perdeu-se de si mesma.

Pouco tempo depois de ser atingida pela maldição, seu corpo percorreu o mesmo caminho que o de James em direção ao chão e ela atravessou o véu.

Ela encontrou-se com o marido ao percorrer o mesmo caminho que ele e assistiu em sua companhia tudo pelo qual seu filho passava. Tudo o que Harry superava sem eles.

A morte também aproximava-se dele, mas nunca o atingia.

Com o decorrer dos anos, flores foram depositadas sobre o túmulo de Lily Evans, mas elas morriam após algum tempo, transmitindo a impressão que a morte sempre esteve presente em sua vida, rondando-a.

E a morte sempre esteve por perto, realmente.

Esteve tão próxima, que assim que possuiu a oportunidade de ceifar-lhe a vida da forma mais brutal e inconveniente que pôde, o fez.

A morte rondou Lily, destruindo-a aos poucos, estraçalhando-a de forma lenta e pungente, até o momento em que deparou-se com ela por completo, fazendo-a atravessar o véu e dizer adeus eternamente aos que ficavam no mundo terreno.

Evans compreendeu o que o encontro com a morte significava, enfim, mas estava ocupada demais sem vida para notar.


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Notas finais do capítulo

Se vocês tiverem chorado: saibam que não foram os únicos hahaha
Eu chorei muito enquanto escrevia :')
Se vocês tiverem gostado: comentem. Digam-me o que acharam porque o feedback de vocês é muito importante ;)
Se vocês quiserem me matar pelo sofrimento que transmiti: eu sinto muito e NÃO ME MATEM SE NÃO, NÃO GANHAM FIC NOVA RSRSRSRS

Anyway, kisses, kisses, and to the next! ♥



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